domingo, 19 de janeiro de 2014

Pelo direito de ser feliz


Essa semana vi no site do UOL uma pesquisa feita por especialistas britânicos, que sugere que casais sem filhos são mais felizes no casamento. O levantamento realizado ao longo de dois anos por pesquisadores da Open University conclui que esses casais estão mais satisfeitos com seus relacionamentos e se sentem mais valorizados por seus parceiros do que os casais com filhos. A pesquisa ouviu cinco mil pessoas de várias faixas etárias, classes sociais e orientação sexual. Segundo os autores, casais sem filhos dedicam mais tempo à manutenção do relacionamento, a apoiar o parceiro, a dizer "eu te amo" e a conversar abertamente.
Muitos consideraram a pesquisa mentirosa e outros, em um raciocínio que ainda não consegui entender, decretaram que o estudo havia sido feito por quem não tem filhos – por esse pensamento, posso presumir que apenas doentes de câncer fazem pesquisa sobre a doença e apenas viciados em drogas estudam seus efeitos. Achei interessante ver os comentários ofensivos sobre a matéria, como se não ter filhos fosse um crime, e como se ser feliz por não tê-los um crime maior ainda. Aliás, acho interessante que quem opta por não ter filhos não fica apregoando aos quatro ventos o quanto é bom viver assim, mas tem de aguentar muita gente questionando essa decisão com argumentos que vão desde o famoso "instinto materno" até o "quem vai cuidar de você quando ficar velho" (como se filho fosse obrigado a isso).
Precisamos ainda evoluir muito nesse sentido. Incomoda ver que existem casais que preferem não ter filhos e curtir a vida da maneira que querem. Isso é visto como egoísmo. Agora, casais que têm filhos, mas que deixam para a avó, a tia, a madrinha, a babá, enfim, para qualquer pessoa cuidar e apenas se preocupam na hora de saírem bonitos na foto com os pequenos são vistos como exemplo.
Conheço tanto casais frustrados por terem filhos, quanto por não terem. No primeiro caso, apenas não assumem esse fato em alto e bom som porque nossa sociedade é hipócrita e não admite que quem optou pela paternidade ou maternidade possa ter a mais remota ideia de arrependimento. Aliás, no primeiro caso eu acho que nem deveriam ter sido pais, mas não tinham ideia da responsabilidade que é ter um filho. No segundo caso, tentam ter os filhos de todas as maneiras, e se não o conseguem parece que a vida não tem mais sentido
E conheço pessoas que abriram mão de ter filhos por prezarem uma vida mais individualista, satisfazendo seus próprios desejos, sem a responsabilidade de criar um filho, e que não tentam impor seu modo de vida aos outros. Ter filhos ou não é uma opção – e não uma imposição feita pela sociedade. As críticas a quem opta por viver fora do que a sociedade convencionou como família são muitas. Muitos comentários da matéria falaram que os casais que se dizem felizes sem filhos estão mentindo. Mas será que realmente todos os casais com filhos estão falando a verdade quando apregoam sua felicidade? Ou será que não está na hora de pararmos de querer impor um modo de vida que, muitas vezes, está alicerçado em hipocrisia?

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Um presente de final de ano


Na última segunda-feira do ano vim trabalhar, já pensando nos dois dias seguintes que teria de folga. Assim como milhares de pessoas, vim trabalhar pensando que seria melhor ter conseguido emendar os três dias, e por isso meu humor não estava dos melhores. Não que estivesse mal humorada, mas não estava dando risada à toa. Independente disso, sempre penso que, já que temos de cumprir uma obrigação, temos de fazê-lo da melhor maneira possível.
Imbuída do espírito “vamos chegar e terminar logo”, antes de começar o trabalho resolvi almoçar. Naquelas mudanças de planos de última hora, decidi não almoçar logo na entrada da cidade, e segui para o restaurante mais próximo ao jornal. Encontrei o colega André Thieful, almoçamos juntos, fiz umas comprinhas de última hora e desci ao carro estacionado na garagem coberta. André me acompanhou, e percebeu que uma mulher me olhava, como se me conhecesse. Eu somente a notei quando já estava dentro do carro, e ainda fiquei na dúvida se ela estava realmente sorrindo para mim, porque não a conhecia.
Foi aí que a mágica do meu dia começou. Essa mulher veio até o carro, perguntou se eu era do Liberal, e disse que havia me reconhecido no restaurante. Depois, ela falou que lê tudo o que escrevo, e que, em sua opinião, eu passo mensagens boas às pessoas. Não vou negar que fiquei lisonjeada, ainda mais quando ela disse que gostava de mim como se fosse uma filha. Para finalizar, essa mulher me abraçou e, muito emocionada, começou a me desejar e a minha família as melhores coisas possíveis para este ano. Não me contive, e ambas choramos. Talvez o momento, o final de ano, a emoção dessa mulher tenham me feito chorar. Não sei dizer. Apenas sei que, quando cheguei à redação e contei ao meu editor Carlos Ventura o que havia acontecido, foi difícil segurar o choro novamente. Carlão então me falou algo importante: eu havia acabado de ganhar um belo presente de final de ano.
Não conto isso para me vangloriar. Afinal, como essa mulher gosta muito do que escrevo, tem muita gente que com certeza detesta. Artigos opinativos são passíveis de despertar na mesma proporção admiração e desprezo, amor e ódio. Tenho consciência de que não sou unanimidade, e nem tenho essa pretensão. 

Mas conto isso para lembrar o quanto nossas palavras são importantes. Do mesmo modo que podemos semear com nossos textos algo bom, podemos conseguir também disseminar sentimentos ruins. Nas redes sociais é possível ver o quanto atingimos as pessoas, a cada “curtir” em uma frase, ou a cada discussão surgida por causa de uma opinião. Essa mulher mais uma vez me fez ver que, quando escrevo, posso tirar o melhor ou o pior das pessoas. Espero conseguir, na maioria das vezes, a primeira opção com meus textos.