quinta-feira, 18 de março de 2010

Desespero em julgamento

Essa semana o País ficou estarrecido com a notícia de uma mãe que, em puro desespero, acorrentou seu filho de 13 anos para que ele não pudesse sair de casa e usar crack, umas das drogas mais fortes que existem atualmente, e com maior poder de dependência em pouco tempo. A mãe, que responderá um processo em liberdade pela acusação de maus tratos, recebeu ofertas de três clínicas particulares para internar o adolescente, que deveria ontem ser encaminhado a uma delas para iniciar sua desintoxicação.
As reações à atitude dessa mulher variaram da mais profunda repulsa à compreensão. Educadores, assistentes sociais e outros pais levantarem em coro vozes indignadas por ela ter acorrentado o filho que, quando drogado, a ameaçava fisicamente e cometia roubos na vizinhança para manter o vício. Por outro lado, muitas mães compreenderam sua tentativa de manter o filho em casa e impedir que ele voltasse a usar crack.
O problema da droga está aí, só não vê quem não quer. Semana passada também ficamos chocados com a brutal morte do cartunista Glauco e seu filho Raoni, por um jovem de 24 anos também viciados em drogas, no caso a cocaína. A cada semana, se lermos atentamente os jornais, veremos casos de violência envolvendo jovens viciados. Porém, somente nos damos conta da real gravidade do problema quando acontece um fato isolado extremamente grave, como os dois citados.
A droga destrói não somente o viciado, mas sua família. Não estou falando apenas das substâncias ilícitas, e incluo nesse montante o álcool. Quem tem um alcoólatra na família também sabe como é difícil lidar com a pessoa. Muitos, quando sóbrios, são pessoas maravilhosas, alegres, calmas, que proporcionam uma convivência tranquila e cheia de alegria. Porém, basta apenas alguns goles para que se tornem agressivos, autoritários, briguem por qualquer motivo e insuportáveis.
Não tenho dentro de minha casa esse exemplo, mas tenho em minha família. E não julgo uma mãe que acorrenta um filho ou uma esposa que desanima de tentar ajudar um marido alcoólatra. A convivência com essas pessoas não é fácil. Para aguentar um drogado ou um bêbado tem de ter muita paciência.
Tive um amigo que morreu aos 35, depois de ter ficado nove em uma cadeira de rodas, totalmente incapacitado, após um derrame causado pelo uso excessivo de drogas. Lembro de ver esse meu amigo, pela janela da casa do meu avô, aplicando cocaína na veia no quintal de casa. Os pais fizeram de tudo para que ele se curasse: mudaram de cidade, venderam a casa, internaram nas melhores clínicas. Quando ele sofreu esse derrame e ficou na cama, muitas pessoas achavam que a mãe se revoltaria. Pelo contrário. Ela costumava dizer: “Por pior que ele esteja, pelo menos agora eu sei que está em casa, sem correr o risco de levar um tiro por de um traficante”. Parece uma atitude cômoda, mas acredito que era o alívio de quem, apesar de ter tentado tudo, não havia conseguido tirar o filho do vício.
Não sei a história toda dessa mulher, mas imagino que a dor de prender seu filho com certeza foi maior que seu desespero. Porém, quando não há mais opções, tomamos muitas vezes atitudes que jamais imaginaríamos em uma situação normal. Fácil criticar essa mãe e dizer que ela foi cruel. Difícil é se colocar no lugar dela, sem apoio nenhum para buscar uma saída. Está na hora de pararmos de culpar os pais pelo uso de drogas, e vermos que os filhos, muitas vezes, escolhem esse caminho, seja pela curiosidade, seja por vontade mesmo. Essa mãe, que já sofreu tanto, não merece mais esse julgamento.

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