domingo, 26 de junho de 2011

Desrespeito e submissão

O ator Ashton Kutcher, que esteve semana passada no Brasil para participar do São Paulo Fashion Week, deixou uma herança não muito agradável a um restaurante onde participou de uma festa badalada em sua homenagem: uma multa de R$ 872,50, gerada por seu desrespeito a Lei Antifumo, que proíbe qualquer pessoa de fumar em ambientes fechados.
Antes disso, na semana anterior, a atriz francesa Catherine Deneuve, saudada pelo mundo todo como exemplo de beleza eterna e elegância, fumou duas vezes durante uma entrevista no hotel em que estava hospedada. Assim como o restaurante, o hotel também foi multado no mesmo valor por causa da lei.
A aplicação da multa em ambos os casos, a meu ver, está mais do que correta. Cabe aos estabelecimentos verificar se as pessoas estão respeitando ou não a legislação e, caso não o façam, devem ser punidos. Porém, o que muita gente não notou é que, em ambos os casos, os fumantes puderam dar suas tragadas sossegadamente, sem nenhum tipo de constrangimento ou incômodo. Ou seja, duas pessoas públicas desrespeitaram a lei abertamente, e não foram criticadas por isso. Será que se fosse um brasileiro desconhecido que acendesse o cigarro nesses ambientes, a situação seria a mesma? Será que o restaurante e o hotel deixariam a pessoa fumar seu cigarro sossegada e assumiriam a multa, ou será que ela seria convidada educadamente a apagar seu cigarro?
Mais uma vez me causa vergonha essa submissão que nós, brasileiros, temos frente a qualquer estrangeiro que, em seus países de origem, respeitam as leis mas, quando chegam aqui, acham que estão literalmente na “casa da mãe joana”, e que podem fazer o que bem entendem, sem problema algum.
Lembro-me uma vez que estava em um bar em Piracicaba e em uma mesa próxima a minha estavam três americanos que trabalhavam em uma multinacional da cidade. Os três já estavam bastante “alegres” e aproveitavam-se da língua para fazer comentários extremamente depreciativos e vulgares sobre todas as mulheres que passam perto da sua mesa. Para piorar, eles resolveram fazer uma brincadeira de jogar para cima (e também para o lado) as bolachas de chope já usadas. Duas ou três vezes as bolachas caíram em cima de uma das minhas amigas, que foi reclamar com o gerente, acreditando que ele iria chamar a atenção dos americanos. Ledo engano! O gerente disse que não podia ir lá reclamar, que eles eram estrangeiros, que trabalhavam em uma multinacional, e que sairiam reclamando do bar caso fossem repreendidos. Refazendo a pergunta: será que se fosse a minha mesa jogando bolachas de chope para o alto e incomodando os americanos, o desrespeito seria tolerado com tamanha submissão?

domingo, 19 de junho de 2011

Autoestima agredida

Essa semana, estávamos assistindo aos telejornais na redação, quando vimos uma garota que havia sido espancada pelo namorado dando uma entrevista sobre o caso e, a despeito de estar praticamente com os olhos fechados de tanto apanhar, ela ainda chorava e dizia que o amava. Claro que as reações de todo mundo (incluindo a minha) foram as mais variadas, mas todas tinham algo em comum: o espanto em ver que, a despeito de ter sofrido uma violência, a moça ainda queria voltar para seu agressor.
Acredito que todo mundo saiba de um caso de uma mulher agredida. Quando fiz faculdade, tive duas amigas que constantemente apareciam com hematomas nos braços, e sempre vinham com a mesma justificativa: os namorados as tinham “puxado de maneira brusca” de algum lugar, e por isso elas estavam com marcas roxas. Uma delas, inclusive, parecia ter orgulho em contar que isso sempre acontecia quando ele sentia muito ciúmes dela. Uma vez presenciei uma dessas crises, quando ele quebrou o volante do carro no murro porque ela havia cumprimentado um colega. Quando fui alertá-la de que esse tipo de comportamento furioso poderia ser perigoso, recebi como resposta que eu estava “com inveja” porque meu então namorado não tinha ciúme de mim.
A agressão à mulher é bastante comum no Brasil, até mesmo porque a grande maioria tem vergonha de denunciar o companheiro. O que mais espanta nesses casos é que muitas tentam justificar o ato de violência. “Eu o provoquei”, “ele não é assim normalmente”, “ele havia bebido”, são frases comuns que ouvimos quando essas mulheres, normalmente machucadas, tentam convencer aos outros (e principalmente a si mesmas) de que aquela violência não vai mais acontecer.
A cantora Rihanna, que teve o rosto amassado pelo também cantor Chris Brown, reatou o namoro assim que os machucados sararam. Pouco tempo depois, ela novamente terminou o relacionamento, e em uma entrevista muito corajosa, disse que sentia vergonha por ter voltado com quem a havia agredido. Como pessoa pública e ídolo de milhares de adolescentes, Rihanna fez uma mea culpa, ao dizer que sua atitude poderia dar a entender que ser agredida era normal – o que não é.
A sociedade brasileira, que ainda tem muito machismo em sua raiz, não estigmatiza o homem que bate na mulher. Por isso vemos tantas tragédias anunciadas, quando mulheres que constantemente são agredidas acabam sendo mortas por seus pares. Acredito que essas mulheres sofrem de um problema muito maior do que apenas a violência: a autoestima agredida. E, enquanto essa autoestima não for reavaliada, dificilmente a agressão física deixará de ser um hábito, para se tornar o que realmente é: um crime.

domingo, 12 de junho de 2011

Uma hora a máscara cai

O Dia dos Namorados é aquela data em que os solteiros, ou “desnamorados”, ficam de fora das programações especiais feitas em todos os bares e restaurantes para casais apaixonados. Encontrar o par perfeito ainda é o sonho de muita gente, e para isso valem todos os recursos: sair, encontros às escuras, pedir ajuda aos amigos, e até mesmo se inscrever nos sites de relacionamento, que se tornaram febre na última década.
Uma pesquisa feita nos Estados Unidos e publicada essa semana mostrou um dado interessante sobre esses sites: os homens mentem nome e idade, e as mulheres enganam sobre peso. Foram analisadas 14 categorias, como nome, informações de contato pessoal e status de relacionamento. Em 13 desses itens, os homens mentem mais do que as mulheres. Por exemplo: 19% dos homens mentem sobre o nome e 18% não são honestos a respeito da idade. Enquanto isso, 11% das mulheres mentem sobre o seu peso.
A despeito de a pesquisa ser meio óbvia, ainda fico espantada em ver como as pessoas acreditam que, por estarem com um perfil na internet, elas podem mentir à vontade, sem problema algum. Mulher mentir o peso eu acho idiotice, mas não considero um pecado grave – afinal, dizer o quanto se pesa, principalmente para quem está acima do que é considerado ideal numa sociedade como a nossa, é eliminar qualquer chance de encontrar o par perfeito. Além disso, muitas vezes o peso da balança não aparece no corpo – conheço pessoas que parecem bem mais magras do que são realmente.
Mas mentir nome e idade, na minha concepção, é bem mais grave. Afinal, se quero encontrar alguém para um relacionamento, devo partir do princípio que a pessoa precisa confiar em mim, assim como eu nela. Lembro-me de uma amiga que conheceu em um chat um rapaz muito simpático e que, em vários aspectos, correspondia a tudo que ela buscava. Os dois sempre conversavam e trocavam e-mails, e um belo dia resolveram trocar fotos. Ela havia se descrito da maneira correta, e a foto que mandou ao rapaz correspondia à realidade. Ele havia dito que tinha “corpo atlético” de tanto malhar e que era moreno claro. A foto, porém, mostrava um homem completamente diferente: além de ser super magro (acho que a cintura dele era da largura da minha coxa!) ele era negro. Claro que, depois disso, as conversas esfriaram, e ela ficou super chateada. Quando eu questionei qual era o grande problema, ela me disse: “Se ele mentiu sobre a aparência física, imagino que todo o resto vou ter de investigar. Como posso iniciar um namoro com uma desconfiança assim?”
Ela estava certa. Mentir num começo de namoro acaba com qualquer chance de o relacionamento dar certo. Porque, por mais que a pessoa se esforce, uma hora a máscara cai. E aí, não tem milagre que faça renascer o encanto perdido.

sábado, 4 de junho de 2011

Alunos de verdade

“Zapeando” hoje de manhã pela internet, vi várias notícias de tragédias, crimes, guerras, futilidades, enfim, vi tudo aquilo que estamos acostumados a assistir ou ler diariamente. O difícil, quando acompanhamos o noticiário, é ver matérias com exemplos de amor, solidariedade, luta, honestidade.
Nos últimos dias, ao abrir as agências para avaliar quais notícias seriam incluídas nas duas páginas que faço diariamente, vi muitos exemplos de violência gratuita. Uma delas, inclusive, me chamou a atenção, pois era sobre uma mãe que agrediu a professora de sua filha com socos e chutes, inclusive na cabeça, porque a educadora havia chamado a atenção da criança, de apenas cinco anos. Fiquei imaginando que tipo de monstro essa mãe está criando e como será o comportamento dessa pequena quando tiver mais idade. Será que a mãe vai agredir todo mundo que ousar contrariar sua vontade?
Lendo esse tipo de absurdos diariamente, às vezes sinto que estou perdendo totalmente a fé no ser humano. Os exemplos que devíamos seguir são raramente mostrados com destaque, enquanto as notícias que envolvem violência, tragédias ou futilidades ganham enorme espaço. Fico sempre me perguntando quais tipos de valores que estão nos dominando, e porque os princípios morais que antes eram tão respeitados, hoje são relegados a meras notinhas perdidas no meio de outros assuntos.
Mas hoje, ao passar por vários sites, vi uma matéria que me deixou feliz, e me mostrou que, apesar de tudo, ainda há pessoas que acreditam na força do amor. Adolescentes de uma classe do terceiro ano do Ensino Médio, em Governador Valadares, nos deram um exemplo de amor ao próximo. Em solidariedade a um colega que tem câncer e passou pelas primeiras sessões de quimioterapia, todos os outros garotos rasparam a cabeça. Seguindo esse exemplo, professores e até diretores da escola resolveram fazer o mesmo. Quando o garoto voltou à escola e abriu a porta da classe, teve essa bela surpresa. Em suas palavras, disse que se sentiu “feliz e acolhido”.
Ao invés de sofrer bullying, de ser “zoado”, de sentir vontade de se esconder, esse garoto recebeu em um momento muito difícil um apoio totalmente inesperado. O gesto maravilhoso pode ser conferido no link http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2011/06/estudantes-raspam-cabelo-para-apoiar-colega-com-cancer-em-mg.html. Num mundo onde estudantes e pais xingam e batem em professores, e onde o respeito nos colégios tem se tornado raridade, o exemplo desses garotos nos mostra que, acima de tudo, eles são alunos de verdade na escola da vida.