Ano passado
essa época eu estava em férias. Pouco antes de sair para meus dias de folga,
fiquei conversando com seu Diógenes, como sempre o chamei, tendo a triste
certeza de que, quando voltasse, ele não estaria mais aqui na redação, sentado
naquela mesa aonde todos nós íamos volta e meia trocar “um dedo de prosa” com
uma pessoa que era, para mim, um arquivo vivo da história local.
No próximo
domingo faz um ano que ele se foi. Estava em Ribeirão Preto, indo para Bauru, e
fiz meia volta para poder dar meu último adeus a um querido companheiro de
trabalho. Apesar de estar esperando a notícia, no fundo havia a esperança de
que ele conseguisse driblar essa doença terrível chamada câncer, e que ficasse
bom novamente, como havia feito alguns anos antes. Dessa vez, infelizmente,
prevaleceu a vontade de Deus, que talvez tenha entendido que aquele senhor já
havia dado sua contribuição aqui na terra.
Quando seu
Diógenes morreu não consegui escrever nada. Por ter acompanhado minha
trajetória contra o câncer, quando recebeu o resultado do exame que diria se a
doença havia voltado ele veio pedir que eu lesse o relatório. Por um descuido,
me entregou o laudo errado, em que dizia que estava tudo bem. Felizes, nos
abraçamos e ele falou que ia até comprar um “champanhe” para comemorar a boa
notícia. Continuei meu trabalho, quando ele retornou me mostrando o laudo
correto, em que se lia que a doença havia voltado. Doeu muito ver aquele senhor
com os olhos cheios d’água, mas ainda assim cheio de esperança de mais uma vez
sair vitorioso desse briga.
Infelizmente
não foi assim. Mas, mesmo doente, Diógenes voltou a sua mesa, para escrever
seus artigos, me mandar a “Feira Livre” (que saudades!) e se sentir, acima de
tudo, vivo. Mesmo eu dizendo que ele devia ficar em casa por causa da
quimioterapia, ele teimou em se manter ativo o máximo que pode. E vinha sempre
bem humorado, com suas tiradas memoráveis, com uma palavra carinhosa a todos.
Durante os
anos em que tive a feliz oportunidade de conviver com Diógenes, ele sempre se
mostrou solícito as minhas perguntas, carinhoso quando eu estava doente, bem
humorado com todos. Uma figura que, sentado em sua mesa no canto, era como um “baú
de memórias” de Americana e região. Ele era nosso “Google”, quando tínhamos
nossas dúvidas. Um “Google” que sempre se sentia feliz em contar suas
histórias, e que respondia nossas perguntas com o prazer de quem tinha vivido
as situações que nos relatava – e, em muitos casos, participado ativamente
delas.
Diógenes
deixou aquela saudade boa que sentimos quando alguém muito querido se vai. Não raro,
quando olho em sua mesa, tenho a impressão de vê-lo ali, com a perna dos óculos
na boca, para contar algum “causo”. Saudade boa, que sempre ficará em mim.
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