domingo, 21 de agosto de 2011

Punição unilateral

De acordo com balanço divulgado na última sexta-feira, a fiscalização de infrações por desrespeito ao pedestre já emitiu cerca de 4 mil multas na cidade de São Paulo desde o dia 8 de agosto. A aplicação da lei é um avanço no direito dos pedestres e no rigor com os abusos de motoristas, que ainda acreditam serem donos das ruas e senhores de avenidas. O grande número de casos de atropelamento e morte, tão comuns e que muitas vezes ficam impunes, foram o maior motivo para a implantação da legislação e aplicação da multa, como forma de educar os motoristas.
Porém, do mesmo jeito que o rigor da lei se aplica a quem está atrás do volante, também deveria haver punição aos pedestres que, a despeito da sinalização adequada, da existência de faixas brancas de passagem, da construção de passarelas nas estradas, preferem conscientemente se expor ao risco de um atropelamento, ao invés de caminharem alguns metros a mais e transitarem por locais seguros.
Como motorista, sei do que estou falando. Costumeiramente vejo pessoas correndo a menos de dez metros das passarelas da rodovia SP-304, por onde passo todos os dias desde setembro de 2006. Ou seja, há cinco anos vejo pedestres que, por pura preguiça de subirem a passarela, preferem se aventurar no meio de caminhões, carros, motos e ônibus que transitam pela rodovia a pelo menos 90 quilômetros por hora. Numa velocidade dessas, dificilmente um impacto desses não será fatal.
O mais interessante é observar que, quando esse tipo de acidente acontece na pista, a grande maioria fica com pena do pedestre, como se o motorista, apenas por possuir um carro, seja automaticamente um vilão, enquanto a vítima, mesmo tendo se colocado em situação de risco, seja uma “coitada” que teve o azar de ser pega por uma máquina assassina.
A lei que multa os motoristas para coibir atropelamentos é importante e deve ser aplicada com todo rigor. Porém, precisamos acabar com punições unilaterais. Exemplos de motoristas irresponsáveis e bêbados são mostrados à exaustão quando um acidente acontece e, infelizmente, na maioria dos casos a punição é ridícula, perto da gravidade do acidente provocado. Contudo, raramente vejo serem colocadas em destaque situações em que o próprio pedestre se colocou em risco e as implicações legais que sofre um motorista que, involuntariamente, provoca um acidente. Cobrar multa apenas de um lado dará sempre força ao outro para que os abusos sejam cometidos. Respeito no trânsito é importante – para motoristas e pedestres. Está mais do que na hora de pararmos com uma visão maniqueísta de mal e bem – e sim usarmos a lei para que ambos sejam punidos quando desrespeitarem suas obrigações.


sábado, 6 de agosto de 2011

Orgulho de ser uma cidadã

A lei municipal que instituiu o Dia do Orgulho Heterossexual, aprovada essa semana em São Paulo, foi um dos assuntos mais debatidos em todas as mídias após sua divulgação. Acho um tremendo desperdício de tempo e dinheiro público um vereador fazer esse tipo de proposta, além de ser uma babaquice. Mas, particularmente, acho que ele tem todo o direito de fazer a lei. Apoia quem quer, comemora quem acha necessário. A lei não obriga ninguém a sair na rua gritando e reafirmando sua orientação sexual.
Mas discordo da gritaria que grupos de direito de defesa dos homossexuais fizeram em cima do tal projeto. Não acho que a lei vá transformar qualquer pessoa em homofóbica nem fazer com que o “movimento heterossexual” tenha mais força. Muito pelo contrário: a citada lei já virou motivo de piada e de “vergonha alheia”. Se o pessoal não tivesse feito tanto barulho em cima disso, o assunto já teria morrido.
Quem me conhece sabe que não tenho preconceito nenhum contra homossexuais. Acho lamentável quando vejo que as pessoas se afastam daqueles com diferente orientação sexual porque isso não condiz com o que elas pensam da vida. Porém, vejo que a batalha pelos direitos, que tem de ser contínua, está virando um patrulhamento ideológico exagerado. E tudo que é exagerado acaba trazendo um efeito inverso àquilo que se propõe.
Digo isso porque agora parece que todo mundo tem de tomar um posicionamento sobre o assunto. Ou é a favor, ou é contra. Não existe meio termo – quem prefere se abster, é preconceituoso. Gostando ou não, as pessoas têm direito de ficarem quietas sobre determinado assunto. Estão sendo omissas? Sim. Mas, do mesmo jeito que eu tenho direito de sair gritando e falando e lutando pelo que acho correto, essas pessoas têm o direito de se abster sobre determinados assuntos.
Conheço muitos homossexuais que já estiveram na Parada Gay e hoje não voltam ao desfile. Vários me disseram que o que antes era um evento para se reafirmar o orgulho de ser homossexual virou um desfile de drag queens e tresloucadas que em nada contribuem para que o respeito seja conquistado. Um amigo chegou a fazer essa seguinte comparação: seria a mesma coisa que fazer um desfile para que as mulheres sejam respeitadas, com todas elas de fio dental. A Marcha das Vadias, que tinha esse propósito, acabou caindo no ridículo. Desde quando exigir respeito é sair quase pelada na rua? Se achamos uma Valesca Popozuda ou uma Nicole Bahls vulgares ao máximo quando aparecem com roupas minúsculas em qualquer evento, como posso achar que desfilar em trajes mínimos é lutar por respeito?
O politicamente correto está se transformando em “ditatorialmente correto”. Ou apoio, ou sou contra. Ou mostro abertamente que estou ao lado dos homossexuais, ou sou preconceituosa. Ninguém precisa ficar berrando aos quatro ventos o que apoia ou não. Respeito e direitos conquistamos com atitudes, com argumentos, com ponderação. Não é impondo “goela abaixo” nas pessoas os direitos dos homossexuais que elas deixarão de ser preconceituosas. Isso será conquistado com atitudes diárias que demonstrem, acima de tudo, respeito a todos. Deixem que alguns poucos gatos pingados comemorem o Dia do Orgulho Heterossexual, que nós celebraremos, acima de tudo, o orgulho de sermos cidadãos.