domingo, 24 de março de 2013

Quando a “fé” é excessiva



Sou uma pessoa que tenho uma enorme fé em Deus, rezo todos os dias a Ele agradecendo pelas coisas boas que me acontecem – e são muitas! –, assim como também tenho meus momentos de fraqueza, quando peço a Ele que me ilumine para encontrar a melhor saída para a resolução de problemas que me aparecem pelo caminho.
Mas, a despeito de ter muita fé, não frequento nenhuma igreja ou templo. Sou católica por formação, tendo sido bastante influenciada por meus avós, que eram o que hoje consideramos carismáticos, pessoas a quem os ensinamentos do catolicismo não podiam ser desrespeitados de maneira nenhuma. Como não concordo com alguns dogmas da Igreja Católica, acabei me afastando das missas dominicais e grupo de oração que costumava frequentar, mas mantive minha fé em Deus inabalável.
A busca por uma divindade hoje está mais forte do que nunca. Basta olharmos os dados de crescimento dos fiéis, principalmente nas igrejas evangélicas, muitas delas recém-criadas e que já conquistaram um número considerável de membros, a despeito dos poucos anos de existência. Acho positivo quando uma pessoa encontra seu lugar em qualquer religião, principalmente quando ela encontra aquilo que todos mais buscamos, que é a paz de espírito.
Porém, o que tenho notado é o crescimento desenfreado de um fenômeno já conhecido como “Teologia da Prosperidade”, ou seja, eu dou dinheiro à igreja, que ele será multiplicado. Muitos dos que se chamam de “fiéis” buscam a religião apenas para que a vida financeira seja resolvida, esquecendo-se que os valores religiosos são muito maiores que apenas dinheiro. Sim, Deus quer que sejamos prósperos. Mas, acima de tudo, Deus quer que tenhamos fé e pratiquemos o bem.
Interessante também notar que muitos desses novos fiéis, depois que “encontram Deus” (ou Jesus), se acham com todo direito de julgar o modo de vida daqueles que não seguem os seus conceitos de moral. Vi muita gente julgando os jovens da boate Kiss, dizendo que “se estivessem em casa ou na igreja” a tragédia não teria acontecido, como se fatalidades fossem um castigo de Deus, e não, muitas vezes, consequências de descasos de autoridades, tão comum em nosso país. As pessoas se esquecem que acidentes, fatalidades ou tragédias podem acontecer em qualquer lugar, até mesmo dentro de casa. Se esse tipo de pensamento absurdo fosse correto, o teto da igreja Renascer não teria desabado na cabeça dos fiéis, e nem aquele ônibus de visitantes à Aparecida do Norte teria se acidentado, matando todo mundo carbonizado. E onde está escrito na Bíblia que se divertir, sem prejudicar os outros, merece algum "castigo divino"?
Engraçado também ver que essas pessoas acham que apenas os membros da igreja a qual pertencem estão salvos, esquecendo-se que existem pelo menos mil diferentes religiões pelo mundo. Acredito ser muita arrogância ter a certeza absoluta de que apenas um determinado grupo está sendo olhado por Deus, como se o restante vivesse em pecado mortal. Esse “excesso de fé” é que me decepciona. Meu Deus é de amor e aceitação, e não de vingança ou exclusão. Em minha concepção, Ele ouve todas as línguas e religiões, sem distinção, porque, acima de tudo, somos todos seus filhos. 

terça-feira, 12 de março de 2013

Nada a celebrar






Na última sexta-feira foi comemorado em todo o mundo o Dia Internacional da Mulher. Em um mundo ideal, essa data nem deveria existir, afinal, homens e mulheres estariam no mesmo patamar, e ambos teriam seus direitos respeitados de maneira igualitária. Mas a data existe, é celebrada e, a despeito de eu achar que não muda minha vida em absolutamente nada, não vou negar que as mensagens recebidas deixaram meu dia mais feliz.
Porém, este ano não vi motivo nenhum para comemorar o Dia Internacional da Mulher. O final do julgamento do goleiro Bruno na madrugada da sexta-feira, para mim, mostrou que ainda estamos a anos-luz de distância de termos as mulheres vistas como seres humanos que merecem ter todos os seus direitos respeitados. Apesar de ter mandado matar e esquartejar sua amante Eliza Samudio, apenas para fugir da obrigação de pagar pensão ao filho que teve com ela, Bruno foi beneficiado pela lei brasileira, que mais parece um atrativo a quem comete crimes. A pena imposta ao atleta, que foi condenado a 22 anos de prisão, mas pode estar fora da cadeia daqui a menos de três anos, é um tapa na cara das mulheres brasileiras, e um presente de bandeja aos homens que ainda acham que somos seres inferiores, que podemos ser usadas e abusadas quando eles decidem, e que podem nos jogar fora quando não nos querem mais.
A penalidade para mim é ridícula, e posso dizer sem medo que Eliza foi vítima  três vezes: da punição ínfima; do goleiro, que não quis assumir a paternidade de seu filho e, amparado na certeza da quase total impunidade, arquitetou um plano para matá-la digno dos melhores episódios das séries policiais; e da nossa sociedade ainda machista, que apenas a enxerga como uma garota de programa e atriz de filme pornô golpista que quis arrancar dinheiro de um esportista que, como foi amplamente divulgado, usa as mulheres a sua volta de todas as formas possíveis, e era assíduo frequentador de orgias. Mas ele pode, claro, afinal, é homem...
Gostaria muito que os grupos de Direitos Humanos, que tanto se posicionam e movimentam exigindo providências quando um bandido é torturado ou morto, se posicionassem também contra essa penalidade ridícula imposta pela lei brasileira, e que se movessem para que as punições a crimes tão hediondos como esse fossem mais severas, que não houvesse o direito ao regime semiaberto, e que nosso Código Penal deixasse de ser um convite para que os homens continuem matando como se as mulheres fossem seus objetos de consumo que, quando não servem mais, podem e devem ser descartados.
Por tudo isso, só tive muito a lamentar sexta-feira. Meu espírito não era de comemoração, era de luto.