segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Espírito de Natal 365 dias



Mais uma vez chegamos ao Natal e, desde o meio de novembro, o que mais vemos em todos os lugares são luzinhas piscando e músicas alusivas à data. Com a proximidade do aniversário do Menino Jesus, também se multiplicam os convites para confraternização e amigos secretos. Parece que o espírito de “somos todos amigos” contagia as pessoas, e a época é ideal para esquecer problemas surgidos ao longo do ano e praticar o famoso perdão ensinado por Jesus Cristo.
Adoro o clima natalino. Fico emocionada em ver a decoração da chácara dos meus pais quando fica pronta, e espero ansiosa a ceia, afinal, é uma das poucas datas do ano em que encontro alguns familiares que não vejo quase nunca. Parece que a correria das nossas vidas impede essa reunião, por isso o final de ano é a data perfeita para rever essas pessoas.
Mas de uns tempos para cá tenho me questionado um pouco a respeito do que se chama de “espírito natalino”. Não conseguimos arrumar tempo o ano inteiro para vermos amigos e familiares – e olha que temos muito feriados para isso! –, mas de repente parece que nossas agendas ficam vazias e conseguimos rever todo mundo.
Também é a época em que mais ouço a palavra “perdão”. Parece que todo mundo espera que dezembro traga um “salvo-conduto” que faça com que todas as atitudes erradas sejam esquecidas, para encerrarmos o ano sem pendências pessoais. O problema, porém, é que muitas vezes o salvo-conduto é entregue a pessoas que, mal passada a virada do ano, já estão novamente adotando comportamentos condenáveis e prejudiciais ao próximo.
Citamos o perdão como ensinamento de Cristo, mas esquecemos que não foi apenas isso que Ele nos transmitiu. Jesus nos disse para amarmos uns aos outros, para não fazermos ao próximo aquilo que não desejamos a nós mesmos. Se gostamos tanto de citar o perdão nessa data, por que esquecemos de falar sobre os outros ensinamentos de Cristo?
Espírito natalino não é gastar muito para enfeitar a casa ou comprar presentes caríssimos. Isso de nada adianta se, dentro do coração, a pessoa ainda estiver com os sentimentos que a acompanharam o ano todo, como ressentimento, mágoa, rancor, inveja. Nunca li em nenhum lugar que Jesus nos ensinou que Natal é apenas o momento comercial. Mas vejo que esse é o sentimento que predomina hoje entre as pessoas.

As luzes piscando nas casas e empresas, vitrines bonitas com presentes atrativos, confraternizações e amigos secretos: nada disso tem o menor valor se, passado o dia 25, seu espírito volta a ser intolerante como foi o ano inteiro. Devemos tentar trazer esse sentimento natalino os 365 dias do ano. Esse, com certeza, seria o maior presente que poderíamos dar a Jesus.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Um exemplo a ser seguido


Estava aproveitando meu último dia de férias, fora da internet e com a televisão desligada quando, ao passar pela sala, minha mãe me disse que Nelson Mandela havia morrido. Num primeiro momento, morrendo de calor e sede, apenas falei algo como “nossa, que pena”, e segui em direção à cozinha pegar água. Enquanto estava “pensando com a porta da geladeira aberta”, me bateu de repente a importância daquela informação e, principalmente, a dimensão dessa perda.
Sou da geração que viu Mandela finalmente ser libertado da prisão, em 11 de fevereiro de 1990, após ter ficado 27 anos preso. Cantei muitas vezes “Mandela Day”, lançada em 1989 pelo Simple Minds, uma homenagem ao líder e um apelo a sua liberdade. Quando morava em Londres, em 1995, um ano após ele ter sido eleito presidente da África do Sul, comprei sua autobiografia “Long Walk to Freedom” (Longa Caminhada Até a Liberdade), cujo material de divulgação recebi há não muito tempo, quando a obra foi lançada (ou relançada) no Brasil. Ao longo das suas quase 800 páginas, Mandela deixa bastante claro que sua luta pelo fim do apartheid e principalmente pela construção de um país melhor, ainda não havia acabado com sua saída da prisão. Muita coisa havia a ser feita, mas “Madiba”, como era carinhosamente chamado em seu país, sabia que tinha o apoio de sua população para fazê-la.
Em um mundo tão cheio de celebridades e tão pobre em ídolos de verdade, a morte de Mandela repercutiu de uma maneira que eu não esperava. Afinal, o líder sul-africano estava com 95 anos, já bastante doente e afastado do mundo político. Não estou desmerecendo toda a sua influência, apenas falando que, como atualmente ídolos são jogadores de futebol e mulheres plastificadas, constatar que as pessoas ainda respeitam a memória e a luta de Mandela me fez acreditar que a humanidade ainda tem salvação.
Claro que houve muito “oba-oba” em cima disso. Pessoas que sequer sabem direito quem foi o estadista postaram mil frases e lamentos nas redes sociais. Celebridades de todo o mundo, aproveitando o momento, quiseram mostrar seu conhecimento sobre o político sul-africano e postaram frases atribuídas a ele – algumas, diga-se de passagem, de outros líderes que também lutaram contra o racismo. 

O mais interessante foi ver algumas pessoas conhecidas por seus posicionamentos extremamente reacionários – do gênero “pobre é tudo vagabundo” – lamentarem a morte de Mandela, esquecendo que a sua luta não se resumia apenas ao preconceito contra a raça negra, mas sim ao preconceito em si, de qualquer tipo e sobre qualquer pessoa. Mandela acreditava em uma sociedade de iguais, onde o respeito seria a base para o futuro e crescimento de todos. Lamentem sim sua morte, mas lembrem-se de seus ensinamentos. Mandela não queria ser uma celebridade, mas sim um homem justo. Façamos, então, justiça a sua memória.