domingo, 1 de abril de 2012

A humildade de um gênio


Na última quinta-feira tive o indescritível e maravilhoso prazer de assistir a uma palestra do pianista e maestro João Carlos Martins. Um gênio considerado o melhor intérprete de Johann Sebastian Bach, o artista me impressionou não pelo seu talento ou pela sua história de vida, permeada por desistências e retomadas dignas de um filme épico, mas sim por uma característica que hoje encontramos cada vez mais menos nas pessoas que conseguem destaque em suas áreas: a humildade.
João Carlos Martins é conhecido pela sua luta para continuar tocando piano, pelos seus problemas nas mãos, pela tristeza de ter de abandonar seu amado instrumento, pela coragem de se iniciar como regente aos 64 anos. Hoje, aos 71 anos, ele se mostra extremamente feliz com seu trabalho como maestro e as apresentações que faz em todos os lugares possíveis.
A palestra não tem um tom piegas e nem de autoajuda. O artista conta sua história de maneira bem descontraída, mas é praticamente impossível segurar o choro quando, após mostrar um vídeo de uma apresentação realizada em 1973, tocando seu piano vigorosamente, ele senta-se ao instrumento e toca, com apenas três dedos e o rosto crispado pela dor, a maravilhosa “Luiza”, do saudoso Tom Jobim.
Fiquei pensando em João Carlos Martins e me veio aquele velho clichê: a gente reclama por pouco. Antes que os críticos de tudo e todos comecem a falar que “com o dinheiro que ele tem é fácil se recuperar e ajudar os outros”, eu lembro que ele não tem a menor obrigação de ajudar ninguém – mas ainda assim o faz, e com muito prazer. Antes que alguém ache que é fácil se recuperar de todos os problemas que ele teve em suas mãos, vale lembrar que tem muita gente que prefere, a despeito de também ter dinheiro, ficar sentado ou deitado apenas reclamando da vida. E, antes que alguém fale que tem muita gente melhor que ele sem chances na vida, eu lembro o seguinte: pode ter sim, e ele está descobrindo esses jovens talentos e lhes dando a oportunidade que a vida lhes tirou.
Num mundo onde subcelebridades se acham importantes demais para atender a imprensa ou tirar fotos com seus fãs, termino este artigo contando que João Carlos Martins gentilmente tirou foto comigo e mais duas amigas, a despeito de antes da palestra já ter feito isso. Para finalizar, ele nos convidou a assistir seu próximo espetáculo, em maio, no Ibirapuera, e nos passou seu telefone de casa para que possamos ficar em um lugar próximo ao palco. Um gênio é algo difícil de encontrar. Um gênio humilde é mais difícil ainda. João Carlos tem essas duas qualidades – demonstradas não por suas palavras, mas por atitudes. Palmas para o maestro.

Um comentário:

Izabel Martin dos Santos disse...

Ele é um homem admirável.