Estava aproveitando meu último dia de férias, fora da internet e com a
televisão desligada quando, ao passar pela sala, minha mãe me disse que Nelson
Mandela havia morrido. Num primeiro momento, morrendo de calor e sede, apenas
falei algo como “nossa, que pena”, e segui em direção à cozinha pegar água.
Enquanto estava “pensando com a porta da geladeira aberta”, me bateu de repente
a importância daquela informação e, principalmente, a dimensão dessa perda.
Sou da geração que viu Mandela finalmente ser libertado da prisão, em
11 de fevereiro de 1990, após ter ficado 27 anos preso. Cantei muitas vezes
“Mandela Day”, lançada em 1989 pelo Simple Minds, uma homenagem ao líder e um
apelo a sua liberdade. Quando morava em Londres, em 1995, um ano após ele ter
sido eleito presidente da África do Sul, comprei sua autobiografia “Long Walk
to Freedom” (Longa Caminhada Até a Liberdade), cujo material de divulgação
recebi há não muito tempo, quando a obra foi lançada (ou relançada) no Brasil.
Ao longo das suas quase 800 páginas, Mandela deixa bastante claro que sua luta
pelo fim do apartheid e principalmente pela construção de um país melhor, ainda
não havia acabado com sua saída da prisão. Muita coisa havia a ser feita, mas
“Madiba”, como era carinhosamente chamado em seu país, sabia que tinha o apoio
de sua população para fazê-la.
Em um mundo tão cheio de celebridades e tão pobre em ídolos de verdade,
a morte de Mandela repercutiu de uma maneira que eu não esperava. Afinal, o
líder sul-africano estava com 95 anos, já bastante doente e afastado do mundo
político. Não estou desmerecendo toda a sua influência, apenas falando que,
como atualmente ídolos são jogadores de futebol e mulheres plastificadas,
constatar que as pessoas ainda respeitam a memória e a luta de Mandela me fez
acreditar que a humanidade ainda tem salvação.
Claro que houve muito “oba-oba” em cima disso. Pessoas que sequer sabem
direito quem foi o estadista postaram mil frases e lamentos nas redes sociais.
Celebridades de todo o mundo, aproveitando o momento, quiseram mostrar seu
conhecimento sobre o político sul-africano e postaram frases atribuídas a ele –
algumas, diga-se de passagem, de outros líderes que também lutaram contra o
racismo.
O mais interessante foi ver algumas pessoas conhecidas por seus
posicionamentos extremamente reacionários – do gênero “pobre é tudo vagabundo”
– lamentarem a morte de Mandela, esquecendo que a sua luta não se resumia
apenas ao preconceito contra a raça negra, mas sim ao preconceito em si, de
qualquer tipo e sobre qualquer pessoa. Mandela acreditava em uma sociedade de
iguais, onde o respeito seria a base para o futuro e crescimento de todos. Lamentem
sim sua morte, mas lembrem-se de seus ensinamentos. Mandela não queria ser uma
celebridade, mas sim um homem justo. Façamos, então, justiça a sua memória.
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