quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O ócio bem aproveitado

Feriados prolongados são ótimos para a gente descansar, viajar, visitar amigos, passear, inventar mil programas. Pelo menos essa é a concepção que muita gente tem quando se programa para aproveitar os dias de folga. Enfrentar horas de trânsito, ficar numa casa de praia cheia de gente e encarar lugares turísticos lotados parece ser um prazer para quem espera com ansiedade todos os feriados do ano.
Sou diferente. Feriado, para mim, é a chance de descansar do dia-a-dia. Posso até viajar, mas com certeza não é para nenhum lugar lotado em que o pedido de uma cerveja vai demorar meia hora para ser atendido. Esse feriado, assim como muitos outros, passei em casa lendo, assistindo filmes e seriados, batendo papo com amigos do MSN, enfim, realmente descansando.
Ontem um amigo me perguntou o que eu havia feito e, quando descrevi meus dias, veio a exclamação:
- Mas então você não fez nada?
Achei interessante a colocação dele. Assistir oito filmes (que normalmente não tenho tempo de fazer por causa da correria rotineira), ler livros que estavam esperando a chance de serem abertos e conversar com pessoas que nunca encontro online porque temos horários diferentes, na concepção desse amigo, é não fazer nada. Ele havia ido para praia, enfrentado um congestionamento, demorado cinco horas (num trajeto que normalmente levaria três), ficado numa casa com sei lá mais quantas pessoas (pelas fotos parece um acampamento de guerra), feito o caminho de volta em seis horas, e disse que estava morto, mas que havia valido a pena. “Ah, eu realmente aproveitei a minha folga!”
Aí me vem aquela reflexão clichê sobre a natureza humana. O que para ele havia sido um programa ótimo, para mim seria um inferno na terra, já que eu não gosto de praia, nem de calor, e muito menos de me amontoar em uma casa e dormir mal acomodada. Esse é meu jeito. Mas não critico quem goste desse tipo de programa.
Fico espantada em ver que as pessoas acham que um fim de semana passado em casa, sem fazer nada, é desperdiçado. A necessidade de sempre haver uma programação causa até mesmo um stress. Vejo amigos que se angustiam se, chegando a quinta-feira, ainda não têm nada planejado para o fim de semana todo. Quando é feriado então, se não há viagem marcada ou algo do gênero, o stress fica maior ainda. Já cheguei a escutar alguns falarem que, para ficar em casa, preferiam estar trabalhando. Assim, se não dá para cansar na estrada, o feriado não tem graça. Aproveitar o tempo de outra maneira está fora de cogitação.
Acredito que o ócio bem aproveitado também traz descanso à mente. Apesar de não ter saído de casa, viajei por mundos diferentes através dos livros que li e filmes que assisti. Voltei renovada ao trabalho, descansada e, principalmente, enriquecida em conhecimento. Pode ser que, para muitos, eu tenha desperdiçado dias que seriam mais aproveitados em uma viagem. Para mim, a viagem interior foi perfeita e me fez bem. Com um adicional: não enfrentei um trânsito de horas para chegar em minha casa. A minha mente foi minha estrada.

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