Ivete Sangalo foi mais uma vez assunto em todas as mídias e redes
sociais porque, durante um show, pegou o celular de um fã, apagou fotos que ele
havia feito de sua calcinha, e ainda por cima lhe deu uma bronca por conta da
atitude. Vi manifestações de apoio à cantora, baseadas na premissa de que mesmo
a calcinha dela estando à vista ela devia ser respeitada, como críticas a sua
atitude, com comentários de que “se ela não queria ser fotografada, que não se
exibisse”.
Acho interessante ver que um fato dessa insignificância tenha sido tão
divulgado pela mídia. E quando falo mídia não me refiro apenas às publicações e
sites de celebridades, mas a todos os grandes órgãos de comunicação do país. Ao
mesmo tempo, me choca ver que a mesma mídia que se apressou a defender Ivete
Sangalo da “ousadia” de um fã mais afoito, se calar totalmente sobre o caso das
duas adolescentes estupradas há pouco mais de um ano por seis – sim, seis! –
membros de uma banda chamada New Hit. Além disso, mais quatro homens
participaram de maneira indireta do abuso sexual.
Para quem não se lembra, as duas adolescentes, de 16 anos, que entraram
no ônibus do grupo para pedir autógrafos, em Ruy Barbosa, Bahia. Elas foram
estupradas em turnos enquanto um policial militar, do lado de fora do ônibus,
garantia que ninguém interrompesse o ataque sexual. Há mais de um ano os
estupradores permanecem impunes, mesmo após todo tipo de averiguação e análises
de DNA, que atestam que o sêmen encontrado nas vítimas pertence a seis deles e
comprovam a participação dos outros dois. Para deixar claro que eles têm
certeza da impunidade, a banda ainda criou uma nova música com uma letra
intimidadora e as garotas tiveram de recorrer à proteção policial para terem um
pouco de segurança, já que estão sendo ameaçadas de morte por fãs e familiares
dos membros do New Hit.
Desde o registro da ocorrência há mais de um ano, o julgamento já foi
adiado duas vezes. Na última terça-feira o julgamento teve início e a defesa
dos músicos foi novamente vitoriosa em adiá-lo para os próximos dias 17, 18 e
19 desse mês. Mesmo com todo esse absurdo, não vi em quase nenhum lugar
qualquer notícia sobre o caso. A mesma mídia que até hoje publica notícias
sobre o estupro coletivo da jovem fisioterapeuta que morreu em dezembro,
ocorrido na Índia, se cala diante da violência perpetrada contra duas meninas
nordestinas.
Pior que esse silêncio é saber que a banda está com a agenda cada vez
mais lotada de shows, onde mais garotas correm o risco de serem estupradas caso
resolvam pedir um autógrafo. A estratégia da defesa é a mais antiga do mundo: o
sexo foi consensual. Como sempre, a culpa do estupro ainda é da mulher.
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