quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cada dia sendo o último

A tragédia que abalou Americana nesta quarta-feira ainda repercute alto na população, que busca entender o acidente que matou nove pessoas e deixou 14 feridas, após a colisão entre um ônibus e um trem. Em meio ao choque e aos inevitáveis questionamentos sobre quem causou a batida entre os veículos, as famílias das vítimas ainda têm de lidar com a partida repentina de seus entes queridos.
Aquelas pessoas estavam indo para casa após um dia de trabalho ou estudo. Gente que esperava chegar, possivelmente jantar e descansar, contar seu dia para a mulher, o marido, o amigo. Gente que talvez fosse chegar em casa e escrever uma carta, ligar para uma amiga e bater aquele papo atrasado, mandar um e-mail, resolver alguma situação pendente.
De repente, tudo acabado. Sem chance de dizer adeus, de se desculpar por alguma falha, de perdoar alguma mágoa antiga, de terminar algo começado, de visitar aquele parente, de fazer aquela viagem esperada, de realizar todos os seus sonhos.
A morte é a única certeza na vida de qualquer pessoa. Sabemos que vamos morrer, apenas não sabemos nossa data de validade. Quando ela é anunciada, seja por causa de doenças ou da velhice extrema, tentamos nos preparar para esse momento, e ainda assim é difícil aceitar a sua chegada. Buscamos consolo naquela velha frase de “ele(a) descansou”, mas ainda assim nos questionamos porque isso aconteceu. Mas, quando a morte chega assim, pelo menos temos tempo de nos despedir.
Porém, quando ela chega abruptamente, não há consolo imediato. Não há como voltar e fazer por aquela pessoa que se foi o que devíamos ter feito antes. E quem foi, que muitas vezes deixa planos inacabados, não tem a chance de finalizar o que havia sido planejado para sua vida.
Sábado uma pessoa me disse algo que jamais pensei transmitir: que eu vivo intensamente, como se cada dia pudesse ser o último. Talvez pelo fato de ter chegado muito perto de partir, eu tenha adotado essa atitude. Mas precisei passar perto da morte para entender que a vida é agora, e que nada pode ser deixado para depois.
O acidente de quarta-feira me reforçou isso. Pode ser clichê para muita gente, mas viver cada minuto, da melhor maneira possível, é o que devemos fazer. Sonhos podem ser interrompidos, podemos ter nossa existência acabada de um minuto para o outro, mas nossa partida deve ser marcada pela sensação de termos tentado, em vida, cumprir nossos objetivos. Deixar um plano inacabado é, com certeza, muito melhor do que deixá-lo apenas como uma ideia que jamais foi cogitada de ser colocada em prática. Termos pelo menos tentado ser felizes é o melhor presente que podemos deixar para aqueles que ficam.

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