domingo, 3 de fevereiro de 2013

Uma relação bem delicada


Sou formada há quase 18 anos e, durante todo esse período, trabalhei brevemente em assessoria de imprensa de sindicatos. Assim, meu conhecimento do trabalho de um assessor é muito mais baseado na teoria aprendida na universidade e no convívio com colegas que atuam nesse segmento do que em experiência. E não tenho a visão de muitos colegas que já vi dizerem que “assessor de imprensa não é jornalista”. Para mim é tão jornalista quanto eu, apenas com uma especialização diferente da minha, algo comum em todas as profissões.
De acordo com o manual da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) publicado em 2007, “um trabalho continuado de assessoria de imprensa permitirá à empresa criar um vínculo de confiança com os veículos de comunicação e sedimentar sua imagem de forma positiva na sociedade”.
A definição, no papel, é bem bonita, principalmente na parte que se refere ao vínculo de confiança. Porém, o que mais podemos notar, principalmente quando tratamos de assessorias de prefeituras, câmaras, deputados, enfim, quando entramos no ramo da política, é que esse vínculo não é construído de maneira igualitária entre todos os órgãos de comunicação. Não se confunda aqui a relação de um jornalista com sua fonte. O bom jornalista consegue furos, que os outros colegas correm atrás para minimizar o estrago. Mas mesmo o melhor jornalista pode sofrer furos constantemente quando tem seu direito de questionar sempre ignorado pelo assessor, que sequer se dá ao trabalho de responder as suas perguntas.
Já vivi situações assim, e vi também assessores se aproveitarem das minhas perguntas sobre um determinado assunto para elaborarem releases e enviarem a toda a imprensa, jogando para todos os colegas um assunto que apenas eu estava investigando. Também já vi comigo e outros colegas o assessor dificultar de todas as maneiras o contato com meu entrevistado, ao invés de facilitar, blindando-o contra possíveis perguntas constrangedoras (para ele) que possamos a vir fazer.
Uma vez liguei a uma assessora para fazer algumas perguntas a um secretário, e ela começou a me responder as questões, como se fosse uma especialista no assunto. Tive de lembrá-la que seu papel era o de me colocar em contato com o entrevistado, e não me passar as respostas que eu queria dele. Muito a contragosto, ela atendeu meu pedido, para depois reclamar que eu havia sido um tanto quanto “desagradável” com as perguntas. Não é meu papel agradar o entrevistado para que ele dê respostas adequadas, mas sim questioná-lo sobre o assunto em pauta para obter as melhores respostas possíveis.
O grande erro que eu vejo é que esses assessores se arvoram do papel de defensores incontestáveis de seus assessorados. Agem como se o assessorado fosse uma vítima dos “jornalistas perseguidores”, atrapalham nosso trabalho, demoram a dar respostas (quando dão), enfim, esquecem que seu papel é o de facilitar essa comunicação, para que o tal “vínculo de confiança” seja criado. E esquecem que, em política, a garantia de emprego é o tempo do mandato. Depois, quando perdem o cargo, correm a pedir emprego nos jornais que tanto desprezaram. Parece que apagam da memória o descaso com que trataram os colegas das redações. Vale lembrar que nós não nos esquecemos.

 

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