No último dia 25 escrevi aqui sobre o tom de pessimismo que estava
permeando a imprensa brasileira com a chegada do início da Copa do Mundo. As
previsões de caos e tragédias, feitas por “especialistas” dos mais diversos
órgãos de comunicação da grande mídia, nos passavam a ideia de que o Mundial se
mostraria um fracasso em sua primeira semana. Tudo estava concorrendo para
coroar uma suposta “incompetência absoluta” do atual governo, a despeito de
vários dados positivos elogiados por órgãos de ilibada reputação internacional,
como a ONU (Organização das Nações Unidas).
Passados exatos 17 dias do início do campeonato, o tom da mesma
imprensa pessimista é completamente diferente. Não que a Copa esteja ocorrendo
sem nenhum tipo de contratempo, comum a um evento desse porte que tivesse sido
organizado em qualquer outro país do mundo. Porém, a ausência de grandes
problemas, e a eficiência inesperada de setores onde estava previsto o total
caos – como o aeroviário – fizeram com que a mídia entendesse que manter o
discurso pessimista estava indo contra aquilo que a imprensa estrangeira estava
mostrando de positivo sobre o campeonato. E de repente todas as mídias trataram
de buscar matérias diferentes – e otimistas – sobre o Mundial, buscando
inclusive mostrar uma certa distância sobre o tom pessimista adotado antes do
evento.
As matérias que mais me chamaram a atenção foram sobre o encantamento
dos estrangeiros com a hospitalidade e a modernidade de algumas cidades
brasileiras, principalmente São Paulo e Brasília. Porém, ao ler os comentários,
vi novamente a famosa “síndrome de vira-lata” que insiste em acometer nosso
povo. Achei interessante – e ao mesmo tempo triste – ver as pessoas que dizem estar torcendo contra a Copa tentando desmerecer as notícias com comentários
como "a matéria foi comprada" ou "leva esse povo numa favela
para ver o que é bom". Fiquei pensando... Por algum acaso, quando viajamos
para fora, alguém pede para ser levado a pontos ruins e pobres das cidades que
visita? Quem vai a Nova York escolhe visitar um bairro pobre à noite ou fica no
circuito turístico? Quem vai a Londres visita os bairros mais feios, onde dá
medo andar no metrô, ou vai a lugares cheios de turistas? Paris, Berlim,
Roma... As pessoas acham que só existe lugar turístico bonito mesmo nesses
locais, ou já se interessaram em visitar os bairros pobres dessas cidades?
Nunca vi um povo para desprezar tanto o próprio país quanto o
brasileiro. Como se em todas as cidades citadas acima só existisse perfeição, e
aqui fosse tudo lixo. Por isso, sugiro que, na próxima viagem aos Estados
Unidos ou à Europa, essas pessoas procurem visitar os bairros pobres, o sistema
de saúde pública, áreas onde se concentram os drogados. Aí quero ver se ainda
terão essa visão pequena que têm do próprio país, se achando grandes entendidos
lá de fora apenas de lugares onde passearam como turistas.