Na última sexta-feira foi comemorado em todo o mundo o Dia
Internacional da Mulher. Em um mundo ideal, essa data nem deveria existir,
afinal, homens e mulheres estariam no mesmo patamar, e ambos teriam seus
direitos respeitados de maneira igualitária. Mas a data existe, é celebrada e,
a despeito de eu achar que não muda minha vida em absolutamente nada, não vou
negar que as mensagens recebidas deixaram meu dia mais feliz.
Porém, este ano não vi motivo nenhum para comemorar o Dia Internacional
da Mulher. O final do julgamento do goleiro Bruno na madrugada da sexta-feira,
para mim, mostrou que ainda estamos a anos-luz de distância de termos as
mulheres vistas como seres humanos que merecem ter todos os seus direitos
respeitados. Apesar de ter mandado matar e esquartejar sua amante Eliza
Samudio, apenas para fugir da obrigação de pagar pensão ao filho que teve com
ela, Bruno foi beneficiado pela lei brasileira, que mais parece um atrativo a
quem comete crimes. A pena imposta ao atleta, que foi condenado a 22 anos de
prisão, mas pode estar fora da cadeia daqui a menos de três anos, é um tapa na
cara das mulheres brasileiras, e um presente de bandeja aos homens que ainda
acham que somos seres inferiores, que podemos ser usadas e abusadas quando eles
decidem, e que podem nos jogar fora quando não nos querem mais.
A penalidade para mim é ridícula, e posso dizer sem medo que Eliza foi
vítima três vezes: da punição ínfima; do
goleiro, que não quis assumir a paternidade de seu filho e, amparado na certeza
da quase total impunidade, arquitetou um plano para matá-la digno dos melhores
episódios das séries policiais; e da nossa sociedade ainda machista, que apenas
a enxerga como uma garota de programa e atriz de filme pornô golpista que quis
arrancar dinheiro de um esportista que, como foi amplamente divulgado, usa as
mulheres a sua volta de todas as formas possíveis, e era assíduo frequentador
de orgias. Mas ele pode, claro, afinal, é homem...
Gostaria muito que os grupos de Direitos Humanos, que tanto se
posicionam e movimentam exigindo providências quando um bandido é torturado ou
morto, se posicionassem também contra essa penalidade ridícula imposta pela lei
brasileira, e que se movessem para que as punições a crimes tão hediondos como
esse fossem mais severas, que não houvesse o direito ao regime semiaberto, e
que nosso Código Penal deixasse de ser um convite para que os homens continuem
matando como se as mulheres fossem seus objetos de consumo que, quando não
servem mais, podem e devem ser descartados.
Por tudo isso, só tive muito a lamentar sexta-feira. Meu espírito não era de comemoração, era de luto.
Por tudo isso, só tive muito a lamentar sexta-feira. Meu espírito não era de comemoração, era de luto.
Um comentário:
Concordo com tudo Andrea, é uma pena que as mulheres do mundo, não só do Brasil, ainda não se deram conta de quanto ainda precisa ser conquistado!
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