segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2013 motivos para acreditar


Faltando apenas um dia para se encerrar 2012, acredito que todos nos pegamos fazendo (como sempre!) aquele tradicional balanço das conquistas e perdas ocorridas ao longo dos últimos 12 meses, dos erros e acertos, e planos para que o ano que chega seja sempre melhor do que o aquele que acabou.

Não fujo a essa regra. Não sou nem quero ser daquele grupo que adora dizer que “ano novo é tudo igual”, mas que no fundo celebra a chegada dos novos 365 dias como todo mundo, esperando que tudo seja melhor. E claro que faço um balanço, até porque eu acredito que aprendemos muito com nossos acertos – e principalmente com os erros.

Mas de nada adianta virar o ano, ganharmos mais 12 meses, pedirmos que tudo seja melhor, se nós não estamos dispostos a fazer nenhum tipo de concessão para que essa mudança positiva ocorra. Outro dia vi uma tirinha da personagem Mafalda (sempre sábia!) em que ela falava que “o ano que vem é que espera que as pessoas sejam melhores”. Concordo com a pequena argentina que, com suas frases cheias de sabedoria, ainda conquista leitores em todo o mundo, a despeito de seu criador, Quino, ter encerrado sua publicação há muitos anos.

Sempre pensamos em mudar e muitas vezes deixamos essa transformação para depois. O “depois” tem de esperar o emagrecimento, o casamento, o crescimento dos filhos, o emprego melhor, ter mais dinheiro, a troca do carro... Colocamos obstáculos muitas vezes facilmente transponíveis para as mudanças que queremos fazer em nossas vidas, e dimensionamos esses entraves para o tamanho que avaliamos possa justificar o medo – ou preguiça mesmo – de nossa evolução. Sim, porque o importante é evoluir, e não apenas “trocar seis por meia dúzia”. Na minha visão, mudanças devem ser sempre positivas e enriquecedoras.

Não consegui mudar tudo que pretendia em 2012, mas acredito que dei vários passos em direção ao meu crescimento pessoal nesse período. Ainda não me tornei a pessoa dedicada à atividade física que pretendo ser – e não estou falando em me tornar uma atleta, mas sim em sair do sedentarismo – mas já me condicionei a pelo menos duas vezes por semana estar na academia. É pouco para o que quero, mas muito para quem não fazia exercícios físicos.  

Perdi e ganhei amigos, aprimorei meu lado profissional, voltei a ler mais e consegui colocar em prática dois projetos que há muito existiam em minha cabeça, um podcast sobre músicas retrô, e uma coluna com dicas de leitura. Pequenas conquistas, mas que significam muito quando percebo que aos poucos estou colocando meus planos em andamento.

Para o próximo ano, ainda tem muita coisa que quero conquistar. E acredito que terei 2013 motivos para celebrar, um para cada dia vivido plenamente. Saúde e feliz ano novo a todos!

domingo, 16 de dezembro de 2012

Orgulho de ‘tia coruja’


Começo a escrever esse texto ainda com uma mistura de emoções fortes após ter ido na última sexta-feira à colação de grau da minha sobrinha mais velha, a Juliana, ou Juju, como a chamamos carinhosamente. Aos 22 anos, ela se graduou em Engenharia de Produção e já está empregada. Um belo começo para uma menina que vi crescer e a quem acompanhei no máximo de momentos possíveis durante toda sua vida.

Durante a cerimônia, em um ginásio lotado de familiares e amigos dos formandos, num ambiente contaminado pela emoção de cada um dos presentes, passavam pela minha cabeça várias imagens da minha sobrinha, desde o seu nascimento, quando a vimos chegar toda enrolada, uma bebê toda linda, já com o típico lacinho cor de rosa na cabeça, até a finalização de um curso pelo qual ela se dedicou tanto.

Muitos dos leitores sabem que eu optei por não ter filhos. Isso não faz de mim um ser humano egoísta que não se importa com ninguém. Assim, acabei “adotando” minhas sobrinhas como filhas postiças. E se eu fiquei emocionada da maneira como estava, nem consigo imaginar o que meu irmão sentiu ao ver a filha se levantar e receber o seu diploma.

Observei os pais, familiares e amigos dos graduandos durante a cerimônia, e podia notar no rosto de cada um a ansiedade em ver seu ente querido no meio de todos aqueles estudantes, os gritos de alegria quando enxergava aquela pessoa, os apitos, o choro contido ou mesmo extravasado. Na chamada dos alunos, a cada nome lido, uma explosão de palmas, gritos e apitos, e os olhares orgulhosos daqueles que estavam ali, muitos vindos de longe, para participar daquele momento tão importante na vida dos estudantes.  

Acabei me lembrando da minha formatura, em Londrina, em 1995. Na ocasião, eu tinha apenas 23 anos, e apenas um plano prestes a ser concretizado: passar um ano em Londres, onde fui estudar inglês, e de onde voltei com memórias maravilhosas e uma experiência de vida inesquecível. Passados 17 anos, trabalho na profissão escolhida, em uma área que adoro, e acredito que tenha realizado boa parte dos sonhos que na época acalentava com tanta esperança.

Com esse pensamento, observei aqueles rostos jovens, todos sentados vestidos de beca, prestando atenção aos discursos, ou então trocando sorrisos entre si e acenando para aqueles que estavam ali para prestigiá-los. Como boa “tia coruja” que sou, a todo instante voltava meus olhos para a minha sobrinha ali sentada, tranquilamente esperando seu nome ser chamado, e sorrindo quase que o tempo todo, apenas ficando séria nos momentos de discursos e do seu juramento. Juliana encerrou naquele dia uma das melhores fases da nossa vida, que é a faculdade, e agora começa um novo ciclo já com ótimas perspectivas. Que ela seja muito (mais) feliz!

domingo, 25 de novembro de 2012

Somos preconceituosos


Essa semana a 8ª Câmara de Direito Privado de São Paulo condenou o jornalista Boris Casoy e a TV Bandeirantes a pagarem uma indenização de R$ 21 mil por danos morais ao gari Francisco Gabriel de Lima. Para quem não se lembra, na noite de 31 de dezembro de 2009, após Francisco Lima aparecer em uma vinheta desejando boas festas, uma falha técnica levou ao ar o áudio de Boris dizendo: “Que merda: dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho”.

A notícia não estava em destaque no site onde a li, mas ainda assim, em menos de quatro horas, mais de 300 comentários já haviam sido postados, a grande maioria criticando a atitude do jornalista, e até mesmo dizendo que o valor da indenização havia sido pouco, comparado aos lucros que a TV Bandeirantes tem e ao salário de Boris Casoy.

O comentário do profissional realmente foi lamentável ou, como ele mesmo diz, “uma vergonha”. Mas também lamento ter de dizer que é o tipo de comentário bastante comum no Brasil, onde as pessoas mais simples são constantemente desmerecidas apenas porque estão em degraus mais baixos das chamadas “pirâmides sociais”.

Indo mais longe, às vezes chego a acreditar que o preconceito no Brasil é muito mais social do que racial. Um bom exemplo é a maneira que hoje todo o país admira o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa. Aliás, o que as pessoas mais admiram é a ascensão social dele, que veio de uma família humilde e hoje conquistou o mais alto posto jurídico do país. Barbosa, todos sabem, é negro. E nos comentários ninguém fala da sua origem étnica, a não ser para lembrar que ele não se valeu de cotas raciais para conquistar seu espaço.

Pelé também é orgulho nacional por seu desempenho no futebol. E as pessoas também não falam dele por sua cor, mas sim por seu profissionalismo, por ele ainda ser um símbolo do país no exterior, mesmo estando fora dos gramados há mais de 30 anos. Em ambos os casos, estamos falando de pessoas que, a despeito de sua origem racial, hoje estão no topo de pirâmide social – e por isso são respeitadas.

Porém, o preconceito que os brasileiros têm com os chamados “pobres” é notório. Se entramos em uma loja chique vestidos de maneira mais simples, somos sempre mal atendidos. Isso quando somos atendidos! Há muitos anos passei por uma situação assim em Piracicaba, havia saído do trabalho e entrei numa loja de grife para ver uma calça jeans. A vendedora – que com certeza comprava as roupas a preço de custo e parcelava em dez vezes – me atendeu como se eu não tivesse condições de comprar nada da loja. Isso porque, na concepção dela, o fato de eu não estar trajada com marcas famosas fazia de mim alguém sem poder aquisitivo.

Também já escutei gente falando que os aeroportos deviam ter uma ala só para “aquele povo pobre” que agora consegue viajar de avião. Oras, se eu quero ter uma ala exclusiva, então devo pagar primeira classe, e não querer impedir que os outros tenham o mesmo tratamento que eu.

A punição a Boris Casoy foi mais do que justa. Mas as nossas reações de indignação, tão veementemente discursadas, muitas vezes escondem nosso próprio preconceito contra aqueles que não possuem o que possuímos. Boris Casoy estava na televisão falando para milhões de pessoas. Mas será mesmo que, dentro de nossos lares ou entre amigos, não fazemos os mesmos tipos de comentários?

domingo, 11 de novembro de 2012

Intimidade exagerada à mostra


Desde a semana passada temos três mulheres sendo tópico de assuntos em sites de celebridades e até mesmo de notícias por suas exposições exageradas na mídia. O primeiro caso trata-se da catarinense que resolveu leiloar sua virgindade e que virou assunto mundial. Aliás, foi interessante vê-la tentando justificar sua atitude, dizendo que ia doar o dinheiro, e depois ver o desmentido do produtor do programa que ela estava participando. A catarinense (que nem sei e não faço questão de lembrar o nome, será mais uma daquelas subcelebridades que logo caem no esquecimento) dominou os sites até o lance final do leilão, e esta semana já estava em programas de televisão tentando explicar o que, para mim e para muita gente, é inexplicável: a necessidade de transformar um momento tão íntimo em uma atração de circo.


Como no mundo das subcelebridades uma notícia se sobrepõe à outra com a mesma rapidez de um raio, a catarinense logo foi deixada de lado pela autointitulada modelo-atriz Nana Gouveia, que agora mora nos Estados Unidos com o marido. O mundo todo se solidarizando com os americanos pela tragédia da passagem da supertempestade Sandy, que deixou um rastro de destruição pelas cidades onde esteve, e a infeliz resolve sair e se deixar ser fotografada em meio aos escombros. Para piorar, a declaração de que, com o furacão, ela havia aproveitado para ficar trancada em casa fazendo sexo com o marido e tomando vinho, reforçando aquela antiga convicção dos estrangeiros de que toda brasileira é um “furacão (com perdão do trocadilho) na cama” e por isso pode ser tratada como objeto sexual em qualquer lugar do mundo.

Por último, um dos casos mais emblemáticos de subcelebridades, Geisy Arruda, que resolveu fazer não sei quantas plásticas de uma vez e também uma cirurgia íntima, e colocou todos os detalhes de suas intervenções nas redes sociais, inclusive com foto do rosto totalmente inchado, parecendo um monstro, com certeza com um resultado ainda bem diferente daquele que ela buscou quando fez a intervenções estéticas.

Aí vem o questionamento básico: o que tem levado às mulheres, principalmente, a buscarem tão desesperadamente esse tipo de exposição na mídia? Carência? Falta de amor próprio? O mais triste ainda é ver a repercussão negativa que elas conseguem, rebaixando-as totalmente, tornando-as simplesmente objetos descartáveis sem valor nenhum. Acredito que quase todos tenhamos um pouco de vontade de conseguir destaque – mas de maneira positiva, com comentários orgulhosos a nosso respeito, e não com piadas e xingamentos. Acho maravilhoso, como mulher, que tenhamos conseguido nossa liberdade sexual, que não tenhamos mais o conceito de nossas avós a respeito de como nos comportarmos. Mas também acredito que um pouco de respeito e discrição não fazem mal a ninguém. Na minha concepção, o que faço entre quatro paredes e como são minhas partes íntimas só dizem respeito a mim e, no máximo, ao meu parceiro. Apregoar esses detalhes da minha vida não me transformam em alguém mais importante – muito pelo contrário, me deixam uma pessoa cada vez com menos valor.

domingo, 28 de outubro de 2012

A obesidade como deve ser tratada


Hoje faz quatro anos que eu tive alta do meu câncer de mama. Antes que alguém pense “lá vem ela falar desse assunto de novo”, quero destacar um problema pós-doença que surge em muitas mulheres que, assim como eu, são obrigadas por cinco anos a tomar um medicamento que é um verdadeiro veneno, mas que nos previne de um retorno da neoplasia: a obesidade. No meu caso, que sempre fui gordinha, ela se tornou um problema mais grave ainda, chegando à obesidade mórbida.

Muita gente que me conhece pessoalmente assusta quando digo que meu IMC (Índice de Massa Corporal) era, há pouco mais de um mês, de 42. Apesar disso, não tenho nenhum dos problemas comuns decorrentes da obesidade, como pressão alta, diabetes, taxas elevadas de colesterol ou triglicerídeos. Por uma genética privilegiada, quando faço exames de sangue meus médicos costumam brincar que, se não me conhecessem, iriam imaginar que os resultados eram de uma pessoa magra. Ainda assim, todos sempre foram unânimes em me dizer que eu precisava perder peso, exatamente para que esses problemas não surgissem mais tarde.

Já escutei muita gente dizer que o gordo é gordo apenas porque é preguiçoso, porque quer, porque não tem força de vontade. Claro, escutei isso de pessoas magras e daquelas que têm uma facilidade muito grande em perder peso. Meu homeopata, que é magérrimo, fala o seguinte: se emagrecer fosse fácil, todo mundo seria magro.

Mas o que vejo em relação à obesidade é que, a despeito de todas as más consequências que pode trazer, o maior problema é ela ser tratada apenas como uma questão estética. Nossa secretária de redação, Marina Zanaki, escreveu um texto dizendo que fomos levadas a acreditar que, se não tivéssemos um corpo em forma, jamais teríamos um namorado, e que sem esse namorado, jamais seríamos felizes. Detalhe: Marina é linda e magra.

Aos 19 anos, Marina enxerga muito melhor do que muitos profissionais de saúde que a obesidade não deve ser vista apenas como uma questão de beleza. Há pouco mais de dois meses, por conta do IMC alto, fui encaminhada a um cirurgião bariátrico que, em uma consulta de apenas 15 minutos, determinou que eu não conseguiria emagrecer sem uma redução de estômago, e que, mesmo que eu conseguisse, iria engordar tudo de novo. O fato de uma operação desse porte envolver a não absorção de nutrientes o resto da vida, e o fato de eu não poder me dar ao luxo de não ter essa absorção por causa do câncer sequer foram levados em conta, apesar de eu haver abordado o tema durante a consulta. Não fiz a cirurgia, optei por um balão intragástrico, e já estou emagrecendo. Aos poucos, sem sofrer muito, e o mais importante: sem o risco de uma anemia ou outros problemas que muitos profissionais amenizam quando indicam a cirurgia.

Não sou contra o procedimento, e acho que seja indicado em casos muito graves de obesidade, quando nada mais deu certo. Mas, na minha visão, seria o último recurso. Acredito que está na hora de as pessoas pararem de recorrer a procedimentos e dietas absurdas em busca de um corpo que jamais terão, apenas porque alguém lhes disse que isso era importante. E, acima disso, está na hora de os profissionais pararem de achar que todo obeso quer emagrecer apenas por estética. Acima disso tudo, existe a saúde, a coisa mais importante que temos em nossa vida.

 

 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Um ano de muitas saudades


Ano passado essa época eu estava em férias. Pouco antes de sair para meus dias de folga, fiquei conversando com seu Diógenes, como sempre o chamei, tendo a triste certeza de que, quando voltasse, ele não estaria mais aqui na redação, sentado naquela mesa aonde todos nós íamos volta e meia trocar “um dedo de prosa” com uma pessoa que era, para mim, um arquivo vivo da história local.

No próximo domingo faz um ano que ele se foi. Estava em Ribeirão Preto, indo para Bauru, e fiz meia volta para poder dar meu último adeus a um querido companheiro de trabalho. Apesar de estar esperando a notícia, no fundo havia a esperança de que ele conseguisse driblar essa doença terrível chamada câncer, e que ficasse bom novamente, como havia feito alguns anos antes. Dessa vez, infelizmente, prevaleceu a vontade de Deus, que talvez tenha entendido que aquele senhor já havia dado sua contribuição aqui na terra.

Quando seu Diógenes morreu não consegui escrever nada. Por ter acompanhado minha trajetória contra o câncer, quando recebeu o resultado do exame que diria se a doença havia voltado ele veio pedir que eu lesse o relatório. Por um descuido, me entregou o laudo errado, em que dizia que estava tudo bem. Felizes, nos abraçamos e ele falou que ia até comprar um “champanhe” para comemorar a boa notícia. Continuei meu trabalho, quando ele retornou me mostrando o laudo correto, em que se lia que a doença havia voltado. Doeu muito ver aquele senhor com os olhos cheios d’água, mas ainda assim cheio de esperança de mais uma vez sair vitorioso desse briga.

Infelizmente não foi assim. Mas, mesmo doente, Diógenes voltou a sua mesa, para escrever seus artigos, me mandar a “Feira Livre” (que saudades!) e se sentir, acima de tudo, vivo. Mesmo eu dizendo que ele devia ficar em casa por causa da quimioterapia, ele teimou em se manter ativo o máximo que pode. E vinha sempre bem humorado, com suas tiradas memoráveis, com uma palavra carinhosa a todos.

Durante os anos em que tive a feliz oportunidade de conviver com Diógenes, ele sempre se mostrou solícito as minhas perguntas, carinhoso quando eu estava doente, bem humorado com todos. Uma figura que, sentado em sua mesa no canto, era como um “baú de memórias” de Americana e região. Ele era nosso “Google”, quando tínhamos nossas dúvidas. Um “Google” que sempre se sentia feliz em contar suas histórias, e que respondia nossas perguntas com o prazer de quem tinha vivido as situações que nos relatava – e, em muitos casos, participado ativamente delas.

Diógenes deixou aquela saudade boa que sentimos quando alguém muito querido se vai. Não raro, quando olho em sua mesa, tenho a impressão de vê-lo ali, com a perna dos óculos na boca, para contar algum “causo”. Saudade boa, que sempre ficará em mim.

 

domingo, 2 de setembro de 2012

Lições da amizade


Parece que foi ontem, mas já faz quase um ano que sentava no computador para escrever meu enfoque avisando aos leitores que eu iria entrar em férias. E agora estou novamente pronta para ficar 30 dias longe do jornal, da minha bancada e dos meus colegas de trabalho que, a despeito de “pegarem no meu pé” o tempo todo, me são muito queridos.

Diferente de 2010, quando realizei meu sonho de conhecer o Egito, e do ano passado, quando estive nas geleiras da Argentina, dessa vez vou fazer uma viagem pouco usual para quem é considerada “fresca”: vou a Marabá, no Pará. Engraçado ver a reação das pessoas quando eu respondo meu destino a semana que vem. Por quê? Fazer o que? Tem índio lá?

A resposta é simples: vou visitar minha melhor amiga, aquela que a gente escolhe para ser irmã e que, não importa quanto o tempo passe, nem qual seja o tamanho da distância que nos separe, ela sempre está ali. Ou aqui de vez em quando, como é o caso da Ana Maria, que há 33 anos entrou em minha vida para fazer a diferença sempre.

Acho que mencionei a Aninha rapidamente em algum texto aqui. Ela é meu completo oposto: totalmente desprovida de vaidade, uma pessoa sempre pronta a ajudar todo mundo. Fui sua madrinha de casamento, que foi um dos bonitos que assisti em toda minha vida. O desprendimento dela é uma coisa que, por mais que eu a conheça, sempre me surpreende. Quando seu pai ficou muito doente, há quatro anos, eu havia acabado de fazer minha mastectomia. Mesmo sabendo que ele havia sido desenganado, ela ainda assim ligou para meus pais, perguntando se eles precisavam de ajuda para cuidar de mim! E não que ela não se importasse com o pai, muito pelo contrário, sempre foi uma filha super dedicada. Mas ela acreditava que, nos momentos em que estivesse fora do hospital, poderia ficar com minha família, para ajudá-los no que precisassem comigo.

E, mesmo a Ana sendo essa pessoa fantástica, com quem eu nunca tive uma briga nesses 33 anos de amizade, ainda assim eu relutava em ir à cidade que ela escolheu para morar há cerca de 15 anos. Os motivos eram os mais diversos: é longe, é quente, é mato, tem bicho, é seco... Sempre arrumava uma desculpa, e sempre adiava essa visita. Até que, esse ano, mais uma vez, a Ana me deu uma bela lição de que a amizade está acima dessas coisas pequenas. Quando fiz 40 anos, ela veio para minha festa. Parece algo fácil de fazer, mas eu sei o que significou para ela: deixa de passar o Natal com sua mãe, algo que ela nunca havia feito desde que mora em Marabá, para poder estar aqui em janeiro, porque ela achava importante viver este momento que para mim era uma celebração de vida. A atitude dela me fez ver que meu egoísmo, tão latente muitas vezes, deveria ser deixada de lado. Por isso, nessa minha viagem, o que menos importa é o roteiro, mas sim os bons momentos que tenho certeza viverei no Pará.

domingo, 26 de agosto de 2012

(Falta de) senso brasileiro



Tenho acompanhado há cerca de um mês pelo Facebook a viagem de uma amiga jornalista, Inaie Ramalho, que esteve no Vietnam e postou fotos belíssimas dos lugares visitados. Depois de um passeio pela exótica Ásia, essa colega está agora na Europa, mais precisamente em Berlim, onde tem visitado pontos turísticos e históricos que, se tudo der certo, pretendo conhecer em 2013.

Como na viagem à Ásia, Inaie tem postado fotos de tudo que visita. A semana passada, a jornalista postou uma foto de um lugar fantástico: a East Side Gallery, uma parte do muro de Berlim com cerca de 1,3 mil metros que é todo pintada por artistas. As pinturas são lindas e muito coloridas, mas ao final do muro, uma “obra de arte” chocou a minha amiga e a todos que viram a foto que ela fez: uma pichação de cinco estudantes brasileiras, com quatro delas se autointitulando “biscates 2012” (devem ser mesmo!), e os nomes e sobrenomes grafados de maneira a não deixar dúvidas sobre a autoria de tamanho absurdo. O fato provocou tanta revolta em quem viu a foto que outra amiga de Inaie acabou descobrindo o perfil de todas as garotas no Facebook (viva a tecnologia!) e que elas são intercambistas do Rotary, uma instituição mundialmente conhecida pela seriedade de seu trabalho.

Aí fiquei pensando em todas as vezes que lemos relatos de brasileiros sendo discriminados ou destratados nos países europeus, principalmente na Alemanha, França e Inglaterra, onde o respeito por sua história é a tônica de toda a sociedade. Já morei em Londres e visitei vários países depois disso, e posso dizer, com uma tremenda tristeza, que nem dá para reclamar muito, porque boa parte dos patrícios que viajam para fora esquecem que as regras sociais desses lugares são diferentes das nossas, e agem como se estivessem em seu próprio país, com aquelas atitudes tipicamente brasileiras: furam fila, falam super alto, estacionam em lugar proibido, desrespeitam os assentos para deficientes e idosos, enfim, adotam o comportamento que aqui é aceito cotidianamente, mas que nesses lugares nos coloca de volta à idade da pedra.  

Fiquei imaginando as estudantes (ainda me pergunto o que elas realmente foram aprender na Alemanha) pichando o muro, olhando furtivamente para os lados para não serem pegas em flagrante, e se achando as “espertas” por conseguirem pichar um monumento que é o retrato de uma época que os alemães querem esquecer, mas deixam ali inteiro para que a história não se repita. Dá para imaginar elas tirando fotos para depois mostrarem aos amigos, e acreditando que, aqui, ninguém ia saber mesmo disso, muito menos seus pais, que eu quero acreditar jamais aprovariam esse tipo de comportamento tão vulgar e desrespeitoso. Pois alguém soube, e está divulgando em todos os lugares, com nome e sobrenome junto. Essas estudantes envergonham o país, e reforçam aquilo que tanto queremos mudar: a nossa falta de cidadania.


 

domingo, 12 de agosto de 2012

Pai também tem seu dia



Estamos acostumadíssimos a falar sempre da mãe, a demonstrarmos amor o tempo todo pela mãe, a colocarmos mil fotos e frases em redes sociais mostrando o quanto precisamos dela. Até mesmo as campanhas do Dia dos Pais parecem que são menos emocionantes que as das mães, e as vendas mostram que, em termos de datas comerciais, essa não é uma das que mais aquece o comércio no ano.

Sou de uma geração que, em sua maioria, cresceu sendo educado pela mãe, com o pai trabalhando fora. Claro que o entrosamento com a mãe acabava sendo muito maior do que com o pai. Com isso, os pais se transformavam naquela pessoa distante, normalmente autoritária, sempre trabalhando e, quando estavam em casa, assistindo televisão e sem vontade de brincar.

Meu pai era assim. Hoje, aos 67 anos, ele dispõe de muito mais tempo para ficar conosco do que tinha quando mais novo. Mas hoje somos nós que não dispomos de tanto tempo assim para ficar com ele, porque trabalhamos e queremos ocupar nosso tempo livre com amigos e atividades de lazer. Não que isso seja um problema, porque ele não é daqueles aposentados que fica em casa o dia todo lendo. Mas, ainda assim, às vezes ele se ressente de uma presença maior dos filhos, que nem sempre estão disponíveis ou com vontade de faze o programa que ele quer naquele momento.

Meu pai é uma pessoa de gênio forte e, dizem meus familiares, eu puxei esse lado dele. Às vezes toma atitudes intempestivas e acaba falando coisas que não devia, mas depois, a sua maneira, se redime fazendo algo pela gente que não esperamos. Acredito que todo mundo tenha seus conflitos com pais e mães, e falo que felizes são aqueles que conseguem resolvê-los enquanto eles ainda estão aqui.

E ele é aquela pessoa que, quando a coisa aperta, está sempre li. Como diz meu irmão mais velho, “na hora do vamos ver” é a ele que recorremos. Seja para nos dar um conselho, para resolver um problema, para pedir dinheiro emprestado. E, quando a coisa é realmente séria, ele acaba dando um jeito de fazer aquilo que deve ser feito.

Já tive muitos atritos com meu pai. Quando entrei na faculdade, ele ficou decepcionado, porque queria que eu tivesse feito Medicina (justo eu!) e não Jornalismo. Mas, como o tempo tudo cura e tudo mostra, ele acabou vendo que eu havia nascido para isso, e seria infeliz se tivesse outra profissão. Hoje, não vou dizer que é meu maior fã, porque isso ainda não sei, mas tenho mais do que certeza de que ele tem orgulho do que eu escrevo.

Por isso, espero muito que ele fique feliz com esse texto, que é uma homenagem a todos os pais. Em nossos corações, seu valor é igual ao da nossa mãe. Feliz Dia dos Pais!



domingo, 29 de julho de 2012

Pelo direito à neutralidade


A campanha eleitoral nem completou um mês ainda, e já vemos os candidatos se movimentando a todo vapor na busca pelos votos. Para a grande maioria deles, as redes sociais hoje são um enorme espaço a ser explorado para a conquista de novos eleitores. Considerando o alcance que apenas uma postagem pode ter, políticos e partidários têm usado principalmente o Facebook e o Twitter para expor suas ideias e buscar novos eleitores ou manter os antigos. Até aí, nada demais, estamos em uma democracia, e cada um posta o que quiser em seu perfil. O problema, no entanto, é quando a propaganda invade o espaço da outra pessoa.

Já existe uma corrente no Facebook contra a propaganda política naquele espaço. Inclusive muita gente já deixou bem claro que, se a pessoa colocar qualquer propaganda política, será deletada sumariamente do rol de “amigos”. Debates já surgiram por conta do assunto, com um lado apoiando a discussão política e o uso da rede social para a campanha, e o outro afirmando que o Facebook deve ser usado para outros temas.

Faço parte do grupo contra a propaganda política em mural alheio. Na minha visão, uma pessoa colocar uma foto de um candidato em meu mural, sem a minha autorização, é a mesma coisa que pichar o muro da minha casa. Se não permitimos isso no mundo “real”, por que ele deve ser visto como algo normal na virtualidade?

Cada postagem colocada no Facebook ou Twitter, dependendo do número de pessoas em sua rede, pode ser vista por centenas, ou até mesmo milhares de outras. A partir do momento que a foto de um político é colocada a minha revelia no meu espaço, quem vê aquela imagem não vai pensar que ela pode estar ali sem meu consentimento, mas vai enxergá-la como a minha opção de voto. No meu caso em específico, vai ser difícil alguém conseguir colocar alguma coisa, porque não permito publicações de imagens em meu mural sem antes eu visualizá-las e, caso isso seja driblado, não terei o menor problema em tirar da minha lista de contatos quem resolveu decidir por mim o meu voto.

Acredito que tanto partidários quanto candidatos devem usar o Facebook para a campanha, mas apenas em seus espaços, ou onde suas postagens sejam permitidas. Outra coisa que vem acontecendo é de aparecer pedidos de “amizade” de candidatos que nunca antes me dirigiram à palavra, pedidos esses que são bloqueados. Fazer política bem direcionada na internet é uma coisa, mas fazer politicagem é outra bem diferente. Buscar votos através de redes sociais é uma arte – afinal, quem está ali, com certeza não troca sua opção política por um “amigo” a mais em seu perfil.

domingo, 15 de julho de 2012

Enaltecimento do óbvio


Essa semana todas as mídias foram tomadas pela história de um casal de moradores de rua que achou R$ 20 mil e devolveu o dinheiro ao seu verdadeiro dono, o proprietário de um restaurante. Com um desfecho digno de filme hollywoodiano, em que o bem sempre vence o mal, o casal chegou a ser ameaçado de morte por quem havia roubado o dinheiro, mas acabou sendo protegido e recompensado com emprego e um lugar para morar pelo proprietário do restaurante.

Analisando bem todo esse cenário, cheguei mais uma vez àquela velha (e triste) conclusão: moro em um país onde a pessoa ser honesta e devolver dinheiro que não pertence a ela é motivo de notícia em todas as mídias. Pior: por eles serem moradores de rua, ou seja, pobres, parece que a atitude tem um valor maior ainda, como se pobreza fosse justificativa para desonestidade.

Por falta de heróis e por vivermos em uma sociedade onde o ter é essencial, e ser não vale grande coisa, esse tipo de comportamento toma proporções inimagináveis em países desenvolvidos como Suécia, Inglaterra, Alemanha, entre outros. Não que nesses lugares não exista gente desonesta – a diferença é que para essas sociedades ser honesto é o padrão, e não a exceção.

Claro que achei louvável a atitude do casal, que precisava muito do dinheiro e ainda assim preferiu continuar na pobreza a perder a honra, como disse o homem quando perguntado sobre o porquê havia tomado aquela decisão.

Também foi louvável a atitude do proprietário, que poderia simplesmente ter dito “muito obrigado”, dado uma gorjeta e encerrado o assunto. Não que ele teria errado se fizesse isso. Não acho que ele fez “sua obrigação”, porque não penso que pelo fato de a pessoa ter dinheiro ela seja obrigada a fazer caridade. Do mesmo jeito que as pessoas enxergam a devolução do dinheiro como algo fora do comum (repito, ser honesto não é qualidade, é obrigação), deveriam enxergar a oferta de emprego e casa como algo a ser admirado, principalmente em um país onde raramente vemos gestos de generosidade desse tipo serem veiculados pela mídia. A não ser, claro, que o gesto de generosidade seja feito por alguma “piriguete” ou alguma “celebridade” em busca de mais espaço na mídia, o que é conseguido sem muita dificuldade.

Para mim, dessa história toda fica apenas uma conclusão: ainda estamos muito longe de sermos um país desenvolvido, já que a honestidade é uma característica tão rara que vira notícia apenas por ter sido praticada. Até por isso é comum nas propagandas eleitorais os candidatos usarem o termo como se fosse um diferencial entre os concorrentes. Ser honesto virou sinônimo de virtude, de qualidade, de diferencial, quando deveria ser simplesmente a obrigação de qualquer pessoa de bem.

domingo, 24 de junho de 2012

Mesquinharias desnecessárias

Essa semana fez dois meses que meu tio mais querido morreu. Valdir era um daqueles caras para quem tudo está bom. No dia do velório eu estava conversando com uma prima e disse que queria lembrar apenas dos bons momentos que havia tido com ele. Parei um pouco e falei: “Na verdade, eu só tenho bons momentos com ele. Não tem como lembrar alguma coisa ruim”.
Parece aquele papo que quando a pessoa morre vira santa. Claro que ele tinha defeitos, mas eram muito pequenos em relação a sua generosidade, seu bom humor, sua alegria de viver, suas piadas o tempo todo, seu jeito espontâneo, sua amizade, seu comportamento invejável como marido e pai.
Meu tio se foi num sábado chuvoso em um daqueles acidentes que acontecem do nada e não dão a menor chance de sobreviver a quem está envolvido. Um baque para a família toda, que se perguntou (e ainda se pergunta) por que Deus quis lá em cima (eu tenho certeza de que, se existe céu, ele está lá) um cara que, aos 51 anos, ainda tinha muita coisa boa a oferecer ao mundo.
Sempre que acontece uma tragédia ou algo muito ruim em nossas vidas passamos a refletir sobre muitas de nossas atitudes cotidianas. Eu sempre falo que depois de ter tido problema grave de saúde duas vezes acabei mudando algumas coisas em mim – por um lado, passei a ser uma pessoa menos tolerante, por outro, coisas que antes me incomodavam hoje não me fazem a menor diferença.
A morte do meu tio me fez novamente refletir sobre o quando gastamos nossas energias, que deveriam sempre estar direcionadas ao nosso bem estar, com atitudes mesquinhas que, no fundo, apenas nos fazem mal. Porque enquanto estou perdendo meu tempo e sono e beleza com pequenos aborrecimentos que podem ser deixados de lado, a pessoa com quem estou me preocupando muito provavelmente sequer se lembra do que aconteceu – ou talvez esteja satisfeita em ver que conseguiu me atingir.
Não estou dizendo com isso que devemos todos virar santos e achar que o mundo é belo em todos os sentidos. Ser inocente em excesso é tão prejudicial quanto ser desconfiado ao extremo. Como tudo na vida, o equilíbrio é a medida certa quanto se trata de relacionamento entre as pessoas.
Não me tornei ainda o ser humano que almejo ser quando se trata de relevar e esquecer coisas que, a luz da racionalidade, não deveriam sequer ter um segundo do meu pensamento. Ainda me incomodo com coisas que deveriam ser ignoradas, mas já aprendi a deixar que esse sentimento tome conta de mim o menor tempo possível. Antes gastava dias e mais dias buscando uma maneira de “dar o troco” quando alguém me prejudicava. Hoje, deixo esse troco de esmola para essa pessoa. Com certeza, ela precisa dele bem mais do que eu.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Aprendendo a arte do desapego

Nesse feriado resolvi que ia aproveitar minha folga e arrumar meu guarda-roupa. Parecia uma coisa prosaica, tirar tudo de dentro, limpar e colocar tudo de volta. Dizer a verdade, já havia começado na semana anterior o trabalho, quando limpando apenas duas partes dele tirei duas sacolas de roupas (algumas delas usadas apenas uma vez) e separei para entregar à doação. Na sexta-feira dei início então ao “grosso” do trabalho. Entre tirar papelada, caixas, livros, roupas e uma infinidade sem fim de tranqueiras, levei a tarde toda. Enquanto escrevo esse artigo, minha cama está parecendo uma loja daquelas que vendem todo tipo de coisa e onde os objetos são dispostos sem organização alguma. Tenho fama de consumista e admito esse meu pecado. Quando vejo a palavra “promoção”, parece que meus olhos ficam maiores e, a despeito de muitas vezes não precisar de nada daquilo que está sendo oferecido, acabo comprando alguma coisa, afinal, “estava muito barato”. Sei que mulher sempre acha que precisa de mais sapato, mais bolsa, mais roupa... Mas comprar apenas por comprar sempre foi um defeito meu que tenho tentado corrigir já há algum tempo. Não faço dívidas impagáveis por conta disso – graças a Deus, fui educada por duas pessoas que me ensinaram que a coisa mais valiosa que temos é o nosso nome, e sou incapaz de ficar devendo algo a uma pessoa. Mas voltando ao guarda-roupa. Achei muita coisa que nem lembrava mais que tinha e, se não me recordava delas, era porque não tinham valor para mim. Dito isso, comecei a tirar tudo que eu achava que não devia mais guardar, e também e organizar aquilo que ainda está em uso. Dizem que quando a gente faz isso abre espaço para novas coisas. Não sei se é verdade, mas ver aquele espaço que estava atulhado de tudo que é coisa agora organizado e com espaço para que eu consiga enxergar o que tem nele me deu uma sensação muito boa. Ainda não terminei o trabalho, mas a parte mais difícil, que era separar o que não estava em uso para ser entregue a quem realmente saiba valorizar, já foi feita. E aí me lembrei da famosa “arte do desapego”. Não sei o porquê sou uma pessoa apegada a objetos, livros, roupas, sapatos, enfim, coisas que não me servem mais. Guardo muita coisa porque “pode ser que eu precise”. No caso dos livros, aqueles que eu sei que vou reler estão em minha estante, mas comecei a participar das trocas promovidas pelas bibliotecas, e cada vez que volto com novos títulos para casa sinto prazer em saber que as histórias que já conheço serão compartilhadas com outras pessoas, assim como eu conhecerei outras tramas. Minha mãe disse que eu me sentiria mais leve fazendo isso. Ainda brinquei que para me sentir mais leve eu preciso de muita dieta e caminhada... Mas ela tinha razão. Olhando o que separei para levar embora, me senti realmente mais leve. Aprender a arte do desapego não é fácil, mas vale muito a pena. Desapego de coisas, desapego de sentimentos ruins. Abrir espaço para o novo, tanto material quanto sentimentos. Filosofia de vida nova, com muito aprendizado pela frente.

domingo, 27 de maio de 2012

Diversos times, a mesma diversão

Trabalho em uma redação com cerca de 40 pessoas que se dividem, em sua grande maioria, entre corintianos (me incluo nesse grupo), palmeirenses, são paulinos e santistas. Tem também bugrino e unionista, e frequentemente o assunto futebol toma conta das bancadas onde predominam os colegas do sexo masculino. Marcadamente, as conversas se intensificam na segunda-feira e na quinta-feira, dias posteriores às rodadas dos campeonatos. Digo sem vergonha nenhuma que não entendo nada de futebol e sou daquelas torcedoras tão à toa que nem sei todos os nomes dos jogadores do meu time. Aliás, parei de assistir aos jogos do Corinthians, principalmente aqueles decisivos, já há alguns anos, porque acaba ficando muito nervosa e um dia percebi que, enquanto eu me acabava gritando, e até mesmo chorando por uma derrota, os jogadores nem sabiam que eu existia e muito menos que me importava assim com o time. Independente disso, respeito quem fique vidrado na televisão os 90 minutos de jogo, sofra a cada lance perdido e comemore cada gol conquistado.
Mesmo sem entender nada, volta e meia entro nas conversas dos colegas, principalmente para fazer brincadeiras. E me admiro sempre em ver que, num ambiente onde cerca de 40 pessoas convivem diariamente, e os times do coração são os mais diversos, não existe bate boca nem discussão agressiva por conta de futebol. Existem sim as piadas, a “tiração” de sarro quando o time do adversário perde, os comentários dos lances pelos entendidos e, assim como em todo país, as escalações e escolhas que poderiam ter sido feitas – afinal, existe um técnico dentro de cada torcedor. Por isso ainda me admiro sempre quando vejo brigas de torcedores, discussões acaloradas e ofensas por causa do futebol. Se esse esporte é realmente “a alegria do povo”, ele deve mesmo servir a isso, e não a atos de violência que volta e meia vemos nos noticiários, inclusive com mortes estúpidas e desnecessárias. Sei que o quadro está mudando, e fico feliz quando vejo mulheres e crianças nos estádios, sorrindo, gritando, mostrando a camisa, chorando de emoção e torcendo saudavelmente pelo seu time. Famílias inteiras hoje assistem aos jogos, e ir ao campo deixou de ser um hábito predominantemente masculino. Tenho amigas que inclusive não perdem um jogo do XV de Piracicaba, e até hoje não me lembro de elas terem relatado brigas entre torcidas. É esse espírito de coleguismo que admiro aqui na redação. Tem aqueles meio fanáticos sim, mas até hoje não vi ninguém perdendo a calma por causa de futebol. Agora os corintianos da redação sabem que todo mundo está torcendo para o Santos. Mesmo assim, estamos todos juntos. E eu, particularmente, rezando para que o meu time saia vencedor.

domingo, 13 de maio de 2012

Amor além da minha compreensão

Uma vez escrevi aqui sobre o direito de não ser mãe. Para quem não sabe, eu nunca quis ter filhos, a despeito do fato de adorar crianças. Algumas vezes até cheguei a me considerar egoísta por essa decisão, mas ainda assim arquei com suas consequências. Por um desses acasos do destino, uma decisão que antes era apenas a minha vontade hoje é compulsória, porque por problemas de saúde não posso mais engravidar. Esse é um problema que nunca me incomodou, visto que minha decisão de não ser mãe deve ter sido tomada desde que tenho consciência sobre o assunto. Uma das consequências dessa decisão é não saber o que significa o “amor incondicional de mãe”. Sei muito bem o que é o amor de tia e madrinha. Amo minhas sobrinhas Juliana e Isabela como se fossem minhas filhas, mas tenho consciência de que minhas responsabilidades e preocupações com elas estão a anos-luz de distância da que seus pais têm. E sempre me surpreendo em ver como o amor materno é algo que transcende todos os sentimentos que imagino já ter sentido em minha vida. Posso não saber o que é o amor de mãe, mas sei muito bem o que é o amor de filha. Não sou a melhor filha do mundo, acho até que peço em muitas coisas em relação a minha mãe, poderia ser mais paciente e mais compreensiva com algumas de suas atitudes, mas talvez seja o fato de saber que ela me aceita como sou que me permite ser assim. Minha mãe é aquilo que costumamos chamar de “pessoa do bem”. Ajuda quem pode, cuida de quem precisa, é amiga de todo mundo. Algumas vezes até acho que as pessoas se aproveitam desse jeito dela, mas tenho de aceitar que ela seja assim e se doe a quem quiser. Fazemos hidroginástica juntas e, quando vou sozinha, todas as nossas colegas vêm me perguntar o que houve e, se algo está errado, várias telefonam em minha casa para saber como ela está. Seu jeito alegre e conversador (sim, eu tenho a quem puxar!) acaba fazendo dela uma pessoa fácil de fazer amizade e se dar bem. Talvez eu tenha entendido em parte o que significa amor de mãe quando fiquei doente, em 2008. Além de cuidar de mim durantes as cirurgias, minha mãe me acompanhava às sessões de quimioterapia e, sabendo do meu verdadeiro pavor por agulhas, ficava ali segurando minha mão para eu me acalmar. Não que eu ficasse calma, mas era reconfortante saber que ela estava ali o tempo todo. Somente uma mãe fica assim ao lado da cria – sofrendo junto, mesmo que seja sem derramar lágrimas. Eu nunca vou saber o que é ter esse amor à prova de tudo. Mas com certeza sei que eu tenho uma mãe maravilhosa, mas aproveito para desejar à ela e a todas as mães um dia muito feliz, de todo o coração.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Discriminação às avessas

O sistema de cotas raciais, tema que sempre gera polêmica em discussões, foi na última semana estabelecido como constitucional em votação unânime do STF (Supremo Tribunal Federal). Para os defensores do sistema, uma vitória dos afrodescendentes, que notoriamente são os menos favorecidos economicamente no país e, por consequência, acabam tendo menos chances de entrar em uma universidade pública. Para aqueles que, como eu, acreditam que o sistema deveria ser social, a vitória é da discriminação às avessas: se preciso dar cotas levando-se em consideração apenas a cor da pele da pessoa, estou desmerecendo essa raça, considerando-a menos capaz de conseguir seu espaço do que aqueles diferentes da sua etnia. Acredito que muita gente vá entender meu comentário como racista, mas conheço muitos afrodescendentes que pensam como eu. Gente que teve de se esforçar muito para conseguir uma vaga numa faculdade, que teve depois de se esforçar mais ainda para pagar o curso, que trabalhava e estudava e tinha poucas horas para se dedicar aos livros, cujos finais de semana eram sempre sacrificados para que pudesse colocar em dia os conteúdos das aulas. Gente que hoje afirma com orgulho que não precisou de cota nenhuma para entrar na universidade, e que até contou com bolsa para se formar – bolsa essa conquistada por mérito, e não por cor da pele. Vivemos num país onde as diferenças sociais ainda são muito grandes e o preconceito, ainda que velado, existe, principalmente em áreas onde a predominância é da população descendente de europeus. Ainda assim, penso que decisões como a do STF servem muito para acirrar esse racismo. Afinal, há muitos brancos que também são pobres, que passam dificuldades, que não têm um ensino fundamental de qualidade. Por que eles não podem disputar as cotas em condições de igualdade? Por que o critério ser racial e não social? Tive a chance de fazer uma universidade pública. Em minha classe havia quatro afrodescendentes, e nenhum deles havia se beneficiado do sistema de cotas. Todos eles provinham de famílias cuja situação econômica era difícil, e trabalhavam para conseguir estudar. Não tenho o contato de todos, mas um deles sei que tem um ótimo cargo, está financeiramente muito bem, e reconhecido como um grande jornalista no Paraná. Repito: sem cota nenhuma. Àqueles que vão dizer “ah, mas isso é um”, vale lembrar que o ministro Joaquim Barbosa, do STF, também veio de família muito humilde, e chegou sozinho ao seu posto. Oprah Winfrey, hoje a apresentadora de TV mais famosa do planeta, era paupérrima, foi estuprada, sofreu todo tipo de humilhação que podemos imaginar, por ser negra e mulher. Não se beneficiou de cotas, e hoje é exemplo de luta para muita gente. Citei dois famosos, mas existem milhares de anônimos que não usaram sua cor de pele para conseguir seu espaço na sociedade. Podem ter conseguido ajuda por sua condição social, e com certeza fizeram por merecer o apoio. Está na hora de acabarmos no Brasil com o quesito “coitadismo” na hora de beneficiar as pessoas, e lembrarmos que existe algo muito importante quando pensamos em crescimento profissional e pessoal: o mérito, um verdadeiro formador de cidadãos.

domingo, 15 de abril de 2012

Um bom hábito menosprezado


No fim do mês passado a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil divulgou que o brasileiro lê em média quatro livros por ano e apenas metade da população pode ser considerada leitora. O estudo, realizado entre junho e julho de 2011, entrevistou mais de 5 mil pessoas em 315 municípios.
Ainda de acordo com a pesquisa, o país tem hoje 50% de leitores ou 88,2 milhões de pessoas. Essa categoria engloba aqueles que leram pelo menos um livro nos últimos três meses, inteiro ou em partes. Entre as mulheres, 53% são leitoras, índice maior do que o verificado entre os entrevistados do sexo masculino, que chega a 43%.
Por mais comum que isso possa parecer, fiquei pasma com o número. Como leio em média um livro por semana (isso quando não são dois!) achei um absurdo que nossa população não se interesse por leitura. Ao comentar na redação meu espanto, ainda escutei piadas do tipo “você lê muito porque não tem nada para fazer”.
Sempre gostei de leitura, desde pequena. Conservo ainda os livros que ganhei de meus pais quando criança, como as coleções completas de Monteiro Lobato, José Mauro de Vasconcelos e Malba Tahan. Livros esses que já emprestei e muitos dos quais minha sobrinha Isabela também teve o prazer de ler quando pequena e descobrir mundos mágicos e cheios de personagens marcantes.
Muitos justificam que as pessoas não leem pelo acesso hoje facilitado à internet. Não concordo. A falta de leitura em nosso país sempre foi crônica. Lembro-me quando adolescente que muitos colegas de classe pagavam para alguém ler e resumir os livros indicados pelos professores. E não que eles fizessem muita coisa: simplesmente preferiam assistir televisão a “desperdiçar” seu tempo livre com a leitura.
Também já escutei que ler serve apenas para adquirir conhecimento inútil, e que o importante nos dias de hoje é ser prático, e não saber teorias. Como acredito no pensamento de que conhecimento nunca ocupa espaço, lamento que as pessoas vejam a leitura dessa maneira, sem se lembrarem de que ler nos abre a mente para sermos críticos.
Em tempos de internet e da informação sendo nos jogada como “drops” em sites de notícias, ainda acredito que o prazer de um bom livro jamais será substituído. Basicamente todos os dias, antes de dormir, leio pelo menos meia hora, tempo que às vezes se prolonga mais quando as páginas se mostram muito interessantes. Infelizmente, muita gente acha esse prazer como falta do que fazer – esquecendo que amor aos livros não é um escape para o tédio, mas sim um hábito saudável, que deveria ser mais estimulado em nosso país.

domingo, 1 de abril de 2012

A humildade de um gênio


Na última quinta-feira tive o indescritível e maravilhoso prazer de assistir a uma palestra do pianista e maestro João Carlos Martins. Um gênio considerado o melhor intérprete de Johann Sebastian Bach, o artista me impressionou não pelo seu talento ou pela sua história de vida, permeada por desistências e retomadas dignas de um filme épico, mas sim por uma característica que hoje encontramos cada vez mais menos nas pessoas que conseguem destaque em suas áreas: a humildade.
João Carlos Martins é conhecido pela sua luta para continuar tocando piano, pelos seus problemas nas mãos, pela tristeza de ter de abandonar seu amado instrumento, pela coragem de se iniciar como regente aos 64 anos. Hoje, aos 71 anos, ele se mostra extremamente feliz com seu trabalho como maestro e as apresentações que faz em todos os lugares possíveis.
A palestra não tem um tom piegas e nem de autoajuda. O artista conta sua história de maneira bem descontraída, mas é praticamente impossível segurar o choro quando, após mostrar um vídeo de uma apresentação realizada em 1973, tocando seu piano vigorosamente, ele senta-se ao instrumento e toca, com apenas três dedos e o rosto crispado pela dor, a maravilhosa “Luiza”, do saudoso Tom Jobim.
Fiquei pensando em João Carlos Martins e me veio aquele velho clichê: a gente reclama por pouco. Antes que os críticos de tudo e todos comecem a falar que “com o dinheiro que ele tem é fácil se recuperar e ajudar os outros”, eu lembro que ele não tem a menor obrigação de ajudar ninguém – mas ainda assim o faz, e com muito prazer. Antes que alguém ache que é fácil se recuperar de todos os problemas que ele teve em suas mãos, vale lembrar que tem muita gente que prefere, a despeito de também ter dinheiro, ficar sentado ou deitado apenas reclamando da vida. E, antes que alguém fale que tem muita gente melhor que ele sem chances na vida, eu lembro o seguinte: pode ter sim, e ele está descobrindo esses jovens talentos e lhes dando a oportunidade que a vida lhes tirou.
Num mundo onde subcelebridades se acham importantes demais para atender a imprensa ou tirar fotos com seus fãs, termino este artigo contando que João Carlos Martins gentilmente tirou foto comigo e mais duas amigas, a despeito de antes da palestra já ter feito isso. Para finalizar, ele nos convidou a assistir seu próximo espetáculo, em maio, no Ibirapuera, e nos passou seu telefone de casa para que possamos ficar em um lugar próximo ao palco. Um gênio é algo difícil de encontrar. Um gênio humilde é mais difícil ainda. João Carlos tem essas duas qualidades – demonstradas não por suas palavras, mas por atitudes. Palmas para o maestro.

domingo, 18 de março de 2012

Onde está a evolução?

Caso estivesse viva, Elis Regina teria completado ontem 67 anos. Infelizmente não soube equilibrar sua última dose, e morreu aos 36 anos, precocemente, após uma mistura fatal de álcool e cocaína. O fato de usar drogas e ter morrido por causa delas não desmerece seu talento. Elis era considerada a maior cantora do Brasil – e por muitos ainda é vista assim. Eu mesma acredito que, até o momento, ainda não apareceu ninguém que tenha conseguido superá-la. Talvez chegar perto de seu talento; o que é bem diferente.
Tinha dez anos quando ela se foi e lembro de toda a tristeza causada pela sua morte. A comoção do povo durante seu velório e enterro foi comparada à histeria causada pelas mortes de Chico Alves e Carmem Miranda.
Elis morreu em uma época onde ser celebridade não era apenas tirar a roupa para uma revista masculina. Ser celebridade era uma mistura de talento, carisma, personalidade, caráter (ou a falta de), e trabalho. Sim, as celebridades realmente trabalhavam. Já existiam as revistas de fofocas, e a própria cantora era vítima delas, com seus dois casamentos atribulados, principalmente o primeiro, quando se envolvia em escândalos amplamente divulgados com o compositor Ronaldo Bôscoli.
Apesar disso, a cantora não ficou conhecida no país por seu gênio forte e suas brigas, mas sim pelo seu talento, pelas suas músicas, pela sua voz. Quando falamos em Elis Regina não vejo ninguém comentando “ela era gostosa”, “ela era piranha”, “ela era vulgar”. Ouço apenas elogios ao seu dom artístico.
Diferente do que acontece hoje, com as chamadas “celebridades”. Vemos o país inteiro falando de uma estudante de Medicina que, apesar de ter mostrado tudo e mais um pouco dentro de um reality show repleto de baixarias, ainda acha que deve receber um valor exorbitante para sair nua em uma revista masculina. Além de ter um corpo bonito e ter se vulgarizado completamente para milhões de telespectadores, qual seu valor? Se é inteligente, até o momento não demonstrou isso. Pode até ser uma pessoa ótima, mas a faceta escolhida pela estudante para ser vista à exaustão foi de uma mulher arrogante, prepotente, grosseira e, principalmente, vulgar. Então, de onde vem todo esse interesse pela sua vida?
Diferentes conceitos de celebridade foram sendo construídos nessas três décadas que separam Elis da estudante. Porém, passados 30 anos da morte da artista, fico feliz em ver que seu mito continua vivo, que sua obra está sempre sendo lembrada, e que as novas gerações estão descobrindo essa cantora maravilhosa que nos deixou tão cedo. Quanto a tal estudante... qual é mesmo o nome dela? Qual legado nos será deixado?

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Festa do povo ou de bandidos?

Terminou o Carnaval e parece que finalmente o ano vai começar no Brasil amanhã. Frase clichê, mas que representa bem o sentimento de muita gente, que parece ficar esperando passar os quatro dias de folia para colocar em prática projetos que poderiam estar em andamento desde o início (real) do ano.
Desta vez, no entanto, as imagens que ficaram em nossa memória não foram as dos desfiles maravilhosos, nem de passistas e rainhas de bateria com corpos esculturais, praticamente nuas na passarela. Tanto não ficaram guardadas as imagens dos carros alegóricos, reproduzindo fielmente os temas escolhidos por cada escola, em uma composição de beleza e tecnologia que, a despeito de até não gostarmos de Carnaval, nos enchem de orgulho.
Infelizmente, a imagem que ficou foi a imagem da confusão que aconteceu durante a apuração dos votos das escolas de samba de São Paulo. Além de um integrante de uma agremiação pegar os votos e rasgá-los, parte dos torcedores decidiu colocar fogo em carros alegóricos e ainda ameaçaram invadir a Marginal Tietê, em um dia de folga de feriado das praias.
Não tenho palavras para exprimir o que senti quando vi as fotos de toda essa selvageria – para mim, a palavra mais correta que descreve tudo o que houve. O Carnaval sempre foi conhecido como a festa do povo, da alegria, da descontração. A festa em que tudo pode durante quatro dias. Um feriado que muitos aguardam ansiosamente o ano todo, para poderem se divertir completamente, para depois retomarem suas vidas (muitas vezes quietas e sem tantas emoções como as vividas nos dias de folia).
Ao se olhar as fotos, analisar tudo, entra uma pergunta pertinente: foliões ou bandidos estavam acompanhando a votação? Que escolas são essas que combinam entre si de destruir votos para que o resultado do desfile não seja conhecido? Que tipo de agremiação permite que seus membros se comportem como uma gangue, destruindo em poucas horas a alegria das outras escolas, que levaram um ano para disputar o título?
Ainda não foi decidido o que será feito com as agremiações que participaram dos atos de vandalismo. Para muitos, elas devem ser expulsas da Liga, uma punição que seria exemplar e mostraria que, mesmo em se tratando de Carnaval, o assunto vira coisa séria quando envolve violência e organizações criminosa. Em minha opinião, isso é o mínimo que deveria acontecer a esses vândalos, que ofuscaram a imagem do “maior show da terra” com suas atitudes selvagens. Punição é necessária, para mostrar que, diferente do Carnaval, nem tudo no Brasil acaba em samba.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Reconhecimento tardio

Após a morte do cantor Wando, na última quarta-feira, vimos subitamente aparecerem de todos os lados fãs de um estilo que sempre era chamado de “brega”, no melhor sentido pejorativo. De repente, o estilo do cantor famoso por guardar as calcinhas das fãs passou a ser cult, e até mesmo gente que sempre o considerou ultrapassado e sem sucesso bradou aos quatro ventos que o adorava.
Sou daquelas que sempre gostou de Wando. Não ao ponto de ser fã do artista e ter todos os seus sucessos, mas gostava de ouvir os mais conhecidos. Recentemente, em meu aniversário, uma das músicas que o pessoal mais se animou a dançar foi “Fogo e Paixão”. Com coreografias estilo chacrete, eu e meus amigos nos divertimos muito, lembrando a época em que essa música era um estouro nas paradas das rádios.
A mesma coisa aconteceu agora que Whitney Houston morreu. Quando adolescente eu adorava seu estilo, tinha até uma fita cassete (que coisa antiga) que me foi dada por um paquera. Ouvi 500 mil vezes a fita pensando nele... Mas a época de ouro de Whitney acabou faz tempo e, diferente de Wando, que volta e meia aparecia no noticiário por conta de seu estilo inconfundível, a cantora sempre era lembrada por seu envolvimento com drogas ou alguma situação constrangedora, como sua fracassada turnê em 2010.
Mas não estou aqui para falar de quem curtia ou não Wando e Whitney, ou de quem passou a respeitá-los como artistas apenas após sua morte. Na verdade, refletindo sobre esse “amor” que surgiu do nada por eles, vi que agimos assim em nossas vidas, ou seja, depois que a pessoa morre, lembramos de quem ela era quando viva.
Isso pode ser visto dentro de nossas próprias famílias. Acredito que todo mundo deva ter aquele parente que não é muito chegado às pessoas, mas que, basta ficar doente ou morrer, vira santo. Aliás, costume geral no país: depois de morta, a pessoa jamais pode ser criticada. Afinal, não está ali para se defender.
Engraçado ver que, enquanto a pessoa era viva, estava ali, podendo ser vista e ouvido quando quiséssemos, era deixada de lado. Muitas vezes não temos o hábito de visitar parentes ou amigos, por falta de tempo, por preguiça, por simplesmente não nos importarmos. Aí, quando ela morre, lamentamos o não termos feito isso, ou somente lembramos suas qualidades, esquecendo até mesmo os defeitos que provavelmente nos afastavam dela.
Quando alguém como Wando ou Whitney morre, é clichê ouvirmos que o artista precisa morrer para ser valorizado. Também é comum vermos um despertar repentino de interesse por tudo que se refira ao artista em questão, por relançamentos de suas obras, por programas em sua homenagem, por repercussão entre colegas que, muitas vezes, sequer o respeitavam.
Assim agimos quando perdemos alguém que não lembramos em vida. Para talvez aliviar a consciência pesada, buscamos apenas falar das coisas boas, e até mesmo tentamos justificar o porquê de não termos sido mais presentes em vida. Nada disso, porém, consegue esconder aquilo que é óbvio: em vida, aquela pessoa não era importante. Morta, passa a ter valor. Uma pena que muita gente tenha de descobrir isso com mais frequência do que gostaria.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Irresponsabilidade punida

Por morar em Piracicaba e trabalhar em Americana pego a Rodovia Luiz de Queiroz (SP-304) todos os dias e vejo cotidianamente motoristas irresponsáveis colocarem em risco a vida de pessoas com ultrapassagens perigosas a velocidades bem acima dos 100km/hora permitidos na pista. Um fato que tenho observado é que muitos desses motoristas são funcionários de empresas que, a despeito de estarem em horário de trabalho e com veículos que não são de sua propriedade, se aproveitam de uma suposta impunidade para fazerem todo tipo de loucura no trânsito, na certeza de que jamais serão denunciados.
No último dia 18 testemunhei uma dessas loucuras. Dois carros de uma empresa terceirizada da Telefônica estavam na rodovia correndo como loucos, praticamente fazendo uma “racha” em uma pista que estava bastante movimentada, por volta das 19h. Um deles passou por mim pela direita e por pouco não me fez parar no canteiro central. Como eu estava a 120km/hora, calculo que ele devia estar a uns 140 km/hora.
Ao invés de ficar xingando, liguei para a Polícia Rodoviária de Piracicaba e descrevi os dois carros. Quando passei pela Polícia ambos estavam sendo autuados. Parei e peguei a placa dos dois para reclamar à terceirizada. Achei que conseguiria o contato da empresa facilmente com a assessoria de imprensa da Telefônica, mas me enganei. Para meu espanto, a jornalista que me atendeu disse que a Telefônica não informava o contato de suas terceirizadas. Questionei a colega sobre essa proibição, e pude perceber que ela estava muito mais preocupada em saber se eu ia escrever mal da Telefônica em algum lugar, do que em me ajudar a simplesmente fazer uma reclamação na empresa sobre os funcionários.
Resumindo: por sorte, uma amiga do Face tem um irmão que trabalha nessa terceirizada, que entrou em contato comigo, e os dois funcionários receberam uma advertência e receberão orientações do técnico de segurança do trabalho sobre esse tipo de comportamento na estrada. Por isso, posso elogiar a TEL por ter se posicionado sobre o assunto e me dado essa satisfação, e lamentar a omissão da assessoria de imprensa da Telefônica. Se dependesse deles, eu até agora não teria conseguido entrar em contato com a empresa para falar sobre esses funcionários. De que adianta gastar milhões em propaganda se, quando um problema desses ocorre a Telefônica, ao invés de tentar ajudar o reclamante, fica blindando as terceirizadas? Depois não pode reclamar quando as pessoas não entendem que os carros são terceirizados e quando as pessoas falam que os motoristas da Telefônica correm como loucos nas estradas, coisa que já vi muito acontecer na SP-304.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Comportamentos lamentáveis

Impossível ficar imune ao que houve no BBB no final de semana. Sobre o comportamento do Daniel, o que posso dizer que foi lamentável e vergonhoso, mas não posso mais dizer que foi criminoso, porque sua suposta vítima declarou à Polícia que tudo que houve foi consensual.
Para mim, muito mais vergonhoso agora foi o comportamento de Monique. Se foi abusada e se recusa a admitir o fato, pode ter várias razões para isso. Porém, ao se recusar a fazer o exame de corpo delito, Monique deu um tapa na cara das mulheres. Quando se recusou a saber se foi realmente violentada, ela disse a todas às mulheres que bebem além da conta que podem ser estupradas e depois têm de ficar quietas. Se Monique deixou de realizar o exame por ter certeza de que não houve penetração – e acredito nisso, porque é basicamente impossível uma mulher não saber disso, principalmente se aconteceu sem sua vontade – então Daniel foi injustamente acusado de um crime grave. E, se Monique deixou o assunto acabar simplesmente porque está ganhando algo com isso (o que não é de se duvidar, em se tratando de TV Globo), ela se comporta como uma prostituta. Teve seu corpo violentado e ela mesma violenta seu caráter, em nome do “sucesso” e de ficar em uma casa onde, supostamente, foi atacada sem que ninguém fizesse nada para defendê-la.
No final de tudo isso, mantenho a conclusão que havia chegado antes: jogada pura para subir o Ibope, e que deu certo. Para quem não sabe, no dia da expulsão de Daniel, a audiência da casa subiu 80%. Todo mundo saiu ganhando – Monique, a suposta vítima, que agora vai ter o dobro de atenção dentro da casa, e a Globo, que conseguiu turbinar sua audiência. Até Daniel saiu ganhando – porque agora ficou conhecido, vai dar mil e uma entrevistas, daqui a pouco está em algum ensaio fotográfico. Quem perdeu? As mulheres que já foram ou serão estupradas. Monique apenas reforçou o estereótipo de que mulher pede para ser estuprada quando se veste de maneira vulgar ou toma um porre – por isso, para mim, seu comportamento é mil vezes mais lamentável do que o de Daniel.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Missão quase cumprida

Próximo sábado faço 40 anos. Parecia que ia demorar muito a chegar essa data, mas quando me dei conta, ela começou a aparecer bem alto no horizonte, há mais ou menos seis meses, quando percebi que estava chegando aos dígitos que marcam o verdadeiro início de tudo. Afinal, não vivem dizendo que a vida começa aos 40?
Assim como em várias datas redondas, chegar aos 40 faz a gente parar e dar uma bela refletida na vida. Aos 15 pensamos no que estaríamos fazendo quando chegássemos aos 18; aos 20 pensamos no que vamos fazer quando chegarmos aos 25; aos 30 queremos estar com a vida estabilizada... E aos 40, o que nos espera? O que alcançamos?
Não escapei desse clichê da autoanálise do que conquistei e do que deixei de conquistar ao longo desses anos. Não vou dizer que sou uma pessoa realizada em todos os aspectos, mas dentro do que me propus em minha vida, consegui realizar muitos objetivos que havia proposto bem lá atrás. Minha viagem ao Egito, por exemplo, que desde criança eu dizia que iria conhecer. Demorou, mas antes dos 40 eu realizei esse sonho.
Conseguir minha realização profissional era o que eu mais queria. E sim, eu sou realizada profissionalmente. Como todo mundo, existem problemas, mas o fato de eu trabalhar naquilo que sempre quis me faz uma pessoa feliz com o que faço. Poderia talvez ter conquistado mais nesse aspecto? Sim, mas quem sabe se eu estaria melhor do que estou hoje?
Estou falando tudo isso porque, nesta autoanálise que fiz dessas quatro décadas, pude chegar à feliz conclusão de que, no final, consegui conquistar quase tudo que queria. Não que minhas ambições tenham acabado – mas estou feliz com o que tenho neste momento. Não me lamento por aquilo que poderia ter feito quando mais nova e não fiz. Se não o fiz, é porque não era tão importante assim. O que fiz, errando ou acertando, me fez chegar às quatro décadas sem arrependimentos.
Ao fazermos essas análises da vida, vejo muita gente se apegando àquilo que não fez, que não conseguiu, e esquecendo o que foi conquistado. Muitas vezes temos até mais do que aquilo que esperávamos mais, por ambições que nem chegam a ser nossas, acabamos frustrados por não estarmos naquele patamar esperado. E me vem a pergunta: mas esperado por quem?
Para quem quase foi ficar com São Pedro (sim, eu acredito que vou para o céu), avalio que chegar aos 40 anos com saúde é a maior conquista que eu podia ter. Ainda tenho ambições e sonhos a serem realizados – que com certeza chegarão na hora certa. Enquanto isso, aproveito e sou feliz pelo que consegui até agora. O que vier no futuro, com certeza, será muito bem valorizado.