domingo, 24 de junho de 2012

Mesquinharias desnecessárias

Essa semana fez dois meses que meu tio mais querido morreu. Valdir era um daqueles caras para quem tudo está bom. No dia do velório eu estava conversando com uma prima e disse que queria lembrar apenas dos bons momentos que havia tido com ele. Parei um pouco e falei: “Na verdade, eu só tenho bons momentos com ele. Não tem como lembrar alguma coisa ruim”.
Parece aquele papo que quando a pessoa morre vira santa. Claro que ele tinha defeitos, mas eram muito pequenos em relação a sua generosidade, seu bom humor, sua alegria de viver, suas piadas o tempo todo, seu jeito espontâneo, sua amizade, seu comportamento invejável como marido e pai.
Meu tio se foi num sábado chuvoso em um daqueles acidentes que acontecem do nada e não dão a menor chance de sobreviver a quem está envolvido. Um baque para a família toda, que se perguntou (e ainda se pergunta) por que Deus quis lá em cima (eu tenho certeza de que, se existe céu, ele está lá) um cara que, aos 51 anos, ainda tinha muita coisa boa a oferecer ao mundo.
Sempre que acontece uma tragédia ou algo muito ruim em nossas vidas passamos a refletir sobre muitas de nossas atitudes cotidianas. Eu sempre falo que depois de ter tido problema grave de saúde duas vezes acabei mudando algumas coisas em mim – por um lado, passei a ser uma pessoa menos tolerante, por outro, coisas que antes me incomodavam hoje não me fazem a menor diferença.
A morte do meu tio me fez novamente refletir sobre o quando gastamos nossas energias, que deveriam sempre estar direcionadas ao nosso bem estar, com atitudes mesquinhas que, no fundo, apenas nos fazem mal. Porque enquanto estou perdendo meu tempo e sono e beleza com pequenos aborrecimentos que podem ser deixados de lado, a pessoa com quem estou me preocupando muito provavelmente sequer se lembra do que aconteceu – ou talvez esteja satisfeita em ver que conseguiu me atingir.
Não estou dizendo com isso que devemos todos virar santos e achar que o mundo é belo em todos os sentidos. Ser inocente em excesso é tão prejudicial quanto ser desconfiado ao extremo. Como tudo na vida, o equilíbrio é a medida certa quanto se trata de relacionamento entre as pessoas.
Não me tornei ainda o ser humano que almejo ser quando se trata de relevar e esquecer coisas que, a luz da racionalidade, não deveriam sequer ter um segundo do meu pensamento. Ainda me incomodo com coisas que deveriam ser ignoradas, mas já aprendi a deixar que esse sentimento tome conta de mim o menor tempo possível. Antes gastava dias e mais dias buscando uma maneira de “dar o troco” quando alguém me prejudicava. Hoje, deixo esse troco de esmola para essa pessoa. Com certeza, ela precisa dele bem mais do que eu.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Aprendendo a arte do desapego

Nesse feriado resolvi que ia aproveitar minha folga e arrumar meu guarda-roupa. Parecia uma coisa prosaica, tirar tudo de dentro, limpar e colocar tudo de volta. Dizer a verdade, já havia começado na semana anterior o trabalho, quando limpando apenas duas partes dele tirei duas sacolas de roupas (algumas delas usadas apenas uma vez) e separei para entregar à doação. Na sexta-feira dei início então ao “grosso” do trabalho. Entre tirar papelada, caixas, livros, roupas e uma infinidade sem fim de tranqueiras, levei a tarde toda. Enquanto escrevo esse artigo, minha cama está parecendo uma loja daquelas que vendem todo tipo de coisa e onde os objetos são dispostos sem organização alguma. Tenho fama de consumista e admito esse meu pecado. Quando vejo a palavra “promoção”, parece que meus olhos ficam maiores e, a despeito de muitas vezes não precisar de nada daquilo que está sendo oferecido, acabo comprando alguma coisa, afinal, “estava muito barato”. Sei que mulher sempre acha que precisa de mais sapato, mais bolsa, mais roupa... Mas comprar apenas por comprar sempre foi um defeito meu que tenho tentado corrigir já há algum tempo. Não faço dívidas impagáveis por conta disso – graças a Deus, fui educada por duas pessoas que me ensinaram que a coisa mais valiosa que temos é o nosso nome, e sou incapaz de ficar devendo algo a uma pessoa. Mas voltando ao guarda-roupa. Achei muita coisa que nem lembrava mais que tinha e, se não me recordava delas, era porque não tinham valor para mim. Dito isso, comecei a tirar tudo que eu achava que não devia mais guardar, e também e organizar aquilo que ainda está em uso. Dizem que quando a gente faz isso abre espaço para novas coisas. Não sei se é verdade, mas ver aquele espaço que estava atulhado de tudo que é coisa agora organizado e com espaço para que eu consiga enxergar o que tem nele me deu uma sensação muito boa. Ainda não terminei o trabalho, mas a parte mais difícil, que era separar o que não estava em uso para ser entregue a quem realmente saiba valorizar, já foi feita. E aí me lembrei da famosa “arte do desapego”. Não sei o porquê sou uma pessoa apegada a objetos, livros, roupas, sapatos, enfim, coisas que não me servem mais. Guardo muita coisa porque “pode ser que eu precise”. No caso dos livros, aqueles que eu sei que vou reler estão em minha estante, mas comecei a participar das trocas promovidas pelas bibliotecas, e cada vez que volto com novos títulos para casa sinto prazer em saber que as histórias que já conheço serão compartilhadas com outras pessoas, assim como eu conhecerei outras tramas. Minha mãe disse que eu me sentiria mais leve fazendo isso. Ainda brinquei que para me sentir mais leve eu preciso de muita dieta e caminhada... Mas ela tinha razão. Olhando o que separei para levar embora, me senti realmente mais leve. Aprender a arte do desapego não é fácil, mas vale muito a pena. Desapego de coisas, desapego de sentimentos ruins. Abrir espaço para o novo, tanto material quanto sentimentos. Filosofia de vida nova, com muito aprendizado pela frente.