quinta-feira, 1 de julho de 2010

O crime, realmente, não compensa

Apesar de não ser tão velha, já uso aquelas frases tipo “no meu tempo”, “na minha época”, e por aí afora. Normalmente as citações vêm acompanhadas de uma memória dos meus tempos de criança e adolescentes, quando ainda não tinha autonomia para fazer o que quisesse. Lembro-me de meus pais usando as mesmas frases, e de eu sempre pensar o seguinte: “jamais vou pensar como vocês”.
Em muitas coisas, realmente, meu pensamento continua diferente do que eles acreditam. Mas hoje vejo que, em muitas coisas, eles estavam corretos. Uma delas é o respeito aos valores, que a cada dia vemos desaparecer. Os pais, que deveriam mostrar aos filhos princípios como respeito, honestidade, solidariedade, acabam usando a desculpa da correria do dia a dia para deixarem esses valores serem repassados pela escola. Parece que a maioria se esquece de que a educação, em primeiro lugar, vem de casa.
Fui uma criança levada ao extremo. O que meus irmãos tinham de quietos e obedientes eu tinha de encapetada. Nem parecia menina, parecia mais um moleque de tanto que aprontava. Mas existe uma grande diferença entre ser levada e ser desrespeitosa. Jamais ousei levantar a voz aos meus avós. Aliás, resquícios da minha criação, sou incapaz de chamar uma pessoa mais velha de você: até meus pais chamo de “senhor” e “senhora”. E isso não me faz mal nenhum, não acho absurdo usar este tratamento, e sou super acostumada a isso.
E meus valores, dos quais hoje me orgulho muito, foram me passados muitas vezes com atitudes que hoje seriam reprovadas por aqueles que acreditam que qualquer repreensão resulta em baixa autoestima. Lembro uma vez em que fui com meus primos, todos da mesma faixa etária, ao supermercado próximo à casa do meu avô materno. Lá chegando, uma prima teve a brilhante ideia de surrupiar chocolate. Como o diabinho de todos estava bem alerta, todo mundo aderiu ao crime. Pegamos os chocolates, e guardamos numa construção no meio do caminho. Como criança tem maldade e inocência na mesma proporção, à noite a mesma prima perguntou, na frente de todos os pais, quem queria ir “achar chocolate na rua”. Saímos todos em fila, e cada um voltou com sua guloseima na mão.
Nem preciso dizer que minha mãe e uma tia mais rígida pegaram eu e minha prima mais velha, encostaram as duas na parede e conseguiram nossa confissão. Ao admitir o delito, pensei: “meu pai vai me matar”. Diferente do que imaginei, meu pai não disse nada. No dia seguinte, me acordou cedo e me levou ao mercado. Meu tio apareceu com minha prima, e eles nos fizeram entrar no mercado de pagar todos os chocolates que haviam sido roubados. A vergonha foi tanta que nunca mais consegui entrar naquele mercado. E essa mesma vergonha me mostrou que, se quero alguma coisa, devo fazer por merecê-la. Esse é um dos valores ensinados de maneira dura, mas que formaram meu caráter. Agradeço meus pais por terem me mostrado, da forma mais vergonhosa possível para uma criança, que o crime realmente não compensa.

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