domingo, 4 de setembro de 2011

Decisão necessária à saúde

Nesta última quarta-feira foi suspenso o decreto de lei que permitia o direcionamento de 25% dos leitos de hospitais públicos administrados por OSs (Organizações Sociais) ao atendimento de planos e seguros de saúde privados. A decisão, que incomodou muitos usuários de planos de saúde e também as operadoras, é mais do que justa. Não sou usuária do SUS (Sistema Único de Saúde), e não me senti prejudicada. Muito pelo contrário, me sentiria envergonhada se precisasse dispor de um leito público (e com isso tomar o lugar de alguém na fila de espera) considerando o valor que pago ao convênio para dispor de atendimento.
Raras vezes vi uma decisão que envolvesse os convênios ser negativa a eles. Apesar de os impostos que pagamos serem suficientes para que tenhamos um serviço de qualidade de Primeiro Mundo, muitas vezes somos obrigados a também termos um plano particular, para conseguirmos consulta e acesso a exames em tempo mais rápido (o que ainda nem sempre acontece). Todos conhecemos as mazelas que acometem o sistema público de saúde, a começar por profissionais que, apesar de concursados e pagos para trabalharem nos consultórios dos prontos socorros, muitas vezes dedicam metade do tempo que deveria a esse emprego, privilegiando sempre seus pacientes de convênios ou particulares.
Tirar leitos de hospitais públicos e dar a pacientes de convênios é, a meu ver, um completo absurdo, uma inversão de valores e um desrespeito total ao que pagamos para ter um serviço de melhor qualidade. Antes que os conveniados pensem que a liminar foi injusta, gostaria que invertessem a situação: e se ela determinasse que os hospitais particulares dedicassem 25% dos seus leitos aos usuários do SUS? Seria justo eu, que pago o plano, ter de ficar em uma fila de espera por uma cirurgia, enquanto alguém que “não paga” estar em meu lugar?
A lógica é a mesma usada para quem tem convênio e quer se aproveitar dos benefícios públicos. Conheço casos de profissionais que orientaram os pacientes a buscarem quimioterapia pelo SUS porque sabiam que o convênio ia negar os medicamentos – o que é ilegal, mas muita gente ainda acaba pagando ou fazendo pelo serviço público um tratamento que o plano deve pagar obrigatoriamente.
O que me espanta é o cidadão achar normal usar um sistema público, quando paga pelo particular. O normal seria cobrar do particular um tratamento digno e de qualidade, e não ficar ocupando vagas em hospitais e leitos de quem não pode pagar. Porque, salvo raras exceções, ainda é difícil acreditar em medicina pública no Brasil. Quem pode paga convênio. Quem não pode, vai para o SUS. Com tudo isso, ainda nos achamos no direito de ocupar os poucos leitos disponíveis a essas pessoas?

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