segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Espírito de Natal 365 dias



Mais uma vez chegamos ao Natal e, desde o meio de novembro, o que mais vemos em todos os lugares são luzinhas piscando e músicas alusivas à data. Com a proximidade do aniversário do Menino Jesus, também se multiplicam os convites para confraternização e amigos secretos. Parece que o espírito de “somos todos amigos” contagia as pessoas, e a época é ideal para esquecer problemas surgidos ao longo do ano e praticar o famoso perdão ensinado por Jesus Cristo.
Adoro o clima natalino. Fico emocionada em ver a decoração da chácara dos meus pais quando fica pronta, e espero ansiosa a ceia, afinal, é uma das poucas datas do ano em que encontro alguns familiares que não vejo quase nunca. Parece que a correria das nossas vidas impede essa reunião, por isso o final de ano é a data perfeita para rever essas pessoas.
Mas de uns tempos para cá tenho me questionado um pouco a respeito do que se chama de “espírito natalino”. Não conseguimos arrumar tempo o ano inteiro para vermos amigos e familiares – e olha que temos muito feriados para isso! –, mas de repente parece que nossas agendas ficam vazias e conseguimos rever todo mundo.
Também é a época em que mais ouço a palavra “perdão”. Parece que todo mundo espera que dezembro traga um “salvo-conduto” que faça com que todas as atitudes erradas sejam esquecidas, para encerrarmos o ano sem pendências pessoais. O problema, porém, é que muitas vezes o salvo-conduto é entregue a pessoas que, mal passada a virada do ano, já estão novamente adotando comportamentos condenáveis e prejudiciais ao próximo.
Citamos o perdão como ensinamento de Cristo, mas esquecemos que não foi apenas isso que Ele nos transmitiu. Jesus nos disse para amarmos uns aos outros, para não fazermos ao próximo aquilo que não desejamos a nós mesmos. Se gostamos tanto de citar o perdão nessa data, por que esquecemos de falar sobre os outros ensinamentos de Cristo?
Espírito natalino não é gastar muito para enfeitar a casa ou comprar presentes caríssimos. Isso de nada adianta se, dentro do coração, a pessoa ainda estiver com os sentimentos que a acompanharam o ano todo, como ressentimento, mágoa, rancor, inveja. Nunca li em nenhum lugar que Jesus nos ensinou que Natal é apenas o momento comercial. Mas vejo que esse é o sentimento que predomina hoje entre as pessoas.

As luzes piscando nas casas e empresas, vitrines bonitas com presentes atrativos, confraternizações e amigos secretos: nada disso tem o menor valor se, passado o dia 25, seu espírito volta a ser intolerante como foi o ano inteiro. Devemos tentar trazer esse sentimento natalino os 365 dias do ano. Esse, com certeza, seria o maior presente que poderíamos dar a Jesus.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Um exemplo a ser seguido


Estava aproveitando meu último dia de férias, fora da internet e com a televisão desligada quando, ao passar pela sala, minha mãe me disse que Nelson Mandela havia morrido. Num primeiro momento, morrendo de calor e sede, apenas falei algo como “nossa, que pena”, e segui em direção à cozinha pegar água. Enquanto estava “pensando com a porta da geladeira aberta”, me bateu de repente a importância daquela informação e, principalmente, a dimensão dessa perda.
Sou da geração que viu Mandela finalmente ser libertado da prisão, em 11 de fevereiro de 1990, após ter ficado 27 anos preso. Cantei muitas vezes “Mandela Day”, lançada em 1989 pelo Simple Minds, uma homenagem ao líder e um apelo a sua liberdade. Quando morava em Londres, em 1995, um ano após ele ter sido eleito presidente da África do Sul, comprei sua autobiografia “Long Walk to Freedom” (Longa Caminhada Até a Liberdade), cujo material de divulgação recebi há não muito tempo, quando a obra foi lançada (ou relançada) no Brasil. Ao longo das suas quase 800 páginas, Mandela deixa bastante claro que sua luta pelo fim do apartheid e principalmente pela construção de um país melhor, ainda não havia acabado com sua saída da prisão. Muita coisa havia a ser feita, mas “Madiba”, como era carinhosamente chamado em seu país, sabia que tinha o apoio de sua população para fazê-la.
Em um mundo tão cheio de celebridades e tão pobre em ídolos de verdade, a morte de Mandela repercutiu de uma maneira que eu não esperava. Afinal, o líder sul-africano estava com 95 anos, já bastante doente e afastado do mundo político. Não estou desmerecendo toda a sua influência, apenas falando que, como atualmente ídolos são jogadores de futebol e mulheres plastificadas, constatar que as pessoas ainda respeitam a memória e a luta de Mandela me fez acreditar que a humanidade ainda tem salvação.
Claro que houve muito “oba-oba” em cima disso. Pessoas que sequer sabem direito quem foi o estadista postaram mil frases e lamentos nas redes sociais. Celebridades de todo o mundo, aproveitando o momento, quiseram mostrar seu conhecimento sobre o político sul-africano e postaram frases atribuídas a ele – algumas, diga-se de passagem, de outros líderes que também lutaram contra o racismo. 

O mais interessante foi ver algumas pessoas conhecidas por seus posicionamentos extremamente reacionários – do gênero “pobre é tudo vagabundo” – lamentarem a morte de Mandela, esquecendo que a sua luta não se resumia apenas ao preconceito contra a raça negra, mas sim ao preconceito em si, de qualquer tipo e sobre qualquer pessoa. Mandela acreditava em uma sociedade de iguais, onde o respeito seria a base para o futuro e crescimento de todos. Lamentem sim sua morte, mas lembrem-se de seus ensinamentos. Mandela não queria ser uma celebridade, mas sim um homem justo. Façamos, então, justiça a sua memória. 

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Um resgate da minha história


Depois de um ano e dois meses trabalhando bastante, finalmente minhas férias chegaram. A partir desta quarta-feira, fico fora da redação durante 30 dias, dos quais espero voltar renovada para mais 12 meses de trabalho. Aliás, parece que, quanto mais perto estamos de nossas férias, mais sentimos o cansaço do ano acumulado. Por isso, essas quatro semanas sempre são aguardadas ansiosamente por quem está na labuta.
Este ano decidi que precisava fazer um resgate da minha história. Para quem não sabe, ao longo dos meus 41 anos de vida já morei em 11 cidades. Por um desses acasos do destino acabei nascendo em Araranguá, na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, cidade onde vivi até os quatro anos e para onde não vou há quase 20 anos.
No começo de 2013 não sabia para onde iria em minhas férias. Em princípio, a ideia era ir para a Alemanha e Polônia, visitar os campos de concentração nazistas, objetivo momentaneamente deixado de lado, mas que com certeza será atingido no futuro. Depois, como mudei a data de sair para descansar, resolvi fazer algo completamente diferente: visitar a cidade onde nasci.
Parece-me engraçado pensar nisso, porque a grande maioria das pessoas que me conhece não tem a menor ideia de que sou catarinense. Como sempre declaro meu amor eterno a Piracicaba, onde moro atualmente e cidade natal de quase toda a minha família, as pessoas presumem que sou uma “caipiracicabana” legítima, apesar de o sotaque não ser tão pronunciado. Mas sou “barriga verde”, e de repente senti necessidade de rever a terra onde nasci. Da época em que morei lá, conheço poucas pessoas, que costumava visitar em minhas férias escolares. São essas pessoas que quero reencontrar, além de rever os poucos lugares que ainda existem desde que estive lá pela última vez.
De lá sigo para Gramado ver o Natal de Luzes, para depois ir a Quaraí, na divisa do Rio Grande do Sul com o Uruguai. Nessa cidade fronteira, mais uma resgate: o reencontro com minha querida amiga Caren, que conheci quando morei na Bahia, a quem não vejo há 28 anos. O tempo e a distância nunca foram capazes de nos separarem em definitivo. Caren hoje é casada, tem três filhos, e pude acompanhar sua vida através de cartas, pelo telefone, e agora por e-mail e Facebook. Como nossos pais são muito amigos, também temos notícias uma da outra através deles. Também vou reencontrar seus irmãos Miguel e Kelen, que vi muito pequenos e hoje já têm suas famílias.
Prevejo nessa viagem muita emoção e alegria. Rever pessoas queridas, para mim, sempre é maravilhoso. Desde o começo do ano tenho pensando a respeito disso, e decidi que de agora em diante, sempre que puder, irei rever um amigo querido. Caren é a primeira, de uma longa lista de pessoas amadas.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A facilidade da manipulação


Acredito que um dos vídeos mais assistidos no Brasil a semana passada foi o do policial militar que, ao ser ameaçado com uma arma por um assaltante, rapidamente deu dois tiros no rapaz, que não morreu porque as balas não atingiram nenhum órgão vital. A ação, claramente vista como legítima defesa, foi merecedora do apoio da corporação e do governo paulista. O oficial inclusive recebeu, na última sexta-feira, a Láurea de Mérito Pessoal em 1º Grau, o mais alto da corporação, pelo seu ato de bravura.
Como se diz no jargão popular, “contra fatos não há argumentos”. O policial não atirou em alguém indefeso ou sem motivo algum. Por isso, a imagem dele se defendendo foi partilhada milhares e milhares de vezes, em 99% delas com comentários elogiando sua atitude, sendo alguns mais exaltados lamentando que o assaltante não tivesse morrido. Não sou a favor de execuções sumárias, mas entendo o clamor, afinal, hoje vivemos em um estado onde voltar para casa com vida é uma questão de sorte, haja vista a violência que tem dominado São Paulo nos últimos anos.
Mas é claro que, em se tratando de um vídeo de tão grande impacto, logo surgiriam montagens e frases atribuídas aos grupos de Direitos Humanos condenando o policial. A primeira delas, feita por um site de humor, colocou uma foto da ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, com cara de choro, com um texto dizendo que ela havia se comovido com o assaltante, que não era culpa dele aquilo ter acontecido, mas sim da sociedade, e que ela iria inclusive procurar sua família para dar apoio, além de pedir judicialmente que a imagem dele sendo baleado fosse retirada do ar. No dia seguinte, uma fala do deputado estadual Major Olímpio (PDT) denunciava o governador Geraldo Alckmin e a PM, afirmando que o oficial havia sido punido por ter baleado o assaltante.
O que me espantou não foram os absurdos propagados nos dois casos, afinal, montagens de fotos, fatos e frases atribuídas a políticos para denegrir suas reputações são a coisa mais comum nas redes sociais. O que ainda me espanta – e nem sei o porquê – foi ver as pessoas partilhando os dois links como verdadeiros, com a gritaria comum que se vê nos dois casos contra PT e PSDB, como se política fosse um jogo de futebol.
Tive o trabalho de, em todos os links falsos que vi partilhados, colocar os desmentidos e as afirmações verdadeiras. Nem Maria do Rosário nem Alckmin jamais falaram qualquer coisa do gênero sobre o assunto, sendo que a postura de ambos foi a mesma: a ação havia sido legítima. Para minha surpresa, quase ninguém apagou as postagens falsas de suas timelines nem colocou os desmentidos. O que valia era provocar a polêmica. Se os links eram mentira ou verdade, o que importa é propagar aquilo em que eu acredito. O mais espantoso: essas mesmas pessoas se avaliam como “formadoras de opinião”. Para mim, estão bem longe disso, mas muito próximas a “formadoras de mentiras e manipulação”.

domingo, 22 de setembro de 2013

Do mundo nada se leva


Essa semana todos os sites “bombaram” em acessos com a notícia de que o playboy Chiquinho Scarpa iria enterrar seu carro Bentley, avaliado em cerca de R$ 1 milhão, para poder “usufruir” de seu conforto na outra vida. Claro que 99% dos comentários sobre o assunto massacraram a atitude de Scarpa, que foi chamado de todos os nomes possíveis e imagináveis. Eu mesma fiquei indignada com tal atitude, e não me contive nos comentários depreciativos sobre o playboy.
Porém, ao chamar a imprensa na última sexta-feira para o “enterro” do carro, o conde Chiquinho Scarpa surpreendeu a todo mundo com a notícia de que tudo não passava de uma mentira, para chamar a atenção da mídia para o lançamento da Semana Nacional de Doação de Órgãos, que ocorre entre 23 e 29 de setembro.
A atitude de Scarpa realmente conseguiu considerável espaço na mídia. O que foi visto inicialmente como uma loucura e mais um entre tantos atos de esnobismo do conde, tornou-se depois uma das mais bem sucedidas estratégias de marketing para falar sobre um assunto que ainda não é discutido em toda sua amplitude pela sociedade brasileira.
Eu sou doadora de órgãos. Já avisei minha família desse meu desejo, inclusive quero doar minha pele e depois ser cremada. Não vejo sentido em ter um corpo depositado em um local para ser visitado em datas como Dia de Finados e Natal. Aliás, eu mesma raríssimas vezes visito os túmulos de meus familiares ou amigos mortos, porque para mim simplesmente não existe nada em um túmulo além de ossos e restos de roupas. A lembrança e a saudade deles encontram-se em minha memória, não preciso de lápides para reviver os bons momentos que tivemos juntos em vida.
Fiquei pensando que, a despeito de eu ser doadora de órgãos, nem todas as pessoas da minha família são e concordam com minha decisão. Analisando por esse aspecto, não tenho nenhuma garantia de que meu desejo será respeitado caso aconteça algo que me impeça de dizer aos médicos a minha decisão. Claro que já disse que sou doadora, mas conheço muitos casos em que a família simplesmente esqueceu esses desejo ou mesmo não o realizou por não haver nada escrito especificando essa vontade. E aí fica o dito pelo não dito.
Por isso, ao ler sobre a campanha, decidi que preciso urgente fazer algum documento que deixe mais do que comprovado minha. Acredito que muita gente, assim como eu, jamais tenha feito alguma declaração escrita sobre a doação de órgãos, e que depois dependa da família para ter seu desejo cumprido.

Não critico quem não quer doar órgãos, apesar de achar mais racional mesmo uma pessoa enterrar um carro que vale R$ 1 milhão do que órgãos que podem salvas várias vidas. Do mundo nada se leva. Vale uma reflexão sobre a mensagem queremos deixar quando não estivermos mais aqui.  

domingo, 8 de setembro de 2013

A culpa ainda é da mulher


Ivete Sangalo foi mais uma vez assunto em todas as mídias e redes sociais porque, durante um show, pegou o celular de um fã, apagou fotos que ele havia feito de sua calcinha, e ainda por cima lhe deu uma bronca por conta da atitude. Vi manifestações de apoio à cantora, baseadas na premissa de que mesmo a calcinha dela estando à vista ela devia ser respeitada, como críticas a sua atitude, com comentários de que “se ela não queria ser fotografada, que não se exibisse”.
Acho interessante ver que um fato dessa insignificância tenha sido tão divulgado pela mídia. E quando falo mídia não me refiro apenas às publicações e sites de celebridades, mas a todos os grandes órgãos de comunicação do país. Ao mesmo tempo, me choca ver que a mesma mídia que se apressou a defender Ivete Sangalo da “ousadia” de um fã mais afoito, se calar totalmente sobre o caso das duas adolescentes estupradas há pouco mais de um ano por seis – sim, seis! – membros de uma banda chamada New Hit. Além disso, mais quatro homens participaram de maneira indireta do abuso sexual.
Para quem não se lembra, as duas adolescentes, de 16 anos, que entraram no ônibus do grupo para pedir autógrafos, em Ruy Barbosa, Bahia. Elas foram estupradas em turnos enquanto um policial militar, do lado de fora do ônibus, garantia que ninguém interrompesse o ataque sexual. Há mais de um ano os estupradores permanecem impunes, mesmo após todo tipo de averiguação e análises de DNA, que atestam que o sêmen encontrado nas vítimas pertence a seis deles e comprovam a participação dos outros dois. Para deixar claro que eles têm certeza da impunidade, a banda ainda criou uma nova música com uma letra intimidadora e as garotas tiveram de recorrer à proteção policial para terem um pouco de segurança, já que estão sendo ameaçadas de morte por fãs e familiares dos membros do New Hit.
Desde o registro da ocorrência há mais de um ano, o julgamento já foi adiado duas vezes. Na última terça-feira o julgamento teve início e a defesa dos músicos foi novamente vitoriosa em adiá-lo para os próximos dias 17, 18 e 19 desse mês. Mesmo com todo esse absurdo, não vi em quase nenhum lugar qualquer notícia sobre o caso. A mesma mídia que até hoje publica notícias sobre o estupro coletivo da jovem fisioterapeuta que morreu em dezembro, ocorrido na Índia, se cala diante da violência perpetrada contra duas meninas nordestinas.

Pior que esse silêncio é saber que a banda está com a agenda cada vez mais lotada de shows, onde mais garotas correm o risco de serem estupradas caso resolvam pedir um autógrafo. A estratégia da defesa é a mais antiga do mundo: o sexo foi consensual. Como sempre, a culpa do estupro ainda é da mulher. 

domingo, 25 de agosto de 2013

Médicos para quem precisa


A chegada na última sexta-feira dos primeiros médicos estrangeiros ao Brasil foi o ápice de uma polêmica que tomou conta do país há cerca de dois meses, quando o governo federal decidiu que eles podem trabalhar no país principalmente para suprir a demanda das localidades onde não há nenhum profissional para atender a população, número que chega a 701 municípios. Segundo o Ministério da Saúde, até este domingo, 644 médicos chegam ao país, sendo 400 deles cubanos.
Vi todo tipo de argumento contra a vinda desses profissionais, desde que eles serão escravos (nunca vi escravo com casa paga e recebendo salário) até que os cubanos são desatualizados, e também que temos médicos suficientes para atender nossa população, sem precisarmos recorrer a outros países para suprir essa carência.
Acredito que temos mesmo um número de médicos mais do que suficiente para todo o povo brasileiro. O grande problema, que os críticos não conseguem ou não querem entender, é que muitos profissionais simplesmente não querem trabalhar na rede pública e em lugares pobres e distantes. Aliás, muitos até são funcionários públicos e teoricamente deveriam estar em unidades básicas, onde passam apenas para assinar o ponto ou fazem algum “esquema” com os colegas, e depois seguem para seus consultórios, onde atendem apenas pacientes de convênios ou particulares. Já vi gente defender esse tipo de corrupção com o argumento de que “o salário é baixo”. E o profissional acaba ganhando em dobro. De nós, que pagamos impostos e não recebemos o atendimento, e do paciente particular.
Claro que há médicos e médicos no real sentido da palavra. Eu mesma tive muita sorte de, nas duas vezes em que fiquei doente seriamente, ter sido tratada por profissionais que não me olhavam apenas como mais um caso de câncer, mas acima de tudo como um ser humano. Mas esses são casos raros hoje em dia, já que a Medicina se transformou em um grande negócio. Não acho que as pessoas tenham de trabalhar de graça, mas também não concordo que o paciente seja apenas visto como lucro.
O mais interessante é que a maioria das críticas fora das associações médicas, que estão se sentindo ameaçadas, mas não se dispõem a irem atender em regiões carentes, é de pessoas que estão sentadas confortavelmente em casa, sabendo que, se precisarem de um médico, possuem um bom convênio ou então podem pagar uma consulta particular. Assim é muito fácil criticar a vinda os médicos estrangeiros.

Mas quem está na fila, sabendo que minutos podem fazer a diferença entre a vida e a morte, não quer saber se o médico que vai atendê-lo é branco, negro, índio, japonês, brasileiro ou estrangeiro. Ele quer apenas ser atendido dignamente, e ter sua saúde restabelecida. 

sábado, 10 de agosto de 2013

Respeito é via de mão dupla


Está circulando na internet desde a última sexta-feira um vídeo que mostra o deputado federal Marcos Feliciano (PSC-SP) em um voo de Brasília a São Paulo, sentado em sua poltrona em silêncio, enquanto dois homens ficam a sua frente cantando “Robocop Gay” e fazendo provocações. Os dois tentam fazer um tipo de “protesto” dentro do avião contra o parlamentar, mas pelo vídeo é possível perceber que não são seguidos pelos outros passageiros. O tempo todo da provocação, Feliciano fica em silêncio.
Longe de mim defender esse deputado e suas ideias retrógradas e preconceituosas sobre homossexuais e mulheres. Aliás, já até escrevi aqui sobre essa mesma pessoa, deixando bem claro que não concordo com nenhuma de suas colocações absurdas. Mas o vídeo que vi sendo disseminado, com comentários em sua maioria favoráveis à atitude dos dois passageiros, também não me representa, como costumam dizer aqueles que repudiam o parlamentar.
E por que não me representa? Porque sempre acreditei e ainda acredito que respeito é uma via de mão dupla. Feliciano não respeita homossexuais nem mulheres, isso é fato. Cada proposta sua visa desmerecer as conquistas tanto de um como de outro em nossa sociedade, e devemos comemorar que tentativas de volta à Idade Média têm sido derrubadas dentro do Congresso, muito em parte pela pressão que a sociedade tem feito sobre os assuntos. Porém, ficar cantando “Robocop Gay” dentro de um avião, dançando e gritando, não é também a melhor forma de ser respeitado. Se olharmos bem o vídeo, é possível ver que um passageiro se irritou com a gritaria, e a grande maioria preferiu ignorar os manifestantes. Também vi na internet muita gente que como eu, abomina Feliciano, mas que achou a atitude dos dois homens simplesmente inútil em termos de respeito aos homossexuais – além de ter sido totalmente ridícula.
Se fosse o inverso – Feliciano provocando homossexuais – as pessoas iriam divulgar o vídeo e achar sua atitude engraçada ou merecedora de elogios? No mínimo estariam dizendo que era homofobia, se inflamando contra a atitude do deputado, exigindo desculpas e providências legais. Eu mesma, a cada colocação idiota desse parlamentar, costumo me manifestar com algum comentário no Facebook.
E aí chego ao ponto da via de mão dupla: condenamos Feliciano por suas declarações preconceituosas, e aplaudimos duas pessoas que o provocam depreciativamente em um avião? O mesmo respeito que exigimos do deputado temos de exigir das outras pessoas. Mesmo não concordando com absolutamente nada do que Feliciano prega, jamais o iria xingar ou provocar se o encontrasse em um avião. Minha resposta a ele está nas urnas, votando em pessoas que barrem seus projetos absurdos.
Quem quiser ver o vídeo, basta acessar http://www.youtube.com/watch?v=vVr88ROUJL8.

domingo, 28 de julho de 2013

Humildade na prática

A vinda do papa Francisco ao Brasil deixou os católicos do país encantados com sua figura simples, de sorriso fácil, que não hesitou em quebrar protocolos e mostrar gestos de humildade pouco comuns em detentores de títulos de alto grau em qualquer instituição. Diferente de seu antecessor, Bento 16, que quando esteve no país não provocou quase nenhuma comoção, Francisco conseguiu com que até mesmo católicos que estavam afastados da Igreja, como eu, sentissem vontade novamente de participar dela, e de buscar seus melhores ensinamentos.
E a palavra de ordem referente ao papo foi humildade. Em todos os editoriais, matérias na mídia, comentários de especialistas, essa foi a característica de Francisco mais elogiada. E realmente ele se mostrou humilde, em todo momento lembrando que estava sendo recebido pelo país, usando de seu carisma para levar esperança às pessoas, trazendo o que realmente de mais valor devemos ter, que é o amor de Cristo em nossos corações.
E me veio a sensação de que o sentimento da humildade andava há tempos esquecido entre nós. E digo isso por mim mesma, que tenho um lado arrogante forte, que muitas vezes esqueço a felicidade para ter razão, que peco por ter uma personalidade forte que em alguns momentos se sobrepõe ao meu coração que sei ser generoso.
A humildade há muito tempo deixou de ser virtude para ser vista como defeito pela nossa sociedade. Ser humilde, para muita gente, é não se valorizar. Estar sempre correto, passar por cima de tudo e de todos, conquistar seu espaço machucando e prejudicando o próximo, esquecer princípios morais na luta pelos seus objetivos, ser mau caráter, enfim, atitudes que deveriam ser veementemente condenadas pelas pessoas, são atualmente aceitas e vistas como normais, afinal, “todo mundo age assim”. Essa é a justificativa mais usada para quem não se importa com os outros – se eu não agir assim, outro vai agir, então que seja eu a levar vantagem.
Nesse tipo de sociedade a humildade jamais terá seu espaço. Como deixar de lado minhas vaidades pessoais, se assim os outros não poderão ver o que faço? Aceitar suas limitações, saber reconhecer um erro, pedir perdão e, principalmente, perdoar, são atitudes difíceis de tomar em uma sociedade onde vencer e ser o melhor é a tônica, onde conquistar o primeiro lugar é a meta, e onde pensar no próximo é perder tempo e principalmente dinheiro, que se tornou a mola propulsora dos relacionamentos. Não digo aqui que ser pobre e sem sucesso é o principal, mas que agir com humildade também é importante para que nossa vida seja abençoada.
Papa Francisco hoje vai embora e acredito que, para muitas pessoas como eu, já deixou saudades. Que ele volte em breve, para que sua humildade aqueça novamente nossos corações.


domingo, 14 de julho de 2013

Fortalecendo estigmas


As redes sociais e sites essa semana foram tomados por uma avalanche de notícias sobre a atriz Mariana Ruy Barbosa, cuja personagem Nicole, na novela “Amor à Vida”, tem câncer e, por conta disso, iria ficar careca durante o tratamento. A grande discussão que tomou conta das redes e sites era: ela deve ou não ficar careca? Para quem não sabe – eu mesma não sabia – Mariana tem longos cabelos ruivos, que se tornaram “objeto de desejo” de milhares de mulheres em salões de beleza. A atriz chegou, inclusive, a recusar R$ 1 milhão para tingir as madeixas, o que demonstra sua preocupação com esse símbolo de feminilidade tão valorizado pelas mulheres.
Não assisto novela e nem sabia quem era Nicole até essa avalanche de notícias sobre ela cortar ou não o cabelo. Porém, ao ler sobre o assunto e o drama que estavam fazendo sobre o fato, fiquei pasma em ver como o estigma de uma pessoa ficar careca por conta do câncer é extremamente forte em nossa sociedade. Para acabar com a polêmica, o autor da novela, Walcyr Carrasco, anunciou então que ela não vai mais raspar a cabeça, e que terá uma “história linda” na trama.
Poderia falar aqui que a atriz mostrou total falta de profissionalismo agindo assim, afinal, se sabia que sua paciente tinha câncer e iria ficar careca, não podia no meio do caminho mudar de ideia. Mas se ela resolveu ser apenas mais um rostinho bonito entre os globais, e não uma profissional como Carolina Dieckmann – que não hesitou em raspar a cabeça em “Laços de Família”, em uma cena que marcou na televisão brasileira – não é o ponto principal para mim.
O que me deixou incomodada com o assunto foi o fortalecimento do estigma de que a mulher com câncer, se já não bastassem todos os problemas da doença, ainda tem de lidar com a perda dos cabelos, o que mexe bastante com sua autoestima. Milhares de mulheres assistem novela, muitas delas passando pelo câncer nesse momento. Ao invés de ajudá-las a superar esse estigma, o autor preferiu reforçar um preconceito já existente.
Walcyr Carrasco demonstra, com sua atitude, que ficar careca é a pior coisa do mundo. "Belo" exemplo a tantas mulheres que passam por quimioterapia e, diferente de uma novela, não têm a opção de manter seus cabelos. Um total desserviço às mulheres que sofrem com essa doença que já tantos estigmas nos traz! E falo "nos" porque, como ex-paciente de câncer de mama, sei como é duro enfrentar a queda dos cabelos. Claro que não é o principal durante o tratamento, até porque cabelo cresce de novo, mas ainda assim é um baque tremendo, difícil de ser aceito e que nos deixa mais deprimidas ainda quando estamos doentes. Walcyr Carrasco poderia ter feito a diferença, mas decidiu fortalecer um estigma difícil de ser enfrentado. 

P.S.: Essa foto foi tirada dois dias após ter raspado minha cabeça. Mandei a todo mundo dizendo que eu havia ficado uma careca lindona. E havia mesmo!

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Pelo fim da impunidade


Do começo do ano para cá, a cada 15 dias pelo menos – isso quando não semanalmente – somos surpreendidos com um crime que nos choca tanto pela crueldade do delito quanto pela total indiferença do criminoso perante à vida de sua vítima. Se eu fosse citar cada evento brutal que tivemos conhecimento desde o início de 2013, acabaria não escrevendo um artigo, mas um compêndio de incontáveis páginas, tantos são os casos que ocorreram nesse período.
Assim, cito apenas os dois mais chocantes crimes noticiados na última sexta-feira. O primeiro foi a morte do menino de cinco anos, baleado a sangue frio por um dos criminosos que havia invadido sua causa, apenas porque ele estava chorando e porque os R$ 4,5 mil que os ladrões estavam levando era “pouco dinheiro”. O segundo foi o estupro e morte de uma garota de 14 anos, em Colombo, no Paraná. Esse caso me deixou mais chocada do que qualquer outro que eu tenha visto ainda porque, após a garota ter ficado agonizando uma noite toda em um matagal, seus algozes voltaram no dia seguinte, a estupraram novamente e somente então a mataram.
Nos dois casos me vem aquela sensação que tem acometido as pessoas quando eventos absurdos como esses acontecem: a impunidade. Mesmo com os criminosos presos em ambos os casos, é sabido que, devido as nossas leis arcaicas, que datam da década de 1940, eles ficarão pouco tempo na cadeia – isso se não ficarem impunes, dada à quantidade absurda de recursos que permitem que mesmo os bandidos mais cruéis possam responder seus processos em liberdade.
Para piorar ainda mais a situação, quando se clama por punições mais rigorosas, grupos de Direitos Humanos já se manifestam contra, com as alegações mais diversas, mas a principal delas, sempre, é que a culpa dos crimes é da nossa sociedade e suas diferenças sociais. Aliás, a culpa sempre é de alguém: da sociedade, de uma família mal estruturada, da falta de estudo, de condições financeiras difíceis, menos do próprio criminoso.
Claro que educação e condições financeiras podem ajudar uma pessoa a evitar o caminho do crime, mas precisamos reconhecer casos em que nada disso resolve, porque se fosse assim, Suzane Von Richthofen jamais teria planejado a morte dos próprios pais. Aliás, acho às vezes esse argumento um tapa na cara de milhões de jovens que, a despeito de viverem em lares fragmentados e trabalharem em empregos cujos salários são aviltantes, ainda assim levantam todos os dias cedo, perdem horas do dia em transporte público, comem mal, mas estudam e buscam uma vida melhor sem roubarem ou matarem ninguém.

Gritamos por preços menores de transporte e o fim da corrupção. Está na hora de gritarmos também por punições mais rígidas em nossa lei. Quem não quer ser preso não comete crime. Simples assim. O que não podemos mais é deixar que crimes sejam cometidos, com a quase certeza de impunidade por parte de quem os comete.

domingo, 16 de junho de 2013

O caos chegou ao interior


O título acima dá a impressão que vou falar sobre algum confronto entre manifestantes e a polícia, como temos visto em São Paulo nos últimos dias, cujas principais vias têm se transformado em verdadeiros campos de guerra que sempre vemos em países do Oriente Médio – e aos quais achamos “normais”. Mas não é esse o caos ao qual me refiro. Falo do caos do trânsito, que virou um verdadeiro martírio para quem quer sair de casa e ir apenas a um mercado fazer uma compra.
Já ouvi muita gente dizer que tenho sorte por morar no interior, onde a vida é mais tranquila do que na capital paulista. Sou obrigada a concordar que essa visão idílica em parte ainda é real. Mas eu disse “em parte”. Hoje, vemos muitos problemas de cidades grandes chegando ao interior, ocupando seu espaço e dando sinais de que vão se instalar definitivamente, sem perspectivas – pelo menos em curto prazo – de serem resolvidos. O trânsito é um deles.
Moro em Piracicaba, como muitos dos leitores já sabem. A cidade hoje tem meio milhão de habitantes e, há pouco mais de cinco anos, tinha um trânsito relativamente tranquilo. De lá para cá essa situação mudou bastante. Posso dizer isso com propriedade porque, mesmo passando pouco tempo na cidade, já que na maior parte do dia estou em Americana, nas poucas vezes em que tive de enfrentar o trânsito em horários nem tão de pico assim vi que estamos chegando ao caos.
Estou escrevendo esse artigo na sexta-feira, dia 14, por volta das 11h30. Acabei de voltar da rua. Fui a um mercado comprar alguns produtos, longe do centro, mas em um bairro bastante populoso. Para chegar ao mercado – que não fica muito longe da minha casa – levei quase 20 minutos, porque o trânsito estava parado, com caminhões transitando em velocidade reduzida. Parece pouco, mas se considerarmos que levo meia hora da minha casa para chegar ao jornal onde trabalho, depois de percorrer exatos 35 quilômetros, é muito, demais até. Para ir ao mercado gastei quase o tempo que levo para trabalhar.
Além de muitos carros, vejo que um dos grandes problemas é a educação do motorista, que parece achar que a rua é somente dele, esquecendo que existem outros motoristas também na mesma via. Chegando ao mercado, ao tentar estacionar, dei a seta indicando que iria entrar na vaga. Como a grande maioria das pessoas acho que sequer sabe para que serve a seta no carro, o homem que estava atrás de mim simplesmente ignorou meu sinal, parando seu veículo bem próximo ao meu e me impedindo de fazer a baliza. Assim, somando-se ao enorme número de carros circulando, às poucas disponíveis para estacionar, ainda temos de lidar com a falta de educação total de motoristas que acham que a rua é propriedade particular, e não de todos. Definitivamente, o caos da cidade grande está chegando ao interior.


domingo, 2 de junho de 2013

Grande amor à profissão



Desde que me entendo por gente lembro-me de dizer que seria jornalista. Mais interessante ainda, lembro-me que quando as pessoas diziam “então você vai trabalhar na Globo”, sempre respondia que não, que eu iria escrever, porque era a coisa que mais gostava de fazer, depois de ler. Sempre amei a escrita, e quando pequena minhas redações eram sempre elogiadas pelos professores pela criatividade e coesão.
Aos oito anos, minha professora escreveu em uma prova minha que quando crescesse eu seria uma grande escritora. Alguns anos atrás tive a grata surpresa de encontrar essa mesma professora em um restaurante, e senti-me orgulhosa em contar a ela que, apesar de eu não ser uma grande escritora, havia me tornado jornalista, e meu trabalho era escrever. Ao lembrar o que  havia escrito em minha prova – a qual guardo até hoje como um tesouro – ela se emocionou ao perceber que havia visto meu potencial, mesmo eu sendo tão criança na época.
E ser jornalista parecia o caminho mais do que natural para mim. Para não dizer que nunca pensei em ser outra coisa, prestei vestibular também para Direito, mas já sabendo que, se passasse em Jornalismo, essa seria a profissão escolhida. Mesmo sabendo que a carreira é difícil, que muitas vezes temos dificuldades inimagináveis a quem está de fora dela, ainda assim decidi que eu iria ser feliz fazendo aquilo que gostava.
Claro que, em alguns momentos da minha trajetória profissional, que atinge a maioridade esse ano, tive vontade de desistir de tudo e fazer outra coisa. Cheguei a dar aulas de inglês por 12 anos em escolas de idiomas, a maior parte desse tempo trabalhando também como jornalista. E em 2004, após uma demissão, desisti da carreira. Abandonei o Jornalismo e passei a me dedicar integralmente às aulas, chegando até mesmo a ser coordenadora de uma escola. Estava feliz com o que fazia, mas faltava algo. E esse algo era escrever, apurar, buscar a verdade, sentir a movimentação de uma redação, esse ambiente que se torna silencioso nas vozes, mas barulhento nos teclados na hora do fechamento, cheio de personalidades diferentes, com uma coisa em comum: dar o melhor de si em um texto.
Assim, em setembro de 2006, após dois anos e meio da minha decisão de desistir da carreira, voltei a trabalhar na área, quando entrei no Liberal. De lá para cá, passei por quase todas as editorias do jornal, e há dois anos e meio estou em Cultura, a que sempre mais gostei, sem sombra de dúvida. E se um dia tive dúvidas de que não devia ter voltado, essa semana um e-mail de uma menina do quinto ano, elogiando um artigo meu de junho de 2011, me fez ter a certeza de que estou na profissão certa, e que tenho um grande amor por ela. 

domingo, 19 de maio de 2013

Escolha difícil e salvadora



O assunto da semana em quase todos os órgãos de comunicação foi a mastectomia dupla a qual a atriz Angelina Jolie se submeteu há três meses, após descobrir, através de um exame genético, que tinha 87% de chances de desenvolver um câncer de mama. Com a cirurgia, ela não eliminou totalmente as possibilidades de vir a ter a doença, mas reduziu o risco para apenas 5%. Em todas as mídias, vi matérias e artigos sobre o assunto, a grande maioria com base científica e explicando corretamente o procedimento, enquanto alguns buscaram apenas o sensacionalismo barato para desmerecer a atitude dela em revelar o procedimento.
Como mulher e ex-paciente do câncer de mama por duas vezes, acho que tenho um bom conhecimento sobre o assunto. Tirar um seio, estando doente, foi uma das decisões mais difíceis que tive de tomar em minha vida. Ou melhor, nem foi decisão, porque os médicos já haviam dito que essa era minha única opção em ficar curada. Mas eu tinha o direito de não fazer a mastectomia e continuar o tratamento com radioterapia e quimioterapia. Claro que quis garantir o máximo possível minha cura, e não hesitei em fazer a cirurgia. Foi triste? Muito, e só quem passa por isso entende o sofrimento e as consequências de uma cirurgia desse porte, que não se limitam ao aspecto físico.
Em muitos dos textos que li e comentários sobre a decisão de Angelina, a tônica era a mesma: um sentimento de despeito e até mesmo uma total falta de respeito com a atriz, apenas por ela ser rica, famosa e bonita. Frases como “ela tem dinheiro, coloca os seios que quiser depois”, “sendo rica do jeito que é, grande coisa, se fosse uma pobretona do SUS (Sistema Único de Saúde) aí sim eu ia respeitar a atitude”, “tirou para poder colocar silicone” (essa foi a mais ignorante de todas!), mostram claramente que, por ser quem é, Angelina é uma pessoa que não pode ter problemas e, se os têm, não pode sofrer por ter dinheiro.
A decisão da atriz em tornar público seu procedimento – que inclusive já é feito no Brasil – mostra para mim que, como qualquer mortal, Angelina tem seus problemas, seus sofrimentos, suas decisões difíceis. O fato de ter dinheiro não a torna imune às dificuldades da vida. A atriz viu sua mãe morrer aos 56 anos por causa de um câncer. Por que então não se prevenir disso? Com certeza, evitar 100% ela não pode, ou melhor, ninguém pode. Mas não nos prevenimos todos os dias contra mil coisas, mesmo sabendo que outras podem acontecer? Ou vamos de encontro ao risco, ou invés de evitá-lo quando conhecemos as chances de algo ruim acontecer? Angelina evitou seu risco. Se vai ficar doente, somente o futuro dirá. Mas ela, em um primeiro momento, fez a sua parte. Se fosse eu, com certeza, teria feito a mesma coisa.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Mostrando as garras



Finalmente, menos de dois meses após ter assumido a tão desejada Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, o deputado federal e pastor Marcos Feliciano (PSC-SP), aproveitou a véspera do feriado de 1º de maio para mostrar suas afiadas garras e incluir na próxima reunião do colegiado, nesta quarta-feira, a discussão sobre o projeto de lei polêmico que permite a psicólogos tratarem a homossexualidade como uma doença, a chamada “cura gay”.
Apesar de já ter declarado vários vezes não ser homofóbico, a inclusão do citado projeto mostra claramente a que veio o pastor: impor seus dogmas religiosos a um Estado que, pelo menos em nossa Constituição, é laico. Para muitas religiões – inclusive o catolicismo – a homossexualidade é vista como um pecado, passível das punições de Deus. Já ouvi muitas pessoas dizerem que “amam o homossexual, mas não suas ações”. Ou seja, ser gay não é a raiz do problema. O não aceitável, como sempre, é a prática do sexo entre dois homens ou duas mulheres.
Não vou entrar aqui no mérito se isso é pecado ou não. Se for, cada um tem a sua consciência e se acerta com Deus depois, quando morrer, ou antes, se houver o Juízo Final. Porém, independente de ser um evento ofensivo em termos religiosos, ser homossexual no Brasil não é crime. Sendo assim, a orientação sexual das pessoas não deve dizer respeito ao Estado, a não ser nos casos em que elas precisem de proteção.
E aí entram os outros dois projetos que serão discutidos: a criminalização da discriminação contra homossexuais e heterossexuais. Sou heterossexual “assumida” e, nos meus 41 anos de vida, nunca me senti discriminada por isso. Já me senti sim discriminada por ser acima do peso, por não ter casado, por ter optado em não ser mãe, até mesmo por ter tido câncer de mama. Mas nunca me senti discriminada por ser heterossexual. Muito pelo contrário, minha “orientação sexual” nunca foi motivo de piadas ou questionamentos. Concluindo, não acredito que haja necessidade de um projeto que “criminalize” essa suposta discriminação, uma vez que ela não existe.
Mas já vi muitos amigos homossexuais serem discriminados em ambientes de trabalho, de lazer, até mesmo dentro da própria família. Já vi olhares de soslaio, piadas ofensivas, quando não a própria agressão física, pura e simplesmente porque algum imbecil havia acreditado, em sua “macheza”, que “homem tem de ser homem, e parar com sem-vergonhice”. Apenas para se ter uma ideia: em 2012, 338 homossexuais foram mortos no Brasil, contra 266 em 2011, registrando um aumento de 21% de casos no período, ou uma morte a cada 26 horas. Sendo assim, só não vê quem não quer – ou é homofóbico – que o projeto de criminalização da homofobia está mais do que na hora de ser aprovado e colocado em prática no Brasil.

domingo, 21 de abril de 2013

Saudade sem fim



Hoje faz um ano que, contra todas as possibilidades existentes pelas leis naturais da vida, meu tio Valdir se foi, levado por um acidente de carro causado por uma jovem que perdeu o controle de seu veículo em uma manhã bastante chuvosa. Em cinco segundos duas vidas se acabaram em uma pista única perto da entrada de Piracicaba. Ironicamente meu tio, que viajava o Brasil todo, em estradas de péssima conservação, morreu quase em sua casa, pouco depois de ter avisado sua mulher que estava chegando para o almoço.
Valdir era aquele homem que chamamos “do bem”. Trabalhador, alegre, sempre disposto a ajudar, um marido e pai maravilhoso, um tio daqueles que a gente sempre gostava de ter por perto, com um coração maior do que ele. Muitas vezes, quando escutava alguém descrever dessa maneira uma pessoa que havia morrido, costumava pensar intimamente que “morreu, virou santo”. Quando meu tio morreu eu vi que existem pessoas assim, que deixam por onde passam uma imagem de bem, e cujos defeitos são completamente esquecidos perante as qualidades que se destacam em qualquer situação.
Tinha visto meu tio cerca de 15 dias antes de sua morte, em um churrasco na casa do meu irmão mais velho. Ficamos conversando bastante tempo, tomando uma cerveja gelada, falando bobagem, dando risada, aproveitando o tempo gostoso de um domingo cujos detalhes ainda estão em minha memória. Depois disso, só tive notícias dele ao atender ao telefone e ficar sabendo da sua morte. Era um sábado chuvoso, um dia muito triste, que só dava vontade de ficar na cama. Após aquele telefonema, a sensação de perda era inexplicável. Como aceitar que uma pessoa tão cheia de vida, com tanta disposição, que alegrava todas as reuniões familiares, não estaria mais presente em nenhum de nossos encontros?
Como meu tio viajava bastante, nos primeiros meses a impressão que eu tinha era que ele estava fora, mas que na próxima festa ou churrasco iria encontrá-lo, e que ele iria me oferecer uma cervejinha gelada, ou fazer uma caipirinha para as mulheres da família. Mas aí houve o primeiro encontro, o segundo, o terceiro, chegou o Natal e o Ano Novo e então senti que ele realmente havia partido. Nunca mais aquele sorriso, nunca mais as brincadeiras, nunca mais o abraço sempre carinhoso com que me recebia em qualquer lugar.
E agora, ao lembrar um ano do dia em que ele se foi, a saudade parece que é maior ainda do que no começo, talvez por eu saber que nunca verei seu fim. Lembro que no velório eu pensei que só queria lembrar as coisas boas dele – quando me toquei de que não havia coisas ruins a serem rememoradas. Se existe consolo para essa perda, é sabe que meu tio foi uma pessoa que fez a diferença, e que somente deixou coisas boas a toda minha família. 

domingo, 7 de abril de 2013

Sexo, o assunto do momento



A semana que passou foi marcada pela polêmica das declarações das cantoras Joelma, que comparou homossexuais a drogados, e Daniela Mercury, que em uma rede social postou fotos suas e de sua namorada, assumindo publicamente um romance que, segundo consta sem sites de fofocas, teria sido iniciado no Carnaval. As reações, como esperado, se dividiram entre os que apoiam a loira famosa pelo visual extravagante, e a baiana que, a despeito de cantar um ritmo que eu não suporto, pode ser considerada a primeira artista de sucesso do axé.
O debate sobre a homossexualidade no Brasil tem tomado proporções nunca antes vistas desde que o pastor Marcos Feliciano (PSC-SP), considerado racista e homofóbico, assumiu a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Está mais do que claro que o pastor não quer abrir mão de seu cargo para barrar os direitos conquistados por essas minorias, a seu ver pecadores. Assim, em um estado laico, um religioso consegue um posto importante para tentar impor seus dogmas religiosos a toda uma sociedade.
Na sexta-feira, aproveitando que o tema está em alta, a cantora gospel Perlla anunciou publicamente seu apoio ao pastor, indo contra a grande maioria dos artistas, que repudiam Feliciano como presidente da Comissão. Diga-se de passagem, a hoje convertida Perlla era cantora de funk e vivia saindo em sites e revistas de subcelebridades em roupas e poses provocativas. Direito total dela ser vulgar num dia e religiosa no outro, mas é inaceitável que agora se ache a guardiã da moral e dos bons costumes.
O que me chama a atenção nisso tudo é como as pessoas, em pleno século 21, com tanta coisa grave acontecendo, em um mundo tão conturbado e cheio de violência como o nosso, ainda tenham como principal preocupação querer determinar a vida sexual dos outros. Ou melhor, determinar a vida sexual das mulheres e dos homossexuais, porque aos homens tudo é sempre permitido e até mesmo estimulado, mesmo que o comportamento seja completamente reprovável do ponto de vista da “família” que essas pessoas tanto defendem.
A mim pouco importa se uma mulher sai com um, dois, dez ou duzentos homens em sua vida. Isso, em minha concepção, é um problema apenas dela. Desde que não esteja prejudicando ninguém, que não esteja cometendo nenhum crime, quem sou eu para julgar com quem ela vai ou deixa de ir para a cama?
Da mesma maneira, não é de minha conta a vida sexual dos meus amigos. Aliás, tenho excelentes amigos homossexuais, pessoas maravilhosas, honestas, trabalhadoras, que respeitam suas famílias, e que são respeitadas onde quer que estejam, independente de sua orientação sexual.
Já escutei muita gente falar que o maior problema é que homossexuais são promíscuos e nunca constituem família. E um homem que a cada dia está com uma mulher é o que? Um exemplo a ser seguido? Por que dos homens não é cobrado um comportamento de fidelidade e a promiscuidade é vista como normal, e quando se trata de homossexuais passa a ser um problema grave?
Está na hora de nos preocuparmos mais com problemas verdadeiramente importantes, e menos em tirar direitos adquiridos de quem sofre preconceito em nossa sociedade. Pastor Feliciano e suas ideias retrógradas e absurdas não me representam. Se as pessoas pensassem mais em sociedade e paz, e menos em vigiar a vida sexual dos outros, talvez o mundo fosse um lugar melhor.


domingo, 24 de março de 2013

Quando a “fé” é excessiva



Sou uma pessoa que tenho uma enorme fé em Deus, rezo todos os dias a Ele agradecendo pelas coisas boas que me acontecem – e são muitas! –, assim como também tenho meus momentos de fraqueza, quando peço a Ele que me ilumine para encontrar a melhor saída para a resolução de problemas que me aparecem pelo caminho.
Mas, a despeito de ter muita fé, não frequento nenhuma igreja ou templo. Sou católica por formação, tendo sido bastante influenciada por meus avós, que eram o que hoje consideramos carismáticos, pessoas a quem os ensinamentos do catolicismo não podiam ser desrespeitados de maneira nenhuma. Como não concordo com alguns dogmas da Igreja Católica, acabei me afastando das missas dominicais e grupo de oração que costumava frequentar, mas mantive minha fé em Deus inabalável.
A busca por uma divindade hoje está mais forte do que nunca. Basta olharmos os dados de crescimento dos fiéis, principalmente nas igrejas evangélicas, muitas delas recém-criadas e que já conquistaram um número considerável de membros, a despeito dos poucos anos de existência. Acho positivo quando uma pessoa encontra seu lugar em qualquer religião, principalmente quando ela encontra aquilo que todos mais buscamos, que é a paz de espírito.
Porém, o que tenho notado é o crescimento desenfreado de um fenômeno já conhecido como “Teologia da Prosperidade”, ou seja, eu dou dinheiro à igreja, que ele será multiplicado. Muitos dos que se chamam de “fiéis” buscam a religião apenas para que a vida financeira seja resolvida, esquecendo-se que os valores religiosos são muito maiores que apenas dinheiro. Sim, Deus quer que sejamos prósperos. Mas, acima de tudo, Deus quer que tenhamos fé e pratiquemos o bem.
Interessante também notar que muitos desses novos fiéis, depois que “encontram Deus” (ou Jesus), se acham com todo direito de julgar o modo de vida daqueles que não seguem os seus conceitos de moral. Vi muita gente julgando os jovens da boate Kiss, dizendo que “se estivessem em casa ou na igreja” a tragédia não teria acontecido, como se fatalidades fossem um castigo de Deus, e não, muitas vezes, consequências de descasos de autoridades, tão comum em nosso país. As pessoas se esquecem que acidentes, fatalidades ou tragédias podem acontecer em qualquer lugar, até mesmo dentro de casa. Se esse tipo de pensamento absurdo fosse correto, o teto da igreja Renascer não teria desabado na cabeça dos fiéis, e nem aquele ônibus de visitantes à Aparecida do Norte teria se acidentado, matando todo mundo carbonizado. E onde está escrito na Bíblia que se divertir, sem prejudicar os outros, merece algum "castigo divino"?
Engraçado também ver que essas pessoas acham que apenas os membros da igreja a qual pertencem estão salvos, esquecendo-se que existem pelo menos mil diferentes religiões pelo mundo. Acredito ser muita arrogância ter a certeza absoluta de que apenas um determinado grupo está sendo olhado por Deus, como se o restante vivesse em pecado mortal. Esse “excesso de fé” é que me decepciona. Meu Deus é de amor e aceitação, e não de vingança ou exclusão. Em minha concepção, Ele ouve todas as línguas e religiões, sem distinção, porque, acima de tudo, somos todos seus filhos. 

terça-feira, 12 de março de 2013

Nada a celebrar






Na última sexta-feira foi comemorado em todo o mundo o Dia Internacional da Mulher. Em um mundo ideal, essa data nem deveria existir, afinal, homens e mulheres estariam no mesmo patamar, e ambos teriam seus direitos respeitados de maneira igualitária. Mas a data existe, é celebrada e, a despeito de eu achar que não muda minha vida em absolutamente nada, não vou negar que as mensagens recebidas deixaram meu dia mais feliz.
Porém, este ano não vi motivo nenhum para comemorar o Dia Internacional da Mulher. O final do julgamento do goleiro Bruno na madrugada da sexta-feira, para mim, mostrou que ainda estamos a anos-luz de distância de termos as mulheres vistas como seres humanos que merecem ter todos os seus direitos respeitados. Apesar de ter mandado matar e esquartejar sua amante Eliza Samudio, apenas para fugir da obrigação de pagar pensão ao filho que teve com ela, Bruno foi beneficiado pela lei brasileira, que mais parece um atrativo a quem comete crimes. A pena imposta ao atleta, que foi condenado a 22 anos de prisão, mas pode estar fora da cadeia daqui a menos de três anos, é um tapa na cara das mulheres brasileiras, e um presente de bandeja aos homens que ainda acham que somos seres inferiores, que podemos ser usadas e abusadas quando eles decidem, e que podem nos jogar fora quando não nos querem mais.
A penalidade para mim é ridícula, e posso dizer sem medo que Eliza foi vítima  três vezes: da punição ínfima; do goleiro, que não quis assumir a paternidade de seu filho e, amparado na certeza da quase total impunidade, arquitetou um plano para matá-la digno dos melhores episódios das séries policiais; e da nossa sociedade ainda machista, que apenas a enxerga como uma garota de programa e atriz de filme pornô golpista que quis arrancar dinheiro de um esportista que, como foi amplamente divulgado, usa as mulheres a sua volta de todas as formas possíveis, e era assíduo frequentador de orgias. Mas ele pode, claro, afinal, é homem...
Gostaria muito que os grupos de Direitos Humanos, que tanto se posicionam e movimentam exigindo providências quando um bandido é torturado ou morto, se posicionassem também contra essa penalidade ridícula imposta pela lei brasileira, e que se movessem para que as punições a crimes tão hediondos como esse fossem mais severas, que não houvesse o direito ao regime semiaberto, e que nosso Código Penal deixasse de ser um convite para que os homens continuem matando como se as mulheres fossem seus objetos de consumo que, quando não servem mais, podem e devem ser descartados.
Por tudo isso, só tive muito a lamentar sexta-feira. Meu espírito não era de comemoração, era de luto.


domingo, 24 de fevereiro de 2013

Dois anos e nada a celebrar



Cerca de 60 pessoas se juntaram ontem em frente ao Teatro Municipal Lulu Benencase para “comemorarem” os dois anos de fechamento do local. Apesar do número dos manifestantes não parecer significativo, ele demonstra um sentimento que está aos poucos tomando conta de parte da população americanense, para quem a cultura é importante: a revolta por ver um espaço, que deveria ser referência estadual, com as obras aparentemente abandonadas.
Desde o dia 4 de agosto de 2012, quando o secretário de Cultura e Turismo, José Vicente De Nardo bradou em alto e bom som que o Teatro seria reaberto em 90 dias, a reportagem do LIBERAL vem sistematicamente acompanhando o andamento das obras. Naquela ocasião, cerca de 150 membros da classe artística americanense haviam se reunido em frente ao local para pedir que as obras fossem finalizadas. Coincidência ou não, a Prefeitura resolveu, no mesmo dia do protesto, dar início à reforma e, com suas máquinas, fazer barulho e atrapalhar a manifestação organizada.
De lá para cá, já se passaram mais de seis meses, e a situação do Teatro continua praticamente a mesma. A diferença é que em agosto foi anunciado um investimento de R$ 800 mil para finalizar as melhorias, e nesta semana que passou um novo valor de R$ 867 mil também foi divulgado como verba para terminar a reforma. Somando, temos R$ 1,687 milhão que, na teoria, servirão para que o Lulu Benencase volte a funcionar. O maior problema agora – já que pelo visto o dinheiro não é um deles – é a pergunta que não quer calar: quando essa obra finalmente será acabada?
Para uma pessoa que trabalha cotidianamente com cultura, é extremamente frustrante constatar que uma cidade de mais de 200 mil habitantes não tenha um espaço público adequado às manifestações artísticas locais. Além de ficar frustrada, chego a ter a famosa sensação de “vergonha alheia”, porque diariamente tenho de recorrer a atrações de cidades vizinhas para preencher as páginas do caderno que edito. Não que eu não ache importante divulgue a arte regional, mas sim porque gostaria de oferecer aos meus leitores, pelo menos no final de semana, uma programação local rica, que o fizesse ter vontade de ir ao teatro ver uma boa peça, um show musical, uma apresentação de dança, sem precisar pegar uma estrada para matar sua sede de cultura.
Por isso admiro tanto os grupos locais que mantêm seus espaços sem apoio do poder público, sempre oferecendo atrações aos americanenses de bom nível. E se não o fazem mais é porque, estruturalmente, não possuem mais condições, mas tenho certeza de que o fariam se pudessem. Eles são o maior exemplo de que o americanense tem sede de conhecimento e atrações diversificadas. Infelizmente, a “torneira” da administração, tão pródiga para outros setores, parece estar eternamente fechada a cultura. 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O poder de um desejo





Quando esse texto for publicado, eu terei realizado mais um sonho da minha vida: desfilar em uma escola de samba. Por sorte, terei desfilado pela Gaviões da Fiel, escola do meu time do coração. Por mais sorte ainda, terei ido com pessoas muito queridas que tinham a mesma vontade que a minha e que, por aqueles destinos que só Deus sabe, também não haviam ainda realizado essa vontade. Talvez nós tivéssemos que realizar esse sonho juntos mesmo, para que ele fosse ainda mais prazeroso a todos.
Pode parecer bobagem um sonho ser desfilar em uma escola de samba. Mas, como já disse muitas vezes ao longo da vida, cada um tem seu próprio sonho, e ele ser importante ou não é uma questão muito individual. E realizar algo sonhado traz uma sensação gratificante, deixando aquele gosto de “enfim eu consegui”. E depois desse gostinho vem a vontade de realizar outro sonho, e nessa busca por sempre conseguirmos objetivos diferentes em nossas vidas que reside toda a beleza da nossa existência.
Já imbuída desse espírito feliz por fazer algo que eu queria muito, ontem resolvi assistir ao vídeo que está fazendo muito sucesso nas redes sociais, com a campanha “Vem Sean Penn”. Confesso que nos primeiros dias em que vi as pessoas partilhando o vídeo não tive curiosidade, até porque a internet hoje em dia é pródiga em virais de todos os tipos, alguns muito interessantes e engraçados, e outros sem o menor sentido, mas que ainda assim fazem muito sucesso.
Mas ontem eu li uma nota sobre o vídeo que me chamou a atenção, e resolvi acessá-lo. O filme tem apenas cinco minutos e conta a história de Ariel, um jovem com síndrome de Down que protagonizou o longa nacional “Colegas”, a ser lançado em março nos cinemas. Ariel desde pequeno gostou de atuar, e fez cursos de teatro. Já adulto, seu desejo foi realizado ao ser chamado para o filme, e ainda por cima no papel de protagonista.
Mas o grande sonho do jovem, que surgiu após sua vivência no cinema, é fazer com que o ator Sean Penn venha assistir a estreia ao seu lado. Um desejo difícil de ser realizado, mas é o desejo dele. Assim, um grupo de amigos fez o vídeo com a participação de muita gente famosa pedindo para que Sean Penn venha ao Brasil e assim realize o sonho de Ariel. Antes de terminar de assistir ao filme não consegui conter as lágrimas, e imagino que muita gente deve ter se emocionado como eu ao ouvir o jovem pedindo ao ator que esteja aqui ao lado dele na estreia de seu longa.
Pode ser que isso seja uma campanha publicitária para atrair atenção sobre o filme. Se for, com certeza está dando certo. Mas, se não for, que Ariel consiga realizar seu sonho, assim como eu tenho conseguido realizar os meus.
Em tempo: o desfile foi maravilhoso, a emoção é indescritível! E se alguém quiser partilhar o vídeo do Ariel, o link é http://www.youtube.com/watch?v=bHNTPdy0CIM. Espero que ele possa sentir a mesma emoção que eu senti ontem!

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Uma relação bem delicada


Sou formada há quase 18 anos e, durante todo esse período, trabalhei brevemente em assessoria de imprensa de sindicatos. Assim, meu conhecimento do trabalho de um assessor é muito mais baseado na teoria aprendida na universidade e no convívio com colegas que atuam nesse segmento do que em experiência. E não tenho a visão de muitos colegas que já vi dizerem que “assessor de imprensa não é jornalista”. Para mim é tão jornalista quanto eu, apenas com uma especialização diferente da minha, algo comum em todas as profissões.
De acordo com o manual da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) publicado em 2007, “um trabalho continuado de assessoria de imprensa permitirá à empresa criar um vínculo de confiança com os veículos de comunicação e sedimentar sua imagem de forma positiva na sociedade”.
A definição, no papel, é bem bonita, principalmente na parte que se refere ao vínculo de confiança. Porém, o que mais podemos notar, principalmente quando tratamos de assessorias de prefeituras, câmaras, deputados, enfim, quando entramos no ramo da política, é que esse vínculo não é construído de maneira igualitária entre todos os órgãos de comunicação. Não se confunda aqui a relação de um jornalista com sua fonte. O bom jornalista consegue furos, que os outros colegas correm atrás para minimizar o estrago. Mas mesmo o melhor jornalista pode sofrer furos constantemente quando tem seu direito de questionar sempre ignorado pelo assessor, que sequer se dá ao trabalho de responder as suas perguntas.
Já vivi situações assim, e vi também assessores se aproveitarem das minhas perguntas sobre um determinado assunto para elaborarem releases e enviarem a toda a imprensa, jogando para todos os colegas um assunto que apenas eu estava investigando. Também já vi comigo e outros colegas o assessor dificultar de todas as maneiras o contato com meu entrevistado, ao invés de facilitar, blindando-o contra possíveis perguntas constrangedoras (para ele) que possamos a vir fazer.
Uma vez liguei a uma assessora para fazer algumas perguntas a um secretário, e ela começou a me responder as questões, como se fosse uma especialista no assunto. Tive de lembrá-la que seu papel era o de me colocar em contato com o entrevistado, e não me passar as respostas que eu queria dele. Muito a contragosto, ela atendeu meu pedido, para depois reclamar que eu havia sido um tanto quanto “desagradável” com as perguntas. Não é meu papel agradar o entrevistado para que ele dê respostas adequadas, mas sim questioná-lo sobre o assunto em pauta para obter as melhores respostas possíveis.
O grande erro que eu vejo é que esses assessores se arvoram do papel de defensores incontestáveis de seus assessorados. Agem como se o assessorado fosse uma vítima dos “jornalistas perseguidores”, atrapalham nosso trabalho, demoram a dar respostas (quando dão), enfim, esquecem que seu papel é o de facilitar essa comunicação, para que o tal “vínculo de confiança” seja criado. E esquecem que, em política, a garantia de emprego é o tempo do mandato. Depois, quando perdem o cargo, correm a pedir emprego nos jornais que tanto desprezaram. Parece que apagam da memória o descaso com que trataram os colegas das redações. Vale lembrar que nós não nos esquecemos.

 

domingo, 13 de janeiro de 2013

Cansada de passividade



Essa semana que passou foi marcada pelas constantes notícias a respeito da jovem Daniela Oliveira, de 25 anos, grávida de nove meses, baleada na cabeça quando chegava em casa em uma tentativa de assalto frustrada no último dia 8. No dia 11, mesmo dia em que a jovem foi enterrada, a Polícia prendeu o suspeito de ter baleado a mulher, que era um foragido da Justiça.

Além da total banalidade do crime – afinal, que perigo pode representar uma mulher grávida para um bandido armado? – o que mais me chocou, incomodou e chegou a me fazer ficar com ódio dessa violência foi a total passividade da nossa sociedade.

Estamos a cada dia mais reféns de uma violência que não tem fim, e não fazemos absolutamente nada para mudar esse quadro. Não nos movimentamos, não fazemos passeatas, não exigimos de nossos representantes mudanças urgentes e necessárias em nosso Código Penal, que mais parece um estímulo aos criminosos, porque há tantos atenuantes para os delitos que eles se sentem à vontade para fazer o que querem, sabendo que a possibilidade de uma punição efetiva é muito remota.

Nos últimos dias foi possível ver vários casos de crimes absurdos que nos chocaram num primeiro momento, e no segundo já foram esquecidos. O jovem morto a facadas no Guarujá por causa de R$ 7 em uma conta de restaurante e o casal de Anápolis que sofreu um atentado à bomba e está em estado grave no hospital são outros exemplos que deveriam fazer com que as pessoas começassem a exigir mais segurança, em primeiro lugar, e punição real para os criminosos.

O que mais me choca é ver que, se fosse um animal que tivesse sido morto, as redes sociais estariam abarrotadas de fotos dos suspeitos, com pedidos desesperados para que eles fossem presos e, se possível, jamais saíssem da cadeia. Na sexta-feira pela manhã foi divulgado o retrato falado do suspeito de ter atirado na jovem grávida. Assim que vi a notícia publiquei em meu perfil do Facebook, pedindo para que as pessoas partilhassem e com isso a foto fosse o mais amplamente possível vista. Para minha decepção, ninguém partilhou a foto. No mesmo dia, já estava até cansada de ver a foto de um cachorro perdido, que as pessoas postavam pedindo urgência para que os donos fossem encontrados. Lembrei também quando o cachorro Lobo foi arrastado em Piracicaba em 2011, e a reação das pessoas, que colocavam a foto de seu dono quase todos os dias nas redes sociais, exigindo sua punição.

Que tipo de sociedade é essa em que vivemos que a violência contra um animal é mais importante do que a violência contra um ser humano? Na minha concepção, violência é violência, seja ela contra criança, mulher, idoso, homem, homossexual e animal. O que não dá para entender é por que quando um animal é machucado ou morto as pessoas se mobilizam tanto, e quando uma mulher é morta o silêncio é total. Ou eu estou errada, ou os valores estão mudados. Realmente espero que a primeira opção seja a correta.