domingo, 28 de outubro de 2012

A obesidade como deve ser tratada


Hoje faz quatro anos que eu tive alta do meu câncer de mama. Antes que alguém pense “lá vem ela falar desse assunto de novo”, quero destacar um problema pós-doença que surge em muitas mulheres que, assim como eu, são obrigadas por cinco anos a tomar um medicamento que é um verdadeiro veneno, mas que nos previne de um retorno da neoplasia: a obesidade. No meu caso, que sempre fui gordinha, ela se tornou um problema mais grave ainda, chegando à obesidade mórbida.

Muita gente que me conhece pessoalmente assusta quando digo que meu IMC (Índice de Massa Corporal) era, há pouco mais de um mês, de 42. Apesar disso, não tenho nenhum dos problemas comuns decorrentes da obesidade, como pressão alta, diabetes, taxas elevadas de colesterol ou triglicerídeos. Por uma genética privilegiada, quando faço exames de sangue meus médicos costumam brincar que, se não me conhecessem, iriam imaginar que os resultados eram de uma pessoa magra. Ainda assim, todos sempre foram unânimes em me dizer que eu precisava perder peso, exatamente para que esses problemas não surgissem mais tarde.

Já escutei muita gente dizer que o gordo é gordo apenas porque é preguiçoso, porque quer, porque não tem força de vontade. Claro, escutei isso de pessoas magras e daquelas que têm uma facilidade muito grande em perder peso. Meu homeopata, que é magérrimo, fala o seguinte: se emagrecer fosse fácil, todo mundo seria magro.

Mas o que vejo em relação à obesidade é que, a despeito de todas as más consequências que pode trazer, o maior problema é ela ser tratada apenas como uma questão estética. Nossa secretária de redação, Marina Zanaki, escreveu um texto dizendo que fomos levadas a acreditar que, se não tivéssemos um corpo em forma, jamais teríamos um namorado, e que sem esse namorado, jamais seríamos felizes. Detalhe: Marina é linda e magra.

Aos 19 anos, Marina enxerga muito melhor do que muitos profissionais de saúde que a obesidade não deve ser vista apenas como uma questão de beleza. Há pouco mais de dois meses, por conta do IMC alto, fui encaminhada a um cirurgião bariátrico que, em uma consulta de apenas 15 minutos, determinou que eu não conseguiria emagrecer sem uma redução de estômago, e que, mesmo que eu conseguisse, iria engordar tudo de novo. O fato de uma operação desse porte envolver a não absorção de nutrientes o resto da vida, e o fato de eu não poder me dar ao luxo de não ter essa absorção por causa do câncer sequer foram levados em conta, apesar de eu haver abordado o tema durante a consulta. Não fiz a cirurgia, optei por um balão intragástrico, e já estou emagrecendo. Aos poucos, sem sofrer muito, e o mais importante: sem o risco de uma anemia ou outros problemas que muitos profissionais amenizam quando indicam a cirurgia.

Não sou contra o procedimento, e acho que seja indicado em casos muito graves de obesidade, quando nada mais deu certo. Mas, na minha visão, seria o último recurso. Acredito que está na hora de as pessoas pararem de recorrer a procedimentos e dietas absurdas em busca de um corpo que jamais terão, apenas porque alguém lhes disse que isso era importante. E, acima disso, está na hora de os profissionais pararem de achar que todo obeso quer emagrecer apenas por estética. Acima disso tudo, existe a saúde, a coisa mais importante que temos em nossa vida.

 

 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Um ano de muitas saudades


Ano passado essa época eu estava em férias. Pouco antes de sair para meus dias de folga, fiquei conversando com seu Diógenes, como sempre o chamei, tendo a triste certeza de que, quando voltasse, ele não estaria mais aqui na redação, sentado naquela mesa aonde todos nós íamos volta e meia trocar “um dedo de prosa” com uma pessoa que era, para mim, um arquivo vivo da história local.

No próximo domingo faz um ano que ele se foi. Estava em Ribeirão Preto, indo para Bauru, e fiz meia volta para poder dar meu último adeus a um querido companheiro de trabalho. Apesar de estar esperando a notícia, no fundo havia a esperança de que ele conseguisse driblar essa doença terrível chamada câncer, e que ficasse bom novamente, como havia feito alguns anos antes. Dessa vez, infelizmente, prevaleceu a vontade de Deus, que talvez tenha entendido que aquele senhor já havia dado sua contribuição aqui na terra.

Quando seu Diógenes morreu não consegui escrever nada. Por ter acompanhado minha trajetória contra o câncer, quando recebeu o resultado do exame que diria se a doença havia voltado ele veio pedir que eu lesse o relatório. Por um descuido, me entregou o laudo errado, em que dizia que estava tudo bem. Felizes, nos abraçamos e ele falou que ia até comprar um “champanhe” para comemorar a boa notícia. Continuei meu trabalho, quando ele retornou me mostrando o laudo correto, em que se lia que a doença havia voltado. Doeu muito ver aquele senhor com os olhos cheios d’água, mas ainda assim cheio de esperança de mais uma vez sair vitorioso desse briga.

Infelizmente não foi assim. Mas, mesmo doente, Diógenes voltou a sua mesa, para escrever seus artigos, me mandar a “Feira Livre” (que saudades!) e se sentir, acima de tudo, vivo. Mesmo eu dizendo que ele devia ficar em casa por causa da quimioterapia, ele teimou em se manter ativo o máximo que pode. E vinha sempre bem humorado, com suas tiradas memoráveis, com uma palavra carinhosa a todos.

Durante os anos em que tive a feliz oportunidade de conviver com Diógenes, ele sempre se mostrou solícito as minhas perguntas, carinhoso quando eu estava doente, bem humorado com todos. Uma figura que, sentado em sua mesa no canto, era como um “baú de memórias” de Americana e região. Ele era nosso “Google”, quando tínhamos nossas dúvidas. Um “Google” que sempre se sentia feliz em contar suas histórias, e que respondia nossas perguntas com o prazer de quem tinha vivido as situações que nos relatava – e, em muitos casos, participado ativamente delas.

Diógenes deixou aquela saudade boa que sentimos quando alguém muito querido se vai. Não raro, quando olho em sua mesa, tenho a impressão de vê-lo ali, com a perna dos óculos na boca, para contar algum “causo”. Saudade boa, que sempre ficará em mim.