quarta-feira, 2 de maio de 2012

Discriminação às avessas

O sistema de cotas raciais, tema que sempre gera polêmica em discussões, foi na última semana estabelecido como constitucional em votação unânime do STF (Supremo Tribunal Federal). Para os defensores do sistema, uma vitória dos afrodescendentes, que notoriamente são os menos favorecidos economicamente no país e, por consequência, acabam tendo menos chances de entrar em uma universidade pública. Para aqueles que, como eu, acreditam que o sistema deveria ser social, a vitória é da discriminação às avessas: se preciso dar cotas levando-se em consideração apenas a cor da pele da pessoa, estou desmerecendo essa raça, considerando-a menos capaz de conseguir seu espaço do que aqueles diferentes da sua etnia. Acredito que muita gente vá entender meu comentário como racista, mas conheço muitos afrodescendentes que pensam como eu. Gente que teve de se esforçar muito para conseguir uma vaga numa faculdade, que teve depois de se esforçar mais ainda para pagar o curso, que trabalhava e estudava e tinha poucas horas para se dedicar aos livros, cujos finais de semana eram sempre sacrificados para que pudesse colocar em dia os conteúdos das aulas. Gente que hoje afirma com orgulho que não precisou de cota nenhuma para entrar na universidade, e que até contou com bolsa para se formar – bolsa essa conquistada por mérito, e não por cor da pele. Vivemos num país onde as diferenças sociais ainda são muito grandes e o preconceito, ainda que velado, existe, principalmente em áreas onde a predominância é da população descendente de europeus. Ainda assim, penso que decisões como a do STF servem muito para acirrar esse racismo. Afinal, há muitos brancos que também são pobres, que passam dificuldades, que não têm um ensino fundamental de qualidade. Por que eles não podem disputar as cotas em condições de igualdade? Por que o critério ser racial e não social? Tive a chance de fazer uma universidade pública. Em minha classe havia quatro afrodescendentes, e nenhum deles havia se beneficiado do sistema de cotas. Todos eles provinham de famílias cuja situação econômica era difícil, e trabalhavam para conseguir estudar. Não tenho o contato de todos, mas um deles sei que tem um ótimo cargo, está financeiramente muito bem, e reconhecido como um grande jornalista no Paraná. Repito: sem cota nenhuma. Àqueles que vão dizer “ah, mas isso é um”, vale lembrar que o ministro Joaquim Barbosa, do STF, também veio de família muito humilde, e chegou sozinho ao seu posto. Oprah Winfrey, hoje a apresentadora de TV mais famosa do planeta, era paupérrima, foi estuprada, sofreu todo tipo de humilhação que podemos imaginar, por ser negra e mulher. Não se beneficiou de cotas, e hoje é exemplo de luta para muita gente. Citei dois famosos, mas existem milhares de anônimos que não usaram sua cor de pele para conseguir seu espaço na sociedade. Podem ter conseguido ajuda por sua condição social, e com certeza fizeram por merecer o apoio. Está na hora de acabarmos no Brasil com o quesito “coitadismo” na hora de beneficiar as pessoas, e lembrarmos que existe algo muito importante quando pensamos em crescimento profissional e pessoal: o mérito, um verdadeiro formador de cidadãos.

3 comentários:

José Rodolfo disse...

Olá!

Não achei seu comentário racisto. Sou negro e acho ABSURDO ter uma cota apenas pela cor da pele. Essa cota deveria ser espalhada para pessoas que não tem condições de pagar uma faculdade. Vc deu belos exemplos de negros bem sucedidos. São poucos? Sim, são. Mas nao é pq um negro não vai pagar uma faculdade que ele vai chegar ao topo ou quase lá. Perfeita sua análise.

José Rodolfo disse...

Foi como o Daniel, integrante expulso desse último BBB disse. O Bial perguntou se ele era a favor para cotas de negros no BBB. Ele respondeu: "Não, até pq o sangue de todos é vermelho".

Inaie disse...

concordo em genero numero e grau. meu chefe, que era negro, merece ter privilegios para entrar na universidade? Claro que nao.

:-)