segunda-feira, 6 de maio de 2013

Mostrando as garras



Finalmente, menos de dois meses após ter assumido a tão desejada Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, o deputado federal e pastor Marcos Feliciano (PSC-SP), aproveitou a véspera do feriado de 1º de maio para mostrar suas afiadas garras e incluir na próxima reunião do colegiado, nesta quarta-feira, a discussão sobre o projeto de lei polêmico que permite a psicólogos tratarem a homossexualidade como uma doença, a chamada “cura gay”.
Apesar de já ter declarado vários vezes não ser homofóbico, a inclusão do citado projeto mostra claramente a que veio o pastor: impor seus dogmas religiosos a um Estado que, pelo menos em nossa Constituição, é laico. Para muitas religiões – inclusive o catolicismo – a homossexualidade é vista como um pecado, passível das punições de Deus. Já ouvi muitas pessoas dizerem que “amam o homossexual, mas não suas ações”. Ou seja, ser gay não é a raiz do problema. O não aceitável, como sempre, é a prática do sexo entre dois homens ou duas mulheres.
Não vou entrar aqui no mérito se isso é pecado ou não. Se for, cada um tem a sua consciência e se acerta com Deus depois, quando morrer, ou antes, se houver o Juízo Final. Porém, independente de ser um evento ofensivo em termos religiosos, ser homossexual no Brasil não é crime. Sendo assim, a orientação sexual das pessoas não deve dizer respeito ao Estado, a não ser nos casos em que elas precisem de proteção.
E aí entram os outros dois projetos que serão discutidos: a criminalização da discriminação contra homossexuais e heterossexuais. Sou heterossexual “assumida” e, nos meus 41 anos de vida, nunca me senti discriminada por isso. Já me senti sim discriminada por ser acima do peso, por não ter casado, por ter optado em não ser mãe, até mesmo por ter tido câncer de mama. Mas nunca me senti discriminada por ser heterossexual. Muito pelo contrário, minha “orientação sexual” nunca foi motivo de piadas ou questionamentos. Concluindo, não acredito que haja necessidade de um projeto que “criminalize” essa suposta discriminação, uma vez que ela não existe.
Mas já vi muitos amigos homossexuais serem discriminados em ambientes de trabalho, de lazer, até mesmo dentro da própria família. Já vi olhares de soslaio, piadas ofensivas, quando não a própria agressão física, pura e simplesmente porque algum imbecil havia acreditado, em sua “macheza”, que “homem tem de ser homem, e parar com sem-vergonhice”. Apenas para se ter uma ideia: em 2012, 338 homossexuais foram mortos no Brasil, contra 266 em 2011, registrando um aumento de 21% de casos no período, ou uma morte a cada 26 horas. Sendo assim, só não vê quem não quer – ou é homofóbico – que o projeto de criminalização da homofobia está mais do que na hora de ser aprovado e colocado em prática no Brasil.

2 comentários:

Anônimo disse...

Torço para que meu filho de 6 anos venha a conhecer um mundo de pessoas mais justas e boas de coração. Filho, aliás, que já sabe o que é gay e, mesmo assim, com sua idade inocente os trata com muito carinho, longe da homofobia! Adorei seu blog e seus textos.
Parabéns!!!!
Fabi

Paulo Esgalha disse...

Vergonha!