Essa semana todos os sites “bombaram” em acessos com a notícia de que o
playboy Chiquinho Scarpa iria enterrar seu carro Bentley, avaliado em cerca de
R$ 1 milhão, para poder “usufruir” de seu conforto na outra vida. Claro que 99%
dos comentários sobre o assunto massacraram a atitude de Scarpa, que foi
chamado de todos os nomes possíveis e imagináveis. Eu mesma fiquei indignada
com tal atitude, e não me contive nos comentários depreciativos sobre o
playboy.
Porém, ao chamar a imprensa na última sexta-feira para o “enterro” do
carro, o conde Chiquinho Scarpa surpreendeu a todo mundo com a notícia de que
tudo não passava de uma mentira, para chamar a atenção da mídia para o
lançamento da Semana Nacional de Doação de Órgãos, que ocorre entre 23 e 29 de
setembro.
A atitude de Scarpa realmente conseguiu considerável espaço na mídia. O
que foi visto inicialmente como uma loucura e mais um entre tantos atos de
esnobismo do conde, tornou-se depois uma das mais bem sucedidas estratégias de
marketing para falar sobre um assunto que ainda não é discutido em toda sua
amplitude pela sociedade brasileira.
Eu sou doadora de órgãos. Já avisei minha família desse meu desejo,
inclusive quero doar minha pele e depois ser cremada. Não vejo sentido em ter
um corpo depositado em um local para ser visitado em datas como Dia de Finados
e Natal. Aliás, eu mesma raríssimas vezes visito os túmulos de meus familiares
ou amigos mortos, porque para mim simplesmente não existe nada em um túmulo
além de ossos e restos de roupas. A lembrança e a saudade deles encontram-se em
minha memória, não preciso de lápides para reviver os bons momentos que tivemos
juntos em vida.
Fiquei pensando que, a despeito de eu ser doadora de órgãos, nem todas
as pessoas da minha família são e concordam com minha decisão. Analisando por
esse aspecto, não tenho nenhuma garantia de que meu desejo será respeitado caso
aconteça algo que me impeça de dizer aos médicos a minha decisão. Claro que já
disse que sou doadora, mas conheço muitos casos em que a família simplesmente
esqueceu esses desejo ou mesmo não o realizou por não haver nada escrito
especificando essa vontade. E aí fica o dito pelo não dito.
Por isso, ao ler sobre a campanha, decidi que preciso urgente fazer
algum documento que deixe mais do que comprovado minha. Acredito que muita
gente, assim como eu, jamais tenha feito alguma declaração escrita sobre a
doação de órgãos, e que depois dependa da família para ter seu desejo cumprido.
Não critico quem não quer doar órgãos, apesar de achar mais racional
mesmo uma pessoa enterrar um carro que vale R$ 1 milhão do que órgãos que podem
salvas várias vidas. Do mundo nada se leva. Vale uma reflexão sobre a mensagem
queremos deixar quando não estivermos mais aqui.
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