domingo, 24 de fevereiro de 2013

Dois anos e nada a celebrar



Cerca de 60 pessoas se juntaram ontem em frente ao Teatro Municipal Lulu Benencase para “comemorarem” os dois anos de fechamento do local. Apesar do número dos manifestantes não parecer significativo, ele demonstra um sentimento que está aos poucos tomando conta de parte da população americanense, para quem a cultura é importante: a revolta por ver um espaço, que deveria ser referência estadual, com as obras aparentemente abandonadas.
Desde o dia 4 de agosto de 2012, quando o secretário de Cultura e Turismo, José Vicente De Nardo bradou em alto e bom som que o Teatro seria reaberto em 90 dias, a reportagem do LIBERAL vem sistematicamente acompanhando o andamento das obras. Naquela ocasião, cerca de 150 membros da classe artística americanense haviam se reunido em frente ao local para pedir que as obras fossem finalizadas. Coincidência ou não, a Prefeitura resolveu, no mesmo dia do protesto, dar início à reforma e, com suas máquinas, fazer barulho e atrapalhar a manifestação organizada.
De lá para cá, já se passaram mais de seis meses, e a situação do Teatro continua praticamente a mesma. A diferença é que em agosto foi anunciado um investimento de R$ 800 mil para finalizar as melhorias, e nesta semana que passou um novo valor de R$ 867 mil também foi divulgado como verba para terminar a reforma. Somando, temos R$ 1,687 milhão que, na teoria, servirão para que o Lulu Benencase volte a funcionar. O maior problema agora – já que pelo visto o dinheiro não é um deles – é a pergunta que não quer calar: quando essa obra finalmente será acabada?
Para uma pessoa que trabalha cotidianamente com cultura, é extremamente frustrante constatar que uma cidade de mais de 200 mil habitantes não tenha um espaço público adequado às manifestações artísticas locais. Além de ficar frustrada, chego a ter a famosa sensação de “vergonha alheia”, porque diariamente tenho de recorrer a atrações de cidades vizinhas para preencher as páginas do caderno que edito. Não que eu não ache importante divulgue a arte regional, mas sim porque gostaria de oferecer aos meus leitores, pelo menos no final de semana, uma programação local rica, que o fizesse ter vontade de ir ao teatro ver uma boa peça, um show musical, uma apresentação de dança, sem precisar pegar uma estrada para matar sua sede de cultura.
Por isso admiro tanto os grupos locais que mantêm seus espaços sem apoio do poder público, sempre oferecendo atrações aos americanenses de bom nível. E se não o fazem mais é porque, estruturalmente, não possuem mais condições, mas tenho certeza de que o fariam se pudessem. Eles são o maior exemplo de que o americanense tem sede de conhecimento e atrações diversificadas. Infelizmente, a “torneira” da administração, tão pródiga para outros setores, parece estar eternamente fechada a cultura. 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O poder de um desejo





Quando esse texto for publicado, eu terei realizado mais um sonho da minha vida: desfilar em uma escola de samba. Por sorte, terei desfilado pela Gaviões da Fiel, escola do meu time do coração. Por mais sorte ainda, terei ido com pessoas muito queridas que tinham a mesma vontade que a minha e que, por aqueles destinos que só Deus sabe, também não haviam ainda realizado essa vontade. Talvez nós tivéssemos que realizar esse sonho juntos mesmo, para que ele fosse ainda mais prazeroso a todos.
Pode parecer bobagem um sonho ser desfilar em uma escola de samba. Mas, como já disse muitas vezes ao longo da vida, cada um tem seu próprio sonho, e ele ser importante ou não é uma questão muito individual. E realizar algo sonhado traz uma sensação gratificante, deixando aquele gosto de “enfim eu consegui”. E depois desse gostinho vem a vontade de realizar outro sonho, e nessa busca por sempre conseguirmos objetivos diferentes em nossas vidas que reside toda a beleza da nossa existência.
Já imbuída desse espírito feliz por fazer algo que eu queria muito, ontem resolvi assistir ao vídeo que está fazendo muito sucesso nas redes sociais, com a campanha “Vem Sean Penn”. Confesso que nos primeiros dias em que vi as pessoas partilhando o vídeo não tive curiosidade, até porque a internet hoje em dia é pródiga em virais de todos os tipos, alguns muito interessantes e engraçados, e outros sem o menor sentido, mas que ainda assim fazem muito sucesso.
Mas ontem eu li uma nota sobre o vídeo que me chamou a atenção, e resolvi acessá-lo. O filme tem apenas cinco minutos e conta a história de Ariel, um jovem com síndrome de Down que protagonizou o longa nacional “Colegas”, a ser lançado em março nos cinemas. Ariel desde pequeno gostou de atuar, e fez cursos de teatro. Já adulto, seu desejo foi realizado ao ser chamado para o filme, e ainda por cima no papel de protagonista.
Mas o grande sonho do jovem, que surgiu após sua vivência no cinema, é fazer com que o ator Sean Penn venha assistir a estreia ao seu lado. Um desejo difícil de ser realizado, mas é o desejo dele. Assim, um grupo de amigos fez o vídeo com a participação de muita gente famosa pedindo para que Sean Penn venha ao Brasil e assim realize o sonho de Ariel. Antes de terminar de assistir ao filme não consegui conter as lágrimas, e imagino que muita gente deve ter se emocionado como eu ao ouvir o jovem pedindo ao ator que esteja aqui ao lado dele na estreia de seu longa.
Pode ser que isso seja uma campanha publicitária para atrair atenção sobre o filme. Se for, com certeza está dando certo. Mas, se não for, que Ariel consiga realizar seu sonho, assim como eu tenho conseguido realizar os meus.
Em tempo: o desfile foi maravilhoso, a emoção é indescritível! E se alguém quiser partilhar o vídeo do Ariel, o link é http://www.youtube.com/watch?v=bHNTPdy0CIM. Espero que ele possa sentir a mesma emoção que eu senti ontem!

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Uma relação bem delicada


Sou formada há quase 18 anos e, durante todo esse período, trabalhei brevemente em assessoria de imprensa de sindicatos. Assim, meu conhecimento do trabalho de um assessor é muito mais baseado na teoria aprendida na universidade e no convívio com colegas que atuam nesse segmento do que em experiência. E não tenho a visão de muitos colegas que já vi dizerem que “assessor de imprensa não é jornalista”. Para mim é tão jornalista quanto eu, apenas com uma especialização diferente da minha, algo comum em todas as profissões.
De acordo com o manual da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) publicado em 2007, “um trabalho continuado de assessoria de imprensa permitirá à empresa criar um vínculo de confiança com os veículos de comunicação e sedimentar sua imagem de forma positiva na sociedade”.
A definição, no papel, é bem bonita, principalmente na parte que se refere ao vínculo de confiança. Porém, o que mais podemos notar, principalmente quando tratamos de assessorias de prefeituras, câmaras, deputados, enfim, quando entramos no ramo da política, é que esse vínculo não é construído de maneira igualitária entre todos os órgãos de comunicação. Não se confunda aqui a relação de um jornalista com sua fonte. O bom jornalista consegue furos, que os outros colegas correm atrás para minimizar o estrago. Mas mesmo o melhor jornalista pode sofrer furos constantemente quando tem seu direito de questionar sempre ignorado pelo assessor, que sequer se dá ao trabalho de responder as suas perguntas.
Já vivi situações assim, e vi também assessores se aproveitarem das minhas perguntas sobre um determinado assunto para elaborarem releases e enviarem a toda a imprensa, jogando para todos os colegas um assunto que apenas eu estava investigando. Também já vi comigo e outros colegas o assessor dificultar de todas as maneiras o contato com meu entrevistado, ao invés de facilitar, blindando-o contra possíveis perguntas constrangedoras (para ele) que possamos a vir fazer.
Uma vez liguei a uma assessora para fazer algumas perguntas a um secretário, e ela começou a me responder as questões, como se fosse uma especialista no assunto. Tive de lembrá-la que seu papel era o de me colocar em contato com o entrevistado, e não me passar as respostas que eu queria dele. Muito a contragosto, ela atendeu meu pedido, para depois reclamar que eu havia sido um tanto quanto “desagradável” com as perguntas. Não é meu papel agradar o entrevistado para que ele dê respostas adequadas, mas sim questioná-lo sobre o assunto em pauta para obter as melhores respostas possíveis.
O grande erro que eu vejo é que esses assessores se arvoram do papel de defensores incontestáveis de seus assessorados. Agem como se o assessorado fosse uma vítima dos “jornalistas perseguidores”, atrapalham nosso trabalho, demoram a dar respostas (quando dão), enfim, esquecem que seu papel é o de facilitar essa comunicação, para que o tal “vínculo de confiança” seja criado. E esquecem que, em política, a garantia de emprego é o tempo do mandato. Depois, quando perdem o cargo, correm a pedir emprego nos jornais que tanto desprezaram. Parece que apagam da memória o descaso com que trataram os colegas das redações. Vale lembrar que nós não nos esquecemos.