quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Antes só que do que se iludindo

Moramos num País onde mulheres na casa dos 40 anos que não casaram são tachadas de solteironas, mal amadas, ou vistas como pessoas “com problemas”. Acho interessante o conceito de muitos jovens de que, aos 40 anos, se não encontrou um companheiro, azar, pode parar de procurar agora. Estava um dia comentando com uma amiga sobre um homem que havia conhecido e minha sobrinha de 15 anos virou-se espantada e perguntou: “Tia, mas você paquera ainda? Que coisa mais esdrúxula (sim, ela usou essa palavra!)!”.
Na concepção dela, eu estou “velha” para paquerar. Passou dos 35, tem de se resignar a passar o resto da vida sozinha. Não que isso seja um problema, que fique muito claro. Conheço muitas mulheres que optaram pela solteirice e são bem mais resolvidas emocionalmente do que muitas casadas que, a despeito de estarem num péssimo relacionamento, preferem manter a aparência de felicidade. Afinal, “não fiquei para titia”.
Acho interessante esse conceito. Uma mulher que casa duas ou três vezes não tem problemas de relacionamento. “Não deu certo, tem de refazer a vida”. Porém, a mulher que tem relacionamentos estáveis que acabam não dando certo e não oficializam a situação perante a sociedade são problemáticas. Alguma coisa tem de estar errada, afinal, ela não conseguiu um marido!
O fato de talvez ela ter optado por ficar sozinha, ter preferido investir na carreira antes de encontrar um companheiro e ter filhos, enfim, ter decidido que estava melhor sozinha do que mal acompanhada, jamais é levado em conta.
Sei o que estou falando por sentir isso na pele. Muita gente me pergunta quando digo que não casei nem tive filhos: “Nossa, mas por que? Não conseguiu ninguém?”
Consegui, mas pessoas que não se encaixavam em meu estilo de vida. Consegui pessoas que, mesmo eu tendo avisado que jamais teria filhos (por opção) ainda assim acharam que, quando o relacionamento ficasse sério, eu mudaria de ideia. Como isso não acontecia, claro que o namoro acabava. Consegui namorados que não eram aquilo que eu buscava, assim como eu não era o que eles queriam. Acho que, aos 38 anos, tenho o direito de paquerar quem eu quiser e como quiser. Mas o que mais acho importante, acima de tudo, é estar bem mesmo estando sozinha. Porque, para mim, não existe coisa mais triste do que uma mulher achar que está acompanhada, que tem um companheiro, quando na verdade está sozinha na hora das dificuldades.
Namorar, beijar, sair e se divertir é fácil. O difícil é conviver no dia-a-dia. Pode parecer clichê, mas eu ainda acredito que “antes só do que mal acompanhada” é a melhor receita para ser feliz no mundo dos relacionamentos.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Chegando aos 38!

Hoje faço 38 anos. Outro dia estava pensando que não havia feito nada em minha vida... Epa! Pensamento mais tonto... Já morei em 11 cidades, fiz amigos em todas elas, me formei, trabalhei em duas profissões, namorei, pensei em casar, desisti, não quis ter filhos e soube me defender das críticas ao assumir essa posição, tive câncer duas vezes e saí vitoriosa nas duas batalhas, por causa da segunda vez criei um blog, virei exemplo para muita gente, dei entrevistas, ajudo quem me procura, criei outro blog, passei a escrever crônicas e artigos, ganhei muitos admiradores por conta disso, estou planejando um livro, tenho saúde, e me sinto muito bem ao chegar a essa idade. Ufa!!!! Que mais tanto eu queria fazer?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A importância da reputação

O título desse artigo com certeza vai chamar a atenção daqueles que me conhecem. Afinal, uma das minhas filosofias de vida se baseia no seguinte pensamento de Bob Marley: “Preocupe-se mais com a sua consciência do que com sua reputação. Porque sua consciência é o que você é, e a sua reputação é o que os outros pensam de você. E o que os outros pensam, é problema deles”.
Conheço pessoas que não fazem nada sem se preocupar com a repercussão que isso possa ter perante os outros. Não vão a determinado lugar porque “pode pegar mal”, não usam uma roupa mais decotada “porque vou ficar com fama de vulgar”, afirmam que gostam de coisas que nem curtem “porque fica chato eu dizer para o pessoal que na verdade odeio esse programa”. Acabam adotando atitudes que não condizem com suas filosofias de vida, mas se adaptam perfeitamente ao que chamamos de “boa reputação”.
Mas qual a importância da opinião de pessoas que não fazem parte do nosso círculo real de amigos, família, colegas de trabalho? Quando falo em círculo “real”, estou me referindo àqueles que verdadeiramente contam em nossas vidas. Não estou me referindo à opinião daquele vizinho que, a despeito de mal me conhecer, acha que sou uma “solteirona” que vive na farra. Muito menos a daquela tia que sempre tem uma crítica negativa (e muitas vezes venenosa) a fazer sobre qualquer comportamento que eu adote. E menos ainda a daquele colega de trabalho que mal me cumprimenta e sequer sabe direito meu nome.
E noto que perdemos muito tempo em nossas vidas nos preocupando com a nossa reputação perante pessoas que não fazem a menor diferença – enquanto esquecemos de prestar atenção em atitudes que podem nos desmerecer junto àqueles que nos são importantes. Não nos importamos de sermos muitas vezes rudes com um amigo próximo porque ele conhece o nosso jeito, mas deixamos até de dormir se acharmos que fomos minimamente grosseiros com aquela pessoa venenosa que faz parte da nossa convivência. Porque, no fundo, nos preocupamos com qual a imagem que essa pessoa fará da gente para os outros (que muitas vezes nem conhecemos).
Quando decidi adotar o pensamento de Bob Marley, vi que minha vida melhorou muito. Somente me preocupo se o que penso ou faço vai ofender alguém que me é muito importante. Porque, conforme li em algum lugar que não me recordo agora: “Reputação é aquilo que os homens vão falar na sua sepultura. Caráter é aquilo que os anjos falarão de você a Deus”. Definitivamente, a opinião de Deus é a que mais conta para mim.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Realidade distorcida

Essa semana assisti um pequeno pedaço da novela “Viver a Vida”, coisa que raramente faço porque normalmente minha televisão fica ligada em canais pagos onde sou fissurada por seriados. Manoel Carlos já foi muito criticado por ter mantido a tradição das Helenas, pela escolha do eterno galã José Mayer, e por querer colocar na mesma trama tantos problemas que eles acabam se perdendo no meio do caminho.
Pelo pouco que vi a maior falha dessa novela está exatamente na personagem Luciana, que muita gente vem elogiando como um exemplo para que os tetraplégicos vejam que é possível levar uma vida feliz após um acidente como o dela. Revi na memória todos os casos de problemas graves nas histórias do Maneco e a maioria delas tem um ponto em comum: as tragédias superadas com tanta garra ocorrem sempre com os personagens que têm as melhores condições financeiras.
Em “Páginas da Vida” o tema era a síndrome de Down. A médica Helena, que tinha à disposição empregada, babá e boas escolas adota uma criança com o problema. Tudo parecia muito fácil, exceto o preconceito, claro. Não estou aqui dizendo que ter um filho com síndrome de Down traz menos dificuldades para quem tem dinheiro, mas sou o tipo de pessoa que admite que ele ajuda, e muito, a amenizar problemas graves.
Mesmo caso agora da tetraplégica Luciana. O médico que a acompanha só falta ficar 24 horas do dia na casa dela. Tudo bem que há o interesse romântico, mas mesmo assim, é atenção demais. Aliás, aquele hospital deve ser o desejo de todo profissional de saúde: todo mundo bonito, com os jalecos impecáveis, sempre tomando café. As terapeutas são perfeitas. E, claro, para trazer a garota para casa, basta fazer as adaptações arquitetônicas corretas, que tudo está resolvido. Simples!
Será mesmo? Na vida real, quantas pessoas que ficam tetraplégicas, ou mesmo paraplégicas, têm condição de fazer todas as adaptações exigidas para que a casa se torne um local de fácil locomoção? Quantas podem arcar com os custos de fisioterapia todos os dias para recuperar os movimentos? Quantos médicos se envolvem tão profundamente com a pessoa acidentada?
Acho ótimo que as dificuldades dos cadeirantes sejam mostradas. Porém, acho que seria mais eficaz se Maneco mostrasse situações mais plausíveis com a nossa realidade: os convênios que negam sessões de fisioterapia, as dificuldades de se movimentar numa casa não adaptada para cadeirantes, a verdadeira lentidão da recuperação de quem sofre um acidente como o da personagem. A novela deveria refletir a regra, e não a exceção. Assistindo a um capítulo, me veio a sensação de que tudo parecia simples demais para quem está passando por um problema tão sério.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Direitos ocultos

Começa hoje no Estado o pagamento de um dos impostos mais absurdos (pelo menos na minha opinião) existentes no País: o IPVA. Quem tem carro sabe o quanto essa taxa pesa todo início de ano e, por mais que a gente não veja o retorno desse dinheiro, somos coagidos a pagar para podermos ter o nosso licenciamento (outra coisa absurda, ter de obter licença ano a ano para trafegar com meu veículo).
Todos os sites estão com notícias sobre o assunto. Seja sobre valores, descontos, como pagar, todo mundo sabe que hoje é dia de quitar esse imposto. Mas achei uma coisa interessante: em nenhum dos sites que visitei ou jornais que li aparece alguma coisa a respeito de quem tem isenção dessa taxa. Nenhuma linha, nenhuma menção ao fato de que existem pessoas que, como eu, podem conseguir esse benefício, ou melhor, direito dado por lei.
Fiquei pensando nessa omissão. Quando se trata de divulgar um novo imposto, temos uma overdose de informação a respeito do assunto em todas as mídias. Entrevistas com economistas sobre o impacto no orçamento doméstico, onde será investido o dinheiro, quanto o governo vai arrecadar, e mil outras vertentes são abordadas o dia todo, até o início do pagamento do novo tributo.
Por outro lado, quantos sabem que mulheres que sofreram a retirada de gânglios das axilas por causa do câncer de mama têm direito à isenção do IPVA? Eu mesma somente fiquei sabendo quando fiquei doente e, após estar curada, fui atrás de documentação. Quando entrei com o pedido por estar apresentando problemas no braço, fui atendida por um médico que achou “frescura” o que eu tinha, mas concedeu o “benefício” dizendo que não ia contrariar os laudos emitidos pelo meu mastologista e minha fisioterapeuta. Fiquei pensando depois: se eu realmente não tinha direito, como ele afirmou nas entrelinhas, por que assinou a documentação?
E pude comprovar na pele uma coisa mais absurda que tudo nesse País tão cheio de absurdos: quando temos de cumprir um dever, como o pagamento de impostos, não há nenhum obstáculo. Quando temos um direito, temos de passar por todo tipo de empecilho burocrático para obtê-lo.
As leis que nos dão esses direitos são muito claras. Ainda assim, encontramos muitos funcionários que parecem sentir prazer em dificultar a obtenção desses benefícios. Tive de pagar novamente pelos laudos médicos, porque eles foram preenchidos de maneira inadequada, fui obrigada a fazer sete aulas de direção sem a menor necessidade, mas consegui as isenções às quais tenho direito por ter ficado com problemas no braço após minha doença. Deu trabalho, mas valeu a pena. Pena que a imprensa não divulgue tanto esses direitos, mas dedique enorme espaço aos nossos deveres.