quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Pelo direito de chorar

Certas coisas que temos de fazer em nossa vida nos fazem sofrer e, por mais que desejemos não fazê-las, elas são uma obrigação que não podemos deixar de lado. Uma dessas obrigações que tenho e me fazem sofrer demais é, a cada três meses, passar por uma bateria de exames para controle de câncer. Assim, hoje terei de ir a dois laboratórios e depois ficar algumas horas esperando o resultado.
Essa rotina faz parte da minha vida há oito anos, quando estive doente pela primeira vez. Por mais que eu saiba, com o otimismo que é minha característica principal, que estou bem, que os resultados serão ótimos, sempre tenho medo. Medo do exame de sangue (para quem não sabe, tenho fobia de agulha). Medo de que o resultado venha diferente do que eu imagino. Medo de estar doente de novo. Afinal, quem passa duas vezes por uma doença grave, sabe o quanto isso é difícil.
Raramente demonstro o quanto isso me afeta. Quem passou pelo que passei entende o que sinto. E, por incrível que pareça, me sinto “culpada” por ter medo. Parece que, como sempre mantive a cabeça erguida durante o tempo em que estive realmente doente, é vergonhoso agora ter medo de fazer os exames que comprovam que me continuo curada.
Em muitos momentos de nossa vida nos sentimos assim. Demonstrar medo, tristeza, chorar, mostrar os sentimentos, hoje em dia, é sinal de fraqueza. Temos de ser fortes o tempo todo. Se perdermos o emprego, não podemos nos dar ao luxo de efetivamente lamentar o que houve, e sentimos necessidade de mostrar a todo mundo que, por mais chata que a demissão tenha sido, ela acabou sendo “muito melhor do que ficar naquele emprego”.
Se levarmos um fora, ou se o casamento acaba, nada de choro. Vejo amigas dizendo que “não vou dar o gosto de ele saber que sofri”. Não estou dizendo que as pessoas devam ficar apregoando a todo canto seu sofrimento, mas também não adianta nada ficar se fazendo de forte, como se nada estivesse acontecendo. Nenhum dos dois extremos faz bem.
Quando estive doente, raramente me permiti chorar, mesmo sabendo que ninguém me censuraria, afinal, eu estava numa situação muito difícil. E hoje, quando me pego chorando por causa dos exames, sempre escuto que não devo chorar. Sei que as pessoas falam isso para o meu bem, mas imagino quantas vezes não engolimos nosso choro porque alguém nos diz que devemos ser fortes. Devemos sim... mas também podemos chorar. Lágrimas não são sinal de fraqueza: são de sentimentos, são provas de que somos humanos.

Nenhum comentário: