sábado, 31 de dezembro de 2011

366 dias para fazer o melhor

Mais um ano se acabou e, chegando a 2012, sempre vem junto aquele sentimento de que “as coisas vão ser diferentes”. Esses dias vi uma frase que me fez questionar esse sentimento: “Não é 2012 que tem de ser diferente – é você”. Refletindo sobre o pensamento, cheguei a uma conclusão mais que óbvia – realmente, quem tem de ser diferente somos nós.
Temos 366 dias (esse ano é bissexto!) pela frente para novamente sermos inundados pelo sentimento de que algo vai mudar. Quando chega dezembro, as famosas promessas começam a ser feitas: vou emagrecer (essa minha e de milhões de mulheres é clássica!), vou parar de fumar, vou sair menos, vou economizar, vou visitar mais meus amigos, vou me dedicar mais à família.
Parece que, quando o relógio bate a meia-noite, todos esses pensamentos, que com certeza nos assaltam ao longo do ano, chegam de uma vez só para nos lembrar que precisamos mudar. Afinal, se o ano mudou, por que nós devemos continuar sendo as mesmas pessoas?
Mudanças são bem vindas e ganhar 366 dias para usar da maneira que quiser é um bom presente para quem pretende transformar sua vida. Mas por que esperamos o dia 1º, a segunda-feira, as férias, para tomarmos atitudes que podem melhorar a nossa vida?
Em dezembro estive em várias confraternizações. Em todas elas, a mesma tônica nas conversas: “Puxa, devíamos nos reunir mais vezes”, “Está tão gostoso aqui, pena que confraternização só tem em dezembro”. E por que não podemos nos reunir com amigos, colegas de trabalho e familiares mais vezes ao longo do ano? Por que temos de esperar que o “espírito natalino” chegue para dizermos às pessoas o quanto gostamos delas e o quanto elas são importantes em nossas vidas? Ou será que esse sentimento desaparece tão logo o calendário se acaba e uma nova folhinha toma o seu lugar?
Podemos, ao longo do ano, mudarmos pequenas coisas aos poucos e, quando chegarmos lá no final, percebermos que todos aqueles objetivos que colocamos como obrigatórios de serem iniciados no dia 1º podem ser na verdade começados em qualquer época do ano. Basta ter força de vontade.
Espero que você, assim como eu, tenha todos os seus objetivos alcançados em 2012. Que os 366 dias à frente sirvam para que o seu melhor seja mostrado, e que o seu pior, quando aparecer, seja encoberto pelas suas boas atitudes. Que seus familiares e amigos continuem o amando, e que seus inimigos (permita Deus que não os tenha!) percebam o quanto você é valioso como aliado. Em tempo: amanhã, pela milésima vez em minha vida, começo um novo regime. As outras mudanças pretendo fazer aos poucos. Feliz 2012!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Vamos divulgar gentileza?

O Facebook ganhou força no Brasil como um espaço para reclamações contra empresas, desabafos de consumidores mal atendidos, e, de uns tempos para cá, passou a ser o principal veículo para divulgação de crimes bárbaros. Fotos de supostos estupradores, espancadores, e pessoas que maltratam animais dia a dia preenchem as páginas, muitas vezes sem que a veracidade do crime tenha sido autenticada. Em todas as postagens, a mesma tônica: o suposto acusado merece ser tratado da mesma maneira que cometeu seu crime. Assim, a incitação à violência, que todos dizem ser contra, parece unânime quando se trata de punir um criminoso.
A semana terminou com mais uma denúncia de maus tratos a animais, com o vídeo de uma mulher batendo em um yorkshire, que acabou morrendo. Por mórbida curiosidade vi as imagens que realmente deixam qualquer um revoltado, principalmente porque a violência contra o pequeno animal é cometida em frente ao filho de três da mulher, que assiste a tudo passivamente, e acredito que sem entender direito o que está se passando. O vídeo estava sendo exaustivamente partilhado por quase todos os membros do site, e ao mesmo tempo todos os dados pessoais da mulher foram divulgados.
Muitas vezes me pego com raiva de agressores, principalmente quando o crime é cometido contra crianças. A vontade que me dá é de fazer com a pessoa a mesma coisa que ela fez com o pequeno indefeso, mas meus instintos de humanidade sempre se sobrepõem a esse sentimento.
Noto que, quando a postagem se refere à violência, preconceito, crime, enfim, a acontecimentos negativos e chocantes, as postagens são partilhadas sem descanso. Parece que a minha raiva precisa ser repartida com meus amigos, que por sua vez partilharão com seus amigos, e assim sucessivamente. Já postei textos sobre assuntos assim, mas dei hoje uma busca em meu histórico e notei que a grande maioria de minhas postagens versam sobre cultura, imagens engraçadas ou irônicas, e muita mensagem positiva.
O colega jornalista Marcelo Pendezza na sexta-feira fez no Facebook um desabafo que me inspirou a esse texto: está na hora de começarmos também a divulgar coisas boas no site. Para coroar seu pensamento, Marcelo colocou a frase célebre do profeta Gentileza: “Gentileza gera gentileza”.
Concordo com o colega. Devemos sim nos indignar com acontecimentos absurdos como uma agressão a um animal indefeso, mas na mesma medida podemos e devemos divulgar sempre atos de companheirismo, de amor ao próximo, de fé em Deus, de alegria. Muitas vezes um dia que começou ruim pode mudar com uma palavra amiga, com uma piada engraçada, com um pensamento positivo. Nossos instintos de vingança e raiva precisam ter a mesma intensidade de nossos valores positivos. Para mim, essa é a melhor maneira de se começar a melhorar a sociedade, e conseguir com que esses acontecimentos negativos passem a ser mais raros.

domingo, 20 de novembro de 2011

Natal muito antecipado

Pouco passamos do meio do mês e os enfeites e músicas de Natal já tomam conta de lojas, ruas e casas. Em outubro me lembro de ter visto a primeira propaganda de Natal, enquanto assistia a um seriado num canal pago. Achei interessante aquela propaganda, jogada no meio da programação, e ainda lembro que pensei que o canal estava bem adiantado em relação aos outros. Pouco tempo depois, em outras emissoras, vi que o espírito natalino também já havia chegado.
A sensação que tenho, com o passar dos anos, é que o tempo agora anda numa velocidade muito acima da média. Lembro-me que, quando criança, eu ficava esperando ansiosa para chegar essa época do ano – e ela somente chegava em dezembro mesmo! Meus pais tinham o costume de comprar nossos presentes um mês antes do Natal, e parecia uma tortura sem fim ver aquela caixa fechada, que somente poderia ser aberta no dia certo.
Hoje parece que o Natal chega cada vez mais cedo. Ruas enfeitadas e músicas natalinas em outubro, quando mal saímos do Dia das Crianças, na verdade me lembram do consumismo desenfreado que se tornou a data mais importante do mundo cristão. Sempre deixamos para a última hora para comprarmos todos os presentes, mas isso não impede que as lojas estejam desde já fazendo mil ofertas mirabolantes com promessas de primeiro pagamento apenas em janeiro, ou seja, em 2012. O problema é que, na velocidade de hoje em dia, o ano que vem está cada vez mais próximo.
Com isso, acredito que a grande magia do Natal esteja cada vez mais perdendo seu encanto, principalmente para os adultos. Crianças sempre vão se encantar com a figura do Papai Noel, com as renas, com a árvore de Natal enfeitada, com todos os símbolos dessa data. Quanto mais esse espírito persistir para elas, melhor. Afinal, a expectativa de saber que os presentes estão chegando é tão gostosa quando ganhar o presente em si.
Para muitos adultos, porém, acredito que essa chegada cada vez mais antecipada do Natal pode trazer aquele sentimento de urgência que todos temos quando mais um fim de semana se aproxima. Faltando apenas 35 dias para o aniversário de Jesus Cristo, já nos vemos às voltas com as preocupações do que comprar, para quem, e com quanto. Acredito que o verdadeiro espírito cristão ainda não tocou a grande maioria dos corações. Queria ter sentido aquela coisa gostosa de quando criança, em que a visão do Papai Noel me lembrava da reunião na casa dos meus avós e a alegria de abrir o presente tão esperado. Infelizmente, apenas senti ainda a urgência de que o tempo está passando depressa demais – sem nos dar tempo de verdadeiramente sentirmos a importância dessa data.

sábado, 5 de novembro de 2011

USP envergonhada

Temos acompanhado em todas as mídias a invasão da USP (Universidade de São Paulo) pelos estudantes que são contrários à presença da PM (Polícia Militar) no campus. Estudantes esses que, nas imagens mostradas, estão sempre com o rosto coberto, igualzinho às cenas que vemos em rebelião de presídios. Estudantes esses que se consideram cabeças pensantes, mas não hesitaram um segundo antes de vandalizar um prédio público, esquecendo de que esse patrimônio não pertence somente a eles, mas a toda uma cidade universitária. Estudantes esses que, usando uma pseudo defesa de liberdade e fazendo um discurso velho de que a Polícia é violenta, querem ter o direito de usar drogas dentro de uma instituição pública sem serem incomodados.
Ou muito estou errada ou a droga ainda não foi descriminalizada no Brasil. Portanto, usar drogas em espaços públicos é um ato passível sim de punição. Se uma pessoa estivesse fumando maconha em uma praça, ela seria levada pelos policiais do mesmo jeito. Se estivesse usando crack, também seria levada. Qual a diferença entre esses viciados e esses estudantes da USP?
Mas o pior ponto para mim não está aí. Eles querem segurança – desde que não seja a Polícia. Claro, se for particular, não vai prender a moçada que curte ficar fumando seu baseado tranquilamente no campus. Quer fumar uma droga ilícita? Fuma em casa, na república, no vizinho. O que não se pode aceitar é que uma minoria exija que a maioria fique sem segurança. Esses estudantes alegam estar se manifestando em direito dos colegas. Se estão mesmo, por que não mostram a cara? Por que se comportam como bandidos? Para que vandalizar um prédio público?
Ironia que esses mesmo estudantes sempre batam no peito criticando o individualismo. Quer atitude mais individualista que achar que meus colegas podem ser assaltados, estuprados e até mesmo mortos, desde que eu possa fumar meu baseado sossegado? O que podemos esperar de estudantes que se acham no direito de paralisar uma universidade porque querem usar drogas livremente em seu campus?
Esses mesmos alunos esquecem que a droga vem de um traficante, que traficante é bandido e que se tiver de matar a sua família por causa de uma dívida de dez reais, vai matar sem pensar duas vezes. Eles esquecem que junto ao tráfico vem roubo, vem mortes, vem toda uma cadeia de crimes hediondos cada vez mais difíceis de serem controlados. Agora, fica a pergunta no ar: se um desses mesmos “manifestantes” for assaltado, estuprado ou morto, a quem vai se pedir que o crime seja elucidado? Aos traficantes?
No momento em que esse artigo está sendo escrito a última notícia que temos é que eles devem deixar o campus até às 17h deste sábado. Talvez a solução já tenha sido encontrada, talvez eles tenham saído pacificamente, ou talvez tenha havido outro confronto com a Polícia. Independente do que houve, o resultado será o mesmo: esses estudantes envergonharam o país. Se realmente se orgulhassem do que estão fazendo, teriam mostrado a cara e não se escondido como os bandidos com quem lidam quando vão comprar drogas.

sábado, 29 de outubro de 2011

Vergonha dos estudantes da USP

E esse bando de estudantes vagabundos que estão fazendo arruaça na USP? Desde quando a droga é liberada no Brasil? Querem fumar, vão fumar em casa, nas repúblicas, na puta que o pariu, mas não se achem no direito de fumar em local público e ainda querer dizer que a Polícia é repressora. Porque, quando acontece um crime, como a recente morte daquele estudante que foi assaltado, esses mesmos estudan...tes vão reclamar que não há segurança no campus. Aliás, todo mundo que usa drogas esquece que comprou de um traficante, que esse traficante é um bandido e que, se tiver de matar sua família para se dar bem, mata sem dó. Fosse filho meu fazendo essa baderna apanhava quando chegava em casa. Podem me chamar de reacionária, do que quiserem... Mas quer fumar maconha, aguente as consequências de fazer algo ilegal. O que não dá é para uma universidade inteira não ter segurança porque um bando de folgados que fumar maconha no campus. Que porra de individualismo é esse? Quer dizer que para eles fumarem sossegados os outros alunos podem ser mortos e estuprados sem problemas?

Ignorância e ódio chocantes

Achei interessante ler os comentários sobre o câncer de Lula, a grande maioria comemorando o fato de ele estar doente, como se estivesse recebendo um castigo divino. Tanta ignorância e ódio me deixam pasma! Eu tive câncer duas vezes e, até onde me lembre, não fiz nada de tão grave assim para ficar doente e sofrer consequências da doença até hoje, das quais não fico me lamentando.
Tom Jobim dizia que no Brasil sucesso é ofensa pessoal, e no caso de Lula isso fica bem claro. Interessante é que as pessoas ou parecem que não leem, ou não querem acreditar que, elas gostando ou não, ele terminou seu segundo mandato como o presidente mais bem avaliado da História do país. Será que todo mundo é ignorante? Será que todo mundo que o respeita não tem conhecimento de nada?
E ninguém me venha com esse papo de que nunca se roubou tanto antes, que se roubou até muito mais. A grande e significativa diferença é que antes a imprensa não denunciava ou, se o fazia, era com pequenas notas, que mal eram encontradas nas páginas das publicações. Mesmo quando as denúncias existiam e eram publicadas, imediatamente eram esquecidas, ninguém ficava buscando fatos e mais fatos para elas se tornarem verdade. Ou todo mundo aqui esqueceu a roubalheira que foram as privatizações?
Sim, eu votei em Lula nas duas vezes em que ele foi eleito, e votei em Dilma. Para mim a situação não mudou nada, mas para muita gente, que tinha bem menos condição que a minha, mudou muito.
Agora, independente de credo político, comemorar que uma pessoa está doente, principalmente de câncer, é muita, mas muita mesmo ignorância. Que essas pessoas não tenham nunca em sua família um caso de câncer, porque elas não têm ideia do sofrimento que ele traz não somente ao doente, mas a todos que o rodeiam.

sábado, 22 de outubro de 2011

Compartilhando uma lenda

Durante minhas férias estive esse ano na Argentina, onde fui conhecer geleiras maravilhosas na Patagônia, em uma cidadezinha linda chamada El Calafate. No hotel conheci uma figura muito simpática, o dono da lojinha de lembrancinhas que, além de ser um ótimo comerciante (comprei várias coisas com ele), também me apresentou uma bela história que agora compartilho com vocês. Essa história, ou lenda, surgiu quando vi umas bonequinhas simples de madeira com roupas feitas de linhas coloridas, sem feições, diferentes de todas que já havia visto em minha vida.
Juan me contou que essas bonequinhas se chamam “macas”. Segundo a lenda local, as “macas” nasceram há muitos e muitos anos, na imaginação de uma menina que morava na montanha. Com os poucos recursos de que dispunha, ela um dia decidiu trazer as “macas” à realidade, para que levassem um pouco de sua alma e felicidade aos outros. Ela queria que suas bonecas durassem para sempre. A lenda diz que, nas casas onde são cuidadas, as macas vivem eternamente, porém, naquelas em que são deixadas de lado e esquecidas, elas simplesmente desaparecem. Assim, quem tem sorte suficiente para ter uma “maca”, não deve jamais se esquecer de cuidar dela.
Fiquei pensando na metáfora que essa lenda faz com a amizade. Se analisarmos bem, a “maca” representa nossos amigos. Se não cuidamos nem lembramos deles, o que acontece? Eles desaparecem. É uma matemática simples, mas que as pessoas parecem ter desaprendido como fazer essa conta.
Já falei muitas vezes aqui sobre os amigos, e quando fiz essa analogia com as bonequinhas fiquei pensando em como as pessoas se esquecem das amizades facilmente e depois ainda se acham no direito de ficarem ressentidas quando o amigo desaparece. Não digo que a gente precisa ligar todo dia ou “bater ponto” na casa dos amigos sempre. Mas um telefonema de vez em quando, uma mensagem, um e-mail, enfim, um sinal de fumaça, são importantes para que eles se lembrem de que fazem parte de sua vida.
Claro que o inverso também tem de acontecer. Não acredito em amizades onde apenas um se esforça para manter o contato. Afinal, qualquer relacionamento é uma via de mão dupla: eu ligo, você liga, eu vou, você vai, eu me preocupo, você se preocupa. Quando esse equilíbrio se acaba, é a hora em que existem duas opções: tentar recuperá-lo, se realmente valer a pena, ou simplesmente esquecer o assunto, e tocar a vida sem ressentimentos.
Em tempo: claro que comprei uma “maca” para mim, e até mesmo pendurei em meu carro, para todo dia ela se sentir protegida. Além disso, todo mundo que anda comigo acaba perguntando o que aquela bonequinha significa. Tenho certeza de que essa “maca” jamais vai desaparecer. Afinal, tenho por ela o mesmo cuidado que tenho por meus amigos.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Vulgaridade premiada

Não assisti nenhuma temporada de “A Fazenda”. Respeito quem goste, mas prefiro gastar o pouco tempo que tenho para ver televisão com programas de outro tipo. Porém, é impossível não saber quem está na final desse reality show, já que em praticamente todos os sites que visitei hoje há uma chamada na capa falando sobre as quatro “peoas” que sobraram na disputa.
Ao ver o grupo, cheguei a uma conclusão meio óbvia: a vulgaridade, decididamente, está conquistando lugar de destaque entre a sociedade brasileira. E, antes que algum homem venha com aquele comentário idiota de que isso é inveja porque elas são “gostosas”, existe muita mulher muito mais gostosa por aí que não fica se exibindo em poses ginecológicas num canal de televisão, nem saem com as pernas arreganhadas em revistas “sensuais”.
Fiquei pensando em que tipo de valores dá para se esperar de Joana Machado, Valesca Popozuda, Monique Evans e Raquel Pacheco. Da primeira, temos o belo exemplo de uma mulher que, a despeito de ter sido amarrada pelo então namorado Adriano, ainda assim ficou com ele e, se hoje não estão mais juntos, foi porque o jogador tratou de sair fora do relacionamento.
Valesca Popozuda. Quem é ela, na ordem do dia? Sei que participa de um grupo de funk e que colocou tanto silicone na bunda que consegue equilibrar um copo nela (sim, também leio essas idiotices!). Além desses dotes profundamente “artísticos”, que outra coisa importante ela fez para merecer tanto respeito da população?
Monique Evans todo mundo conhece, e sempre foi o que é. Porém, com a idade, ela deveria estar, digamos, um pouco mais comedida. Afinal, acredito que nenhum filho gosta de ver a mãe bêbada pelada em uma piscina, fato que foi explorado exaustivamente pela mídia quando ela participou de uma outra temporada do mesmo programa.
Por fim, Raquel Pacheco, mais conhecida por Bruna Surfistinha. Dentro da cabeça dessa meninada de hoje que, mal chegou aos 14 anos, já quer colocar silicone e ficar turbinada, ela é o exemplo de uma garota “rebelde”, que chegou ao fundo do poço, mas se deu bem. Que lição podemos tirar da história dessa garota? Que é legal se prostituir e depois ainda arrumar um marido? Que todo mundo sai fora dessa vida horrorosa? Que usar drogas e se prostituir levam você a um mundo cão, mas que para ele existe uma saída como nos contos de fadas?
Com tantos bons “exemplos”, causou-me certo espanto que as quatro tenham sido escolhidas para permanecer na tal fazenda. E tive outro pensamento: se elas eram as melhores escolhas, o que dizer então dos outros que foram eliminados?
Chego à seguinte conclusão: o nome “Fazenda” foi bem escolhido. Afinal, galinhas e vacas sempre conviveram bem, e o programa mostrou exatamente isso. Com destaque para as penosas e leiteiras de verdade, que com certeza devem ter tido um comportamento impecável, muito diferente das suas colegas de confinamento.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Rafinha merece mesmo ser defendido?

Acho interessante ver pessoas comparando o que está acontecendo com o Rafinha Bastos (a velha história babaca de "liberdade de expressão", que está sendo totalmente deturpada do seu sentido real), com a falta de punições aos nossos políticos corruptos. Se os políticos são corruptos, muito dessa impunidade é culpa nossa, que votamos naqueles que, ao chegarem ao poder, buscam apenas os benefícios que ele proporciona, se esquecendo de que devem legislar em favor do povo, e não de si próprios. Quem aqui realmente fiscaliza o que faz aquele deputado que ganhou seu voto? Acredito que raras exceções, e eu mesma não me incluo nelas. Quanto ao Rafinha Bastos, infelizmente foi preciso ele mexer com gente grande para que finalmente algo fosse feito contra suas declarações extremamente preconceituosas. Aliás, ele somente não se aventurou a fazer piadas com gays e negros porque sabe que a legislação criminaliza esse tipo de preconceito, então virou sua metralhadora contra mulheres "feias" (como se a dele fosse uma miss, e está bem longe disso!), tendo respaldo de boa parte da população masculina, o que mostra claramente o quanto ainda estamos naquele pensamento machista de que mulher pede para ser estuprada. O fato de não acontecer nada com os políticos corruptos não justifica que nada aconteça com quem dissemina preconceito e faz declarações absurdas. Não cobramos dos políticos ética e honestidade, mas isso não nos dá o direito de achar que quem se sente ofendido moralmente com as declarações desse chamado "formador de opinião" fique calado e não tome as medidas que achar cabíveis. Assim como a grande maioria das pessoas, Ronaldo se posicionou contra Rafinha quando se sentiu atingido por causa de seu sócio - mas quantos de nós buscamos direitos e cobramos obrigações apenas para os outros, sem interesse próprio? Portanto, quem está tão indignado com o que houve com esse humorista, deveria também usar essa indignação para coisas mais úteis - como, por exemplo, para o tratamento dado normalmente às vítimas de estupro, que são geralmente acusadas, nas entrelinhas, de terem "procurado" a violência da qual foram vítimas. Falta muito para que nossos políticos sejam realmente representantes do povo, mas acho que aidna falta muito mais para que as pessoas entendam que um erro jamais vai justificar outro.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Futuro construído agora

Esta semana assisti ao filme “O Homem do Futuro”, com o excelente Wagner Moura e a bela (e talentosa) Alinne Morais. Uma comédia romântica despretensiosa, o longa conta uma historinha meio batida, sobre um cientista fracassado no amor que quer voltar ao passado para consertar seu romance com a namorada. Para isso, ele constrói uma máquina do tempo e nela embarca, a fim de fazer com que sua vida tenha um destino diferente.
Apesar de a intenção do filme ser fazer rir, me peguei avaliando o que faria se eu pudesse viajar no tempo. Acredito que todo mundo já tenha se imaginado em uma cápsula do tempo, seja para voltar à saudosa infância, visitar tempos antigos, conhecer a Grécia em seu apogeu, ver o primeiro show dos Beatles.
Também muitas vezes pensamos em como podíamos ter feito isso ou aquilo diferente, e o que teria acontecido se tivéssemos adotado atitudes diversas daquelas que tomamos, e que resultaram em nosso presente. Esse pensamento pode ser confundido com o velho arrependimento, que muitas vezes nos acomete com aquela famosa frase: “Ah, se arrependimento matasse...”.
Raras vezes me arrependi de algo que fiz em minha vida. Inversamente, já me arrependi horrores por ter deixado de fazer muita coisa – por preguiça, medo, falta de dinheiro, de vontade, de coragem. Tenho em mente aquele clichê: prefiro me arrepender de ter feito, do que de sequer ter tentado fazer.
Fiquei imaginando então o que eu teria feito se entrasse naquela máquina do tempo. Onde eu poderia parar? Na minha infância, que foi muito feliz? Na adolescência, quando eu ainda tinha o poder de decidir o que poderia fazer de meu futuro? Teria feito outra faculdade? Teria deixado de fazer amizades que hoje vejo não significam nada, e apenas me dedicado àqueles que realmente me valorizam? Teria casado e tido filhos?
Depois de muito pensar, cheguei à conclusão maravilhosa de que eu não teria mudado nada. Não posso pensar no que teria sido minha vida caso eu tivesse feito outras opções, porque essa chance não existe. Construímos nosso futuro baseado no que somos hoje, e não em cima daquilo que podíamos ter feito porque, se o deixamos de fazer, significa que naquele momento não era a nossa melhor opção. Como disse Chico Xavier: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.

domingo, 4 de setembro de 2011

Decisão necessária à saúde

Nesta última quarta-feira foi suspenso o decreto de lei que permitia o direcionamento de 25% dos leitos de hospitais públicos administrados por OSs (Organizações Sociais) ao atendimento de planos e seguros de saúde privados. A decisão, que incomodou muitos usuários de planos de saúde e também as operadoras, é mais do que justa. Não sou usuária do SUS (Sistema Único de Saúde), e não me senti prejudicada. Muito pelo contrário, me sentiria envergonhada se precisasse dispor de um leito público (e com isso tomar o lugar de alguém na fila de espera) considerando o valor que pago ao convênio para dispor de atendimento.
Raras vezes vi uma decisão que envolvesse os convênios ser negativa a eles. Apesar de os impostos que pagamos serem suficientes para que tenhamos um serviço de qualidade de Primeiro Mundo, muitas vezes somos obrigados a também termos um plano particular, para conseguirmos consulta e acesso a exames em tempo mais rápido (o que ainda nem sempre acontece). Todos conhecemos as mazelas que acometem o sistema público de saúde, a começar por profissionais que, apesar de concursados e pagos para trabalharem nos consultórios dos prontos socorros, muitas vezes dedicam metade do tempo que deveria a esse emprego, privilegiando sempre seus pacientes de convênios ou particulares.
Tirar leitos de hospitais públicos e dar a pacientes de convênios é, a meu ver, um completo absurdo, uma inversão de valores e um desrespeito total ao que pagamos para ter um serviço de melhor qualidade. Antes que os conveniados pensem que a liminar foi injusta, gostaria que invertessem a situação: e se ela determinasse que os hospitais particulares dedicassem 25% dos seus leitos aos usuários do SUS? Seria justo eu, que pago o plano, ter de ficar em uma fila de espera por uma cirurgia, enquanto alguém que “não paga” estar em meu lugar?
A lógica é a mesma usada para quem tem convênio e quer se aproveitar dos benefícios públicos. Conheço casos de profissionais que orientaram os pacientes a buscarem quimioterapia pelo SUS porque sabiam que o convênio ia negar os medicamentos – o que é ilegal, mas muita gente ainda acaba pagando ou fazendo pelo serviço público um tratamento que o plano deve pagar obrigatoriamente.
O que me espanta é o cidadão achar normal usar um sistema público, quando paga pelo particular. O normal seria cobrar do particular um tratamento digno e de qualidade, e não ficar ocupando vagas em hospitais e leitos de quem não pode pagar. Porque, salvo raras exceções, ainda é difícil acreditar em medicina pública no Brasil. Quem pode paga convênio. Quem não pode, vai para o SUS. Com tudo isso, ainda nos achamos no direito de ocupar os poucos leitos disponíveis a essas pessoas?

domingo, 21 de agosto de 2011

Punição unilateral

De acordo com balanço divulgado na última sexta-feira, a fiscalização de infrações por desrespeito ao pedestre já emitiu cerca de 4 mil multas na cidade de São Paulo desde o dia 8 de agosto. A aplicação da lei é um avanço no direito dos pedestres e no rigor com os abusos de motoristas, que ainda acreditam serem donos das ruas e senhores de avenidas. O grande número de casos de atropelamento e morte, tão comuns e que muitas vezes ficam impunes, foram o maior motivo para a implantação da legislação e aplicação da multa, como forma de educar os motoristas.
Porém, do mesmo jeito que o rigor da lei se aplica a quem está atrás do volante, também deveria haver punição aos pedestres que, a despeito da sinalização adequada, da existência de faixas brancas de passagem, da construção de passarelas nas estradas, preferem conscientemente se expor ao risco de um atropelamento, ao invés de caminharem alguns metros a mais e transitarem por locais seguros.
Como motorista, sei do que estou falando. Costumeiramente vejo pessoas correndo a menos de dez metros das passarelas da rodovia SP-304, por onde passo todos os dias desde setembro de 2006. Ou seja, há cinco anos vejo pedestres que, por pura preguiça de subirem a passarela, preferem se aventurar no meio de caminhões, carros, motos e ônibus que transitam pela rodovia a pelo menos 90 quilômetros por hora. Numa velocidade dessas, dificilmente um impacto desses não será fatal.
O mais interessante é observar que, quando esse tipo de acidente acontece na pista, a grande maioria fica com pena do pedestre, como se o motorista, apenas por possuir um carro, seja automaticamente um vilão, enquanto a vítima, mesmo tendo se colocado em situação de risco, seja uma “coitada” que teve o azar de ser pega por uma máquina assassina.
A lei que multa os motoristas para coibir atropelamentos é importante e deve ser aplicada com todo rigor. Porém, precisamos acabar com punições unilaterais. Exemplos de motoristas irresponsáveis e bêbados são mostrados à exaustão quando um acidente acontece e, infelizmente, na maioria dos casos a punição é ridícula, perto da gravidade do acidente provocado. Contudo, raramente vejo serem colocadas em destaque situações em que o próprio pedestre se colocou em risco e as implicações legais que sofre um motorista que, involuntariamente, provoca um acidente. Cobrar multa apenas de um lado dará sempre força ao outro para que os abusos sejam cometidos. Respeito no trânsito é importante – para motoristas e pedestres. Está mais do que na hora de pararmos com uma visão maniqueísta de mal e bem – e sim usarmos a lei para que ambos sejam punidos quando desrespeitarem suas obrigações.


sábado, 6 de agosto de 2011

Orgulho de ser uma cidadã

A lei municipal que instituiu o Dia do Orgulho Heterossexual, aprovada essa semana em São Paulo, foi um dos assuntos mais debatidos em todas as mídias após sua divulgação. Acho um tremendo desperdício de tempo e dinheiro público um vereador fazer esse tipo de proposta, além de ser uma babaquice. Mas, particularmente, acho que ele tem todo o direito de fazer a lei. Apoia quem quer, comemora quem acha necessário. A lei não obriga ninguém a sair na rua gritando e reafirmando sua orientação sexual.
Mas discordo da gritaria que grupos de direito de defesa dos homossexuais fizeram em cima do tal projeto. Não acho que a lei vá transformar qualquer pessoa em homofóbica nem fazer com que o “movimento heterossexual” tenha mais força. Muito pelo contrário: a citada lei já virou motivo de piada e de “vergonha alheia”. Se o pessoal não tivesse feito tanto barulho em cima disso, o assunto já teria morrido.
Quem me conhece sabe que não tenho preconceito nenhum contra homossexuais. Acho lamentável quando vejo que as pessoas se afastam daqueles com diferente orientação sexual porque isso não condiz com o que elas pensam da vida. Porém, vejo que a batalha pelos direitos, que tem de ser contínua, está virando um patrulhamento ideológico exagerado. E tudo que é exagerado acaba trazendo um efeito inverso àquilo que se propõe.
Digo isso porque agora parece que todo mundo tem de tomar um posicionamento sobre o assunto. Ou é a favor, ou é contra. Não existe meio termo – quem prefere se abster, é preconceituoso. Gostando ou não, as pessoas têm direito de ficarem quietas sobre determinado assunto. Estão sendo omissas? Sim. Mas, do mesmo jeito que eu tenho direito de sair gritando e falando e lutando pelo que acho correto, essas pessoas têm o direito de se abster sobre determinados assuntos.
Conheço muitos homossexuais que já estiveram na Parada Gay e hoje não voltam ao desfile. Vários me disseram que o que antes era um evento para se reafirmar o orgulho de ser homossexual virou um desfile de drag queens e tresloucadas que em nada contribuem para que o respeito seja conquistado. Um amigo chegou a fazer essa seguinte comparação: seria a mesma coisa que fazer um desfile para que as mulheres sejam respeitadas, com todas elas de fio dental. A Marcha das Vadias, que tinha esse propósito, acabou caindo no ridículo. Desde quando exigir respeito é sair quase pelada na rua? Se achamos uma Valesca Popozuda ou uma Nicole Bahls vulgares ao máximo quando aparecem com roupas minúsculas em qualquer evento, como posso achar que desfilar em trajes mínimos é lutar por respeito?
O politicamente correto está se transformando em “ditatorialmente correto”. Ou apoio, ou sou contra. Ou mostro abertamente que estou ao lado dos homossexuais, ou sou preconceituosa. Ninguém precisa ficar berrando aos quatro ventos o que apoia ou não. Respeito e direitos conquistamos com atitudes, com argumentos, com ponderação. Não é impondo “goela abaixo” nas pessoas os direitos dos homossexuais que elas deixarão de ser preconceituosas. Isso será conquistado com atitudes diárias que demonstrem, acima de tudo, respeito a todos. Deixem que alguns poucos gatos pingados comemorem o Dia do Orgulho Heterossexual, que nós celebraremos, acima de tudo, o orgulho de sermos cidadãos.

sábado, 23 de julho de 2011

Morte anunciada e confirmada

A morte de Amy Winehouse, aos 27 anos, foi o desfecho de uma vida marcada por excessos de drogas, bebidas e escândalos acompanhados pelo mundo todo através da mídia. Lembro-me quando Amy começou a se destacar no cenário musical por sua voz fora do padrão e músicas bem escolhidas, ainda bem jovem e com um corpo bonito, um rosto saudável e uma pele brilhante.
Em apenas cinco anos, foi possível acompanhar passo a passo tanto seu sucesso retumbante, quanto seu declínio. Aquela moça bonita que havia conquistado fãs por sua voz acabou se transformando em uma mulher que ocupava cada vez mais espaço na mídia por seus porres monumentais do que pelo seu talento.
Não fui ao show de Amy Winehouse no começo do ano. Tenho a concepção de que meu dinheiro vale muito para ser desperdiçado com alguém que eu sabia, por conhecimento público, que mal conseguiria se manter em pé no palco, esquecia as letras de músicas e não fazia a menor questão de tratar bem seus fãs. Muita gente que foi às apresentações no Brasil saiu decepcionada com o espetáculo, apesar de que já era de se esperar o que foi mostrado por ela.
Recentemente, Amy cancelou vários shows após ter sido vaiada na Sérvia. Numa apresentação constrangedora, ela chegou bêbada, atirou o microfone no público, errou a letra das músicas e foi vaiada por 20 mil pessoas. Foi a gota d’água para seu agente que, há pouco mais de um mês, decidiu aposentá-la indefinidamente dos palcos.
A retirada da cantora do mundo musical não impediu que ela continuasse a ser notícia por seus porres. Tenho a impressão de que, inconscientemente, Amy estava pedindo socorro, pedindo que alguém conseguisse fazê-la parar de se matar aos poucos. Talvez essa aposentadoria forçada fosse o primeiro alerta de que algo muito sério precisava ser feito para que ela conseguisse se livrar de seus vícios. Ou talvez fosse um golpe de marketing para que, quando ela voltasse à cena, reconquistasse seu espaço no meio musical, perdido tão rapidamente como foi conquistado. Por mais que Amy fosse uma diva, a paciência dos fãs estava se esgotando.
Lamento a morte da cantora por ver um grande talento se acabar de maneira tão decadente. Não faltam exemplos de jovens que nos deixaram da mesma forma: Jim Morrison, Jimi Hendrix, Kurt Cobain, Janis Joplin. Cantores talentosos que surgiram como cometas, conquistaram milhões de fãs e, na mesma velocidade, entraram numa curva descendente por causa das drogas. Hoje, ainda são cultuados por sua música, mas jamais lembrados como exemplos por seus estilos de vida. Deixaram sua marca artística, mas ao mesmo tempo foram esquecidos como exemplos de vida. Amy agora faz parte desse grupo. Se existe mesmo o “outro lado”, nessa hora todo mundo deve estar fazendo um show fantástico junto.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Trabalhando entre amigos

Nesta quarta-feira comemoramos o Dia do Amigo. A data, que até pouco tempo era desconhecida, hoje já faz parte do calendário de muitas pessoas, que aproveitam o dia para se reunir com amigos comemorando a amizade, ou mesmo mandando mensagens àqueles que estão longe.
Mas raramente vejo, quando falamos na data, as pessoas se referirem aos amigos do trabalho. Normalmente falamos sobre os “melhores” amigos, aqueles que estão sempre conosco em viagens, reuniões festivas, jantares, churrascos, e também em nossos momentos tristes. Mas esquecemos daqueles que, pelo menos durante um terço do nosso dia, fazem parte da nossa rotina.
Um dos pontos mais interessantes do amigo de trabalho é que, muitas vezes, ele não tem absolutamente nada a ver com o que sou. Porque normalmente acabamos fazendo amizade com aqueles que estão de acordo com o que gostamos, estão nos mesmos lugares que frequentamos, e têm muitos pensamentos em comum conosco.
No trabalho não. Quando começo a trabalhar em qualquer lugar, não sei se a pessoa que sentará perto de mim gosta de futebol ou não, se é calada ou falante, se adora contar piadas ou é melancólica, se um dia irá sair comigo almoçar ou não. Na verdade, nossos futuros colegas de trabalho acabam sendo uma incógnita num primeiro momento.
Por isso, acho interessante que o trabalho nos proporciona a chance de fazermos amizade com pessoas que, fora desse ambiente, muito provavelmente não fariam parte das nossas vidas. Pelos vários lugares onde já trabalhei me deparei com indivíduos muito parecidos comigo, e com aqueles totalmente diferentes de mim. Com os últimos, a convivência cotidiana me fez ver que, apesar dos contrastes, era possível sim ter amizade com pessoas opostas a mim.
Ao longo dos meus anos como profissional em Jornalismo e professora de Inglês, fui amealhando amigos que hoje, independente de não estarem mais no mesmo trabalho que eu, fazem parte da minha vida e espero que continuem assim sempre. Pessoas que de vez em quando eu encontro para um bate papo regado a boas risadas, com quem divido experiências profissionais e pessoais que jamais serão esquecidas.
Semana passada fiquei dois dias sem trabalhar por causa de uma gripe forte. Pode parecer bobagem, mas senti falta de pequenas coisas que fazem parte do meu dia a dia no jornal: do Reginaldo me dizendo que “sente saudade da minha ausência”, do Diego falando que eu “como macaco”, do Luciano fazendo seus comentários irônicos a respeito de diversos assuntos, da Renata falando brava ao telefone com algum assessor. Na verdade, senti falta da redação como um todo, e percebi uma coisa muito valiosa: trabalhar entre bons amigos é uma das melhores coisas que existe. Afinal, passo um terço do meu dia com essas pessoas. Que essas horas sejam aproveitadas da melhor maneira possível.

sábado, 9 de julho de 2011

Preguiça de brigar pela coisa certa

Por mais que saibamos que o brasileiro é um povo acomodado quando busca seus direitos, ainda assim sempre me sinto espantada em ver como as pessoas aceitam pequenos “roubos” cotidianos sem reclamar. Um bom exemplo dessa visão aconteceu a semana passada.
Há pouco mais de 40 dias fiz uma compra em uma loja de departamentos e, no dia de pagar a primeira parcela, eu estava viajando e não tinha acesso a banco ou internet para quitar o débito. Quando cheguei de viagem, entrei no site da loja para imprimir o boleto (que vinha com os juros calculados) e tive a primeira surpresa: como a parcela estava alguns dias atrasada, não havia a opção de se pagar a conta pela internet nem caixa eletrônico. Ou seja, eu teria de ir até a loja para quitar o débito.
Fiquei pensando se isso era uma estratégia de marketing daquelas bem capengas, que pressupõe que, já que o cliente teve de ir ao estabelecimento, vai acabar comprando alguma outra coisa. Se foi, comigo funcionou ao contrário.
A segunda surpresa foi quando vi a cobrança de um “seguro” em cada parcela. Lembrei então que, quando estava finalizando a compra, a caixa havia me perguntado se eu desejava o tal “seguro”, para o caso de ficar desempregada, e eu havia dito que não queria pagar essa taxa. O valor era irrisório (R$ 1,99 cada parcela), mas basta fazer um cálculo simples para entender que, se cada cliente pagar esse valor, imagine o quanto a loja não ganha no fim do mês.
Quando entrei no site para ver se era possível estornar esse valor, descobri que o atendimento para esse tipo de problema também só pode ser feito pessoalmente, independente de haver um número de SAC e um e-mail de atendimento ao cliente. Resumindo: quando fui à loja e pedi o estorno, a atendente prontamente refez a parcela, e tive esse valor retirado. Fiquei imaginando o quanto esse “erro” deve ser comum, para que ela nem contestasse meu pedido.
Comentei o caso com uma amiga e ouvi o seguinte comentário: “Nunca que eu perco o meu tempo em ir atrás de R$ 1,99”. O mais interessante é que essa mesma pessoa se orgulha em ficar 40, 50 minutos tentando votar em algum idiota do BBB, mas não perde meia hora para ir atrás de seus direitos. Porque o problema não era o valor do “seguro”, mas sim o princípio: se não pedi um serviço, não tenho de pagar por ele.
A preguiça de ir atrás dos nossos direitos é que faz o Brasil ser o que é hoje: um país onde o famoso “jeitinho” é valorizado, onde somos roubados diariamente em pequenas coisas, e achamos tudo normal. Ser passivo e feito de idiota é o correto. Ter cidadania é ser “encrenqueiro”.

domingo, 3 de julho de 2011

Fazendo a diferença sempre

Sempre tive admiração por pessoas que, a despeito de adversidades, conseguem ainda achar tempo e disposição para ajudar ao próximo. Admiro aqueles que conseguem sair de dentro de seus próprios casulos e fazer a diferença com pequenas atitudes que podem mudar a vida de muita gente.
Pode parecer incongruente, mas não vejo a caridade como uma obrigação pessoal. Outro dia estava conversando sobre isso com uma colega do jornal, e estávamos falando de uma celebridade que ajuda muitos jovens carentes. Ela comentou que “ele não fazia mais do que a obrigação”, porque tinha dinheiro, e que tem muito mais valor um pobre ajudando outro do que um rico fazendo caridade. Não concordo com a parte da obrigação. Afinal, se eu ganhei meu dinheiro merecidamente, posso dispor dele como bem entender. Não vejo ninguém obrigado a fazer aquilo que, pelos impostos que pagamos, devia ser feito pelo governo.
Mas concordo na parte de que quem tem dinheiro para esbanjar em um carro de R$ 500 mil, tem muita condição de ajudar aos outros. Alguns o fazem de boa vontade e sem fazer alarde, enquanto outros preferem apenas gastar com si mesmos, sem abrir de qualquer centavo para aliviar a pobreza de outro ser humano. E outros fazem aquela caridade sempre com holofotes, para que todo mundo veja o quanto são “bons”.
Por isso, me enche de esperança quando encontro pessoas que resolvem fazer o bem – pelo simples prazer de fazer o bem. Conheci um casal que mostrou que fazer a diferença independe de ser rico ou pobre: depende apenas de querer.
Célio e Lúcia Cristina, a despeito de terem três filhos biológicos, decidiram um dia mudar a vida de outras crianças. Hoje, eles criam 12 filhos, entre sete e 19 anos. Eles não são milionários e, para sustentar todo mundo, contam com doações de amigos e desconhecidos, que colaboram com roupas, brinquedos, calçados e até mesmo eletrodomésticos que, se estiverem precisando de um reparo, são consertados por profissionais que não cobram nada do casal.
Conversando com Lúcia, percebe-se na voz o orgulho em falar das crianças e adolescentes que hoje moram em sua casa, e que são seus “filhos”. Esse casal poderia estar hoje tranquilamente curtindo uma aposentadoria, descansando, viajando. Se estivessem fazendo isso, não teria nenhum problema. Mas, ao invés de criticarem o governo por sua inoperância e se lamentarem das dificuldades, mudaram o destino de 12 pessoas, para muito melhor. Lúcia diz que nunca pensa no que o governo faz ou deixa de fazer por essas crianças. Para o casal, criar esses filhos é uma missão: “Doamos a nossa vida para que elas tenham realmente vida”. Isso é fazer a diferença de verdade.

domingo, 26 de junho de 2011

Desrespeito e submissão

O ator Ashton Kutcher, que esteve semana passada no Brasil para participar do São Paulo Fashion Week, deixou uma herança não muito agradável a um restaurante onde participou de uma festa badalada em sua homenagem: uma multa de R$ 872,50, gerada por seu desrespeito a Lei Antifumo, que proíbe qualquer pessoa de fumar em ambientes fechados.
Antes disso, na semana anterior, a atriz francesa Catherine Deneuve, saudada pelo mundo todo como exemplo de beleza eterna e elegância, fumou duas vezes durante uma entrevista no hotel em que estava hospedada. Assim como o restaurante, o hotel também foi multado no mesmo valor por causa da lei.
A aplicação da multa em ambos os casos, a meu ver, está mais do que correta. Cabe aos estabelecimentos verificar se as pessoas estão respeitando ou não a legislação e, caso não o façam, devem ser punidos. Porém, o que muita gente não notou é que, em ambos os casos, os fumantes puderam dar suas tragadas sossegadamente, sem nenhum tipo de constrangimento ou incômodo. Ou seja, duas pessoas públicas desrespeitaram a lei abertamente, e não foram criticadas por isso. Será que se fosse um brasileiro desconhecido que acendesse o cigarro nesses ambientes, a situação seria a mesma? Será que o restaurante e o hotel deixariam a pessoa fumar seu cigarro sossegada e assumiriam a multa, ou será que ela seria convidada educadamente a apagar seu cigarro?
Mais uma vez me causa vergonha essa submissão que nós, brasileiros, temos frente a qualquer estrangeiro que, em seus países de origem, respeitam as leis mas, quando chegam aqui, acham que estão literalmente na “casa da mãe joana”, e que podem fazer o que bem entendem, sem problema algum.
Lembro-me uma vez que estava em um bar em Piracicaba e em uma mesa próxima a minha estavam três americanos que trabalhavam em uma multinacional da cidade. Os três já estavam bastante “alegres” e aproveitavam-se da língua para fazer comentários extremamente depreciativos e vulgares sobre todas as mulheres que passam perto da sua mesa. Para piorar, eles resolveram fazer uma brincadeira de jogar para cima (e também para o lado) as bolachas de chope já usadas. Duas ou três vezes as bolachas caíram em cima de uma das minhas amigas, que foi reclamar com o gerente, acreditando que ele iria chamar a atenção dos americanos. Ledo engano! O gerente disse que não podia ir lá reclamar, que eles eram estrangeiros, que trabalhavam em uma multinacional, e que sairiam reclamando do bar caso fossem repreendidos. Refazendo a pergunta: será que se fosse a minha mesa jogando bolachas de chope para o alto e incomodando os americanos, o desrespeito seria tolerado com tamanha submissão?

domingo, 19 de junho de 2011

Autoestima agredida

Essa semana, estávamos assistindo aos telejornais na redação, quando vimos uma garota que havia sido espancada pelo namorado dando uma entrevista sobre o caso e, a despeito de estar praticamente com os olhos fechados de tanto apanhar, ela ainda chorava e dizia que o amava. Claro que as reações de todo mundo (incluindo a minha) foram as mais variadas, mas todas tinham algo em comum: o espanto em ver que, a despeito de ter sofrido uma violência, a moça ainda queria voltar para seu agressor.
Acredito que todo mundo saiba de um caso de uma mulher agredida. Quando fiz faculdade, tive duas amigas que constantemente apareciam com hematomas nos braços, e sempre vinham com a mesma justificativa: os namorados as tinham “puxado de maneira brusca” de algum lugar, e por isso elas estavam com marcas roxas. Uma delas, inclusive, parecia ter orgulho em contar que isso sempre acontecia quando ele sentia muito ciúmes dela. Uma vez presenciei uma dessas crises, quando ele quebrou o volante do carro no murro porque ela havia cumprimentado um colega. Quando fui alertá-la de que esse tipo de comportamento furioso poderia ser perigoso, recebi como resposta que eu estava “com inveja” porque meu então namorado não tinha ciúme de mim.
A agressão à mulher é bastante comum no Brasil, até mesmo porque a grande maioria tem vergonha de denunciar o companheiro. O que mais espanta nesses casos é que muitas tentam justificar o ato de violência. “Eu o provoquei”, “ele não é assim normalmente”, “ele havia bebido”, são frases comuns que ouvimos quando essas mulheres, normalmente machucadas, tentam convencer aos outros (e principalmente a si mesmas) de que aquela violência não vai mais acontecer.
A cantora Rihanna, que teve o rosto amassado pelo também cantor Chris Brown, reatou o namoro assim que os machucados sararam. Pouco tempo depois, ela novamente terminou o relacionamento, e em uma entrevista muito corajosa, disse que sentia vergonha por ter voltado com quem a havia agredido. Como pessoa pública e ídolo de milhares de adolescentes, Rihanna fez uma mea culpa, ao dizer que sua atitude poderia dar a entender que ser agredida era normal – o que não é.
A sociedade brasileira, que ainda tem muito machismo em sua raiz, não estigmatiza o homem que bate na mulher. Por isso vemos tantas tragédias anunciadas, quando mulheres que constantemente são agredidas acabam sendo mortas por seus pares. Acredito que essas mulheres sofrem de um problema muito maior do que apenas a violência: a autoestima agredida. E, enquanto essa autoestima não for reavaliada, dificilmente a agressão física deixará de ser um hábito, para se tornar o que realmente é: um crime.

domingo, 12 de junho de 2011

Uma hora a máscara cai

O Dia dos Namorados é aquela data em que os solteiros, ou “desnamorados”, ficam de fora das programações especiais feitas em todos os bares e restaurantes para casais apaixonados. Encontrar o par perfeito ainda é o sonho de muita gente, e para isso valem todos os recursos: sair, encontros às escuras, pedir ajuda aos amigos, e até mesmo se inscrever nos sites de relacionamento, que se tornaram febre na última década.
Uma pesquisa feita nos Estados Unidos e publicada essa semana mostrou um dado interessante sobre esses sites: os homens mentem nome e idade, e as mulheres enganam sobre peso. Foram analisadas 14 categorias, como nome, informações de contato pessoal e status de relacionamento. Em 13 desses itens, os homens mentem mais do que as mulheres. Por exemplo: 19% dos homens mentem sobre o nome e 18% não são honestos a respeito da idade. Enquanto isso, 11% das mulheres mentem sobre o seu peso.
A despeito de a pesquisa ser meio óbvia, ainda fico espantada em ver como as pessoas acreditam que, por estarem com um perfil na internet, elas podem mentir à vontade, sem problema algum. Mulher mentir o peso eu acho idiotice, mas não considero um pecado grave – afinal, dizer o quanto se pesa, principalmente para quem está acima do que é considerado ideal numa sociedade como a nossa, é eliminar qualquer chance de encontrar o par perfeito. Além disso, muitas vezes o peso da balança não aparece no corpo – conheço pessoas que parecem bem mais magras do que são realmente.
Mas mentir nome e idade, na minha concepção, é bem mais grave. Afinal, se quero encontrar alguém para um relacionamento, devo partir do princípio que a pessoa precisa confiar em mim, assim como eu nela. Lembro-me de uma amiga que conheceu em um chat um rapaz muito simpático e que, em vários aspectos, correspondia a tudo que ela buscava. Os dois sempre conversavam e trocavam e-mails, e um belo dia resolveram trocar fotos. Ela havia se descrito da maneira correta, e a foto que mandou ao rapaz correspondia à realidade. Ele havia dito que tinha “corpo atlético” de tanto malhar e que era moreno claro. A foto, porém, mostrava um homem completamente diferente: além de ser super magro (acho que a cintura dele era da largura da minha coxa!) ele era negro. Claro que, depois disso, as conversas esfriaram, e ela ficou super chateada. Quando eu questionei qual era o grande problema, ela me disse: “Se ele mentiu sobre a aparência física, imagino que todo o resto vou ter de investigar. Como posso iniciar um namoro com uma desconfiança assim?”
Ela estava certa. Mentir num começo de namoro acaba com qualquer chance de o relacionamento dar certo. Porque, por mais que a pessoa se esforce, uma hora a máscara cai. E aí, não tem milagre que faça renascer o encanto perdido.

sábado, 4 de junho de 2011

Alunos de verdade

“Zapeando” hoje de manhã pela internet, vi várias notícias de tragédias, crimes, guerras, futilidades, enfim, vi tudo aquilo que estamos acostumados a assistir ou ler diariamente. O difícil, quando acompanhamos o noticiário, é ver matérias com exemplos de amor, solidariedade, luta, honestidade.
Nos últimos dias, ao abrir as agências para avaliar quais notícias seriam incluídas nas duas páginas que faço diariamente, vi muitos exemplos de violência gratuita. Uma delas, inclusive, me chamou a atenção, pois era sobre uma mãe que agrediu a professora de sua filha com socos e chutes, inclusive na cabeça, porque a educadora havia chamado a atenção da criança, de apenas cinco anos. Fiquei imaginando que tipo de monstro essa mãe está criando e como será o comportamento dessa pequena quando tiver mais idade. Será que a mãe vai agredir todo mundo que ousar contrariar sua vontade?
Lendo esse tipo de absurdos diariamente, às vezes sinto que estou perdendo totalmente a fé no ser humano. Os exemplos que devíamos seguir são raramente mostrados com destaque, enquanto as notícias que envolvem violência, tragédias ou futilidades ganham enorme espaço. Fico sempre me perguntando quais tipos de valores que estão nos dominando, e porque os princípios morais que antes eram tão respeitados, hoje são relegados a meras notinhas perdidas no meio de outros assuntos.
Mas hoje, ao passar por vários sites, vi uma matéria que me deixou feliz, e me mostrou que, apesar de tudo, ainda há pessoas que acreditam na força do amor. Adolescentes de uma classe do terceiro ano do Ensino Médio, em Governador Valadares, nos deram um exemplo de amor ao próximo. Em solidariedade a um colega que tem câncer e passou pelas primeiras sessões de quimioterapia, todos os outros garotos rasparam a cabeça. Seguindo esse exemplo, professores e até diretores da escola resolveram fazer o mesmo. Quando o garoto voltou à escola e abriu a porta da classe, teve essa bela surpresa. Em suas palavras, disse que se sentiu “feliz e acolhido”.
Ao invés de sofrer bullying, de ser “zoado”, de sentir vontade de se esconder, esse garoto recebeu em um momento muito difícil um apoio totalmente inesperado. O gesto maravilhoso pode ser conferido no link http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2011/06/estudantes-raspam-cabelo-para-apoiar-colega-com-cancer-em-mg.html. Num mundo onde estudantes e pais xingam e batem em professores, e onde o respeito nos colégios tem se tornado raridade, o exemplo desses garotos nos mostra que, acima de tudo, eles são alunos de verdade na escola da vida.

sábado, 28 de maio de 2011

Direitos "mau" aproveitados

Antes que algum leitor mais desavisado ache que escorreguei feio no Português e usei a palavra errada antes de aproveitados, esclareço que expressei meu pensamento de forma correta. Não quis dizer “mal” aproveitados, no sentido de poucos usados, mas sim “mau”, no sentido de aproveitados da maneira errada.
Estamos acostumados a reclamar de muita coisa, e achamos ótimo quando algum direito nos é concedido através da lei. Porém, percebo que, adepto do famoso “jeitinho”, o brasileiro, em sua maioria, sempre tenta aproveitar do seu direito de maneira vantajosa, sem se preocupar se, com isso, está prejudicando alguém.
Um bom exemplo disso são as filas para idosos, gestantes, mães com crianças no colo e portadores de necessidades especiais. Já cansei de ver “idosos” usando a fila para pagar malote de empresas, que se beneficiam desse direito para contratar funcionários mais velhos, que são atendidos antes do público comum. Legalmente falando, nada posso fazer, porque a lei é clara. Porém, moralmente, acho absurdo um idoso que está trabalhando (e, portanto, deve estar muito bem de saúde!), se aproveitando dessa lei para levar vantagem na hora de pagar as contas de uma empresa.
Também acho interessante quando vejo mulheres com crianças de cinco, seis anos no colo apenas para se beneficiarem da lei. Qualquer pessoa de bom senso sabe que criança de colo é aquela que ou não sabe andar, ou ainda é muito pequena para ficar sendo segurada apenas pela mão em lugares públicos. Mas ninguém vai conseguir me convencer de que uma mãe com uma criança dessa idade tem direito a passar na minha frente em uma fila.
Por ter carteira de motorista especial devido às cirurgias que fiz quando tive câncer de mama, tenho o direito, por lei, de estacionar na vaga dos portadores de necessidades especiais. Poderia me aproveitar desse benefício, afinal, essas vagas são um pouco maiores que as comuns, e isso me facilitaria muito na hora de estacionar meu carro. Porém, quando me questionam o porquê ainda não tenho esse adesivo, sempre digo que minhas pernas são ótimas, e que não me dá trabalho nenhum estacionar um pouco mais longe, quando não consigo colocar o carro em lugares apertados. Aliás, quando as pessoas sabem que tenho desconto para comprar automóvel, elas pensam que posso ter quantos carros eu quiser. Acho ótimo que essa lei impeça que os beneficiados tenham o desconto para mais de um veículo, e que a troca somente possa ser feita após três anos de uso. Esse é um dos poucos benefícios que conheço que são “bem” aproveitados: apenas por quem realmente precisa, e não para fazer comércio.
Essa é a diferença entre ser oportunista e ter um direito: aquele que busca vantagem faz de tudo para consegui-lo, e aquele que realmente precisa, muitas vezes abre mão dele, em prol do bem comum.

sábado, 21 de maio de 2011

Humor sem graça e cruel

Semana passada li em algum site que o humorista Rafinha Bastos, do “CQC”, afirmou que gosta de incomodar e criar polêmica com suas declarações. Em seus shows, ele resolveu fazer uma piada com um dos maiores crimes que se pode cometer contra qualquer ser humano: o estupro. De acordo com sua visão, só mulher feia é estuprada e, ao invés de se queixar, ela devia agradecer seu estuprador. Para dar um tom mais cruel ainda à “piada”, ele acrescenta que o homem que estupra mulher feia merece um abraço, e não ser preso.
Rafinha Bastos não se desculpou até agora por essas afirmações absurdas. E, cá entre nós, deve ter muita gente, em seu show, que acredita mesmo isso. Deve haver muito homem que acha que mulher feia deve agradecer quando alguém olha para ela e demonstra interesse sexual. Homens que esquecem que, muito além da beleza física (que, salvo raras exceções, se acaba com o passar dos anos), existem outros valores mais nobres a serem observados em qualquer pessoa.
Acredito que o estupro é o maior crime que se pode cometer contra uma pessoa, perdendo em crueldade apenas para o assassinato. Exércitos de várias épocas e de vários lugares do mundo já fizeram uso dele como “arma” para humilhar os povos vencidos. Torturadores também já se valeram do estupro para tentar conseguir informações. O estupro surge de uma necessidade extrema de poder mas, na verdade, é cometido por covardes, que se aproveitam da fraqueza da pessoa subjugada para violar o que de mais sagrado temos: nosso corpo.
Rafinha Bastos foi extremamente infeliz em seu comentário por vários motivos, além do fato óbvio de brincar com um crime que é considerado repulsivo em todos os lugares civilizados do mundo. Outro motivo pelo qual ele foi infeliz é pelo pensamento machista de que a mulher feia normalmente é desesperada para ter alguém com quem fazer sexo, e por isso fica feliz até mesmo quando é violentada.
O que ele esquece é que, no fundo no fundo, a mulher pode se dar ao luxo, mesmo sendo feia (para seus padrões, que fique bem claro), de ter alguém com quem sair. Ao contrário de muitos homens, que precisam de prostitutas para terem satisfação sexual, dificilmente uma mulher, se realmente quiser sexo casual, fica sem ter um homem à disposição. Talvez seja por isso que existam tão poucos garotos de programa, em comparação ao número de mulheres nessa profissão. A grande diferença, entre a maioria dos homens e da mulher, é que nós, além de sabermos enxergar em uma pessoa muito mais do que apenas seus dotes físicos, não precisamos sair por aí provando que somos “garanhonas” para sermos consideradas mulheres. E beleza, como já foi comprovado há séculos, nem sempre garante uma vida sexual feliz. Se fosse assim, as mulheres maravilhosas que vivem aparecendo em revistas, com corpos super esculpidos, jamais seriam traídas nem trocadas por outras, como frequentemente vemos, não é mesmo?

sábado, 14 de maio de 2011

Aprendendo a dizer adeus

Ao longo da minha vida, houve uma época em que mudar de cidade era algo que fazia parte do meu destino. Em 39 anos morei em 11 cidades, algumas por pouco tempo, outras por um período suficiente para sentir muita falta. Em basicamente todas elas deixei amigos, com os quais ainda mantenho contato, mesmo passados mais de 25 anos que saí do lugar.
Assim, fiquei acostumada a ser a pessoa que se despedia dos amigos. Por mais que a tristeza da partida estivesse presente, a expectativa da mudança era algo que acabava se sobrepondo e me fazendo ficar feliz. Essa semana, porém, dois amigos que deixaram o jornal me fizeram ver que, apesar de todas as minhas andanças, ainda estou aprendendo a dizer adeus.
Não vou falar aqui do lado profissional da Renata Ribeiro e do Wagner Sanches, até porque o trabalho deles dispensa comentários. Mas queria falar dos amigos queridos com quem convivi por quase cinco anos, e que me ensinaram muita coisa, principalmente em termos de generosidade.
Wagner foi quem primeiro me convidou a almoçar quando entrei no Liberal. Aos poucos, fui conhecendo melhor esse homem que, a despeito de ser extremamente brincalhão, é uma pessoa séria quando preciso, e tem um coração muito doce. Seu jeito de falar, suas piadas e comentários sempre alegravam a redação, trazendo descontração quando às vezes todo mundo estava super estressado. Já estou sentindo falta daquele “demoninho” me chamando de “fuefa” e “redonda” (só ele pode!).
Da Renata fica até difícil falar sem ter vontade de chorar. Além de ter trabalhado diretamente com ela como repórter e editora, fomos nos aproximando de maneira tal que hoje a coloco naquele lugar sagrado dos “amigos especiais”, que não é qualquer um que entra. Por uma infelicidade, não pude ir ao seu casamento, porque estava operada, mas lembro-me da gentileza dela em me enviar uma foto pouco tempo depois do enlace, para compartilhar comigo, mesmo que por uma imagem, aquele momento tão especial em sua vida. Para minha alegria, Renata e seu marido passaram a virada desse ano em minha chácara, com minha família. Talvez ela já soubesse, lá no fundo, que outra chance de estarmos juntas nesse dia seria difícil.
Wagner e Renata encerraram seu ciclo no jornal e saíram para novos projetos pessoas e profissionais. Saíram e deixaram, além do exemplo de profissionalismo, muitos amigos e lembranças boas, que ficarão no coração de todos da redação. Aprender a adeus dizer é difícil, mas o faço com a alegria se sobrepondo à tristeza, e desejando aos dois toda sorte do mundo em seus novos caminhos. Sejam (mais) felizes!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O inexplicável da morte de um filho

Não tenho filhos e nem vou ter. Sempre tive esse pensamento, o que não me impede de adorar crianças. Não tenho filhos mas tenho sobrinhas, as quais amo incondicionalmente e por quem sempre procuro fazer tudo o que posso. Não sei o que significa a expressão amor materno, e sei menos ainda o que é a dor de perder um filho.
Essa semana uma amiga querida e ex-colega de redação, a Érika Santiago, perdeu sua filha Vitória, de apenas cinco meses. A bebezinha havia nascido com alguns problemas de saúde graves, e desde seu primeiro dia de vida lutou bravamente para sobreviver. Passou por cirurgias e procedimentos complicados, mas no final seu pequeno corpo resolveu descansar.
Somente soube da morte e do enterro da Vitória tarde da noite, quando cheguei em casa. Não cheguei a conhecê-la, porque dos seus cinco meses e pouco de vida, apenas por 20 dias ela pode ficar em seu quarto, preparado com todo carinho pela futura mamãe. Mas buscava sempre notícias dela e, a cada e-mail recebido com boas perspectivas, a torcida para que ela conseguisse superar todos os seus problemas de saúde aumentava.
Não imagino e nunca vou saber o tamanho da dor de perder um filho. Dizem que não há palavras para descrever esse sentimento, e que é contra a natureza um filho morrer antes dos pais. Conheço outras pessoas que perderam filhos, e já vi as mais diversas reações: aqueles que se recuperaram e conseguiram seguir em frente, e aqueles que nunca mais sorriram verdadeiramente.
Liguei para Érika na terça-feira à noite e pude sentir a dor em sua voz. Ainda assim, essa amiga me passou uma lição de conformismo, de aceitação e de fé que poucas vezes vi em minha vida. Durante a conversa, segurei as lágrimas em muitos momentos. Não me sentia no direito de chorar porque, a despeito de a voz da minha amiga estar triste, ela não chorou. Ela mostrou que a dor da perda da pequena filha era grande, mas que toda a luta pela sua vida não havia sido em vão.
No dia seguinte ao enterro da Vitória, Érika deu mostras de um desprendimento pouco visto nessas situações, em tão pouco tempo: pegou o enxoval de sua filha, com roupinhas que nem haviam sido usadas, e doou tudo à maternidade do hospital de Nova Odessa.
Neste domingo, Dia das Mães, Érika não terá Vitória em seus braços para comemorar a data. Mas sei que o amor dela pela bebezinha continua imenso. Assim como sei que todas as mães que tiveram seus filhos levados antes delas pensarão neles com um amor imensurável. E tentarão superar a dor com a certeza de que esses filhos, lá de cima, estão olhando por elas.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

E a "sapa" virou princesa...

Nos últimos dias, o assunto que tomou conta de todas as mídias foi o casamento do Príncipe William com Kate Middleton. Não tem como fugir do tema, que ainda deve render muitas matérias, após a cerimônia que acontece hoje pela manhã. Tenho ouvido muita gente falar que não aguenta mais ouvir falar no enlace, que vem sendo considerado o casamento do ano.
Guardadas as devidas proporções, o mesmo frisson tomou conta do mundo por ocasião das bodas de Diana e Charles, em 1981. Tinha nove anos, e lembro-me perfeitamente de ter assistido a cerimônia pela televisão. Imagine o que significava para uma menina de nove anos ver um casamento de princesa “de verdade”! Aos meus olhos de criança, Diana personificava todas as personagens que eu tinha visto nos livros, e havia encontrado seu príncipe encantado.
Li em vários lugares comparações entre a futura princesa e Diana. Exceto pela beleza de ambas, que não podemos desconsiderar, acredito que Kate se equipara muito mais à Camila Parker Bowles, a segunda esposa de Charles, por quem ele sempre foi apaixonado e não hesitou em abdicar do trono para ficar com ela.
Feia, desengonçada, velha, mal arrumada. Inúmeros foram os “adjetivos” usados pela imprensa para descrever Camila, que esperou pacientemente por mais de 30 anos para casar com o então herdeiro do trono inglês. Finalmente, em 9 de abril de 2005, em uma cerimônia discreta e curta (apenas 25 minutos), ela conseguiu ficar com o homem que sempre amou, mesmo enquanto esteve casada.
Kate esperou apenas oito anos para se tornar princesa. Desde sempre, definiu para si mesma que iria conquistar William. Assim como ela, milhares de inglesas tinham o mesmo sonho. A diferença é que Kate foi atrás do seu objetivo: matriculou-se na mesma universidade que ele, e foi conquistando William aos poucos. Nesses oito anos, o príncipe já chegou a ser flagrado em uma boate com a mão nos seios de outra mulher – como um “remake” de seu pai, que teve um telefonema um tanto erótico dado à Camila descoberto e divulgado ao mundo todo. Mesmo com o escândalo e a repercussão da foto no mundo todo, Kate ficou firme e manteve o namoro. Um objetivo maior a movia: a coroa de princesa, que ela finalmente conseguiu.
Como Camila, que esperou Charles casar, divorciar, enfrentar a família real e a opinião pública inglesa, para finalmente ficar ao seu lado, a futura Lady Kate (Tô Podeno!) deve ter aguentado muita coisa para estar hoje no trono mais ambicionado da Europa, dentro da monarquia mais famosa do mundo. Diferente dos contos de fadas, onde a princesa esperava apenas pelo beijo do príncipe para selar o amor, Kate saiu do posto de simples ‘sapa’ para ganhar o glamour da realeza. Um conto de fadas moderno, sem dúvidas, e que até o momento teve o final feliz que todos esperavam.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Verdades (?) que não aceitamos

Existem verdades universais que, de tão aceitas e assimiladas pelas pessoas, causam espanto e até mesmo briga quando contestadas por aqueles que não acreditam nelas. Uma delas, e talvez a mais famosa, seja a história da chegada do homem à lua, teoricamente ocorrida em 20 de julho de 1969.
Sou do grupo de pessoas que não acredita que o homem chegou à lua. Não pretendo aqui fazer valer minha teoria com argumentos, mas basta uma breve pesquisa na internet e é possível navegar por milhares de sites que apresentam provas de que o famoso voo simplesmente é uma farsa.
Muita gente, ao me ouvir admitir essa minha “não crença”, espanta-se e me critica. Já ouvi frases do tipo “como uma pessoa que lê tanto pode ser tão ignorante?” até “eu esperava mais de uma jornalista”. Como minha crença não se baseia apenas no “achismo”, mas sim em muita pesquisa, mantenho meu ponto de vista sem me sentir ofendida por quem não acredita em mim, e nem tento fazer com os outros pensem como eu.
A ideia de que o homem não chegou à Lua faz parte das chamadas “teorias da conspiração” que pipocam aos milhares em todo o mundo. Outra dessas verdades universais que já vi sendo muito contestada é a de que o terrorista Osama Bin Laden organizou sozinho todo o ataque ao World Trade Center e ao Pentágono, em 11 de setembro de 2001.
Para muita gente, os sequestros dos aviões e os atos terroristas daquele dia fazem parte de um plano orquestrado pelo próprio governo americano para justificar uma invasão ao Afeganistão. Interessante nessa história é que, a despeito de todo poder de fogo da potência americana e das buscas incessantes pelo terrorista mais famoso do mundo, ele ainda não foi encontrado. Será que ele está tão escondido assim, ou na realidade protegido?
Verdades universais nem sempre são irretocáveis. Em 2003, os Estados Unidos conseguiram convencer boa parte da população mundial de que o Iraque possuía armas de destruição em massa, e uma invasão ao país de Saddam Hussein era totalmente para que o líder do país árabe fosse desarmado. Como se viu depois, as famosas provas não existiam, e a presença americana no país é um grande problema que Barack Obama ainda não conseguiu resolver.
Alguém pode estar se perguntando agora: mas quase 42 anos depois da chegada do homem à lua, essa mulher ainda não acredita em todas as imagens e vídeos divulgados no mundo todo? Ainda não. Para mim, essa história se encaixa nas verdades retocáveis – apenas não sei se isso vai acontecer enquanto eu for viva. Mas minha crença, tenho certeza, vai morrer comigo.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Sem direito de reclamar

Tenho uma premissa de jamais ir ao cinema às quartas-feiras. Por ser o dia da famosa meia-entrada, todas as sessões são lotadas, principalmente de adolescentes que aproveitam o preço baixo para reunir a “galera” e fazer um programa barato. Por isso, contra tudo aquilo que preconizo, resolvi na última quarta-feira ir ao cinema assistir “As Mães de Chico Xavier”. Prefiro não citar o nome do cinema, mas acredito que muita gente vai identificar imediatamente de qual sala estou falando.
Para minha surpresa, ao chegar ao cinema, vi que o filme não estava mais em cartaz. Ao perguntar a atendente o que havia acontecido, fui informada de que o filme havia sido retirado desde terça-feira. Como sou eu quem atualizo a programação de cinema do jornal, sabia que, de acordo com o material recebido, o longa deveria estar sendo exibido até ontem. Ou seja, três dias antes do previsto, o cinema simplesmente decidiu retirá-lo de cartaz. Ao entrar no site para conferir a programação, vi a seguinte mensagem: “Nossa programação poderá sofrer alterações sem aviso prévio”.
Assim, descobri que, se eu quiser ir a uma sessão de cinema, devo antes checar na internet se o filme ainda está em cartaz, porque corro o risco de chegar lá e não conseguir assistir o que pretendia. O aviso no site, em minha opinião, mostra a mais pura falta de respeito com quem deveria ser respeitado acima de tudo: o cliente. Porque, com esse aviso, o cinema nos tira o direito mais sagrado que temos como consumidor – o de reclamar.
Ao contrário de boa parte das pessoas, não sou frequentadora de shopping center. Só vou mesmo quando preciso comprar algo, ou assistir um filme. Caso contrário, fico meses sem pisar meus pés em qualquer shopping. Nunca gostei, nem mesmo quando era adolescente, de ficar batendo perna e olhando vitrines. Por isso, quando percebi que não poderia assistir ao que queria, fiquei ainda mais irritada por ver que havia também desperdiçado o dinheiro do estacionamento. Não tinha ido ao shopping e aproveitado para ir ao cinema. Estava ali apenas por um filme, e nada mais.
Assim como eu, outras pessoas na fila também queriam assistir o longa de Chico Xavier, e sentiram-se frustradas. Acho que a maior frustração foi ver que, mesmo sabendo que mudar uma programação sem sequer mandar uma notinha às mídias é um desrespeito ao seu cliente, ainda assim eu não tinha o direito de questionar nada. A mensagem do site era clara, e nas entrelinhas podemos entender o seguinte: podemos mudar o que quisermos, e azar de quem perdeu tempo e dinheiro vindo até aqui. Infelizmente perdi, nessa questão, o direito de reclamar. Posso apenas, a partir de agora, ir a outro cinema, onde a programação seja respeitada de acordo com o divulgado. Pena que nem todo mundo aja assim. Caso isso acontecesse, imagino que situações como essa se repetiriam bem menos na nossa região.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sem heroísmo, com garra

Amanhã é comemorado o Dia Mundial de Combate ao Câncer. Pode parecer que não, mas há muitos motivos a se comemorar nesse dia. As chances de cura, principalmente nos casos em que a descoberta da doença ocorre no início, têm aumentado consideravelmente nos últimos anos. A sobrevida também é maior, novos medicamentos têm sido desenvolvidos e muitas pesquisas são realizadas para que os efeitos da quimioterapia sejam minimizados e os doentes possam passar pelo tratamento sem tantos efeitos colaterais.
Quando tive câncer a primeira vez, em 2003, minhas chances eram de 90% de cura. Em 2008, na segunda, elas haviam caído para 50%. Ainda assim, consegui ficar curada de novo seis meses, contrariando prognósticos que me colocavam na cama por pelo menos um ano e meio. Fiquei durante mais nove meses fazendo cirurgias plásticas, mas da doença eu estava livre.
Acho engraçado que se criou uma imagem hoje de que o doente de câncer é um herói e enfrenta tudo com uma coragem fora do comum. Não acho que o doente de câncer seja um herói, e falo isso por mim. Lutei com muita garra para ficar curada, procurava sempre ter fé e acreditar que tudo ia acabar bem. Tentei mostrar sempre uma imagem de positivismo, até porque reclamar e me lamentar não iria resolver absolutamente, e agir assim não é do meu perfil. Teria sido muito mais fácil adotar o papel de “coitadinha” que está doente pela segunda vez, e ninguém iria me recriminar. Mas acredito que o bom humor e o alto astral ajudam a cura – claro, são coadjuvantes do tratamento, que é o mais importante de tudo. Não me vejo como heroína – até porque acho isso injusto com quem não conseguiu vencer a doença. Quer dizer que essa pessoa não batalhou como eu? Claro que não. Infelizmente, há casos sem cura, independente do quanto a pessoa lute por ela.
Também existe uma corrente que credita todo e qualquer tipo de tumor a problemas psicossomáticos, principalmente a mágoas guardadas. Ou seja, além de estar doente, a culpa é da própria pessoa, que foi incapaz de perdoar alguém. Como se ela estivesse sendo castigada, a doença vem para mostrar que é preciso mudar, ter o coração mais leve e, principalmente, saber perdoar a todos. Se isso fosse realmente verdade, como existem casos até de bebês que têm câncer? Será que uma criança de poucos meses já tem ressentimento suficiente para desenvolver essa doença terrível?
O paciente de câncer não vira santo porque teve a doença. Não passei a acordar todos os dias e achar o mundo maravilhoso e perfeito porque sobrevivi. Mudei muitos conceitos, e acredito ser uma pessoa melhor. Mas não mudei minha essência nem meus valores, e em algumas situações me tornei até uma pessoa mais intolerante. Isso não significa que não tenha aprendido nenhuma lição. A mais importante é que procuro viver todos os dias da melhor maneira possível. Posso errar, mas procuro acertar. Não virei santa nem heroína. Sou apenas alguém que sobreviveu.

sábado, 26 de março de 2011

Opinião não se discute - respeita

Artigos opinativos costumam despertar amores e ódios, dependendo do assunto abordado. Difícil agradar a todo mundo, principalmente quando o tema é polêmico. Por isso concordo com o grande Nelson Rodrigues, que disse que “toda unanimidade é burra”. Ou, repetindo uma frase que sempre uso quando falo das diferenças entre as pessoas, se nem Cristo conseguiu agradar a todo mundo, como pode qualquer um ter essa pretensão?
Claro que opiniões acabam suscitando muitas vezes discussões. Mas sou do tipo de pessoa que, quando não concorda com o que o outro pensa, principalmente em temas polêmicos, fica quieta. Posso até discordar, mas acredito que cada um tenha o direito de pensar o que quiser. Religião e política, por exemplo, são dois assuntos que as pessoas raramente me ouvirão discutindo. Se não admito que ninguém venha tentar me converter, como vou me achar no direito de tentar fazer o outro entrar para a minha igreja?
Mas o que não admito, e jamais vou admitir, é que qualquer pessoa, principalmente quem não me conhece, venha me julgar pelo que penso. O fato de eu não querer ter filhos, por exemplo, não faz de mim uma mulher que não gosta de crianças – muito pelo contrário, e quem me conhece sabe muito bem disso. A despeito de eu achar o casamento na igreja com festa e tudo o mais algo desnecessário, isso não me impede de me emocionar quando vou às cerimônias dos meus familiares e amigos. Apesar de ser totalmente a favor da pena de morte, jamais apoiarei a existência de milícias e esquadrões que a aplicam sem qualquer tipo de julgamento e direito de defesa.
Opiniões refletem apenas uma pequena parte do que somos. Mas isso não quer dizer que são eternamente imutáveis. O filósofo francês Blaise Pascal disse uma célebre frase sobre isso: “Não me envergonho de mudar de ideia, porque não me envergonho de pensar”. Todos nós mudamos de opinião a respeito de algo pelo menos uma vez na vida.
Mas acredito que nossos princípios e concepções mais arraigados dificilmente são transformados. Nossos valores mais sagrados, aqueles que defendemos com unhas e dentes, dificilmente serão transformados em algo totalmente oposto. Podem ser suavizados ou embrutecidos, de acordo com nossas experiências – mas a essência deles com certeza se mantém a mesma.
Mais importante que tudo, é sempre bom saber que existe um espaço onde podemos externar nossos pensamentos. Seja num jornal, num blog, num livro, na televisão, no rádio, não importa – o importante é saber que temos o direito de manifestar aquilo que gostamos – ou odiamos.
Por isso, acredito que, antes de criticarmos ou julgarmos alguém negativamente apenas por uma opinião ou visão de mundo diferente da nossa, devemos parar e lembrar que muitas pessoas tiveram de se sacrificar, no mundo todo, para que o direito à liberdade de expressão fosse respeitado. Finalizo com uma frase célebre e mais que perfeita do escritor francês Voltaire: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Animal não é ser humano

Tenho certeza de que muita gente, ao ler o título desse artigo, vai se indignar com a minha afirmação. Os mais exaltados talvez afirmem que muitos animais são até melhores que os seres humanos. Não concordo com quem pensa assim, e concordo menos ainda com pessoas que tratam seus animais melhores do que seus filhos, amigos, companheiros, enfim, com seres humanos de verdade.
Tenho duas cachorras que já estão relativamente velhinhas: uma boxer e uma rotweiller. Elas ficam na chácara, onde têm liberdade para correr o quanto quiserem. Apesar de já terem dez e 11 anos, são bastante ativas, e costumam pular de alegria quando chegamos ao local.
Ambas são tratadas como deve ser tratado qualquer animal de estimação: como animal. Recebem comida na quantia correta, vão ao veterinário, tomam vacina, e são bastante agradadas. Em todos esses anos, elas nunca tentaram morder ninguém. Minhas sobrinhas, quando pequenas, brincavam com elas sem nenhum receio, e não me lembro de qualquer episódio em que elas tenham se mostrado perigosas a qualquer pessoa de nosso convívio.
Mas, para algumas pessoas, o animal de estimação, principalmente cachorro, acaba sendo mais importante do que qualquer coisa. Roupinhas absurdamente caras, casinha de boneca, bolsinha para passear, comida especial e tratamento vip fazem parte do dia a dia desses animaizinhos, que mais parecem bichos de pelúcia do que seres vivos.
Engraçado que essas mesmas pessoas, que não hesitam em gastar absurdos para manter os luxos de seus bichinhos, são muitas vezes incapazes de ter gestos generosos quando se trata de ajudar outros seres humanos. Já convivi com madames que tinham cachorrinhos com casaquinhos de lã no inverno (a despeito de serem da raça poddle) e que, quando pedíamos alguma contribuição para montar uma cesta básica, se possível davam o que fosse mais barato para “ajudar” a pessoa necessitada.
Recentemente, cerca de 60 ativistas fizeram um protesto contra o abate de capivaras que estavam contaminadas pelo carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa, que havia matado dois funcionários do Largo do Café, em Campinas. Interessante que não vi esses defensores dos animais se preocuparem em ajudar as famílias dos funcionários que morreram, nem se mobilizarem para que a doença seja controlada. O que vi foi uma defesa irracional de um animal que não está em risco de extinção, e cuja procriação estava trazendo um sério risco à saúde pública. Será mesmo que a vida dos dois funcionários é menos importante do que a dos animais abatidos?

quinta-feira, 10 de março de 2011

Menor? Apenas no documento

Em meio aos crimes que têm chocado no País nas últimas semanas – nos quais a maioria dos acusados está foragida – uma ocorrência nesse domingo chamou minha atenção pelo fato de ser basicamente uma “tragédia anunciada”: uma jovem de 18 anos foi baleada pela segunda vez pelo ex-namorado, de 17, que não aceitava o fim do relacionamento. O menor estava cumprindo medida socioeducativa até a última sexta-feira e, de acordo com os registros, tinha mais de 20 passagens pela Polícia.
Acredito que boa parte da sociedade brasileira, assim como eu, está cansada de ser amedrontada por “menores” que sabem muito melhor do que nós as regras do Estatuto da Criança e do Adolescente, e se aproveitam da impunidade quase que total para cometerem crimes raramente penalizados com rigor. Como um jovem que tem mais de 20 passagens pela Polícia está apenas cumprindo medida socioeducativa? O mais grave é saber que, se ele tivesse matado a namorada, ficaria cumprindo pena no máximo até os 21 anos. Que tipo de punição é essa, frente à perda de uma vida?
O debate sobre a redução da maioridade penal no Brasil volta e meia se reacende, principalmente quando algum crime muito chocante toma as manchetes de todos os órgãos de comunicação. Porém, ele acaba sempre se esvaindo por uma hipocrisia dominante, que insiste em passar a mão na cabeça do adolescente que sabe muito bem se comportar como adulto na hora de cometer delitos, muitas vezes graves, e depois se aproveita da idade que consta em sua certidão de nascimento para não ser penalizado.
A hipocrisia fica maior ainda quando lembramos que, desde 1988, o jovem maior de 16 anos já pode votar. Lembro na época do debate em torno do assunto, porque muitos se posicionavam contra esse direito, alegando que os adolescentes não tinham discernimento suficiente para saberem escolher seus candidatos. Já outra corrente alegava que, pelo voto ser facultativo, apenas iriam votar aqueles com verdadeiras convicções políticas. Assim, mais um direito foi dado ao adolescente, que tem poucas obrigações a cumprir.
Está mais do que na hora de pararmos de olhar estupradores, assassinos e bandidos maiores de 16 anos como coitadinhos que nunca tiveram chance na vida e por isso aderiram ao crime e não sabem o que fazem. Muita gente não teve grandes chances na vida, e ainda assim preferiu estudar e ser alguém a roubar e matar (consciente de que nada vai acontecer). Tente explicar a uma mãe cujo filho foi morto por um menor que ele não sabia o que estava fazendo. Nesse caso, vale a frase: “Menor? Apenas no documento”.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Saudades da Amélia

Estou com saudades de ser Amélia. De poder dizer que tenho vontade às vezes de casar (sem ter filhos) e viver cuidando da casa e do meu marido. De apenas me dedicar às coisas que me deem prazer, sem preocupação com horário, com ser uma ótima profissional, com mostrar uma imagem de auto-suficiência tão buscada hoje em dia pelas mulheres.
Na próxima terça comemoramos mais um Dia Internacional das Mulheres. Há 101 anos a data é celebrada oficialmente, mostrando todos os avanços obtidos pelo universo feminino ao longo do período: direito ao voto, liberdade sexual, ocupação de cargos estratégicos em empresas e em trabalhos antes exclusivos dos homens.
Devemos sim celebrar tudo isso, mas ser mulher hoje em dia parece que dá mais trabalho que antigamente. Não podemos mais querer apenas casar – somos pressionadas a ter uma profissão. Não podemos mais engravidar e, depois do nascimento da criança, perdermos os quilos adquiridos de maneira gradual – precisamos, em tempo recorde, estarmos novamente em forma, independente de qual seja nosso biotipo.
E as obrigações parecem não ter fim. Temos de organizar a casa, fazer lista de compras, cuidar das crianças quando chegamos do trabalho, nos preocuparmos se alguém fica doente, cuidar de tudo e de todos de maneira impecável. Afinal, nós quisemos toda a liberdade e o direito ao trabalho, não é? Conquistamos, mas sem deixar de lado a obrigação de sermos Amélias também.
E nem culpo os homens por sermos assim. Nós mesmas nos cobramos constantemente. Se estamos gordas, temos de emagrecer. Hoje em dia não basta apenas ser bonita e ter um corpão: preciso também ser a super amante, com mil conhecimentos sexuais. E, se possível, devo apregoar ao mundo o que faço entre quatro paredes, esquecendo que a minha intimidade deve ficar no lugar a que pertence: o meu quarto.
Cursos de pole dance, de strip tease, de pompoarismo, de Kama Sutra, de descoberta do Ponto G. Com a desculpa de melhorar nossa vida afetiva e sexual, nos sentimos pressionadas a inovar sempre no sexo. E, se gostamos de algo mais tradicional, estamos correndo o risco de sermos traídas, avisam nossas amigas. Basta pegar as revistas femininas para ver onde chegamos: matérias e mais matérias nos ensinando como sermos mais sexuais – deixando de lado o quanto podemos ser mais afetivas.
Acho que temos muitos motivos a comemorar, mas acredito que ainda temos muito a evoluir. Não sou machista e nem retrógrada. Apenas acredito que, na ânsia de nos igualarmos aos homens, muitas vezes nos esquecemos de sermos mulheres. Mesmo que isso signifique ser uma Amélia.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Conto de fadas irreal

Um dos assuntos mais comentados em todos os sites que visitei ao longo da semana foi a estreia hoje do filme “Bruna Surfistinha”, que conta a história da ex-garota de programa Raquel Pacheco. Não li o livro em que o longa foi baseado (“O Doce Veneno do Escorpião”), e nem pretendo assistir o filme. Em 2005, quando Bruna virou notícias em toda a mídia, já tive uma overdose do assunto. E acho, sinceramente, um “desserviço” esse tipo de história ser levada às telonas.
No que dependesse de mim, nenhuma adolescente poderia assistir esse filme. Pode parecer radicalismo xiita, mas acho péssima essa ideia de glamourizar a prostituição, o que vem sendo feito por essa menina e por toda a mídia, que dá atenção a ela (de maneira enaltecedora), como se o que Raquel viveu tenha sido um conto de fadas irreal, onde a mocinha, após todo o sofrimento, tem um belo final feliz.
Fico imaginando que exemplo estamos dando para as adolescentes mostrando essa história. No resumo, Raquel era uma menina de 17 anos que resolveu ser garota de programa para sustentar seus luxos. Durante três anos, foi usuária de drogas, fez sexo com sei lá quantas pessoas, e encontrou um idiota (na minha opinião) que não se importou com esse passado tão “enriquecedor” e resolveu largar a família para casar com ela.
A história dessa ex-prostituta não é tão inédita assim. A diferença é que ela resolveu contar em um blog suas aventuras sexuais, e com isso ganhou notoriedade nacional. A impressão que Raquel Pacheco passa, em suas entrevistas, é que ela sofreu, mas teve o final feliz que todos esperam em suas vidas. Ela mesma admite que teve (muita) sorte. Quantas prostitutas conseguem sair desse meio com tanta fama, dinheiro e glamour?
O que me espanta em tudo isso é ver o quanto essa garota é valorizada. Para mim, o recado dado às adolescentes é pernicioso: quantas delas não vão acreditar que a prostituição pode ser a melhor saída para conseguir dinheiro rápido? Quantas delas não vão acreditar que, depois de algum tempo, terão o sucesso que Raquel Pacheco teve, e ainda por cima encontrarão o príncipe encantado, que irá tirá-las do mundo cão da prostituição?
Existem milhares de mulheres brasileiras que batalham diariamente para conquistar suas coisas, sem precisar usar o sexo como instrumento de trabalho. Pesquisadoras, cientistas, políticas, educadoras, atrizes, que honram o nome do Brasil não só nacionalmente, mas também no resto do mundo. Acredito que o exemplo dessas mulheres deveria ser filmado e mostrado a todo mundo, e não o de uma garotinha mimada que queria ter roupas de marca. Enquanto as pessoas acharem que sexo é mais importante que respeito, realmente nosso País não conseguirá chegar ao Primeiro Mundo.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O pior sentimento do mundo

Volta e meia, quando estou em bate-papos regados a choppinho e porções, surgem aqueles papos existenciais com os amigos. Numa dessas “discussões filosóficas”, ficamos a debater qual seria o pior sentimento que uma pessoa pode nutrir por outra. Uns disseram que era a inveja, outros o ódio, outros a raiva, outros o desprezo. Concordo com esse último grupo: para mim, o pior sentimento do mundo é o desprezo.
E por que isso? Por que não o ódio, ou a raiva? Simples: quando sentimos ódio ou raiva de alguém, isso significa que essa pessoa ainda é importante para nós. Enquanto ficamos alimentando esse sentimento, estamos na verdade ainda ligados a quem, de alguma maneira, nos magoou ou machucou. E, enquanto nos sentimos assim, essa pessoa, de certa forma, ainda continua nos atingindo.
Mas quando sentimos desprezo, isso significa que aquela pessoa não significa mais nada para nós. Na verdade, ela significa menos que nada. Ou melhor, ela até significa algo: um ser humano digno de pena. E pena é outro sentimento que acho péssimo. Afinal, quando sentimos pena de alguém, normalmente é porque aquela pessoa atingiu o fundo do poço. E quem está no fundo do poço não merece nenhum outro sentimento além desse.
O interessante é que normalmente as pessoas que desprezamos são aquelas que mais buscam nos atingir. Insatisfeitas com as próprias vidas, elas buscam se inserir na nossa de todas as maneiras, buscando qualquer coisa para nos machucar. Para elas, a nossa felicidade é uma ofensa, daí vem seu grande objetivo: nos incomodar.
Quando essas pessoas percebem que não conseguem nos incomodar, nos atingir, nos ferir, nos machucar, é como se estivessem sendo incomodadas, feridas, machucadas. Por isso digo que o desprezo é o pior sentimento do mundo: você simplesmente apaga esses seres humanos da sua vida. Nada, absolutamente nada do que eles façam podem atingi-lo. E nenhuma pessoa que eu conheço gosta (ou admite) ser desprezada.
Por isso costumo dizer que prefiro mil vezes sentir raiva de alguém do que desprezo, que vem sempre acompanhado da mais completa indiferença. Quando tenho raiva de alguém, sou capaz de chorar, de me importar, de querer saber como ela está. E, mais importante de tudo: ainda existe a chance de esse sentimento mudar, se transformar em perdão, e com isso o relacionamento (seja de amizade ou amoroso) ser retomado. Porém, quando chego no desprezo, essa chance não existe, em absoluto. Sinto desprezo por pouquíssimas pessoas. E nem me sinto culpada pelo que sinto, por apenas uma razão: se cheguei a esse ponto, é porque essa pessoa realmente não valia nada. E quem não vale nada não merece nem um segundo da minha atenção.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A liberdade de ser feliz

É fato que o nível de divórcios aumentou em todo o País desde que o processo se tornou menos burocrático. Casais que antes não faziam a separação legal por entraves da lei hoje conseguem, com muita facilidade, principalmente se não tiverem filhos, a dissolução do casamento de maneira fácil e rápida. Assim, esse aumento, que muita gente ainda enxerga como absurdo, deveria ter sido previsto e até mesmo esperado.
Não acho correta a afirmação de que a facilitação do divórcio é que tem provocado o fim dos casamentos. Aliás, acho excelente que hoje as pessoas possam ter a chance de recomeçarem suas vidas sem obstáculos burocráticos impedindo uma nova união.
Ninguém casa já pensando em se separar. Quando os noivos juram amor eterno, acreditam que a união será mesmo para sempre. Porém, como já dizia Renato Russo, o “prá sempre, sempre acaba”. Conhecemos casais que estão juntos há 40, 50, até 60 anos, unidos por um amor inabalável e um companheirismo invejável. Mas acredito que também todo mundo conheça aquele casal que está junto há décadas, cujo relacionamento é péssimo, cuja convivência é na base do suportável, e não do desejável.
Qualquer tipo de convivência é alicerçada na tolerância. No trabalho, não conseguimos gostar de todos os colegas, assim como não somos adorados por todos. Mas, usando as regras do bom senso, conseguimos conviver no dia a dia com essas pessoas. Inconscientemente (ou até com plena consciência!) sabemos o seguinte: quando meu horário acabar, não sou obrigado mais a olhar na cara da pessoa que não gosto. Não sou obrigada a ir num barzinho junto, sair para jantar, sentar na mesma sala para dar risada.
Num casamento, porém, não podemos simplesmente pensar assim. Casais acordam juntos, jantam juntos, dormem juntos, e dividem o mesmo espaço. Tolerância e paciência são virtudes inerentes quando se está casado. Mas, muitas vezes, a paciência se acaba, assim como o amor. Sempre digo que o fim de um relacionamento não é culpa de uma pessoa só, mas de uma soma de fatores. E, se não sou feliz com quem estou no momento, por que me obrigar a ficar com essa pessoa o resto da vida?
Acredito na seguinte premissa: antes de eu gostar de outra pessoa, tenho de gostar de mim. E quando não existe mais respeito, não há sentido em ficar mais junto. Por isso avalio como muito positiva essa possibilidade que hoje as pessoas têm, ao conseguirem finalizar um casamento sem toda a burocracia e obstáculos que existiam no passado. Para mim, todo mundo pode ter a liberdade de ser feliz – mesmo que seja pela segunda ou décima vez.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Desrespeito (caro) ao paciente

Estamos acostumados a ver em jornais, revistas e televisão matéria mostrando o caos do sistema público de saúde no Brasil. Pacientes atendidos em condições precárias, falta de médicos, salas de espera de emergência cheias e pessoas esperando horas para uma consulta são cenas comuns quando se fala sobre aqueles que, por falta de condições financeiras, não podem pagar um plano de saúde.
Porém, raramente vemos notícias relatando os abusos cometidos pelos convênios que, em momentos às vezes cruciais, negam tratamentos e atendimentos, alegando mil impedimentos e cláusulas que depois acabam sendo derrubadas, muitas vezes pela própria ouvidoria do plano, e em outras através de medidas judiciais.
Causa revolta ver que, quando mais estamos fragilizados, somos surpreendidos que exigências e impedimentos inexistentes. A burocracia dos convênios é outro problema extremamente sério. Semana passada meu irmão seria operado de uma hérnia. Tudo pronto, ele preparado para a cirurgia, e o convênio negando o uso do material que seria usado na intervenção. Sem essa autorização, o hospital não permitiu que ele se internasse e fizesse o procedimento. Ou seja, uma cirurgia que havia sido marcada há cerca de um mês foi adiada porque o plano, com sua usual burocracia, não liberou o uso de um simples material em tempo hábil.
Quando fazia quimioterapia, vi uma amiga ir embora sem tomar a medicação porque o convênio não havia permitido o uso do remédio contra enjoo. Alegação: nem todo mundo enjoa com uma medicação que, se faz cair todo pelo do corpo, imagine o que faz dentro do organismo! Interessante argumento, porque quando estava em tratamento, fazendo uma estimativa grosseira, posso dizer que, de cada dez pacientes, nove passam muito mal. Ainda assim, para alguns planos, o remédio deve ser dado apenas na segunda sessão, se ficar comprovado que o paciente teve enjoo.
Quem já precisou realmente usar o convênio, além das consultas normais, sabe a dificuldade que é conseguir autorização para exames extras e tratamentos caros. Já vi planos de saúde negarem procedimentos como quimioterapia e radioterapia em casos graves de câncer, porque eles não se encaixavam no protocolo da OMS (Organização Mundial de Saúde). O respeito ao doente, a preocupação com seu bem-estar em uma fase difícil, a prestação de serviços sem questionamentos infundados, tudo isso acaba sendo deixado de lado. Infelizmente, em muitos casos, as pessoas acabam entrando na Justiça e, através de liminar, conseguem o atendimento que deveria ser feito sem problemas. Afinal, pagamos (e caro) para isso.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Assumindo os anos vividos

Envelhecer é um dos maiores pecados que uma mulher pode cometer para a sociedade imediatista, que valoriza o lado estético acima de tudo, esquecendo que os anos realmente passam e, por mais que se lute contra, a idade chega para todo mundo, sem exceção de raça, credo ou classe social.
Chego aos 39 anos amanhã sem nunca ter feito nenhuma intervenção estética, a não ser as plásticas de reparação da minha mastectomia. Graças a uma genética um pouco abençoada, sempre ouço, quando digo minha idade, que pareço mais nova. Costumo dizer que essa aparência se deve não aos milagres estéticos que prometem rejuvenescimento em tempo recorde, mas sim ao espírito jovem que procuro ter em todas as ocasiões.
Não sou contra plásticas, muito pelo contrário. Acho que, se a pessoa está realmente infeliz com sua aparência, se aquilo a afeta de tal modo que ela não consegue se realizar em nenhum aspecto, deve sim usar e abusar das cirurgias que ajudam, e muito, a aumentar a autoestima. O que sou contra é a busca incessante da juventude eterna, as remodelações de corpo e rosto que transformam muitas mulheres bonitas em bonecas sem expressão, que se escravizam e lutam contra algo que não têm poder para interromper: a passagem dos anos.
Acho engraçado quando vejo amigas mentindo a idade, sem qualquer pudor. Mais engraçado ainda é quando quem faz isso aparenta os anos que tem, ou seja, o tiro sai pela culatra: se eu tenho 39 e falo que tenho 30, as pessoas, entre si, dizem que estou envelhecida. Quando assumo a idade que tenho e ela condiz com minha aparência, o máximo que pode acontecer é não ouvir elogios – mas também não correr o risco de ser ridicularizada pelas costas.
Assumir os anos vividos é uma arte. Quando eu tinha 15 anos, uma pessoa de 39 era velha. Ao completar 39 anos, me sinto muito mais nova do que sou. Digo que tenho a experiência ideal para minha idade, com o espírito ainda jovem para aproveitar todas as coisas boas que a vida puder me oferecer. Quando vejo pessoas com 40 e poucos anos dizendo que são velhas, fico imaginando o que elas viveram até agora para se sentirem assim.
Cada marca que trago na pele e cada sinal de expressão são lembretes do que já vivi. Não vou pregar aqui que se dispam de toda vaidade e não se cuidem, mas sim que valorizem a idade que têm. Cada ano vivido é uma vitória, e cada um deles merece ser comemorado. Poucas vezes em minha vida deixei de celebrar meu aniversário – e amanhã não será exceção à regra. Não sei o futuro, mas o que importa é que chego a mais um ano, que se soma aos 38 muito bem vividos. Com certeza, vou aproveitar a nova idade da melhor maneira possível.