sábado, 21 de maio de 2011

Humor sem graça e cruel

Semana passada li em algum site que o humorista Rafinha Bastos, do “CQC”, afirmou que gosta de incomodar e criar polêmica com suas declarações. Em seus shows, ele resolveu fazer uma piada com um dos maiores crimes que se pode cometer contra qualquer ser humano: o estupro. De acordo com sua visão, só mulher feia é estuprada e, ao invés de se queixar, ela devia agradecer seu estuprador. Para dar um tom mais cruel ainda à “piada”, ele acrescenta que o homem que estupra mulher feia merece um abraço, e não ser preso.
Rafinha Bastos não se desculpou até agora por essas afirmações absurdas. E, cá entre nós, deve ter muita gente, em seu show, que acredita mesmo isso. Deve haver muito homem que acha que mulher feia deve agradecer quando alguém olha para ela e demonstra interesse sexual. Homens que esquecem que, muito além da beleza física (que, salvo raras exceções, se acaba com o passar dos anos), existem outros valores mais nobres a serem observados em qualquer pessoa.
Acredito que o estupro é o maior crime que se pode cometer contra uma pessoa, perdendo em crueldade apenas para o assassinato. Exércitos de várias épocas e de vários lugares do mundo já fizeram uso dele como “arma” para humilhar os povos vencidos. Torturadores também já se valeram do estupro para tentar conseguir informações. O estupro surge de uma necessidade extrema de poder mas, na verdade, é cometido por covardes, que se aproveitam da fraqueza da pessoa subjugada para violar o que de mais sagrado temos: nosso corpo.
Rafinha Bastos foi extremamente infeliz em seu comentário por vários motivos, além do fato óbvio de brincar com um crime que é considerado repulsivo em todos os lugares civilizados do mundo. Outro motivo pelo qual ele foi infeliz é pelo pensamento machista de que a mulher feia normalmente é desesperada para ter alguém com quem fazer sexo, e por isso fica feliz até mesmo quando é violentada.
O que ele esquece é que, no fundo no fundo, a mulher pode se dar ao luxo, mesmo sendo feia (para seus padrões, que fique bem claro), de ter alguém com quem sair. Ao contrário de muitos homens, que precisam de prostitutas para terem satisfação sexual, dificilmente uma mulher, se realmente quiser sexo casual, fica sem ter um homem à disposição. Talvez seja por isso que existam tão poucos garotos de programa, em comparação ao número de mulheres nessa profissão. A grande diferença, entre a maioria dos homens e da mulher, é que nós, além de sabermos enxergar em uma pessoa muito mais do que apenas seus dotes físicos, não precisamos sair por aí provando que somos “garanhonas” para sermos consideradas mulheres. E beleza, como já foi comprovado há séculos, nem sempre garante uma vida sexual feliz. Se fosse assim, as mulheres maravilhosas que vivem aparecendo em revistas, com corpos super esculpidos, jamais seriam traídas nem trocadas por outras, como frequentemente vemos, não é mesmo?

4 comentários:

nelsontucci disse...

Comentei no Facebook. O menino foi muito infeliz. Não se usa como "escada" a infelicidade alheia p´ra ganhar holofotes. Questão de caráter !

Inaie disse...

O cara e um babaca - e o seu texto e otimo!

Patricia Vieitez disse...

às vezes me sinto na idade da pedra com pensamentos machistas como esse. estou decepcionada com alguém que deveria ser um grande formador de opiniões sensatas.

Anônimo disse...

Concordo com tudo que disse. Já fui em uma stand-up do cara e também critiquei algumas piadas contadas no show. O fato eh que fazer humor com a violência, seja qual for, dificilmente vai cair bem aos ouvidos das pessoas ou aos olhos de quem lê. Parabéns pelo texto.

Rodrigo Alves
www.dandonota.wordpress.com