quinta-feira, 4 de março de 2010

Conquistas ignoradas

Somos um povo contraditório. Brigamos por conquistas em vários setores e, quando elas chegam, são solenemente ignoradas por muita gente, incluindo às até mesmo quem brigou por elas. São vários os exemplos: reclamamos da falta de lixeira nas ruas, mas mesmo quando elas existem, os papéis são jogados no chão. Pedimos áreas de lazer e, mal elas são construídas, pode-se notar o descaso e mau uso do espaço.
Um dos exemplos mais comuns para mim desse descaso em relação às conquistas são as passarelas nas rodovias. De segunda a sexta, desde setembro de 2006, vinda de Piracicaba, passo pela Rodovia Luiz de Queiroz, a SP-304, para chegar ao trabalho. Se fizermos uma conta grosseira, considerando o tempo em que estive afastada do jornal, já passei por essa estrada 540 dias, ou cerca de cinco vezes em 108 semanas.
Antes que se cansem dos números, vou ao ponto que interessa: nesses 540 dias, conto nos dedos das mãos quantas vezes vi as pessoas usarem as várias passarelas dispostas na rodovia, principalmente no trecho entre Americana e Santa Bárbara. Por outro lado, é raro o dia em que não vejo alguém, a poucos metros da passarela, cruzando a estrada correndo, desafiando os carros e caminhões que passam pela via a uma velocidade média de 90 quilômetros por hora.
Sinto como se as passarelas tivessem sido colocadas ali por enfeite. Para mim, elas são uma mostra do descaso de conquistas simples, que deveriam ser usadas. Se aquelas passagens não existissem, provavelmente receberíamos no jornal muitas ligações reclamando a falta delas, como todos os dias atendemos reivindicações de vários assuntos.
Quando trabalhei em Araraquara vi um exemplo engraçado da preguiça das pessoas em cruzar a passarela. Atendi uma leitora reclamando dos veículos que passavam em alta velocidade em frente ao shopping que ficava na rodovia na saída da cidade e que ali deveria haver uma lombada para coibir os abusos, já que isso dificultava a ida dos moradores próximos à região ao shopping. Estava anotando a reclamação quando me lembrei que havia uma passarela construída na via exatamente para que a população pudesse ter acesso ao shopping! Quando comentei isso com a reclamante, ouvi a seguinte resposta: “Ah, mas dá muito trabalho subir aquelas escadas, é mais fácil ir pela pista”.
Realmente, dá trabalho andar mais 100 metros e tomar o caminho seguro para atravessar uma pista. Muito mais fácil passar entre caminhões e carros que estão na velocidade permitida na rodovia, correndo o risco de ser atropelada, causando um acidente que pode envolver mais de um veículo, provocando um capotamento, enfim, transgredindo a lei de trânsito para economizar alguns passos.
Seguindo essa linha de raciocínio, fica o questionamento: para que então perder tempo reivindicando algo que não será usado? Muito mais fácil ficar em casa do que brigar pelos seus direitos. Será que esse pensamento é o mais correto mesmo?

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