quarta-feira, 31 de março de 2010

A cultura da inadimplência

A inadimplência já faz parte da cultura brasileira. Estamos acostumados a dever e nos endividarmos cada vez mais, sem pagar as dívidas já existentes. Quando falo “estamos” me refiro àqueles que, mesmo sabendo que não podem comprar algo, não se importam em se afundar ainda mais em débitos que, no final das contas, ou serão perdoados ou mesmo não pagos.
Isso é bem fácil de notar em todos os setores. Prefeituras renegociam dívidas de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), dão descontos gigantes e ainda parcelam o saldo devedor, tudo para que o munícipe não fique inadimplente. Grandes lojas fazem a mesma coisa no fim do ano: chamam os devedores, reduzem o débito muitas vezes pela metade, dividem essa metade em intermináveis parcelas sem juros, e ainda tiram o nome dessas pessoas do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito).
E nas escolas? O aluno inadimplente pode continuar a frequentar as aulas mesmo que não pague suas mensalidades. Quando falamos de crianças, a justificativa é de que elas não podem ser constrangidas pelos erros dos pais. Mas estudantes universitários também fazem a mesma coisa. Alguns, por pura necessidade mesmo. Outros, porque sabem que podem assistir as aulas sem a menor chance de serem constrangidos. Não deixam de sair, ir a baladas, têm carro, mas a mensalidade sempre é deixada de lado.
Poderia citar muitos outros exemplos. O ponto central é que dever no Brasil não é um grande problema. Estou falando aqui dos caloteiros por excelência, aqueles que não pagam porque sabem muito bem que nada acontece efetivamente se ficarem com a dívida em aberto. Até porque, os verdadeiramente honestos, buscam de qualquer maneira pagar seus débitos. Vendem o carro, diminuem as saídas, não viajam, deixam de comprar supérfluos, enfim, fazem de tudo para manter o nome limpo.
Em compensação, devedores contumazes estão se lixando para seus credores. E aí me pego analisando uma situação paradoxal: enquanto aos que não pagam são oferecidas milhões de vantagens, aos pontuais com suas dívidas nada é dado. Nunca ganhei um desconto de 50% em nada porque paguei a conta em dia. As prestações do meu carro continuam sempre com o mesmo valor, independente de eu pagá-las na data correta. Se eu atrasar um ou dois dias, os juros são enormes. Mas talvez, se eu atrasar três parcelas e tente negociar o débito, me seja oferecido um bom desconto.
Não estou pregando aqui que todo mundo comece a dar calote. Muito pelo contrário, sempre preguei que estar em dia com as contas é a melhor coisa do mundo, porque sei que meu nome continua limpo. E, mesmo não sendo tão velha, ainda sou do tempo em que ter o nome limpo na praça é obrigação, e não motivo de orgulho. Mas acho que está na hora de pararmos de passar a mão na cabeça dos devedores, e sermos mais rígidos com as regras. Porque, no final, quem paga a conta são os honestos. E isso, no meu entender, não ajuda nem um pouco em melhorar essa cultura de inadimplência que assola nosso País.

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