Vi todo tipo de argumento contra a vinda desses profissionais, desde
que eles serão escravos (nunca vi escravo com casa paga e recebendo salário)
até que os cubanos são desatualizados, e também que temos médicos suficientes
para atender nossa população, sem precisarmos recorrer a outros países para
suprir essa carência.
Acredito que temos mesmo um número de médicos mais do que suficiente
para todo o povo brasileiro. O grande problema, que os críticos não conseguem
ou não querem entender, é que muitos profissionais simplesmente não querem
trabalhar na rede pública e em lugares pobres e distantes. Aliás, muitos até são
funcionários públicos e teoricamente deveriam estar em unidades básicas, onde
passam apenas para assinar o ponto ou fazem algum “esquema” com os colegas, e
depois seguem para seus consultórios, onde atendem apenas pacientes de
convênios ou particulares. Já vi gente defender esse tipo de corrupção com o
argumento de que “o salário é baixo”. E o profissional acaba ganhando em dobro.
De nós, que pagamos impostos e não recebemos o atendimento, e do paciente
particular.
Claro que há médicos e médicos no real sentido da palavra. Eu mesma
tive muita sorte de, nas duas vezes em que fiquei doente seriamente, ter sido
tratada por profissionais que não me olhavam apenas como mais um caso de
câncer, mas acima de tudo como um ser humano. Mas esses são casos raros hoje em
dia, já que a Medicina se transformou em um grande negócio. Não acho que as
pessoas tenham de trabalhar de graça, mas também não concordo que o paciente
seja apenas visto como lucro.
O mais interessante é que a maioria das críticas fora das associações
médicas, que estão se sentindo ameaçadas, mas não se dispõem a irem atender em
regiões carentes, é de pessoas que estão sentadas confortavelmente em casa,
sabendo que, se precisarem de um médico, possuem um bom convênio ou então podem
pagar uma consulta particular. Assim é muito fácil criticar a vinda os médicos
estrangeiros.
Mas quem está na fila, sabendo que minutos podem fazer a diferença
entre a vida e a morte, não quer saber se o médico que vai atendê-lo é branco,
negro, índio, japonês, brasileiro ou estrangeiro. Ele quer apenas ser atendido
dignamente, e ter sua saúde restabelecida.