segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Um ano de muitas saudades


Ano passado essa época eu estava em férias. Pouco antes de sair para meus dias de folga, fiquei conversando com seu Diógenes, como sempre o chamei, tendo a triste certeza de que, quando voltasse, ele não estaria mais aqui na redação, sentado naquela mesa aonde todos nós íamos volta e meia trocar “um dedo de prosa” com uma pessoa que era, para mim, um arquivo vivo da história local.

No próximo domingo faz um ano que ele se foi. Estava em Ribeirão Preto, indo para Bauru, e fiz meia volta para poder dar meu último adeus a um querido companheiro de trabalho. Apesar de estar esperando a notícia, no fundo havia a esperança de que ele conseguisse driblar essa doença terrível chamada câncer, e que ficasse bom novamente, como havia feito alguns anos antes. Dessa vez, infelizmente, prevaleceu a vontade de Deus, que talvez tenha entendido que aquele senhor já havia dado sua contribuição aqui na terra.

Quando seu Diógenes morreu não consegui escrever nada. Por ter acompanhado minha trajetória contra o câncer, quando recebeu o resultado do exame que diria se a doença havia voltado ele veio pedir que eu lesse o relatório. Por um descuido, me entregou o laudo errado, em que dizia que estava tudo bem. Felizes, nos abraçamos e ele falou que ia até comprar um “champanhe” para comemorar a boa notícia. Continuei meu trabalho, quando ele retornou me mostrando o laudo correto, em que se lia que a doença havia voltado. Doeu muito ver aquele senhor com os olhos cheios d’água, mas ainda assim cheio de esperança de mais uma vez sair vitorioso desse briga.

Infelizmente não foi assim. Mas, mesmo doente, Diógenes voltou a sua mesa, para escrever seus artigos, me mandar a “Feira Livre” (que saudades!) e se sentir, acima de tudo, vivo. Mesmo eu dizendo que ele devia ficar em casa por causa da quimioterapia, ele teimou em se manter ativo o máximo que pode. E vinha sempre bem humorado, com suas tiradas memoráveis, com uma palavra carinhosa a todos.

Durante os anos em que tive a feliz oportunidade de conviver com Diógenes, ele sempre se mostrou solícito as minhas perguntas, carinhoso quando eu estava doente, bem humorado com todos. Uma figura que, sentado em sua mesa no canto, era como um “baú de memórias” de Americana e região. Ele era nosso “Google”, quando tínhamos nossas dúvidas. Um “Google” que sempre se sentia feliz em contar suas histórias, e que respondia nossas perguntas com o prazer de quem tinha vivido as situações que nos relatava – e, em muitos casos, participado ativamente delas.

Diógenes deixou aquela saudade boa que sentimos quando alguém muito querido se vai. Não raro, quando olho em sua mesa, tenho a impressão de vê-lo ali, com a perna dos óculos na boca, para contar algum “causo”. Saudade boa, que sempre ficará em mim.

 

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