quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Conto de fadas irreal

Um dos assuntos mais comentados em todos os sites que visitei ao longo da semana foi a estreia hoje do filme “Bruna Surfistinha”, que conta a história da ex-garota de programa Raquel Pacheco. Não li o livro em que o longa foi baseado (“O Doce Veneno do Escorpião”), e nem pretendo assistir o filme. Em 2005, quando Bruna virou notícias em toda a mídia, já tive uma overdose do assunto. E acho, sinceramente, um “desserviço” esse tipo de história ser levada às telonas.
No que dependesse de mim, nenhuma adolescente poderia assistir esse filme. Pode parecer radicalismo xiita, mas acho péssima essa ideia de glamourizar a prostituição, o que vem sendo feito por essa menina e por toda a mídia, que dá atenção a ela (de maneira enaltecedora), como se o que Raquel viveu tenha sido um conto de fadas irreal, onde a mocinha, após todo o sofrimento, tem um belo final feliz.
Fico imaginando que exemplo estamos dando para as adolescentes mostrando essa história. No resumo, Raquel era uma menina de 17 anos que resolveu ser garota de programa para sustentar seus luxos. Durante três anos, foi usuária de drogas, fez sexo com sei lá quantas pessoas, e encontrou um idiota (na minha opinião) que não se importou com esse passado tão “enriquecedor” e resolveu largar a família para casar com ela.
A história dessa ex-prostituta não é tão inédita assim. A diferença é que ela resolveu contar em um blog suas aventuras sexuais, e com isso ganhou notoriedade nacional. A impressão que Raquel Pacheco passa, em suas entrevistas, é que ela sofreu, mas teve o final feliz que todos esperam em suas vidas. Ela mesma admite que teve (muita) sorte. Quantas prostitutas conseguem sair desse meio com tanta fama, dinheiro e glamour?
O que me espanta em tudo isso é ver o quanto essa garota é valorizada. Para mim, o recado dado às adolescentes é pernicioso: quantas delas não vão acreditar que a prostituição pode ser a melhor saída para conseguir dinheiro rápido? Quantas delas não vão acreditar que, depois de algum tempo, terão o sucesso que Raquel Pacheco teve, e ainda por cima encontrarão o príncipe encantado, que irá tirá-las do mundo cão da prostituição?
Existem milhares de mulheres brasileiras que batalham diariamente para conquistar suas coisas, sem precisar usar o sexo como instrumento de trabalho. Pesquisadoras, cientistas, políticas, educadoras, atrizes, que honram o nome do Brasil não só nacionalmente, mas também no resto do mundo. Acredito que o exemplo dessas mulheres deveria ser filmado e mostrado a todo mundo, e não o de uma garotinha mimada que queria ter roupas de marca. Enquanto as pessoas acharem que sexo é mais importante que respeito, realmente nosso País não conseguirá chegar ao Primeiro Mundo.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O pior sentimento do mundo

Volta e meia, quando estou em bate-papos regados a choppinho e porções, surgem aqueles papos existenciais com os amigos. Numa dessas “discussões filosóficas”, ficamos a debater qual seria o pior sentimento que uma pessoa pode nutrir por outra. Uns disseram que era a inveja, outros o ódio, outros a raiva, outros o desprezo. Concordo com esse último grupo: para mim, o pior sentimento do mundo é o desprezo.
E por que isso? Por que não o ódio, ou a raiva? Simples: quando sentimos ódio ou raiva de alguém, isso significa que essa pessoa ainda é importante para nós. Enquanto ficamos alimentando esse sentimento, estamos na verdade ainda ligados a quem, de alguma maneira, nos magoou ou machucou. E, enquanto nos sentimos assim, essa pessoa, de certa forma, ainda continua nos atingindo.
Mas quando sentimos desprezo, isso significa que aquela pessoa não significa mais nada para nós. Na verdade, ela significa menos que nada. Ou melhor, ela até significa algo: um ser humano digno de pena. E pena é outro sentimento que acho péssimo. Afinal, quando sentimos pena de alguém, normalmente é porque aquela pessoa atingiu o fundo do poço. E quem está no fundo do poço não merece nenhum outro sentimento além desse.
O interessante é que normalmente as pessoas que desprezamos são aquelas que mais buscam nos atingir. Insatisfeitas com as próprias vidas, elas buscam se inserir na nossa de todas as maneiras, buscando qualquer coisa para nos machucar. Para elas, a nossa felicidade é uma ofensa, daí vem seu grande objetivo: nos incomodar.
Quando essas pessoas percebem que não conseguem nos incomodar, nos atingir, nos ferir, nos machucar, é como se estivessem sendo incomodadas, feridas, machucadas. Por isso digo que o desprezo é o pior sentimento do mundo: você simplesmente apaga esses seres humanos da sua vida. Nada, absolutamente nada do que eles façam podem atingi-lo. E nenhuma pessoa que eu conheço gosta (ou admite) ser desprezada.
Por isso costumo dizer que prefiro mil vezes sentir raiva de alguém do que desprezo, que vem sempre acompanhado da mais completa indiferença. Quando tenho raiva de alguém, sou capaz de chorar, de me importar, de querer saber como ela está. E, mais importante de tudo: ainda existe a chance de esse sentimento mudar, se transformar em perdão, e com isso o relacionamento (seja de amizade ou amoroso) ser retomado. Porém, quando chego no desprezo, essa chance não existe, em absoluto. Sinto desprezo por pouquíssimas pessoas. E nem me sinto culpada pelo que sinto, por apenas uma razão: se cheguei a esse ponto, é porque essa pessoa realmente não valia nada. E quem não vale nada não merece nem um segundo da minha atenção.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A liberdade de ser feliz

É fato que o nível de divórcios aumentou em todo o País desde que o processo se tornou menos burocrático. Casais que antes não faziam a separação legal por entraves da lei hoje conseguem, com muita facilidade, principalmente se não tiverem filhos, a dissolução do casamento de maneira fácil e rápida. Assim, esse aumento, que muita gente ainda enxerga como absurdo, deveria ter sido previsto e até mesmo esperado.
Não acho correta a afirmação de que a facilitação do divórcio é que tem provocado o fim dos casamentos. Aliás, acho excelente que hoje as pessoas possam ter a chance de recomeçarem suas vidas sem obstáculos burocráticos impedindo uma nova união.
Ninguém casa já pensando em se separar. Quando os noivos juram amor eterno, acreditam que a união será mesmo para sempre. Porém, como já dizia Renato Russo, o “prá sempre, sempre acaba”. Conhecemos casais que estão juntos há 40, 50, até 60 anos, unidos por um amor inabalável e um companheirismo invejável. Mas acredito que também todo mundo conheça aquele casal que está junto há décadas, cujo relacionamento é péssimo, cuja convivência é na base do suportável, e não do desejável.
Qualquer tipo de convivência é alicerçada na tolerância. No trabalho, não conseguimos gostar de todos os colegas, assim como não somos adorados por todos. Mas, usando as regras do bom senso, conseguimos conviver no dia a dia com essas pessoas. Inconscientemente (ou até com plena consciência!) sabemos o seguinte: quando meu horário acabar, não sou obrigado mais a olhar na cara da pessoa que não gosto. Não sou obrigada a ir num barzinho junto, sair para jantar, sentar na mesma sala para dar risada.
Num casamento, porém, não podemos simplesmente pensar assim. Casais acordam juntos, jantam juntos, dormem juntos, e dividem o mesmo espaço. Tolerância e paciência são virtudes inerentes quando se está casado. Mas, muitas vezes, a paciência se acaba, assim como o amor. Sempre digo que o fim de um relacionamento não é culpa de uma pessoa só, mas de uma soma de fatores. E, se não sou feliz com quem estou no momento, por que me obrigar a ficar com essa pessoa o resto da vida?
Acredito na seguinte premissa: antes de eu gostar de outra pessoa, tenho de gostar de mim. E quando não existe mais respeito, não há sentido em ficar mais junto. Por isso avalio como muito positiva essa possibilidade que hoje as pessoas têm, ao conseguirem finalizar um casamento sem toda a burocracia e obstáculos que existiam no passado. Para mim, todo mundo pode ter a liberdade de ser feliz – mesmo que seja pela segunda ou décima vez.