segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Um caos longe de terminar

O Brasil ficou chocado, há pouco mais de um mês, com a notícia de que um jovem de 17 anos, portador de problemas mentais, teve todos os seus dentes arrancados por um dentista, quando a indicação era de apenas duas extrações. Essa semana, para mais espanto de todos, foi divulgado que este seria o terceiro caso em que o dentista Wilson Oliveira Santos, de Brasília, havia realizado o mesmo procedimento, sem a menor necessidade. Detalhe que deixa a história mais absurda: os outros pacientes também teriam retardo mental.
O caos na saúde pública é notório e, desde que me entendo por gente, faz parte das notícias cotidianas de todos os órgãos de imprensa, seja em âmbito local quanto nacional. O que os casos acima trazem à tona, mais uma vez, é o desrespeito de alguns profissionais de saúde com aqueles menos favorecidos tanto financeiramente quanto em termos de educação.
E esse desrespeito é visto em todas as áreas. É o dentista que arranca todos os dentes sem necessidade, o médico que não explica de maneira simples os sintomas de uma doença ao paciente, o enfermeiro que não tem paciência quando o doente tem medo de uma injeção ou de algum procedimento. Uma situação que ainda está longe de terminar porque, infelizmente, as pessoas acabam aceitando esse comportamento sem questionar ou então achando que, “como é de graça”, é assim mesmo. Na verdade, elas esquecem que o serviço público não é feito de graça: ele é cobrado através de impostos muito bem pagos pela população.
Mas, nesse meio tão cruel com o povo, vemos alguns profissionais de saúde que merecem nosso aplauso e respeito. Quando estive em tratamento no ano passado, fazia quimioterapia no Centro do Câncer Francisco Cunha Filho, em Piracicaba. Cito nome completo porque, a despeito do que se diga da saúde pública, aquele local é um oásis cheio de boa vontade no meio de um deserto.
A paciência, o respeito, o carinho e o amor que todos os profissionais do Centro dedicavam aos pacientes era impressionante. E isso valia para todo mundo: quem tinha convênio e quem era do SUS. Nunca fui passada na frente de outra pessoa, nem vi aquelas enfermeiras perderem a paciência um segundo sequer com alguém que se recusava a fazer a quimio. Com carinho, elas convenciam o paciente da necessidade do tratamento. E esse carinho era observado também nos médicos que, apesar de lidarem com o sofrimento e a perspectiva de morte no dia-a-dia, não deixavam de trazer a todos a esperança.
Talvez isso esteja faltando em nossos profissionais que lidam com os menos favorecidos: carinho e paciência. Tratar de quem conhece seus problemas de saúde é fácil, mas atender a quem necessita não somente da Medicina, mas de conhecimento, pode ser mais trabalhoso. Esse é o verdadeiro desafio aos profissionais da saúde hoje: saber unir esse dois mundos, dando a eles o seu merecido respeito. Enquanto isso não acontecer, o caos que hoje conhecemos estará longe de terminar.

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