quinta-feira, 24 de março de 2011

Animal não é ser humano

Tenho certeza de que muita gente, ao ler o título desse artigo, vai se indignar com a minha afirmação. Os mais exaltados talvez afirmem que muitos animais são até melhores que os seres humanos. Não concordo com quem pensa assim, e concordo menos ainda com pessoas que tratam seus animais melhores do que seus filhos, amigos, companheiros, enfim, com seres humanos de verdade.
Tenho duas cachorras que já estão relativamente velhinhas: uma boxer e uma rotweiller. Elas ficam na chácara, onde têm liberdade para correr o quanto quiserem. Apesar de já terem dez e 11 anos, são bastante ativas, e costumam pular de alegria quando chegamos ao local.
Ambas são tratadas como deve ser tratado qualquer animal de estimação: como animal. Recebem comida na quantia correta, vão ao veterinário, tomam vacina, e são bastante agradadas. Em todos esses anos, elas nunca tentaram morder ninguém. Minhas sobrinhas, quando pequenas, brincavam com elas sem nenhum receio, e não me lembro de qualquer episódio em que elas tenham se mostrado perigosas a qualquer pessoa de nosso convívio.
Mas, para algumas pessoas, o animal de estimação, principalmente cachorro, acaba sendo mais importante do que qualquer coisa. Roupinhas absurdamente caras, casinha de boneca, bolsinha para passear, comida especial e tratamento vip fazem parte do dia a dia desses animaizinhos, que mais parecem bichos de pelúcia do que seres vivos.
Engraçado que essas mesmas pessoas, que não hesitam em gastar absurdos para manter os luxos de seus bichinhos, são muitas vezes incapazes de ter gestos generosos quando se trata de ajudar outros seres humanos. Já convivi com madames que tinham cachorrinhos com casaquinhos de lã no inverno (a despeito de serem da raça poddle) e que, quando pedíamos alguma contribuição para montar uma cesta básica, se possível davam o que fosse mais barato para “ajudar” a pessoa necessitada.
Recentemente, cerca de 60 ativistas fizeram um protesto contra o abate de capivaras que estavam contaminadas pelo carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa, que havia matado dois funcionários do Largo do Café, em Campinas. Interessante que não vi esses defensores dos animais se preocuparem em ajudar as famílias dos funcionários que morreram, nem se mobilizarem para que a doença seja controlada. O que vi foi uma defesa irracional de um animal que não está em risco de extinção, e cuja procriação estava trazendo um sério risco à saúde pública. Será mesmo que a vida dos dois funcionários é menos importante do que a dos animais abatidos?

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