quinta-feira, 3 de março de 2011

Saudades da Amélia

Estou com saudades de ser Amélia. De poder dizer que tenho vontade às vezes de casar (sem ter filhos) e viver cuidando da casa e do meu marido. De apenas me dedicar às coisas que me deem prazer, sem preocupação com horário, com ser uma ótima profissional, com mostrar uma imagem de auto-suficiência tão buscada hoje em dia pelas mulheres.
Na próxima terça comemoramos mais um Dia Internacional das Mulheres. Há 101 anos a data é celebrada oficialmente, mostrando todos os avanços obtidos pelo universo feminino ao longo do período: direito ao voto, liberdade sexual, ocupação de cargos estratégicos em empresas e em trabalhos antes exclusivos dos homens.
Devemos sim celebrar tudo isso, mas ser mulher hoje em dia parece que dá mais trabalho que antigamente. Não podemos mais querer apenas casar – somos pressionadas a ter uma profissão. Não podemos mais engravidar e, depois do nascimento da criança, perdermos os quilos adquiridos de maneira gradual – precisamos, em tempo recorde, estarmos novamente em forma, independente de qual seja nosso biotipo.
E as obrigações parecem não ter fim. Temos de organizar a casa, fazer lista de compras, cuidar das crianças quando chegamos do trabalho, nos preocuparmos se alguém fica doente, cuidar de tudo e de todos de maneira impecável. Afinal, nós quisemos toda a liberdade e o direito ao trabalho, não é? Conquistamos, mas sem deixar de lado a obrigação de sermos Amélias também.
E nem culpo os homens por sermos assim. Nós mesmas nos cobramos constantemente. Se estamos gordas, temos de emagrecer. Hoje em dia não basta apenas ser bonita e ter um corpão: preciso também ser a super amante, com mil conhecimentos sexuais. E, se possível, devo apregoar ao mundo o que faço entre quatro paredes, esquecendo que a minha intimidade deve ficar no lugar a que pertence: o meu quarto.
Cursos de pole dance, de strip tease, de pompoarismo, de Kama Sutra, de descoberta do Ponto G. Com a desculpa de melhorar nossa vida afetiva e sexual, nos sentimos pressionadas a inovar sempre no sexo. E, se gostamos de algo mais tradicional, estamos correndo o risco de sermos traídas, avisam nossas amigas. Basta pegar as revistas femininas para ver onde chegamos: matérias e mais matérias nos ensinando como sermos mais sexuais – deixando de lado o quanto podemos ser mais afetivas.
Acho que temos muitos motivos a comemorar, mas acredito que ainda temos muito a evoluir. Não sou machista e nem retrógrada. Apenas acredito que, na ânsia de nos igualarmos aos homens, muitas vezes nos esquecemos de sermos mulheres. Mesmo que isso signifique ser uma Amélia.

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