quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Desrespeito (caro) ao paciente

Estamos acostumados a ver em jornais, revistas e televisão matéria mostrando o caos do sistema público de saúde no Brasil. Pacientes atendidos em condições precárias, falta de médicos, salas de espera de emergência cheias e pessoas esperando horas para uma consulta são cenas comuns quando se fala sobre aqueles que, por falta de condições financeiras, não podem pagar um plano de saúde.
Porém, raramente vemos notícias relatando os abusos cometidos pelos convênios que, em momentos às vezes cruciais, negam tratamentos e atendimentos, alegando mil impedimentos e cláusulas que depois acabam sendo derrubadas, muitas vezes pela própria ouvidoria do plano, e em outras através de medidas judiciais.
Causa revolta ver que, quando mais estamos fragilizados, somos surpreendidos que exigências e impedimentos inexistentes. A burocracia dos convênios é outro problema extremamente sério. Semana passada meu irmão seria operado de uma hérnia. Tudo pronto, ele preparado para a cirurgia, e o convênio negando o uso do material que seria usado na intervenção. Sem essa autorização, o hospital não permitiu que ele se internasse e fizesse o procedimento. Ou seja, uma cirurgia que havia sido marcada há cerca de um mês foi adiada porque o plano, com sua usual burocracia, não liberou o uso de um simples material em tempo hábil.
Quando fazia quimioterapia, vi uma amiga ir embora sem tomar a medicação porque o convênio não havia permitido o uso do remédio contra enjoo. Alegação: nem todo mundo enjoa com uma medicação que, se faz cair todo pelo do corpo, imagine o que faz dentro do organismo! Interessante argumento, porque quando estava em tratamento, fazendo uma estimativa grosseira, posso dizer que, de cada dez pacientes, nove passam muito mal. Ainda assim, para alguns planos, o remédio deve ser dado apenas na segunda sessão, se ficar comprovado que o paciente teve enjoo.
Quem já precisou realmente usar o convênio, além das consultas normais, sabe a dificuldade que é conseguir autorização para exames extras e tratamentos caros. Já vi planos de saúde negarem procedimentos como quimioterapia e radioterapia em casos graves de câncer, porque eles não se encaixavam no protocolo da OMS (Organização Mundial de Saúde). O respeito ao doente, a preocupação com seu bem-estar em uma fase difícil, a prestação de serviços sem questionamentos infundados, tudo isso acaba sendo deixado de lado. Infelizmente, em muitos casos, as pessoas acabam entrando na Justiça e, através de liminar, conseguem o atendimento que deveria ser feito sem problemas. Afinal, pagamos (e caro) para isso.

Nenhum comentário: