terça-feira, 12 de março de 2013

Nada a celebrar






Na última sexta-feira foi comemorado em todo o mundo o Dia Internacional da Mulher. Em um mundo ideal, essa data nem deveria existir, afinal, homens e mulheres estariam no mesmo patamar, e ambos teriam seus direitos respeitados de maneira igualitária. Mas a data existe, é celebrada e, a despeito de eu achar que não muda minha vida em absolutamente nada, não vou negar que as mensagens recebidas deixaram meu dia mais feliz.
Porém, este ano não vi motivo nenhum para comemorar o Dia Internacional da Mulher. O final do julgamento do goleiro Bruno na madrugada da sexta-feira, para mim, mostrou que ainda estamos a anos-luz de distância de termos as mulheres vistas como seres humanos que merecem ter todos os seus direitos respeitados. Apesar de ter mandado matar e esquartejar sua amante Eliza Samudio, apenas para fugir da obrigação de pagar pensão ao filho que teve com ela, Bruno foi beneficiado pela lei brasileira, que mais parece um atrativo a quem comete crimes. A pena imposta ao atleta, que foi condenado a 22 anos de prisão, mas pode estar fora da cadeia daqui a menos de três anos, é um tapa na cara das mulheres brasileiras, e um presente de bandeja aos homens que ainda acham que somos seres inferiores, que podemos ser usadas e abusadas quando eles decidem, e que podem nos jogar fora quando não nos querem mais.
A penalidade para mim é ridícula, e posso dizer sem medo que Eliza foi vítima  três vezes: da punição ínfima; do goleiro, que não quis assumir a paternidade de seu filho e, amparado na certeza da quase total impunidade, arquitetou um plano para matá-la digno dos melhores episódios das séries policiais; e da nossa sociedade ainda machista, que apenas a enxerga como uma garota de programa e atriz de filme pornô golpista que quis arrancar dinheiro de um esportista que, como foi amplamente divulgado, usa as mulheres a sua volta de todas as formas possíveis, e era assíduo frequentador de orgias. Mas ele pode, claro, afinal, é homem...
Gostaria muito que os grupos de Direitos Humanos, que tanto se posicionam e movimentam exigindo providências quando um bandido é torturado ou morto, se posicionassem também contra essa penalidade ridícula imposta pela lei brasileira, e que se movessem para que as punições a crimes tão hediondos como esse fossem mais severas, que não houvesse o direito ao regime semiaberto, e que nosso Código Penal deixasse de ser um convite para que os homens continuem matando como se as mulheres fossem seus objetos de consumo que, quando não servem mais, podem e devem ser descartados.
Por tudo isso, só tive muito a lamentar sexta-feira. Meu espírito não era de comemoração, era de luto.


Um comentário:

Neide Lomba disse...

Concordo com tudo Andrea, é uma pena que as mulheres do mundo, não só do Brasil, ainda não se deram conta de quanto ainda precisa ser conquistado!