domingo, 29 de junho de 2014

E a mídia teve de mudar...



No último dia 25 escrevi aqui sobre o tom de pessimismo que estava permeando a imprensa brasileira com a chegada do início da Copa do Mundo. As previsões de caos e tragédias, feitas por “especialistas” dos mais diversos órgãos de comunicação da grande mídia, nos passavam a ideia de que o Mundial se mostraria um fracasso em sua primeira semana. Tudo estava concorrendo para coroar uma suposta “incompetência absoluta” do atual governo, a despeito de vários dados positivos elogiados por órgãos de ilibada reputação internacional, como a ONU (Organização das Nações Unidas).
Passados exatos 17 dias do início do campeonato, o tom da mesma imprensa pessimista é completamente diferente. Não que a Copa esteja ocorrendo sem nenhum tipo de contratempo, comum a um evento desse porte que tivesse sido organizado em qualquer outro país do mundo. Porém, a ausência de grandes problemas, e a eficiência inesperada de setores onde estava previsto o total caos – como o aeroviário – fizeram com que a mídia entendesse que manter o discurso pessimista estava indo contra aquilo que a imprensa estrangeira estava mostrando de positivo sobre o campeonato. E de repente todas as mídias trataram de buscar matérias diferentes – e otimistas – sobre o Mundial, buscando inclusive mostrar uma certa distância sobre o tom pessimista adotado antes do evento.
As matérias que mais me chamaram a atenção foram sobre o encantamento dos estrangeiros com a hospitalidade e a modernidade de algumas cidades brasileiras, principalmente São Paulo e Brasília. Porém, ao ler os comentários, vi novamente a famosa “síndrome de vira-lata” que insiste em acometer nosso povo. Achei interessante – e ao mesmo tempo triste – ver as pessoas que dizem estar torcendo contra a Copa tentando desmerecer as notícias com comentários como "a matéria foi comprada" ou "leva esse povo numa favela para ver o que é bom". Fiquei pensando... Por algum acaso, quando viajamos para fora, alguém pede para ser levado a pontos ruins e pobres das cidades que visita? Quem vai a Nova York escolhe visitar um bairro pobre à noite ou fica no circuito turístico? Quem vai a Londres visita os bairros mais feios, onde dá medo andar no metrô, ou vai a lugares cheios de turistas? Paris, Berlim, Roma... As pessoas acham que só existe lugar turístico bonito mesmo nesses locais, ou já se interessaram em visitar os bairros pobres dessas cidades?

Nunca vi um povo para desprezar tanto o próprio país quanto o brasileiro. Como se em todas as cidades citadas acima só existisse perfeição, e aqui fosse tudo lixo. Por isso, sugiro que, na próxima viagem aos Estados Unidos ou à Europa, essas pessoas procurem visitar os bairros pobres, o sistema de saúde pública, áreas onde se concentram os drogados. Aí quero ver se ainda terão essa visão pequena que têm do próprio país, se achando grandes entendidos lá de fora apenas de lugares onde passearam como turistas.

domingo, 8 de junho de 2014

O absurdo uso da justiça



Que a Justiça brasileira é lenta todo mundo sabe. Infelizmente, nosso sistema judiciário vive abarrotado de processos, que muitas vezes levam anos para serem colocados em pauta e julgados, trazendo o sentimento de impotência e revolta para quem espera a solução de um problema. Um dos grandes problemas alegados para o enorme número de processos é a existência de casos que poderiam ser solucionados entre os próprios litigantes, sem a necessidade de ser recorrer a um juiz. Essas situações ajudam a sobrecarregar um sistema já falho e lento, e ainda assim vemos diariamente casos sem o menor cabimento travando a pauta dos juízes.
Essa semana vi um caso que me aturdiu não apenas pela idiotice do processo, mas pelo absurdo da situação. Um aluno de Tobias Barreto, em Sergipe, processou seu professor porque ele havia tirado seu celular, que estava sendo usado em sala de aula. Segundo sua mãe, que o representou na ação, o garoto havia sido tomado por um “sentimento de impotência, revolta, além de um enorme desgaste físico e emocional” após ter o celular confiscado. No processo, ela alega que o filho apenas olhava as horas. Porém, o comportamento era reincidente, e quando ele tirou seu fone do ouvido, foi possível perceber que ele estava ouvindo música em sala de aula.
Entre tantos absurdos nesse caso, para mim a posição da mãe foi a pior de todas: ajudou o filho a mentir e o protegeu de um ato de total desrespeito ao professor. Ao invés de mostrar a ele que sala de aula é lugar de estudo e não uma “balada”, ela preferiu agir como se o professor fosse alguém pago para aturar qualquer desaforo de sua cria mimada. Não me surpreenderá se, daqui a alguns anos, esse garoto vire um criminoso. Afinal, se não sabe ouvir a palavra “não”, achará que o mundo tem a obrigação de lhe servir – e irá tomar por força aquilo que não lhe for dado por direito.
O juiz julgou improcedente ação e ainda deu uma bela lição em sua sentença. “Julgar procedente esta demanda é desferir uma bofetada na reserva moral e educacional deste país, privilegiando a alienação e a contra-educação, as novelas, os ‘realitys shows’, a ostentação, o ‘bullying’ intelectivo, o ócio improdutivo, enfim, toda a massa intelectivamente improdutiva que vem assolando os lares do país, fazendo às vezes de educadores, ensinando falsos valores e implodindo a educação brasileira”.
Num país em que absurdos são noticiados todos os dias, em que jovens adoram jogar na cara das pessoas seus “direitos”, ler uma decisão dessas me enche de esperança que a nossa educação ainda tem salvação – e não depende apenas de professores, mas também de pais que entendam que a sala de aula não é uma extensão de suas casas, mas sim um local de ensino e onde o docente deve ser respeitado, e não tratado como um qualquer.