domingo, 25 de agosto de 2013

Médicos para quem precisa


A chegada na última sexta-feira dos primeiros médicos estrangeiros ao Brasil foi o ápice de uma polêmica que tomou conta do país há cerca de dois meses, quando o governo federal decidiu que eles podem trabalhar no país principalmente para suprir a demanda das localidades onde não há nenhum profissional para atender a população, número que chega a 701 municípios. Segundo o Ministério da Saúde, até este domingo, 644 médicos chegam ao país, sendo 400 deles cubanos.
Vi todo tipo de argumento contra a vinda desses profissionais, desde que eles serão escravos (nunca vi escravo com casa paga e recebendo salário) até que os cubanos são desatualizados, e também que temos médicos suficientes para atender nossa população, sem precisarmos recorrer a outros países para suprir essa carência.
Acredito que temos mesmo um número de médicos mais do que suficiente para todo o povo brasileiro. O grande problema, que os críticos não conseguem ou não querem entender, é que muitos profissionais simplesmente não querem trabalhar na rede pública e em lugares pobres e distantes. Aliás, muitos até são funcionários públicos e teoricamente deveriam estar em unidades básicas, onde passam apenas para assinar o ponto ou fazem algum “esquema” com os colegas, e depois seguem para seus consultórios, onde atendem apenas pacientes de convênios ou particulares. Já vi gente defender esse tipo de corrupção com o argumento de que “o salário é baixo”. E o profissional acaba ganhando em dobro. De nós, que pagamos impostos e não recebemos o atendimento, e do paciente particular.
Claro que há médicos e médicos no real sentido da palavra. Eu mesma tive muita sorte de, nas duas vezes em que fiquei doente seriamente, ter sido tratada por profissionais que não me olhavam apenas como mais um caso de câncer, mas acima de tudo como um ser humano. Mas esses são casos raros hoje em dia, já que a Medicina se transformou em um grande negócio. Não acho que as pessoas tenham de trabalhar de graça, mas também não concordo que o paciente seja apenas visto como lucro.
O mais interessante é que a maioria das críticas fora das associações médicas, que estão se sentindo ameaçadas, mas não se dispõem a irem atender em regiões carentes, é de pessoas que estão sentadas confortavelmente em casa, sabendo que, se precisarem de um médico, possuem um bom convênio ou então podem pagar uma consulta particular. Assim é muito fácil criticar a vinda os médicos estrangeiros.

Mas quem está na fila, sabendo que minutos podem fazer a diferença entre a vida e a morte, não quer saber se o médico que vai atendê-lo é branco, negro, índio, japonês, brasileiro ou estrangeiro. Ele quer apenas ser atendido dignamente, e ter sua saúde restabelecida. 

sábado, 10 de agosto de 2013

Respeito é via de mão dupla


Está circulando na internet desde a última sexta-feira um vídeo que mostra o deputado federal Marcos Feliciano (PSC-SP) em um voo de Brasília a São Paulo, sentado em sua poltrona em silêncio, enquanto dois homens ficam a sua frente cantando “Robocop Gay” e fazendo provocações. Os dois tentam fazer um tipo de “protesto” dentro do avião contra o parlamentar, mas pelo vídeo é possível perceber que não são seguidos pelos outros passageiros. O tempo todo da provocação, Feliciano fica em silêncio.
Longe de mim defender esse deputado e suas ideias retrógradas e preconceituosas sobre homossexuais e mulheres. Aliás, já até escrevi aqui sobre essa mesma pessoa, deixando bem claro que não concordo com nenhuma de suas colocações absurdas. Mas o vídeo que vi sendo disseminado, com comentários em sua maioria favoráveis à atitude dos dois passageiros, também não me representa, como costumam dizer aqueles que repudiam o parlamentar.
E por que não me representa? Porque sempre acreditei e ainda acredito que respeito é uma via de mão dupla. Feliciano não respeita homossexuais nem mulheres, isso é fato. Cada proposta sua visa desmerecer as conquistas tanto de um como de outro em nossa sociedade, e devemos comemorar que tentativas de volta à Idade Média têm sido derrubadas dentro do Congresso, muito em parte pela pressão que a sociedade tem feito sobre os assuntos. Porém, ficar cantando “Robocop Gay” dentro de um avião, dançando e gritando, não é também a melhor forma de ser respeitado. Se olharmos bem o vídeo, é possível ver que um passageiro se irritou com a gritaria, e a grande maioria preferiu ignorar os manifestantes. Também vi na internet muita gente que como eu, abomina Feliciano, mas que achou a atitude dos dois homens simplesmente inútil em termos de respeito aos homossexuais – além de ter sido totalmente ridícula.
Se fosse o inverso – Feliciano provocando homossexuais – as pessoas iriam divulgar o vídeo e achar sua atitude engraçada ou merecedora de elogios? No mínimo estariam dizendo que era homofobia, se inflamando contra a atitude do deputado, exigindo desculpas e providências legais. Eu mesma, a cada colocação idiota desse parlamentar, costumo me manifestar com algum comentário no Facebook.
E aí chego ao ponto da via de mão dupla: condenamos Feliciano por suas declarações preconceituosas, e aplaudimos duas pessoas que o provocam depreciativamente em um avião? O mesmo respeito que exigimos do deputado temos de exigir das outras pessoas. Mesmo não concordando com absolutamente nada do que Feliciano prega, jamais o iria xingar ou provocar se o encontrasse em um avião. Minha resposta a ele está nas urnas, votando em pessoas que barrem seus projetos absurdos.
Quem quiser ver o vídeo, basta acessar http://www.youtube.com/watch?v=vVr88ROUJL8.