Hoje faz quatro anos que eu tive alta do meu câncer de mama.
Antes que alguém pense “lá vem ela falar desse assunto de novo”, quero destacar
um problema pós-doença que surge em muitas mulheres que, assim como eu, são
obrigadas por cinco anos a tomar um medicamento que é um verdadeiro veneno, mas
que nos previne de um retorno da neoplasia: a obesidade. No meu caso, que
sempre fui gordinha, ela se tornou um problema mais grave ainda, chegando à
obesidade mórbida.
Muita gente que me conhece pessoalmente assusta quando digo
que meu IMC (Índice de Massa Corporal) era, há pouco mais de um mês, de 42.
Apesar disso, não tenho nenhum dos problemas comuns decorrentes da obesidade,
como pressão alta, diabetes, taxas elevadas de colesterol ou triglicerídeos.
Por uma genética privilegiada, quando faço exames de sangue meus médicos
costumam brincar que, se não me conhecessem, iriam imaginar que os resultados
eram de uma pessoa magra. Ainda assim, todos sempre foram unânimes em me dizer
que eu precisava perder peso, exatamente para que esses problemas não surgissem
mais tarde.
Já escutei muita gente dizer que o gordo é gordo apenas
porque é preguiçoso, porque quer, porque não tem força de vontade. Claro,
escutei isso de pessoas magras e daquelas que têm uma facilidade muito grande
em perder peso. Meu homeopata, que é magérrimo, fala o seguinte: se emagrecer
fosse fácil, todo mundo seria magro.
Mas o que vejo em relação à obesidade é que, a despeito de
todas as más consequências que pode trazer, o maior problema é ela ser tratada
apenas como uma questão estética. Nossa secretária de redação, Marina Zanaki,
escreveu um texto dizendo que fomos levadas a acreditar que, se não tivéssemos
um corpo em forma, jamais teríamos um namorado, e que sem esse namorado, jamais
seríamos felizes. Detalhe: Marina é linda e magra.
Aos 19 anos, Marina enxerga muito melhor do que muitos
profissionais de saúde que a obesidade não deve ser vista apenas como uma
questão de beleza. Há pouco mais de dois meses, por conta do IMC alto, fui
encaminhada a um cirurgião bariátrico que, em uma consulta de apenas 15
minutos, determinou que eu não conseguiria emagrecer sem uma redução de
estômago, e que, mesmo que eu conseguisse, iria engordar tudo de novo. O fato
de uma operação desse porte envolver a não absorção de nutrientes o resto da
vida, e o fato de eu não poder me dar ao luxo de não ter essa absorção por
causa do câncer sequer foram levados em conta, apesar de eu haver abordado o
tema durante a consulta. Não fiz a cirurgia, optei por um balão intragástrico,
e já estou emagrecendo. Aos poucos, sem sofrer muito, e o mais importante: sem
o risco de uma anemia ou outros problemas que muitos profissionais amenizam
quando indicam a cirurgia.
Não sou contra o procedimento, e acho que seja indicado em
casos muito graves de obesidade, quando nada mais deu certo. Mas, na minha
visão, seria o último recurso. Acredito que está na hora de as pessoas pararem
de recorrer a procedimentos e dietas absurdas em busca de um corpo que jamais
terão, apenas porque alguém lhes disse que isso era importante. E, acima disso,
está na hora de os profissionais pararem de achar que todo obeso quer emagrecer
apenas por estética. Acima disso tudo, existe a saúde, a coisa mais importante
que temos em nossa vida.
2 comentários:
Muito bem, Déa! Belo texto, bela reflexão. Seja feliz.
Muito bem, Déa! Belo texto, bela reflexão. Seja feliz.
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