domingo, 29 de julho de 2012

Pelo direito à neutralidade


A campanha eleitoral nem completou um mês ainda, e já vemos os candidatos se movimentando a todo vapor na busca pelos votos. Para a grande maioria deles, as redes sociais hoje são um enorme espaço a ser explorado para a conquista de novos eleitores. Considerando o alcance que apenas uma postagem pode ter, políticos e partidários têm usado principalmente o Facebook e o Twitter para expor suas ideias e buscar novos eleitores ou manter os antigos. Até aí, nada demais, estamos em uma democracia, e cada um posta o que quiser em seu perfil. O problema, no entanto, é quando a propaganda invade o espaço da outra pessoa.

Já existe uma corrente no Facebook contra a propaganda política naquele espaço. Inclusive muita gente já deixou bem claro que, se a pessoa colocar qualquer propaganda política, será deletada sumariamente do rol de “amigos”. Debates já surgiram por conta do assunto, com um lado apoiando a discussão política e o uso da rede social para a campanha, e o outro afirmando que o Facebook deve ser usado para outros temas.

Faço parte do grupo contra a propaganda política em mural alheio. Na minha visão, uma pessoa colocar uma foto de um candidato em meu mural, sem a minha autorização, é a mesma coisa que pichar o muro da minha casa. Se não permitimos isso no mundo “real”, por que ele deve ser visto como algo normal na virtualidade?

Cada postagem colocada no Facebook ou Twitter, dependendo do número de pessoas em sua rede, pode ser vista por centenas, ou até mesmo milhares de outras. A partir do momento que a foto de um político é colocada a minha revelia no meu espaço, quem vê aquela imagem não vai pensar que ela pode estar ali sem meu consentimento, mas vai enxergá-la como a minha opção de voto. No meu caso em específico, vai ser difícil alguém conseguir colocar alguma coisa, porque não permito publicações de imagens em meu mural sem antes eu visualizá-las e, caso isso seja driblado, não terei o menor problema em tirar da minha lista de contatos quem resolveu decidir por mim o meu voto.

Acredito que tanto partidários quanto candidatos devem usar o Facebook para a campanha, mas apenas em seus espaços, ou onde suas postagens sejam permitidas. Outra coisa que vem acontecendo é de aparecer pedidos de “amizade” de candidatos que nunca antes me dirigiram à palavra, pedidos esses que são bloqueados. Fazer política bem direcionada na internet é uma coisa, mas fazer politicagem é outra bem diferente. Buscar votos através de redes sociais é uma arte – afinal, quem está ali, com certeza não troca sua opção política por um “amigo” a mais em seu perfil.

domingo, 15 de julho de 2012

Enaltecimento do óbvio


Essa semana todas as mídias foram tomadas pela história de um casal de moradores de rua que achou R$ 20 mil e devolveu o dinheiro ao seu verdadeiro dono, o proprietário de um restaurante. Com um desfecho digno de filme hollywoodiano, em que o bem sempre vence o mal, o casal chegou a ser ameaçado de morte por quem havia roubado o dinheiro, mas acabou sendo protegido e recompensado com emprego e um lugar para morar pelo proprietário do restaurante.

Analisando bem todo esse cenário, cheguei mais uma vez àquela velha (e triste) conclusão: moro em um país onde a pessoa ser honesta e devolver dinheiro que não pertence a ela é motivo de notícia em todas as mídias. Pior: por eles serem moradores de rua, ou seja, pobres, parece que a atitude tem um valor maior ainda, como se pobreza fosse justificativa para desonestidade.

Por falta de heróis e por vivermos em uma sociedade onde o ter é essencial, e ser não vale grande coisa, esse tipo de comportamento toma proporções inimagináveis em países desenvolvidos como Suécia, Inglaterra, Alemanha, entre outros. Não que nesses lugares não exista gente desonesta – a diferença é que para essas sociedades ser honesto é o padrão, e não a exceção.

Claro que achei louvável a atitude do casal, que precisava muito do dinheiro e ainda assim preferiu continuar na pobreza a perder a honra, como disse o homem quando perguntado sobre o porquê havia tomado aquela decisão.

Também foi louvável a atitude do proprietário, que poderia simplesmente ter dito “muito obrigado”, dado uma gorjeta e encerrado o assunto. Não que ele teria errado se fizesse isso. Não acho que ele fez “sua obrigação”, porque não penso que pelo fato de a pessoa ter dinheiro ela seja obrigada a fazer caridade. Do mesmo jeito que as pessoas enxergam a devolução do dinheiro como algo fora do comum (repito, ser honesto não é qualidade, é obrigação), deveriam enxergar a oferta de emprego e casa como algo a ser admirado, principalmente em um país onde raramente vemos gestos de generosidade desse tipo serem veiculados pela mídia. A não ser, claro, que o gesto de generosidade seja feito por alguma “piriguete” ou alguma “celebridade” em busca de mais espaço na mídia, o que é conseguido sem muita dificuldade.

Para mim, dessa história toda fica apenas uma conclusão: ainda estamos muito longe de sermos um país desenvolvido, já que a honestidade é uma característica tão rara que vira notícia apenas por ter sido praticada. Até por isso é comum nas propagandas eleitorais os candidatos usarem o termo como se fosse um diferencial entre os concorrentes. Ser honesto virou sinônimo de virtude, de qualidade, de diferencial, quando deveria ser simplesmente a obrigação de qualquer pessoa de bem.