domingo, 18 de março de 2012

Onde está a evolução?

Caso estivesse viva, Elis Regina teria completado ontem 67 anos. Infelizmente não soube equilibrar sua última dose, e morreu aos 36 anos, precocemente, após uma mistura fatal de álcool e cocaína. O fato de usar drogas e ter morrido por causa delas não desmerece seu talento. Elis era considerada a maior cantora do Brasil – e por muitos ainda é vista assim. Eu mesma acredito que, até o momento, ainda não apareceu ninguém que tenha conseguido superá-la. Talvez chegar perto de seu talento; o que é bem diferente.
Tinha dez anos quando ela se foi e lembro de toda a tristeza causada pela sua morte. A comoção do povo durante seu velório e enterro foi comparada à histeria causada pelas mortes de Chico Alves e Carmem Miranda.
Elis morreu em uma época onde ser celebridade não era apenas tirar a roupa para uma revista masculina. Ser celebridade era uma mistura de talento, carisma, personalidade, caráter (ou a falta de), e trabalho. Sim, as celebridades realmente trabalhavam. Já existiam as revistas de fofocas, e a própria cantora era vítima delas, com seus dois casamentos atribulados, principalmente o primeiro, quando se envolvia em escândalos amplamente divulgados com o compositor Ronaldo Bôscoli.
Apesar disso, a cantora não ficou conhecida no país por seu gênio forte e suas brigas, mas sim pelo seu talento, pelas suas músicas, pela sua voz. Quando falamos em Elis Regina não vejo ninguém comentando “ela era gostosa”, “ela era piranha”, “ela era vulgar”. Ouço apenas elogios ao seu dom artístico.
Diferente do que acontece hoje, com as chamadas “celebridades”. Vemos o país inteiro falando de uma estudante de Medicina que, apesar de ter mostrado tudo e mais um pouco dentro de um reality show repleto de baixarias, ainda acha que deve receber um valor exorbitante para sair nua em uma revista masculina. Além de ter um corpo bonito e ter se vulgarizado completamente para milhões de telespectadores, qual seu valor? Se é inteligente, até o momento não demonstrou isso. Pode até ser uma pessoa ótima, mas a faceta escolhida pela estudante para ser vista à exaustão foi de uma mulher arrogante, prepotente, grosseira e, principalmente, vulgar. Então, de onde vem todo esse interesse pela sua vida?
Diferentes conceitos de celebridade foram sendo construídos nessas três décadas que separam Elis da estudante. Porém, passados 30 anos da morte da artista, fico feliz em ver que seu mito continua vivo, que sua obra está sempre sendo lembrada, e que as novas gerações estão descobrindo essa cantora maravilhosa que nos deixou tão cedo. Quanto a tal estudante... qual é mesmo o nome dela? Qual legado nos será deixado?

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