A vinda do papa Francisco ao Brasil deixou os católicos do país
encantados com sua figura simples, de sorriso fácil, que não hesitou em quebrar
protocolos e mostrar gestos de humildade pouco comuns em detentores de títulos
de alto grau em qualquer instituição. Diferente de seu antecessor, Bento 16,
que quando esteve no país não provocou quase nenhuma comoção, Francisco
conseguiu com que até mesmo católicos que estavam afastados da Igreja, como eu,
sentissem vontade novamente de participar dela, e de buscar seus melhores
ensinamentos.
E a palavra de ordem referente ao papo foi humildade. Em todos os
editoriais, matérias na mídia, comentários de especialistas, essa foi a
característica de Francisco mais elogiada. E realmente ele se mostrou humilde, em
todo momento lembrando que estava sendo recebido pelo país, usando de seu
carisma para levar esperança às pessoas, trazendo o que realmente de mais valor
devemos ter, que é o amor de Cristo em nossos corações.
E me veio a sensação de que o sentimento da humildade andava há tempos
esquecido entre nós. E digo isso por mim mesma, que tenho um lado arrogante
forte, que muitas vezes esqueço a felicidade para ter razão, que peco por ter
uma personalidade forte que em alguns momentos se sobrepõe ao meu coração que
sei ser generoso.
A humildade há muito tempo deixou de ser virtude para ser vista como
defeito pela nossa sociedade. Ser humilde, para muita gente, é não se
valorizar. Estar sempre correto, passar por cima de tudo e de todos, conquistar
seu espaço machucando e prejudicando o próximo, esquecer princípios morais na
luta pelos seus objetivos, ser mau caráter, enfim, atitudes que deveriam ser
veementemente condenadas pelas pessoas, são atualmente aceitas e vistas como
normais, afinal, “todo mundo age assim”. Essa é a justificativa mais usada para
quem não se importa com os outros – se eu não agir assim, outro vai agir, então
que seja eu a levar vantagem.
Nesse tipo de sociedade a humildade jamais terá seu espaço. Como deixar
de lado minhas vaidades pessoais, se assim os outros não poderão ver o que
faço? Aceitar suas limitações, saber reconhecer um erro, pedir perdão e,
principalmente, perdoar, são atitudes difíceis de tomar em uma sociedade onde
vencer e ser o melhor é a tônica, onde conquistar o primeiro lugar é a meta, e
onde pensar no próximo é perder tempo e principalmente dinheiro, que se tornou
a mola propulsora dos relacionamentos. Não digo aqui que ser pobre e sem
sucesso é o principal, mas que agir com humildade também é importante para que
nossa vida seja abençoada.
Papa Francisco hoje vai embora e acredito que, para muitas pessoas como
eu, já deixou saudades. Que ele volte em breve, para que sua humildade aqueça novamente
nossos corações.