quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Responsabilidade dividida

Essa semana tomei conhecimento de um dado impressionante: segundo o Censo Escolar de 2009, cerca de 25% das crianças e adolescentes brasileiros não têm o nome do pai na certidão de nascimento. Segundo a presidente do Instituto Paternidade Responsável, Jaqueline Reche, isso significa um montante de 4,8 milhões de pessoas sem o reconhecimento paterno – sendo cerca de 3 milhões menores de 18 anos. Na França, apenas 2% dos estudantes vivem a mesma situação.
Nossa sociedade ainda aceita passivamente que um pai não assuma seu filho. Ao invés de repúdio a uma atitude considerada desprezível, o que vemos, em muitos casos, são as famílias apoiando aqueles que não querem assumir seus futuros filhos. Como se uma criança fosse feita sozinha, ou por osmose, e não dependesse do relacionamento de duas pessoas para existir.
Não interessa se o relacionamento foi casual, se a mulher quis dar o famoso “golpe da barriga”, se o casal se detesta, se a gestante teve dez mil parceiros antes do pai da criança. O que interessa, acima de tudo, é que existe um pequeno ser que não tem nenhuma culpa do que seus pais fizeram, e que não pediu para vir ao mundo. Se veio, tem de ser criada com muito amor.
A falta do nome do pai na certidão é uma lacuna difícil de ser entendida. Afinal, qual o erro da criança que sonha em ter sua existência reconhecida por quem deveria amá-la e criá-la? Um dado em Santa Catarina, sede do Instituto, impressiona: sete em cada dez presos foram criados sem a figura paterna. Será que o caminho para a criminalidade não pode ter sido influenciado por isso?
Claro, tem também aqueles que, a despeito de não terem pai, seguiram suas vidas sem problemas. Mas estamos falando de problemas com a lei, e não psicológicos. Porque a ausência do pai deve ser triste demais. Pior ainda é saber quem ele é, onde está, o que faz, e ter consciência de que ele simplesmente não quer tomar conhecimento da existência do filho.
Está mais do que na hora de os homens entenderem que, a partir do momento em que são comunicados de uma gravidez, suas responsabilidades começam aí. Exames de DNA existem para comprovar sua paternidade, em caso de dúvida. Tenho amigos que não queriam assumir seus filhos, mas depois do DNA feito, viraram excelentes pais, a despeito de mal conversarem com a mãe da criança. Porém, uma ausência tanto em nome quanto em presença não pode ser retomada, depois dos anos passados. Tenho amigos cujos pais apenas os assumiram pela lei, e somente quando eles estavam adultos tentaram se aproximar. Alguns hoje têm bons relacionamentos, mas outros convivem apenas o mínimo necessário (quando convivem). Recuperar um amor que nunca foi dado pode ser impossível. Será que vale a pena correr esse risco?

Nenhum comentário: