sábado, 22 de outubro de 2011

Compartilhando uma lenda

Durante minhas férias estive esse ano na Argentina, onde fui conhecer geleiras maravilhosas na Patagônia, em uma cidadezinha linda chamada El Calafate. No hotel conheci uma figura muito simpática, o dono da lojinha de lembrancinhas que, além de ser um ótimo comerciante (comprei várias coisas com ele), também me apresentou uma bela história que agora compartilho com vocês. Essa história, ou lenda, surgiu quando vi umas bonequinhas simples de madeira com roupas feitas de linhas coloridas, sem feições, diferentes de todas que já havia visto em minha vida.
Juan me contou que essas bonequinhas se chamam “macas”. Segundo a lenda local, as “macas” nasceram há muitos e muitos anos, na imaginação de uma menina que morava na montanha. Com os poucos recursos de que dispunha, ela um dia decidiu trazer as “macas” à realidade, para que levassem um pouco de sua alma e felicidade aos outros. Ela queria que suas bonecas durassem para sempre. A lenda diz que, nas casas onde são cuidadas, as macas vivem eternamente, porém, naquelas em que são deixadas de lado e esquecidas, elas simplesmente desaparecem. Assim, quem tem sorte suficiente para ter uma “maca”, não deve jamais se esquecer de cuidar dela.
Fiquei pensando na metáfora que essa lenda faz com a amizade. Se analisarmos bem, a “maca” representa nossos amigos. Se não cuidamos nem lembramos deles, o que acontece? Eles desaparecem. É uma matemática simples, mas que as pessoas parecem ter desaprendido como fazer essa conta.
Já falei muitas vezes aqui sobre os amigos, e quando fiz essa analogia com as bonequinhas fiquei pensando em como as pessoas se esquecem das amizades facilmente e depois ainda se acham no direito de ficarem ressentidas quando o amigo desaparece. Não digo que a gente precisa ligar todo dia ou “bater ponto” na casa dos amigos sempre. Mas um telefonema de vez em quando, uma mensagem, um e-mail, enfim, um sinal de fumaça, são importantes para que eles se lembrem de que fazem parte de sua vida.
Claro que o inverso também tem de acontecer. Não acredito em amizades onde apenas um se esforça para manter o contato. Afinal, qualquer relacionamento é uma via de mão dupla: eu ligo, você liga, eu vou, você vai, eu me preocupo, você se preocupa. Quando esse equilíbrio se acaba, é a hora em que existem duas opções: tentar recuperá-lo, se realmente valer a pena, ou simplesmente esquecer o assunto, e tocar a vida sem ressentimentos.
Em tempo: claro que comprei uma “maca” para mim, e até mesmo pendurei em meu carro, para todo dia ela se sentir protegida. Além disso, todo mundo que anda comigo acaba perguntando o que aquela bonequinha significa. Tenho certeza de que essa “maca” jamais vai desaparecer. Afinal, tenho por ela o mesmo cuidado que tenho por meus amigos.

Nenhum comentário: