quinta-feira, 22 de julho de 2010

Preconceito ignorado e aceito

Ontem li uma notícia na internet que me deixou estarrecida: um deputado alemão, em entrevista, sugeriu que os gordos deveriam pagar um imposto para compensar os gastos de saúde resultantes de sua excessiva carga corporal. Segundo ele, é perfeitamente razoável que quem tem voluntariamente uma vida pouco saudável deve assumir a responsabilidade financeira da mesma.
Acredito que muita gente vá concordar com esse ponto de vista. Mas vamos então ampliar a ideia: quem fuma, bebe, pratica esportes radicais e come porcaria (mesmo sendo magro), também tem de pagar mais impostos. Assim como quem tem doenças congênitas ou histórico de problemas como diabetes ou cardíacos entre os membros da família. Afinal, todas essas pessoas podem trazer mais custo ao Estado e aos planos de saúde.
Sempre fui uma gordinha assumida. Nunca tive grandes problemas em estar acima do peso. Depois que tive câncer engordei bastante, e tenho consciência de que preciso emagrecer o que ganhei durante o período da doença. Apesar disso, tenho taxas de colesterol e glicemia que fazem inveja a muita gente magra que convive comigo. Ainda assim, se morasse na Alemanha, correria o risco de pagar imposto a mais por gostar de comer.
A sociedade estabeleceu muitos pontos “politicamente corretos”. Não podemos mais fazer piadas de negros nem depreciar qualquer portador de necessidades especiais. Concordo com isso. Mas, para compensar a falta desses personagens nas piadas, principalmente as de mau gosto, usamos agora os gordos. Sempre ele é o idiota nos programas de humor. Nas novelas, ele é sempre o bom amigo e, para conseguir alguém na trama, acaba emagrecendo.
O preconceito contra os gordinhos, gorduchos e gordões existe e é aceito totalmente em nossa sociedade. Cansei de entrar em lojas e ser atendida por pessoas que, sem o mínimo de respeito, me dizem “não temos roupas do seu tamanho”, como se eu pesasse uma tonelada. Já cheguei a escutar o absurdo de que roupa para gordo não tem público. Como se as pessoas acima do peso não tivessem o direito de se vestir bem, assim como os magros.
Felizmente, essa ditadura de que apenas pessoas magras são bonitas e felizes está se acabando. Cada dia mais vejo mulheres lindas, que antes ficavam obcecadas em usar o número 42, aceitando que são 46. Claro que, se a gordura traz problema de saúde, ela precisa sim ser combatida. Mas isso deve ser feito de maneira saudável, e não apenas com o objetivo de conseguir a imagem que agrade apenas aos outros. Antes de mais nada, precisamos agradar a nós mesmos. Se a minha felicidade depende apenas de eu usar um manequim menor, alguma coisa está errada. Minha pessoa não é composta apenas por meus quilos, mas por minha personalidade.
Também gosto de ver pessoas magras. Não estou pregando aqui que todo mundo seja gordo. Mas acho fácil quem é magro criticar quem não consegue emagrecer. Assim como é fácil quem não fuma criticar o fumante, e quem não bebe criticar o alcoólatra. A obesidade extrema já é considerada uma doença pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Precisa agora parar de ser tratada como um problema apenas estético pelas pessoas, que não ajudam em nada quem sofre com isso.

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