quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Futuro construído agora

Esta semana assisti ao filme “O Homem do Futuro”, com o excelente Wagner Moura e a bela (e talentosa) Alinne Morais. Uma comédia romântica despretensiosa, o longa conta uma historinha meio batida, sobre um cientista fracassado no amor que quer voltar ao passado para consertar seu romance com a namorada. Para isso, ele constrói uma máquina do tempo e nela embarca, a fim de fazer com que sua vida tenha um destino diferente.
Apesar de a intenção do filme ser fazer rir, me peguei avaliando o que faria se eu pudesse viajar no tempo. Acredito que todo mundo já tenha se imaginado em uma cápsula do tempo, seja para voltar à saudosa infância, visitar tempos antigos, conhecer a Grécia em seu apogeu, ver o primeiro show dos Beatles.
Também muitas vezes pensamos em como podíamos ter feito isso ou aquilo diferente, e o que teria acontecido se tivéssemos adotado atitudes diversas daquelas que tomamos, e que resultaram em nosso presente. Esse pensamento pode ser confundido com o velho arrependimento, que muitas vezes nos acomete com aquela famosa frase: “Ah, se arrependimento matasse...”.
Raras vezes me arrependi de algo que fiz em minha vida. Inversamente, já me arrependi horrores por ter deixado de fazer muita coisa – por preguiça, medo, falta de dinheiro, de vontade, de coragem. Tenho em mente aquele clichê: prefiro me arrepender de ter feito, do que de sequer ter tentado fazer.
Fiquei imaginando então o que eu teria feito se entrasse naquela máquina do tempo. Onde eu poderia parar? Na minha infância, que foi muito feliz? Na adolescência, quando eu ainda tinha o poder de decidir o que poderia fazer de meu futuro? Teria feito outra faculdade? Teria deixado de fazer amizades que hoje vejo não significam nada, e apenas me dedicado àqueles que realmente me valorizam? Teria casado e tido filhos?
Depois de muito pensar, cheguei à conclusão maravilhosa de que eu não teria mudado nada. Não posso pensar no que teria sido minha vida caso eu tivesse feito outras opções, porque essa chance não existe. Construímos nosso futuro baseado no que somos hoje, e não em cima daquilo que podíamos ter feito porque, se o deixamos de fazer, significa que naquele momento não era a nossa melhor opção. Como disse Chico Xavier: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”.

domingo, 4 de setembro de 2011

Decisão necessária à saúde

Nesta última quarta-feira foi suspenso o decreto de lei que permitia o direcionamento de 25% dos leitos de hospitais públicos administrados por OSs (Organizações Sociais) ao atendimento de planos e seguros de saúde privados. A decisão, que incomodou muitos usuários de planos de saúde e também as operadoras, é mais do que justa. Não sou usuária do SUS (Sistema Único de Saúde), e não me senti prejudicada. Muito pelo contrário, me sentiria envergonhada se precisasse dispor de um leito público (e com isso tomar o lugar de alguém na fila de espera) considerando o valor que pago ao convênio para dispor de atendimento.
Raras vezes vi uma decisão que envolvesse os convênios ser negativa a eles. Apesar de os impostos que pagamos serem suficientes para que tenhamos um serviço de qualidade de Primeiro Mundo, muitas vezes somos obrigados a também termos um plano particular, para conseguirmos consulta e acesso a exames em tempo mais rápido (o que ainda nem sempre acontece). Todos conhecemos as mazelas que acometem o sistema público de saúde, a começar por profissionais que, apesar de concursados e pagos para trabalharem nos consultórios dos prontos socorros, muitas vezes dedicam metade do tempo que deveria a esse emprego, privilegiando sempre seus pacientes de convênios ou particulares.
Tirar leitos de hospitais públicos e dar a pacientes de convênios é, a meu ver, um completo absurdo, uma inversão de valores e um desrespeito total ao que pagamos para ter um serviço de melhor qualidade. Antes que os conveniados pensem que a liminar foi injusta, gostaria que invertessem a situação: e se ela determinasse que os hospitais particulares dedicassem 25% dos seus leitos aos usuários do SUS? Seria justo eu, que pago o plano, ter de ficar em uma fila de espera por uma cirurgia, enquanto alguém que “não paga” estar em meu lugar?
A lógica é a mesma usada para quem tem convênio e quer se aproveitar dos benefícios públicos. Conheço casos de profissionais que orientaram os pacientes a buscarem quimioterapia pelo SUS porque sabiam que o convênio ia negar os medicamentos – o que é ilegal, mas muita gente ainda acaba pagando ou fazendo pelo serviço público um tratamento que o plano deve pagar obrigatoriamente.
O que me espanta é o cidadão achar normal usar um sistema público, quando paga pelo particular. O normal seria cobrar do particular um tratamento digno e de qualidade, e não ficar ocupando vagas em hospitais e leitos de quem não pode pagar. Porque, salvo raras exceções, ainda é difícil acreditar em medicina pública no Brasil. Quem pode paga convênio. Quem não pode, vai para o SUS. Com tudo isso, ainda nos achamos no direito de ocupar os poucos leitos disponíveis a essas pessoas?