quinta-feira, 20 de maio de 2010

Pequenos podres poderes

Não sei de quem ou onde ouvi a seguinte frase: “Dê o poder a uma pessoa e você vai conhecê-la realmente”. Essa máxima pode ser aplicada perfeitamente a muitos funcionários públicos. Basta ter o poder na mão, e se acham no direito de decidir quando e como atenderem um cidadão. Se não estão a fim de atender, azar de quem está esperando. Não estou falando que todo funcionário público é assim, mas uma boa parte, amparada pela famosa estabilidade, se acha no direito de mandar e desmandar na hora de atender a população.
Engraçado que esse tipo de comportamento geralmente é visto em quem ocupa cargos sem destaque algum, mas que lida diretamente com o público. Afinal, o trabalho talvez seja o único lugar onde essas pessoas têm algum poder. Existe até um nome para esse fenômeno: Síndrome da Pequena Autoridade.
Poderia citar aqui dezenas de vezes em que me deparei com esse tipo de atitude. Quando uma amiga foi tirar a segunda via da identidade, há cerca de dez anos, não havia todas as facilidades online. A funcionária da Delegacia a atendeu com a maior má vontade, sem querer dar nenhuma informação e ainda achando que ela deveria ir a um despachante para pedir outro documento.
Em postos de saúde, então, a grosseria parece ser a tônica de muitos funcionários. Há quase um mês fui tomar a vacina contra a gripe Influenza A. Como me encaixo no grupo de risco, levei um atestado comprovando minha necessidade da dose. Menos de cinco minutos após ter entregado o documento, lembrei que precisava da vacina da febre amarela. Quando informei isso à atendente, a mulher reclamou que “agora ia complicar”. Questionei o que tanto iria complicar, e ela, com a maior cara de pau, disse que teria de ir novamente à sala das aplicações para levar meu pedido. Detalhe: a sala ficava a menos de dez metros de onde estávamos. Como sou muito consciente dos meus direitos, falei que, mesmo complicando, ela ia levantar e avisar a enfermeira, porque eu não iria voltar outro dia para tomar novamente vacina. Ela resmungou, mas foi avisar a enfermeira.
Como repórter, recebo sempre reclamações de mau atendimento em repartições públicas, seja no posto de saúde, na regional do bairro, na Prefeitura, no banco. Parece que algumas pessoas têm um prazer secreto em dificultar a vida do cidadão, principalmente dos mais humildes, esquecendo que ele é um contribuinte. Pior: agem assim porque sabem que dificilmente uma reclamação é levada adiante e, mesmo que o seja, mais dificilmente ainda vai resultar em qualquer tipo de punição. É a Síndrome ocupando o espaço que deveria ser preenchido por boa vontade e educação. Por isso, quando se sentirem mal atendidos ou prejudicados, façam valer seus direitos. O funcionário não está ali lhe fazendo um favor: é obrigação dele atender bem ao cidadão.

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