domingo, 26 de agosto de 2012

(Falta de) senso brasileiro



Tenho acompanhado há cerca de um mês pelo Facebook a viagem de uma amiga jornalista, Inaie Ramalho, que esteve no Vietnam e postou fotos belíssimas dos lugares visitados. Depois de um passeio pela exótica Ásia, essa colega está agora na Europa, mais precisamente em Berlim, onde tem visitado pontos turísticos e históricos que, se tudo der certo, pretendo conhecer em 2013.

Como na viagem à Ásia, Inaie tem postado fotos de tudo que visita. A semana passada, a jornalista postou uma foto de um lugar fantástico: a East Side Gallery, uma parte do muro de Berlim com cerca de 1,3 mil metros que é todo pintada por artistas. As pinturas são lindas e muito coloridas, mas ao final do muro, uma “obra de arte” chocou a minha amiga e a todos que viram a foto que ela fez: uma pichação de cinco estudantes brasileiras, com quatro delas se autointitulando “biscates 2012” (devem ser mesmo!), e os nomes e sobrenomes grafados de maneira a não deixar dúvidas sobre a autoria de tamanho absurdo. O fato provocou tanta revolta em quem viu a foto que outra amiga de Inaie acabou descobrindo o perfil de todas as garotas no Facebook (viva a tecnologia!) e que elas são intercambistas do Rotary, uma instituição mundialmente conhecida pela seriedade de seu trabalho.

Aí fiquei pensando em todas as vezes que lemos relatos de brasileiros sendo discriminados ou destratados nos países europeus, principalmente na Alemanha, França e Inglaterra, onde o respeito por sua história é a tônica de toda a sociedade. Já morei em Londres e visitei vários países depois disso, e posso dizer, com uma tremenda tristeza, que nem dá para reclamar muito, porque boa parte dos patrícios que viajam para fora esquecem que as regras sociais desses lugares são diferentes das nossas, e agem como se estivessem em seu próprio país, com aquelas atitudes tipicamente brasileiras: furam fila, falam super alto, estacionam em lugar proibido, desrespeitam os assentos para deficientes e idosos, enfim, adotam o comportamento que aqui é aceito cotidianamente, mas que nesses lugares nos coloca de volta à idade da pedra.  

Fiquei imaginando as estudantes (ainda me pergunto o que elas realmente foram aprender na Alemanha) pichando o muro, olhando furtivamente para os lados para não serem pegas em flagrante, e se achando as “espertas” por conseguirem pichar um monumento que é o retrato de uma época que os alemães querem esquecer, mas deixam ali inteiro para que a história não se repita. Dá para imaginar elas tirando fotos para depois mostrarem aos amigos, e acreditando que, aqui, ninguém ia saber mesmo disso, muito menos seus pais, que eu quero acreditar jamais aprovariam esse tipo de comportamento tão vulgar e desrespeitoso. Pois alguém soube, e está divulgando em todos os lugares, com nome e sobrenome junto. Essas estudantes envergonham o país, e reforçam aquilo que tanto queremos mudar: a nossa falta de cidadania.


 

domingo, 12 de agosto de 2012

Pai também tem seu dia



Estamos acostumadíssimos a falar sempre da mãe, a demonstrarmos amor o tempo todo pela mãe, a colocarmos mil fotos e frases em redes sociais mostrando o quanto precisamos dela. Até mesmo as campanhas do Dia dos Pais parecem que são menos emocionantes que as das mães, e as vendas mostram que, em termos de datas comerciais, essa não é uma das que mais aquece o comércio no ano.

Sou de uma geração que, em sua maioria, cresceu sendo educado pela mãe, com o pai trabalhando fora. Claro que o entrosamento com a mãe acabava sendo muito maior do que com o pai. Com isso, os pais se transformavam naquela pessoa distante, normalmente autoritária, sempre trabalhando e, quando estavam em casa, assistindo televisão e sem vontade de brincar.

Meu pai era assim. Hoje, aos 67 anos, ele dispõe de muito mais tempo para ficar conosco do que tinha quando mais novo. Mas hoje somos nós que não dispomos de tanto tempo assim para ficar com ele, porque trabalhamos e queremos ocupar nosso tempo livre com amigos e atividades de lazer. Não que isso seja um problema, porque ele não é daqueles aposentados que fica em casa o dia todo lendo. Mas, ainda assim, às vezes ele se ressente de uma presença maior dos filhos, que nem sempre estão disponíveis ou com vontade de faze o programa que ele quer naquele momento.

Meu pai é uma pessoa de gênio forte e, dizem meus familiares, eu puxei esse lado dele. Às vezes toma atitudes intempestivas e acaba falando coisas que não devia, mas depois, a sua maneira, se redime fazendo algo pela gente que não esperamos. Acredito que todo mundo tenha seus conflitos com pais e mães, e falo que felizes são aqueles que conseguem resolvê-los enquanto eles ainda estão aqui.

E ele é aquela pessoa que, quando a coisa aperta, está sempre li. Como diz meu irmão mais velho, “na hora do vamos ver” é a ele que recorremos. Seja para nos dar um conselho, para resolver um problema, para pedir dinheiro emprestado. E, quando a coisa é realmente séria, ele acaba dando um jeito de fazer aquilo que deve ser feito.

Já tive muitos atritos com meu pai. Quando entrei na faculdade, ele ficou decepcionado, porque queria que eu tivesse feito Medicina (justo eu!) e não Jornalismo. Mas, como o tempo tudo cura e tudo mostra, ele acabou vendo que eu havia nascido para isso, e seria infeliz se tivesse outra profissão. Hoje, não vou dizer que é meu maior fã, porque isso ainda não sei, mas tenho mais do que certeza de que ele tem orgulho do que eu escrevo.

Por isso, espero muito que ele fique feliz com esse texto, que é uma homenagem a todos os pais. Em nossos corações, seu valor é igual ao da nossa mãe. Feliz Dia dos Pais!