quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Respeito ao direito de escolha

A campanha política começou há menos de um mês e já estou cansada dos jingles e propagandas em rádios, televisão e nas ruas. O bombardeio de informação (ou melhor, de tentativas de informação) é tão grande que, para quem é analfabeto político, é impossível realmente escolher seu candidato através do que está sendo mostrado nas propagandas.
Além desse arsenal, os políticos hoje podem contar com mais uma arma na briga pelo voto: a internet. Todo dia recebo cerca de dez e-mails falando desse ou daquele candidato. Alguns trazem “informações verídicas” sobre o passado e outros exaltam as qualidades do político no presente. Interessante que os que trazem observações desabonadoras sobre determinado candidato não contêm as provas sobre o que está escrito. Assim, uma história sem checagem nenhuma é repassada como se fosse verdade absoluta.
Para piorar, na quase totalidade desses e-mails, o final é o mesmo: se eu gosto do meu País, devo repassar e conscientizar as pessoas sobre quem é aquela pessoa. Ou seja, ainda vem a ameaça velada de que não sou patriota. Sempre me pergunto de onde as pessoas recebem esse poder para determinar o quanto gosto ou não do meu País!
Acho interessante que as pessoas que me enviam esse tipo de e-mail não conhecem meu posicionamento político, por uma simples razão: não converso sobre o assunto. Como o voto é secreto, não me vejo na obrigação de revelar a ninguém quem são meus candidatos. Por isso, jamais repasso esse tipo de e-mail. Mal vejo o que está escrito já deleto a mensagem, por achar um desrespeito que a pessoa queira impor a mim a sua visão política, sem sequer saber a minha.
Não discutir política não significa ser alienada. E o problema em falar sobre política é que geralmente a conversa não é pontuada por argumentos racionais e por respeito à opinião do outro: ela é pautada pela certeza de que o “meu candidato” é melhor que o seu. E ponto.
Quando o assunto começa, normalmente me calo. Não perco meu tempo tentando impor minha visão política, porque sei que meu interlocutor não vai me ouvir. Quando já temos nosso posicionamento, dificilmente temos a tendência a mudar de opinião. Então, para que gastar meu tempo em discussões que não vão levar a nada, a não ser a talvez um desgaste desnecessário?
Os eleitores precisam aprender que, assim como temos direito ao voto, também temos direito a escolher nossos candidatos. E tentar enfiar seu posicionamento político “goela abaixo” não é a melhor maneira de conquistar mais um voto. Porque, se você se considera politizado, não pode achar que seu amigo de posicionamento diferente é alienado. Ou você gostaria que tivesse essa opinião a seu respeito?

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Indignação com as coisas certas

Tenho ouvido nas duas últimas semanas convites exaltados de pessoas que querem o boicote total ao filme “Os Mercenários”, de Sylvester Stallone. A despeito de a atriz brasileira Giselle Itié fazer parte do elenco, o motivo da indignação foi um comentário infeliz do ator, ao ser questionado do por que gravar no País: “Lá você pode atirar nas pessoas, explodir coisas e eles dizem ‘obrigado! E aqui está um macaco para você levar para casa’. Não poderíamos ter feito o que fizemos (em outro lugar)”.
Não pretendo assistir ao filme, mas não por indignação com o comentário infeliz do ator, que depois de perceber a polêmica que sua frase havia causado pediu desculpas ao nosso povo. Infelizmente, de certa maneira, concordo com o que Stallone falou: nossa gente, perante os estrangeiros (principalmente americanos), é subserviente demais. Esse posicionamento servil é que tem de mudar.
Um bom exemplo está em nossas universidades. Um estrangeiro pode vir aqui fazer pós-graduação sem falar o português, algo inimaginável na maioria dos países, onde a proeficiência na língua natal é item obrigatório para qualquer especialização. Aqui, o estrangeiro fala inglês ou espanhol, e está ótimo. Alguns professores se preocupam inclusive em traduzir a aula para o aluno, o que, na minha visão, é o cúmulo do absurdo.
Morei fora do Brasil e ninguém se preocupava em me ajudar quando eu não sabia alguma coisa. Aprendi rapidamente a me comunicar porque, ou falava inglês, ou falava inglês. Ninguém tentava falar em português comigo, ou sequer espanhol. Era obrigação minha aprender a língua de onde morava.
Conheço estrangeiros que trabalham aqui em multinacionais há dois ou três anos cujo português limita-se ao básico. Por que isso? Porque, independente de onde estejam, sempre tem alguém para traduzir o que eles precisam. Assim, têm um tradutor disponível a qualquer tempo, sem pagar nada. E ainda acham desagradável que nas lojas, bares e restaurantes, as pessoas não falem inglês ou espanhol para atendê-los!
Gostaria que essa indignação que as pessoas estão sentindo servisse não apenas para um fato isolado, mas para tudo. Que servisse para cobrarmos mais saúde, educação, estradas decentes, menos impostos. Que nos indignássemos realmente com coisas que importam, e não com comentários que em nada vão mudar a nossa vida. Ou melhor, deviam se importar com o comentário: mas para mudar esse comportamento servil que ainda temos perante os estrangeiros. Temos de nos lembrar que eles são iguais a nós: nem mais, nem menos. E darmos a eles o mesmo tratamento que recebemos, sem privilégios ou idolatria. Tratar bem é uma coisa, ser subserviente é outra. Que toda essa indignação sirva também para revermos nosso próprio comportamento.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Amores que se acabam

Essa semana os adoradores de fofocas (me incluo nessa categoria!) acompanharam duas brigas entre casais que ocuparam já muito espaço na mídia, primeiro em função do amor que os uniu, e agora do ódio que os separa. Dado Dolabella foi condenado por ter agredido a ex-namorada Luana Piovani, em 2008, e desabafou em seu twitter, dizendo que a maior sentença tinha sido namorar a atriz. Já Stephany Brito perdeu o direito a ganhar 20% dos proventos do jogador Alexandre Pato, o que lhe daria a “bagatela” de R$ 130 mil mensais, e terá de se contentar, por enquanto, com uma mesada de R$ 5 mil. Nesse caso, a decisão ainda pode ser revertida.
Interessante notar que ambos os casais tiveram seu romance amplamente divulgado pela imprensa. Dado e Luana fizeram inúmeras juras de amor eterno, eram vistos em lugares públicos sempre trocando carícias, e pareciam um casal perfeito. Pato e Stephany casaram-se em uma cerimônia de conto de fadas, com direito a muitos sorrisos na saída da igreja e alegres acenos aos fãs.
Apesar de as cenas de amor entre os dois casais estarem gravadas em fotos e vídeos, o que vemos hoje na imprensa (e imaginem o que pode estar acontecendo fora das vistas do público!) são mostras do mais puro rancor. Dizem que amor e ódio estão muito próximos, e isso parece ser a mais pura verdade quando envolve o fim de um relacionamento.
Também vemos essa situação no dia a dia. Casais que pareciam perdidamente apaixonados de repente tornam-se inimigos mortais. Separações sempre são dolorosas, por mais que aconteçam de comum acordo. É claro que a pessoa rejeitada vai sofrer. Ninguém gosta de ser abandonado por quem jurou amor eterno. Ninguém casa já pensando na separação. As pessoas se unem acreditando que a relação será para sempre. Porém, de repente, tudo acaba.
Vinícius de Morais dizia “que seja eterno enquanto dure”. Quando qualquer relacionamento acaba, o mais comum é notarmos que uma das partes segue a vida, enquanto a outra fica remoendo o que houve. O mais espantoso é que essa pessoa nem percebe que, enquanto está remoendo um relacionamento que acabou, a outra está se abrindo para outro amor.
Já vi mulheres e homens ficarem anos tentando infernizar a vida daquele(a) que foi embora. Ou acreditando que, mesmo o(a) outro(a) já estando em um novo relacionamento, pode haver uma volta. Amor e ódio fazem parte dos sentimentos de todo ser humano. Em igual intensidade, podem ser nossa salvação ou perdição. Ficar idolatrando alguém que se foi é tão doentio quanto querer se vingar a qualquer custo dessa pessoa. Quando um relacionamento acaba, dói. Mas dói muito mais deixar de viver a própria vida, para querer a vida de outra pessoa.