quinta-feira, 29 de julho de 2010

Você gosta de ficar esperando?

Sou uma pessoa que tem muitas manias. Alguns colegas de trabalho, como Carlos Ventura, volta e meia tiram sarro da minha “mania” de almoçar no horário. Outros dizem que pareço velha, que tenho de comer sempre na mesma hora, mas esse é um hábito meu, até porque tomo café muito cedo. Aliás, na redação já virou rotina: quando chega meio-dia, começo a chamar todo mundo para almoçar. As brincadeiras sempre surgem, de maneira sadia e com respeito.
Uma “mania” (eu prefiro chamar de hábito) que tenho e não é valorizada no Brasil é a pontualidade. Procuro ser ao máximo uma pessoa pontual. Se vou atrasar, sempre ligo avisando. Acho um enorme desrespeito fazer com que a pessoa com quem marquei um compromisso seja obrigada a me esperar. E, óbvio, detesto ter de esperar.
Mas ainda me espanto quando ouço clichês do gênero “todo mundo atrasa”. Discordo totalmente dessa frase. Nem todo mundo atrasa. Conheço pessoas que são muito mais pontuais do que eu, que procuram estar no horário combinado de qualquer maneira e que, quando não o fazem, isso ocorre apenas porque algum imprevisto muito grave aconteceu.
Morei em Londres um ano e a famosa pontualidade britânica era algo que me encantava. Quando tomava o metrô, sempre conferia se ele chegava mesmo no horário que estava no visor – e chegava. Achava interessante que às vezes o horário era quebrado – 11h23, por exemplo – e o metrô estava ali quando o ponteiro chegava na hora estipulada.
Tive um professor na faculdade que começava a aula às 7h30 em ponto, estivesse sol ou chovendo. Morava em Londrina, e o campus fica num bairro distante do centro. Se você entrasse na sala depois que ele havia dito seu nome na chamada, azar, porque a falta já havia sido dada. Aquela falta significava cinco aulas, e não adiantava chorar nem implorar. Lembro-me de um dia em que estava chovendo muito e apenas uns quatro alunos haviam chegado. Ele começou a chamada normalmente e eu protestei, dizendo que com certeza a chuva havia feito a maioria se atrasar. Ouvi a seguinte resposta: “Do mesmo jeito que você e seus colegas estão aqui, o restante da classe poderia estar. A dificuldade de ônibus é igual para todos”.
Concordo com ele. Quando temos interesse, somos mais do que pontuais. Mas essa mentalidade de que todo mundo atrasa acaba prevalecendo, e já virou lugar comum largar o outro esperando, sem se preocupar se isso vai acarretar mais transtornos à pessoa. Claro que a rigidez da pontualidade se refere principalmente a compromissos formais. Um fim de semana, por exemplo, não precisa ser regido tão fielmente pelo relógio. Mas isso não significa largar seus amigos esperando duas horas depois do combinado. Nesse caso, acredito que a paciência da maioria das pessoas se acaba. Ou você gostar de ficar esperando?

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