domingo, 21 de abril de 2013

Saudade sem fim



Hoje faz um ano que, contra todas as possibilidades existentes pelas leis naturais da vida, meu tio Valdir se foi, levado por um acidente de carro causado por uma jovem que perdeu o controle de seu veículo em uma manhã bastante chuvosa. Em cinco segundos duas vidas se acabaram em uma pista única perto da entrada de Piracicaba. Ironicamente meu tio, que viajava o Brasil todo, em estradas de péssima conservação, morreu quase em sua casa, pouco depois de ter avisado sua mulher que estava chegando para o almoço.
Valdir era aquele homem que chamamos “do bem”. Trabalhador, alegre, sempre disposto a ajudar, um marido e pai maravilhoso, um tio daqueles que a gente sempre gostava de ter por perto, com um coração maior do que ele. Muitas vezes, quando escutava alguém descrever dessa maneira uma pessoa que havia morrido, costumava pensar intimamente que “morreu, virou santo”. Quando meu tio morreu eu vi que existem pessoas assim, que deixam por onde passam uma imagem de bem, e cujos defeitos são completamente esquecidos perante as qualidades que se destacam em qualquer situação.
Tinha visto meu tio cerca de 15 dias antes de sua morte, em um churrasco na casa do meu irmão mais velho. Ficamos conversando bastante tempo, tomando uma cerveja gelada, falando bobagem, dando risada, aproveitando o tempo gostoso de um domingo cujos detalhes ainda estão em minha memória. Depois disso, só tive notícias dele ao atender ao telefone e ficar sabendo da sua morte. Era um sábado chuvoso, um dia muito triste, que só dava vontade de ficar na cama. Após aquele telefonema, a sensação de perda era inexplicável. Como aceitar que uma pessoa tão cheia de vida, com tanta disposição, que alegrava todas as reuniões familiares, não estaria mais presente em nenhum de nossos encontros?
Como meu tio viajava bastante, nos primeiros meses a impressão que eu tinha era que ele estava fora, mas que na próxima festa ou churrasco iria encontrá-lo, e que ele iria me oferecer uma cervejinha gelada, ou fazer uma caipirinha para as mulheres da família. Mas aí houve o primeiro encontro, o segundo, o terceiro, chegou o Natal e o Ano Novo e então senti que ele realmente havia partido. Nunca mais aquele sorriso, nunca mais as brincadeiras, nunca mais o abraço sempre carinhoso com que me recebia em qualquer lugar.
E agora, ao lembrar um ano do dia em que ele se foi, a saudade parece que é maior ainda do que no começo, talvez por eu saber que nunca verei seu fim. Lembro que no velório eu pensei que só queria lembrar as coisas boas dele – quando me toquei de que não havia coisas ruins a serem rememoradas. Se existe consolo para essa perda, é sabe que meu tio foi uma pessoa que fez a diferença, e que somente deixou coisas boas a toda minha família. 

domingo, 7 de abril de 2013

Sexo, o assunto do momento



A semana que passou foi marcada pela polêmica das declarações das cantoras Joelma, que comparou homossexuais a drogados, e Daniela Mercury, que em uma rede social postou fotos suas e de sua namorada, assumindo publicamente um romance que, segundo consta sem sites de fofocas, teria sido iniciado no Carnaval. As reações, como esperado, se dividiram entre os que apoiam a loira famosa pelo visual extravagante, e a baiana que, a despeito de cantar um ritmo que eu não suporto, pode ser considerada a primeira artista de sucesso do axé.
O debate sobre a homossexualidade no Brasil tem tomado proporções nunca antes vistas desde que o pastor Marcos Feliciano (PSC-SP), considerado racista e homofóbico, assumiu a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Está mais do que claro que o pastor não quer abrir mão de seu cargo para barrar os direitos conquistados por essas minorias, a seu ver pecadores. Assim, em um estado laico, um religioso consegue um posto importante para tentar impor seus dogmas religiosos a toda uma sociedade.
Na sexta-feira, aproveitando que o tema está em alta, a cantora gospel Perlla anunciou publicamente seu apoio ao pastor, indo contra a grande maioria dos artistas, que repudiam Feliciano como presidente da Comissão. Diga-se de passagem, a hoje convertida Perlla era cantora de funk e vivia saindo em sites e revistas de subcelebridades em roupas e poses provocativas. Direito total dela ser vulgar num dia e religiosa no outro, mas é inaceitável que agora se ache a guardiã da moral e dos bons costumes.
O que me chama a atenção nisso tudo é como as pessoas, em pleno século 21, com tanta coisa grave acontecendo, em um mundo tão conturbado e cheio de violência como o nosso, ainda tenham como principal preocupação querer determinar a vida sexual dos outros. Ou melhor, determinar a vida sexual das mulheres e dos homossexuais, porque aos homens tudo é sempre permitido e até mesmo estimulado, mesmo que o comportamento seja completamente reprovável do ponto de vista da “família” que essas pessoas tanto defendem.
A mim pouco importa se uma mulher sai com um, dois, dez ou duzentos homens em sua vida. Isso, em minha concepção, é um problema apenas dela. Desde que não esteja prejudicando ninguém, que não esteja cometendo nenhum crime, quem sou eu para julgar com quem ela vai ou deixa de ir para a cama?
Da mesma maneira, não é de minha conta a vida sexual dos meus amigos. Aliás, tenho excelentes amigos homossexuais, pessoas maravilhosas, honestas, trabalhadoras, que respeitam suas famílias, e que são respeitadas onde quer que estejam, independente de sua orientação sexual.
Já escutei muita gente falar que o maior problema é que homossexuais são promíscuos e nunca constituem família. E um homem que a cada dia está com uma mulher é o que? Um exemplo a ser seguido? Por que dos homens não é cobrado um comportamento de fidelidade e a promiscuidade é vista como normal, e quando se trata de homossexuais passa a ser um problema grave?
Está na hora de nos preocuparmos mais com problemas verdadeiramente importantes, e menos em tirar direitos adquiridos de quem sofre preconceito em nossa sociedade. Pastor Feliciano e suas ideias retrógradas e absurdas não me representam. Se as pessoas pensassem mais em sociedade e paz, e menos em vigiar a vida sexual dos outros, talvez o mundo fosse um lugar melhor.